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CAPITULO III – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

3.1. Investigação Qualitativa

Desvendar os significados da pesquisa é um caminho complexo, exigente, meticuloso e moroso, porém em todas as esferas da pesquisa é inevitável não compreender que esta representa a radiografia, o núcleo, no fundo a pedra angular da ciência. Esta arquiteta uma aproximação e um entendimento inescapável da realidade a instigar, fornecendo artérias

importantes para a concretização de uma intervenção científica. As pesquisas no seio do comportamento organizacional não podem ficar indiferentes aos quadros de referência paradigmáticos que as emolduram e regem, pois, num sentido mais amplo, as cores e movimentos que evocam uma investigação assentam em diferentes abordagens, que, possuem laços evidentes com determinados paradigmas: a abordagem quantitativa, que mergulha as suas interpretações no paradigma positivista/behaviorista e a abordagem qualitativa que se debruça sobre a objetiva do paradigma interpretativo/naturalista (Fortin, 2008).

Perante as linhas destas duas abordagens e embora a investigação ocorra de um modo similar na pesquisa quantitativa e qualitativa, o facto é cada uma delas incorpora características e especificidades próprias, resultado da problemática e pressupostos que se pretende pesquisar. Neste domínio, coloca-se em entendimento que a abordagem qualitativa é aquela que mais se aproxima e adequa do processo de compreensão dos objetivos, métodos e fenómenos inerentes à presente investigação. Com reflexos nítidos nos processos humanos e sociais, a escolha pela pesquisa qualitativa representa uma ferramenta de grande valia, na medida em que tenciona-se compreender qual o denominador responsável pelo impacto do CO na atuação dos AS, a partir dos seus comportamentos, experiências, atitudes, representações e perceções interiores. Pretende- se, pois, vislumbrar uma investigação das “ideias, da descoberta dos significados inerentes ao próprio indivíduo, já que ele é a base de toda a indagação” (Lefébvre, 1990). A abordagem qualitativa orquestra, assim, os seus pilares numa realidade múltipla, resultado de um processo dinâmico, holístico e individual que procura compreender os significados atribuídos pelos indivíduos às suas ações num determinado meio. Esta abordagem enfatiza a interpretação e a compreensão da realidade tal como ela é, com o intuito de conhecer o universo das crenças, valores, opiniões, representações, práticas, atitudes e normas culturais dos sujeitos e dos fenómenos, encaminhando a pesquisa para grupos restritos, mas profundamente estudados. (Fortin, 2008; Denzin e Lincoln, 2003; Polit, Becker e Hungler, 2004).

Este tipo de abordagem ao enfatizar a descrição e compreensão dos fenómenos sociais por meio da sua interpretação, permite uma “recolha de informação fiável e sistemática sobre aspectos específicos da realidade social usando procedimentos empíricos com o intuito de gerar e inter-relacionar conceitos que permitam interpretar essa realidade” (Afonso, 2005, p.14). O cenário da investigação qualitativa cristaliza na sua linha narrativa a compreensão, explicação, aprofundamento e desenvolvimento dos fenómenos

sociais, a partir da objetiva dos sujeitos de intervenção. Como principais características, saliente-se o facto da investigação qualitativa: ser objetiva e holística em relação ao fenómeno; estabelecer uma hierarquização em relação às ações que descrevem, compreendem e explicam, com exatidão determinadas fenómenos; ter como fonte principal de dados o próprio meio natural dos participantes; ser descritiva e interpretativa, pois os dados recolhidos encontrarem-se sob o formato de imagens ou palavras; privilegiar o processo em detrimento dos resultados ou produtos; analisar os dados de forma indutiva, visto não estarem confinados a hipóteses prévias e o atribuem um significado absolutamente relevante aos dados (Fortin, 2008; Guerra, 2006; Rossman e Rallis, 1998; Ludke e André, 1986).

Perante a moldura deste tipo de abordagem, é indubitável não percecionar que esta enaltece a visão holística dos sujeitos, sendo por isso, apropriada para o estudo de fenómenos específicos e singulares nos meios onde as interações ocorrem de forma natural (Fortin, 2008; Bogdan e Biklen, 2010). Oliveira (2000) considera que as pesquisas qualitativas encontram-se interlaçadas com o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito, da qual não pode ser traduzida em números, visto a mensuração e enumeração não constituírem o núcleo central deste tipo de pesquisa, daí serem utilizadas para responderem a perguntas de investigação que se produzem naturalmente de forma indutiva e sistemática, a partir de um determinado contexto. Assim, a principal preocupação destes paradigmas “não é a de se os resultados são susceptíveis de generalização, mas sim a de que outros contextos e sujeitos a eles podem ser generalizados” (Bogdan e Biklen, 2010, p.66). Ou seja, privilegia-se a descrição e explicação dos contextos, significados e sentidos dos atores, em contraposição da codificação quantificável.

