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Isabel Cláudia Nogueira

ESE de Paula Frassinetti | Departamento de Formação em Educação Básica

isa.claudia@esepf.pt

Resumo

Parte integrante da componente de formação em Ciências da Educação do plano de estudos da Licencia- tura em Educação Social (LES) da Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, a unidade curricular Tecnologias da Informação e da Comunicação em Educação (TICE) assume, entre outras, a seleção, a or- ganização e a utilização criteriosa de informação e a construção de recursos em formato digital como com- petências a promover nos estudantes deste ciclo de estudos. Com esta comunicação, pretendemos partilhar uma experiência vivenciada com um grupo de estudantes da unidade curricular TICE na LES da Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, evidenciando a pertinência da inclusão da unidade curricular no plano curricular deste ciclo de estudos, apresentando os pressupostos subjacentes à metodologia de formação adotada, descrevendo o percurso formativo realizado por estes estudantes e incluindo as per- ceções dos participantes sobre a metodologia de trabalho experienciada.

Palavras-chave

tecnologias da informação e comunicação, educação social, percursos formativos, contextos de aprendi- zagem

Introdução

Unanimemente tidas como progenitoras de novos espaços e novos tempos, as tecnologias de informação e comunicação, entendidas por Nogueira Pérez, Fernández Sestelo e Pellitero Varela como “motor e conxunto de ferramentas a partir de que as pessoas veñem transformando os diferentes contornos en que se desenvolven (economia, traballo, servizos, tempo libre, educación…)” (2011:172), provocaram a emergência de novos cenários, abrindo caminho a novas oportunidades, colocando novos desafios mas também induzindo a necessidade de implementar percursos formativos diferenciados.

A antiga (e confortável…) questão o que “ensinar” nas aulas de TIC?, deverá, assim e em nosso entender, ser atualmente formulada nos seguintes termos: como tornar uma aula de TIC um real e significativo con- texto de aprendizagem? Na realidade, partilhamos com Bidarra a visão que a generalização de utilização e a progressiva incorporação das TIC no quotidiano e, como consequência, na escola, vieram alterar a re- lação pedagogia/tecnologia, devendo agora este binómio ser equacionado “à luz dos últimos desenvolvi- mentos nas tecnologias educativas, que permitem quebrar com a tradição de um ensino baseado no «man- ual recomendado», na dominância do professor como «fonte do saber» e na observância rígida de um cur- riculum pré-determinado.” (Bidarra, 2008:31).

Estabelecidos os pressupostos curriculares subjacentes a uma proposta de formação em TIC num primeiro ciclo de estudos do ensino superior, assumimos não a elaboração de uma lista de conteúdos programáticos a explorar ao longo desse ciclo formativo mas antes a metodologia de formação a adotar como fator bem mais pertinente, uma vez que a esta não só é permitida como é exigida a adequação ao contexto em que se

desenvolve essa formação. Entendemos por contexto de aprendizagem tanto o conjunto de circunstâncias relevantes para que a aprendizagem aconteça (Figueiredo e Afonso, 2006) como o espaço de experiência educacional que se desenvolve de forma dinâmica e flexível em função de um quadro de referência individ- ual e de grupo (Dias, 2008): assim, quando a formação educacional geral de um indivíduo é a principal intencionalidade subjacente ao seu papel de formando em TIC, parece-nos fundamental ter em consid- eração o contexto em que ela acontecerá; é a descrição do contexto desta experiência formativa que de se- guida nos propomos apresentar.

1. Tecnologias de Informação e de Comunicação em Educação na Licenciatu-

ra em Educação Social

A formação ministrada pela Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti na Licenciatura em Edu- cação Social visa a qualificação teórica, metodológica, técnica e relacional de educadores sociais, que lhes permita identificar problemáticas socioeducativas – concebendo projetos de vida e de intervenção social adequados a cada situação –, compreender e responder aos desafios de vulnerabilidade de pessoas e gru- pos na sociedade atual, fomentar competências de participação social em todos os ciclos de vida das pes- soas – nos mais variados grupos de pertença e em contextos de intervenção distintos – e integrar equipas multidisciplinares, articulando diferentes áreas do saber, na promoção de intervenções socioeducativas guiadas por padrões éticos contemporâneos.

