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“Decepcionar pode ser um prazer”.

(Gilles Deuleuse)

A provocação entre as pessoas é frequente nas relações interpessoais de forma geral. Poucos indivíduos não provocaram ou, vez ou outra, foram provocados por um amigo, um familiar, ou mesmo pelo parceiro romântico. Especificamente, a provocação na infância e na adolescência é uma forma de interação social universal. Ross (2003) destaca alguns estudos (KUTNER, 1981; TOWNE, 1982; GAFNEY, 1986) que demonstram que o mesmo padrão de provocação observado em crianças da cidade de Filadélfia (EUA), por exemplo, foi também encontrado em crianças aborígenes de Kaluli (Nova Zelândia), assim como em crianças da Irlanda e do Brasil.

A provocação, contudo, pode ser conceituada, segundo Keltner et al. (2001), como uma comunicação entre um provocador e um alvo, que combina intencionalidade de hostilizar, com humor ou brincadeira. Inclui uma ampla diversidade de comportamentos tais como: insultos, imitações, questionamentos repetidos, fingimento de espanto, zombarias, perturbações, exageradas repreensões por uma ofensa, entre outros. Também pode ter um caráter de sedução e flerte, principalmente quando existe um interesse sexual implícito (ROSS, 2003).

Ademais, segundo Keltner et al. (2001) e Ross (2003), o comentário visando atingir um alvo é, geralmente, referente a algo de relevância para o atingido, como por exemplo, um atributo indesejável ou um comportamento específico. O ato, portanto, deve ser destinado a um alvo para ser considerado como provocação. Existem diversas histórias engraçadas ou piadas que não são direcionadas a um alvo e existem, também, diversas configurações de brincadeiras direcionadas a uma pessoa, mas que não se referem a algo relevante para ela e, assim, também não podem ser consideradas como provocações. Diferentemente da provocação, a brincadeira reflete um relacionamento mais equilibrado em termos de poder e pode se relacionar a outras pessoas além do alvo e a questões mais impessoais.

Outra característica da provocação inclui um componente “off-record”, ou seja, não são comentários literais, mas sim, com um tom de brincadeira ou de insinuação. A provocação sugere, assim, interpretações não literais da ação. Vale ressaltar que a provocação pode, ainda, ter

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resultados prossociais ou antissociais. Provocações com mínimos níveis de marcas de “off-record” são percebidas como mais agressivas (antissociais) e provocações acompanhadas de numerosas marcas de “off-record” são percebidas como mais engraçadas (prossociais). Comentários mais significativos (de algo relevante, que provoca alguma reação) para o alvo são também percebidos como mais ofensivos (KELTNER et al., 2001, ROSS, 2003).

Os autores também assinalam que as provocações podem, ainda, ser físicas (cutucar, imitações físicas, etc.) ou verbais (apelidos, comentários depreciativos, etc.). Em muitos casos, a ação inicial tem uma intenção agressiva, porém algumas provocações envolvem, primeiramente, uma abertura positiva, que se torna negativa quando repudiada pelo alvo.

Além de trazerem essa definição precisa, Keltner et al. (2001) realizaram uma revisão dos estudos acerca da provocação e relataram algumas conclusões: observações de interações espontâneas sugerem que a provocação ocorre geralmente por meio de dois tipos de interrupções nas interações sociais: violações de norma e conflitos interpessoais.

Um indivíduo, geralmente, provoca outro que tenha desobedecido alguma norma social, como, por exemplo, em resposta à violação das normas de comunicação: declarações vazias, redundâncias, enunciados prolixos ou excessivamente formais, entre outros. Outro exemplo refere- se à seguinte situação: nas idades em que brincar com pares do mesmo gênero é a norma, especialmente os meninos são frequentemente provocados se interagem repetidamente com alguém do gênero oposto. Com as meninas adolescentes, são comuns provocações referentes a violações das regras relativas ao contato físico ou vestimentas, por exemplo. Katz, Selman e Mason (2008), ao analisar as respostas de alunos de terceiro e quarto anos do Ensino Fundamental I, destacam que muitos estudantes culpam o alvo pela provocação recebida, ou seja, o comportamento (mais irritante ou socialmente desajeitado) ou a aparência não normativa do outro acabam justificando a ação provocativa. Ross (2003) acrescenta que, especialmente os adolescentes, reagem de forma mais cruel aos pares com atributos negativos aparentemente controláveis, como a obesidade, do que com aqueles com condições incontroláveis, como por exemplo, a paralisia cerebral ou alguma outra deficiência explícita. O autor ainda acrescenta que a timidez acentuada pode gerar, nos pares, um sentimento de indiferença em relação ao sentimento do outro, o que cria uma certa relação lógica para a rejeição ou para a provocação.