Numa lógica altamente estruturada, a investigação qualitativa, utiliza, a recolha, análise, estudo, descrição e interpretação dos dados, como via para aceder à teoria. As abstrações são idealizadas, à medida que os dados particulares que foram recolhidos se vão agrupando. Nesta visão, uma teoria desenvolvida, ao invés de proceder de “cima para baixo”, procede de “baixo para cima”, tendo como espólio um conjunto de peças individuais recolhidas, que encontram-se intimamente relacionadas, é o que se designa de teoria fundamentada (Bogdan e Biklen, 2010). Neste processo interativo, a produção de conhecimentos, ocorre, à medida que os dados são recolhidos, interpretados e analisados. Analogicamente, este processo assemelha-se a um funil, onde inicialmente os holofotes de interesses são muito amplos, e à medida que a investigação avança vão alcançando

contornos cada vez mais específicos e precisos (Ludke e André, 1986; Bogdan e Biklen, 2010).

Intimamente vinculada à procura profunda do conhecimento da realidade, a pesquisa qualitativa alicerça toda a sua conceptualização nos detalhes e pormenores que polarizam todo o sistema de investigação. Os dados obtidos e produzidos assumem um caráter predominantemente descritivo, uma vez que estes são amplamente transmitidos e identificados através de palavras, imagens, símbolos, representações, ações e sinais observáveis dos indivíduos em estudo. Como tal, o prestígio da lógica descritiva é funcional como método, quando se pretende considerar todos os detalhes inerentes à avaliação da indagação (Fortin, 2008; Bogdan e Biklen, 2010; Burns e Grove, 2005). Diante destes reflexos, a presente investigação, ao ser traçada como qualitativa, também atribui, quase que de forma mecanicista, uma linha descritiva à pesquisa, daí espelhar na sua essência um caráter descritivo. Assim, em termos objetivos os caminhos descritivos possuem como mestria a observação; análise e relacionação dos fatos ou fenómenos (varáveis), sem no entanto, existir manipulação das varáveis (Cervo e Bervian, 2002). Objetivam, igualmente, descrever os fenómenos e as características das relações existentes entre determinada população, grupo ou realidade mais complexa.

Por todas as características consideradas na pesquisa qualitativa, é de elementar necessidade observar que ao ser o próprio investigador responsável pela produção, análise e interpretação dos dados, a investigação poderá recair sobre um espelho de subjetividade, envolvimento e implicação de perceções pessoais, que poderão conduzir ao enviesamento de alguns dados da investigação. Todavia, os dados suportam o peso de qualquer interpretação (Bogdan e Biklen, 2010), como tal é necessário, que o investigador seja capaz de ir além dessa subjetividade e envolvimento, de forma a não enviesar e prejudicar a compreensão e análise dos dados obtidos. Portanto, o rigor, objetividade, cientificidade, determinação e conhecimento da realidade devem constituir um prisma poderoso aquando da recolha e análise dos dados. No entanto, a procura por uma orientação profunda entre teoria e prática, e uma postura de desconsideração de reflexões pessoais deverá ser descurada, para que o estudo atinja o seu potencial máximo no que concerne à conceção de teoria, explicação e compreensão do objeto em estudo.

Perante os rasgos emoldurados na presente metodologia, é imperioso não revelar que esta indagação procura descrever de uma forma minuciosa e detalhada as perceções e conceções dos AS em relação ao impacto do CO, e, consequentemente, compreender quais são os fatores do CO que podem afetar e influenciar o seu desempenho e atuação.

Procura-se, pois, compreender e interpretar de forma profunda, a perceção e perspetiva destes atores em relação ao CO, e entender de modo particular e único, toda a complexidade que encontra-se subjacente ao contexto organizacional, onde estes encontram-se inseridos e circunscritos. É importante frisar que pretende-se estabelecer uma relação entre o conhecimento e perceção dos atores em relação aos fatores do CO que afetam a sua atuação e as suas ações efetivas.

Com efeito, este tipo de investigação foi aquela que nos pareceu mais legitima e pertinente para compreender e fundamentar o objeto em estudo, visto evidenciar distintas sensibilidades no que concerne aos procedimentos e técnicas de recolha e análise de dados. Adicionalmente, permite a conceção de uma ótica interpretativa, mediante o discurso e o contato direto com os sujeitos.