Organizado em seis semestres, o plano de estudos desta licenciatura totaliza 180 ECTS, distribuídos por 6 componentes de formação: dos 76 ECTS que radicam na componente de Ciências de Educação, 5 ECTS foram atribuídos à unidade curricular Tecnologias de Informação e da Comunicação em Educação. De carácter obrigatório, com 48 horas de contacto distribuídas por aulas teóricas, teórico/práticas, em regime de seminário e de trabalho de campo, a inclusão desta unidade curricular no plano de estudos desta licen- ciatura possibilitará que os estudantes desenvolvam não apenas competências instrumentais/técnicas, que lhes permitam uma intervenção orientada para problemas específicos, mas também ao nível da conceção de projetos de intervenção de carácter socioeducativo: a identificação, caraterização e intervenção em problemas de índole social e educativa pressupõe a necessidade de elaboração de instrumentos de diagnós- tico, o tratamento e análise das informações recolhidas e a planificação de estratégias adequadas à inter- venção em cada contexto. Trata-se, em suma, de proporcionar momentos de formação que contribuam para o desenvolvimento de competências estruturantes a um perfil exigente nas dimensões do Ser, Estar e Fazer.

Apresentado o enquadramento da unidade curricular no ciclo de estudos de que é parte integrante, detal- haremos um percurso formativo em TIC vivenciado por uma turma a frequentar o referido ciclo de estudos no período 2008-2011.

2. O percurso formativo

A necessidade de desenvolvimento de competências exigidas pela cultura digital – procura, análise, se- leção, comunicação e (re)criação de informação – e as suas implicações ao nível da formação tecnológica nas dimensões instrumental, comportamental, cognitiva e axiológica, estiveram na base das atividades desenvolvidas pelos estudantes na unidade curricular. Posteriormente, e como consequência da apresen- tação do b-learnig – como uma metodologia resultante da associação de conteúdos interactivos e mul- timédia, de suportes de distribuição, de um conjunto de programas de software que possibilitam a gestão da formação online, e de um conjunto de instrumentos para a criação de programas de formação interacti- vos –, a autoaprendizagem e a aprendizagem colaborativa foram reconhecidas pelos estudantes como as formas de aprendizagem caraterísticas dos sistemas b-learning; a discussão sobre as principais vantagens e inconvenientes inerentes a esta modalidade de formação concluiu a fase inicial das atividades letivas de- senvolvidas com este grupo de estudantes.

Situados no quadro de referência da unidade curricular, a fase seguinte consistiu na eleição do tema que serviria de base ao desenho de um projeto no âmbito da intervenção em educação social, tendo sido colo- cada como condição obrigatória a todos os projetos a integração e/ou utilização de recursos digitais. A turma de 21 estudantes organizou-se em seis grupos, cabendo a cada um delinear um projeto de inter-

2.1 Identificação do problema de índole social

Os maus tratos infantis, os perigos na infância, a alimentação equilibrada, a doença de Alzheimer, questões de cidadania e o perfil do educador social foram os temas escolhidos pelos grupos como temáticas centrali- zadoras das suas atividades.

As justificações apresentadas para a eleição dos três primeiros temas radicaram essencialmente nas estatís- ticas existentes sobre os mesmos – números que, segundo os grupos proponentes, indiciam necessidade de intervenção específica junto de alguns grupos etários e/ou sociais; o motivo que orientou um dos grupos na escolha da doença de Alzheimer foi poder contribuir para uma maior informação e compreensão sociais para especificidades relacionadas com essa enfermidade; a clarificação de aspectos relacionados com cida- dania, nomeadamente no que respeita a direitos mas essencialmente a deveres a ela associados, esteve na base da escolha de um grupo; finalmente, um dos grupos fundamentou a sua opção na necessidade de di- vulgação pública do perfil do educador social e do papel deste profissional na sociedade.

2.2 Definição do modelo de intervenção

Identificados os grupos-alvo a atingir, cada grupo apresentou um esboço da proposta a concretizar, elen- cando as fases que a constituíam, a sua calendarização e os “produtos” necessários à sua prossecução. Nesta fase, foi possível reconhecer não só necessidades de formação específicas em TIC mas também de outras áreas e/ou de caráter transversal. De facto, este grupo de estudantes reconheceu ser necessário:

1. apurar as suas capacidades de análise e de crítica de informação disponível sobre determinadas prob- lemáticas – visando a elaboração de um panorama real sobre o(s) tema(s) versado(s);

2. realizar incursões no campo da metodologia de recolha e análise de dados, que lhes permitissem elaborar instrumentos adequados à recolha das informações pretendidas;

3. conhecer soluções tecnológicas à sua disposição;

4. selecionar aplicações e ferramentas tecnológicas adequadas à construção dos recursos que se pro- puseram conceber.