Quanto ao segundo tipo citado de interrupção nas interações sociais, Keltner et al. (2001) assinalam que a provocação também tem sido compreendida como uma forma indireta e lúdica de

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negociação de conflito, ou seja, geralmente acontece em resposta a um conflito interpessoal ou, até mesmo, como resposta a um conflito potencial, permitindo que os indivíduos negociem supostos problemas, antes de acontecerem efetivamente. Particularmente, os autores assinalam a presença frequente de provocação no contexto de flerte e a relativa ausência em certas situações específicas, como em emergências – traumas físicos, acidentes, funerais, etc.

Embora não haja uma documentação sistemática acerca do desenvolvimento da provocação, os autores apresentam uma síntese que indica que o início da adolescência (entre 11 e 13 anos) é marcado por uma maior capacidade de generalização e compreensão de formas mais lúdicas da provocação, justamente porque a compreensão das marcas off-records depende de certas habilidades específicas, como a de dominar uma comunicação não literal e a de reconhecer múltiplas ou contraditórias intenções e emoções em uma mesma expressão. Portanto, os adolescentes começam a provocar, usando conteúdos mais lúdicos ou insinuativos a partir dessa idade, assim como tendem a interpretar a provocação como menos prejudicial ou aversiva. O contexto da provocação também interfere no seu grau de hostilidade. Embora não haja estudos conclusivos que envolvam um maior controle de variáveis, os autores inferem uma relação direta entre o poder social do provocador e a hostilidade da provocação. A familiaridade entre provocador e alvo também parece estar correlacionada a um aumento da hostilidade na provocação. Quanto às diferenças entre os gêneros, sugere-se, com base em avaliações empíricas, que os homens provocam mais do que as mulheres e que as suas provocações possuem, também, uma postura mais hostil.

No entanto, é justamente o caráter do humor ou da brincadeira que distingue conceitualmente - e, também na vivência -, a provocação da ridicularização, ou do bullying, por exemplo. Baseando-se nesse pressuposto da ambiguidade, Ross (2003) reitera a necessária diferenciação entre a provocação pura e a provocação como ação secundária a outros componentes do bullying. Diferentemente do que acontece nesse, a provocação pura pode ter um caráter de diversão e de brincadeira, podendo ser, inclusive construtiva em algumas situações, como por exemplo: ao enviar mensagens úteis ao alvo ou como um sinal de aceitação social. Shapiro et al. (1991); Young et al. (1998); Hoover e Olson (2000); Keltner et al. (2001); Ross (2003) e Tragesser e Lippman (2005) ressaltam que, a provocação comunica, simultaneamente, uma agressão e uma mensagem prossocial, contendo, portanto, um comunicado humorístico que é ambíguo em seu efeito negativo ou positivo. Nem o humor puro, nem a agressão pura, podem ser identificados como

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provocação, mas quando esses componentes são combinados de certa maneira e direcionados a um alvo, o resultado é a provocação, como fica evidente nos exemplos a seguir: “você se penteou no

escuro hoje?”; “foi sua mãe quem escolheu sua roupa?”. Para Young et al. (1998), a provocação é

paradoxal: critica e elogia, ataca e aproxima, humilha e expressa afeto, ou seja, sua interpretação é altamente variável.

Ross (2003) aponta que geralmente não é muito acerca do que é falado, ou como é falado, mas quem fala que determina se um tipo específico de provocação é mais ou menos ofensivo. Existem também algumas sugestões do contexto, como a entonação e o ritmo monótono da voz, expressões faciais de exagerado pesar ou alerta, ou piscadelas e sorrisos em situações aparentemente inapropriadas. Certas características do conteúdo da provocação também podem influenciar sua receptividade: se a provocação contém comentários negativos que o alvo sabe que são evidentemente falsos, ela torna-se menos ofensiva. Um exemplo claro do caráter ambíguo da provocação é oferecido por Hoover e Olson (2000, p. 2)23:

muito frequentemente, um estudante pode dizer para um amigo: seu cabelo está horrível essa manhã. O que assegura o caráter da provocação é que o comentário é seguido por um sorriso, ou os dois parceiros acordaram, de certa forma, em seu relacionamento, que esse tipo de declaração é aceitável. Ademais, uma suposição não declarada seja que o cabelo do provocado é atraente ou o estado de atratividade não é importante para o provocado.

De qualquer forma, a provocação é preocupante por estar relacionada a possíveis reações emocionais negativas e consequências indesejáveis para o bem estar psicossocial. Gleason et al. (2000), em um estudo com 164 universitários norte-americanos (média de 20 anos) sobre os impactos em longo prazo da provocação, encontraram que se for frequente na infância prediz, significativamente, para a vítima, baixa autoestima e insatisfação com a imagem corporal tanto em homens como em mulheres. A frequência, por exemplo, de ser provocado acerca do peso e da altura durante a infância, está positivamente correlacionada com a insatisfação corporal na idade adulta. Entretanto, os homens parecem ser menos sensíveis à provocação global. Especificamente, a autoestima das mulheres é significativamente afetada por provocações acerca da aparência e da competência, enquanto que para os homens, ataques à competência (habilidades gerais) são mais relevantes para sua autoestima.

Como citado, a provocação acerca da aparência física (tipo de provocação mais comum) na infância parece ter uma forte influência principalmente na forma como as mulheres adultas e

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adolescentes percebem seus corpos. Em um estudo com 431 crianças de 7 a 10 anos, Konstanski e Gullone (2007) indicaram que especialmente as que estão acima ou abaixo do peso padrão para a idade vivenciam frequentemente a provocação. Essa experiência produz um impacto negativo na imagem corporal, especialmente para as meninas e meninos que estão acima do peso. Em especial, os meninos abaixo do peso também sofrem negativamente com essa experiência, justamente pela exigência social e cultural para serem fortes e musculosos.

Shapiro (1991); Landau et al. (2001) e Katz et al. (2008) também ressaltam que as situações de provocação de pares têm sido identificadas pelos professores como sendo as que possuem maior probabilidade de causar dificuldades sociais para as crianças em geral, justamente porque eliciam uma gama de reações emocionais. Além disso, as provocações por pares são ocorrências extremamente frequentes na escola (AHO, 1998; KATZ, SELMAN E MASON, 2008), e a forma como as crianças respondem a essas provocações, principalmente na presença dos pares, pode ter consequências importantes para a sua posição social no grupo. Isso significa que a resposta de uma criança a provocações condiciona o quão simpático e popular ela pode parecer aos olhos de seus pares.

Scambler et al. (1998) e Leary e Katz (2005) acrescentam que a reação emocional ideal do alvo para lidar com uma provocação na meia infância é parecer imperturbável ou não afetado pelos comentários provocativos. Os autores apresentam em seus estudos que comportamentos hostis /desafiadores são respostas não adaptativas (respostas indesejáveis), enquanto que o riso e a indiferença (ignorar) foram considerados como respostas adaptativas (respostas desejáveis) frente a provocação dos pares.

Landau et al. (2001) e Leary e Katz (2005) ainda apontam que as crianças não gostam de admitir que se sentem chateadas ou angustiadas quando provocadas por um colega, pois esse tipo de reação é visto como indesejável pelos pares. Underwood et al. (1999) acrescentam que, de modo geral, as crianças mais velhas são ainda menos expressivas de emoções negativas quando provocadas (incluindo expressões faciais, respostas verbais e gestuais). Em seu estudo com 382 crianças de 8 a 12 anos, as crianças mais velhas responderam à provocação com mais expressões faciais neutras e menos surpresa. Elas também raramente usaram quaisquer gestos, positivos ou negativos e ficaram mais em silêncio quando provocadas. As meninas, por sua vez, foram menos propensas a responder à provocação com comentários negativos e a demonstrar sentimentos de raiva do que os meninos.