2.3 Construção de recursos tecnológicos

Para cada um dos seis projetos foi criada uma área na plataforma de ensino b-learning MOODLE, que ser- viria simultaneamente como fonte de recursos e como área de partilha. Constituindo esta LMS a plata- forma de apoio às atividades letivas desenvolvidas na instituição onde decorreu esta experiência formativa, optamos por a disponibilizar aos estudantes na perspetiva de cada grupo poder ser autor e gestor de uma “disciplina” alocada a cada projeto. A sua simplicidade e facilidade de utilização, o facto de permitir o acesso a/utilização de materiais multimédia freeware existentes na Internet e a possibilidade que oferece de criação de uma “microcultura de artefactos partilhados” (Escola, 2011: 75), reforçaram esta decisão. No quadro seguinte apresentam-se os recursos originados pelos projetos dos seis grupos de trabalho.

TÍTULO DO PROJETO RECURSOS DESENVOLVIDOS/DIVULGADOS

Maus tratos infantis

Questionário: O que são maus tratos infantis?

Panfleto informativo com tipologia de maus tratos e formas de atua- ção

Perigos na infância

Questionário: Hábitos de prevenção de acidentes

Apresentação para utilização em sessões de sensibilização a pais

Panfleto informativo sobre cuidados a ter em distintos espaços Seres humanos que

envelhecem

Questionário: O que é a doença de Alzheimer?

Panfleto de divulgação e sensibilização para os doentes de Alzheimer

Vídeo com testemunho de um paciente com Alzheimer

Diz-me o que comes, dir-te-ei quem és…

Voki

Questionário: Hábitos alimentares às refeições (crianças)

Questionário: Cuidados alimentares (adultos)

Vídeo musical animado sobre benefícios da sopa

Vídeo sobre alimentação saudável

Chat

Apresentação para divulgação a crianças “O meu livro Saudável”

Livro digital “Obesidade”

Cidadania

Questionário: O que é ser cidadão?

Panfleto incidindo sobre boas práticas de cidadania

Página web sobre Cidadania

Educação Social: pas- sado, presente e futuro

Entrevista: Importância, perspetivas e perfil de um educador social

Panfleto informativo sobre origens, funções e âmbito da educação

social

Página web sobre Educador Social

Quadro 1: Recursos construídos e divulgados numa página personalizada da plataforma MOODLE.

De acordo com o quadro acima apresentado, pode constatar-se alguma diversidade no tipo de recursos elaborados pelos estudantes, que incluem recursos da plataforma MOODLE, páginas web, ferramentas Web 2.0 e atividades, assim como utilização de software de apresentação e edição de texto.

De caráter mais tradicional – no caso da elaboração de desdobráveis em editores/processadores de texto e de apresentações construídas no MSPowerpoint – ou tecnologicamente mais apelativos – construção de páginas de Internet e livros digitais –, parece-nos importante referir a sensibilidade das futuras educadoras sociais em conceber materiais em suportes adequados à finalidade e ao grupo-alvo a que se destinavam, a perceção que manifestaram relativamente à abrangência das opções tecnológicas assumidas e, não menos importante em um contexto formativo, a construção/utilização de materiais/suportes até aqui nunca de- senvolvidos e/ou utilizados por estas estudantes.

A disponibilização de vídeos (produtos de reconhecido e forte impacto, nomeadamente nas faixas etárias mais baixas) e a construção de panfletos informativos visando uma temática em particular (suporte de fácil e direta distribuição) evidenciam a adequação dos meios utilizados aos grupos alvo de intervenção; a elaboração de páginas web dedicadas a determinada temática possibilita não só promover a inclusão digital a quem a elas recorre mas poderá também contribuir para o incremento do número de indivíduos sensibi- lizados para a(s) temática(s) em questão; a composição de livros digitais (que conferem uma outra dinâmica às atividades de leitura) e a criação de questionários online (e consequente rápido acesso à in- formação recolhida por essa via em formato já organizado) são exemplos que patenteiam a construção e incorporação efetiva de novo conhecimento de cariz tecnológico.

2.4 Apresentação e avaliação dos projetos

Quando terminados, os projetos elaborados foram partilhados em horário de aula com a turma, que ficou também a poder aceder a todos os materiais elaborados. Essa partilha incluiu, em primeiro lugar, uma apresentação eletrónica dos fundamentos, objetivos, atividades e recursos inerentes a cada projeto; poste- riormente, cada grupo efetuou a autoavaliação do percurso realizado. Todas as estudantes tiveram oportu- nidade de contatar com os materiais produzidos, assim como de propor eventuais ajustes que poderiam significar um acréscimo na qualidade dos mesmos. A seleção de distintas mas pertinentes temáticas rela- cionadas com contextos socioeducativos e/ou com a função da educação social na sociedade atual consti- tuiu, em nosso entender, uma motivação adicional para a participação e o envolvimento de todas as estu- dantes também nesta fase final do percurso formativo.