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Tal como acontece com as crianças que expressam insatisfação, Leary e Katz (2005) apontam que as que se comportam de modo estranho quando provocadas (dizem coisas sem sentido ou demonstram comportamentos socialmente inapropriados para a idade), acabam por evidenciar abertamente que a provocação parece ter um efeito desorganizador sobre elas, o que gera ainda mais situações de provocação. Os autores perguntaram a crianças (de 8 a 10 anos) o que as fazia provocar, e 18%, aproximadamente, relataram que provocavam porque o comportamento do alvo era impróprio ou estranho para a idade. Katz et al. (2008, p. 5) exemplificam da seguinte forma um comportamento estranho ou sem sentido: “uma criança disse, de repente: você gosta de bonecas Barbie? Eu gosto de Barbie. Não. Eu odeio bonecas Barbie, elas são tão estúpidas.” Os autores ainda explicam que o comportamento estranho interfere negativamente nas relações entre colegas, pois crianças que o apresentam são geralmente vistas como chatas ou estranhas pelos companheiros. Ross (2003) reafirma tal pressuposto ao apresentar que, do ponto de vista do provocador, a provocação é mais bem sucedida quando a reação do alvo demonstra, de alguma forma, imediata e visível perturbação.

Leary e Katz (2005) acrescentam que as crianças consideradas mais agressivas são, também, as mais propensas a responder à provocação com insatisfação ou com comportamento estranho, o que sugere que as crianças agressivas são menos hábeis em negociação de situações interpessoais difíceis, como a provocação, do que seus pares não agressivos. Essa falta de habilidade pode ser melhor compreendida a partir dos estudos de Dodge e Crick (1994, apud Coleman, 2011), os quais encontraram que os sujeitos não populares agressivos são mais propícios a considerar que a intenção do comportamento do outro é deliberadamente agressiva, mesmo quando essa efetivamente não possui esse propósito. Essa característica é conhecida como “viés de atribuição hostil24” e ocupa um papel central no comportamento da pessoa agressiva que é rejeitada ou provocada por seus pares.

O humor, especificamente, tem sido teoricamente reconhecido como uma forma de adaptação à tensão decorrente de uma situação de incômodo e, no contexto da provocação, o humor tem o benefício adicional de demonstrar que o provocado se mantém imperturbável pelo provocador, o que pode conduzir a uma redução na provocação e a um aumento da aceitação dos pares (KATZ et al., 2008). Contrariando os estudos acima mencionados, Martin, et al. (2003) e

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Conoley et al. (2007), por meio de pesquisas com simulações, ressaltam que o conselho costumeiro de ignorar a provocação não é muito útil, assim como o humor de caráter mais agressivo (uso de sarcasmo, ridicularização ou chacota). O uso de um humor não hostil e tolerante (affiliative humor) parece uma promessa mais eficaz para responder à provocação, segundo esses autores. Esse tipo de humor refere-se, especificamente, à tendência de contar piadas ou participar de brincadeiras espirituosas espontâneas, a fim de diminuir a tensão interpessoal e facilitar o relacionamento.

Em um estudo com 120 estudantes de graduação, Conoley et al. (2007) concluíram que o uso de um affiliative humor por parte do provocado pode, inclusive, diminuir a probabilidade de uma ação futura agressiva do provocador. O provocador torna-se mais amigável e menos agressivo com o alvo após a provocação, o que lhe aumenta a chance de que a próxima interação seja mais agradável para o alvo.

Tragesser e Lippman (2005) acrescentam que há poucos estudos acerca do lado negativo do humor. Geralmente, os estudos existentes dão suporte à crença popular dos benefícios indiscriminados do humor na vida das pessoas. Contudo, existem diferentes tipos de humor, o que leva a crer que tanto ele pode servir a propósitos prossociais, como também pode ter um caráter de competição por status, de busca por superioridade ou outros motivos mais agressivos.

Com relação à diferença de reações, mas agora entre os gêneros, Katz et al. (2008) acrescentam que, em seus estudos sobre a infância, os meninos foram mais propensos a apresentar um comportamento hostil/desafiador, e as meninas mais propensas a ignorar os comentários provocativos. Especificamente com relação ao humor, os meninos demonstraram maior tendência em responder a provocações com riso do que as meninas.

Jones e Newman (2005), por sua vez, trouxeram contribuições acerca das provocações durante o início da adolescência (11 e 13 anos de idade). Em sua pesquisa com 342 estudantes, os autores fornecem evidências sobre a relevância do gênero, do tipo de relacionamento (amigos ou colegas) e do tema (competência acadêmica ou aparência física) para a interpretação do episódio de provocação e, consequentemente, para as decorrentes reações negativas ou positivas dos alvos. O padrão de resultados sugere que os adolescentes levam em conta o contexto relacional ao interpretar comentários provocativos. A provocação de amigos (frequentam a mesma escola e ficam próximos) tende a ser interpretada de maneira mais benevolente do que o concedido à provocação de colegas (frequentam a mesma escola, mas não ficam juntos). Diferenças de gênero também foram evidentes na interpretação da provocação. As meninas relatam emoções mais

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negativas em resposta a provocação do que os meninos. Embora não tenham sido identificadas diferenças de gênero na frequência relatada de provocação na pesquisa, os autores afirmam que estudos de observação indicam que a provocação é mais frequente entre os adolescentes meninos mais novos. Já com relação às provocações à competência acadêmica ou à aparência física, novamente os resultados indicam que as provocações que envolvem a aparência física e, em especial, o peso, geraram os efeitos e humores mais negativos em geral. Nem o tipo de relacionamento, nem o gênero ou mesmo a idade minimizaram o impacto da provocação em relação ao peso, o que demonstra, claramente, a força dos valores culturais vigentes.

Agliata et al. (2007) também sugerem que a provocação, especialmente acerca da aparência física, é uma experiência comum na adolescência e com consequências bastante negativas. Os autores citam estudos (SHAPIRO, et al.,1991; SCAMBLER et al., 1998) que examinaram o conteúdo da provocação entre os jovens adolescentes e relataram que 66% dos incidentes de provocação consistem em referências à aparência física, seguido pela competência geral. Os resultados da pesquisa de Agliata et al. (2007) com 137 meninas de 11 a 15 anos de idade indicaram que as adolescentes lembraram mais facilmente das provocações relacionadas à aparência do que as relacionadas à competência, por exemplo. Slater e Tiggemann (2011), ao estudar as diferenças do gênero na participação em esportes com adolescentes de 12 a 16 anos, também afirmam que, especialmente as meninas, são provocadas com relação à aparência do corpo ou por serem descoordenadas na atividade física. Apontam, também, a existência de piadas relativas ao peso das meninas, o que as faz ter menos prazer com as atividades esportivas do que os meninos.

Underwood (2004), por sua vez, afirma que, na adolescência, intensifica-se a exploração do mundo do outro sexo, porém em frequentes interações caracterizadas como borderwork (forma de interação sexual que confirma as fronteiras e assimetria entre os grupos de meninos e meninas, como a provocação, a perseguição, entre outras). Tholander (2002) confirma que as provocações são, em sua maioria, dirigidas ao sexo oposto na adolescência, porém analisa que a provocação pode assumir várias funções que ultrapassam a ideia de marcação de fronteiras entre o feminino e o masculino. Uma dessas funções é o de recusar o papel social tradicional atribuído aos gêneros, por exemplo, quando as meninas provocam os meninos que se exibem para elas. De qualquer forma, o pesquisador discorda da posição de que a provocação borderwork aumenta a distância entre meninos e meninas. Ele entende que, a longo prazo, pode ajudar a aproximar porque leva o outro a perceber que suas ações são indesejadas.

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A provocação heterossexual, portanto, já presente no final da infância, se intensifica e se ramifica na adolescência. Uma dessas ramificações refere-se à provocação que serve para iniciar uma interação heterossexual. Muitas dessas provocações são caracterizadas por uma junção de ludicidade e ambiguidade, que permite que o adolescente expresse que gosta da pessoa do sexo oposto, sem ser responsabilizado por esse tipo sentimento. Em uma segunda ramificação, a provocação se torna um pouco mais ofensiva, muitas vezes com foco em padrões sexuais, como a homossexualidade. Este foco, contudo, funciona como um modo de o provocador lidar com seus próprios medos sexuais, atribuindo-os aos outros, particularmente aos alvos com menos prestígio, como os mais isolados do grupo (ROSS, 2003).

Ainda com relação à adolescência, Agliata et al. (2007) apontam em seu estudo que a adolescência tem sido identificada pela literatura (SHAPIRO et al., 1991) como o período no qual os indivíduos são mais propensos a vivenciar provocações. Laursen (1995), por sua vez, afirma que além da provocação, o comportamento perturbador25 - como cantar distraído durante a aula,

por exemplo -, também é uma causa frequente de conflitos entre adolescentes. Contudo, diferentemente do que ocorre com a provocação, a intenção de irritar não existe no comportamento perturbador.

Segundo Keltner et al. (2001) e Ross (2003), a provocação na adolescência é prioritariamente verbal e aumenta drasticamente nessa fase da vida (principalmente no início da adolescência) devido às mudanças cognitivas que dão base à melhor apreciação e compreensão do