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Natália Moura Lopes e Professor Doutor Joaquim Escola

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - Departamento de Educação e Psicologia e FCT (GFE- i&D 520)

nataliautad@gmail.com; jescola@utad.pt

Resumo

A rápida proliferação do Quadro Interativo Multimédia (QIM) nas escolas em Portugal é uma realidade. O Projeto Kit Tecnológico, no âmbito do Plano Tecnológico da Educação (PTE) visa reforçar o parque de equipamento informático nas escolas. Mas será que estes programas estabelecidos e implementados são postos em prática pelos professores, enquanto atores que melhor conhecem esse palco da educação? Será que os docentes, vivem os dilemas e desafios de um tempo em transição e conseguirão adaptar-se?

A aposta na substituição dos velhos quadros negros por novos recursos tecnológicos, nomeadamente o QIM, é uma realidade. Face à popularidade que este tem granjeado junto das escolas, importa então aferir se todas as escolas já lhe abriram “portas” e, se estas já prepararam perspetivas de mudança no ensino. O locus do nosso estudo é o QIM porque queremos escrutar se este recurso ampliará ou atenuará a fratura digital já existente entre as várias escolas do Norte do país e, percecionar o impacto do seu uso nas práticas pedagógicas e nas aprendizagens dos alunos. Porque ainda há muitas salas de aula que não o têm à sua disposição, é necessário estudar onde se situam as carências, ver onde há projetos a funcionar que colma- tem essas falhas e aplicá-los.

Parece-nos um caminho aliciante porque ainda há muito para descobrir e para trilhar neste horizonte. A reflexão impõe-se, como particularmente importante para que exista uma lucidez de análise face à invasão do QIM na vida escolar. Além disso, com a sua integração no contexto educativo podemos estar perante a oportunidade ímpar de diminuir a fratura digital e de facilitar uma articulação eficaz entre os “digital immigrants” e os “digital natives”.

Palavras-chave

Quadro Interativo Multimédia, Plano Tecnológico, Kit Tecnológico Comunicação, Tecnologias de Infor- mação e Comunicação, Fratura Digital.

Introdução

“A escola da sociedade da informação deve preparar adequadamente os seus alunos de modo a que saibam viver e sobreviver nos alterosos oceanos da informação”. Freitas, 1999:192

Desde a década de 80 que as tecnologias têm invadido, progressivamente, várias áreas do quotidiano do Homem, provocando, consequentemente, algumas mudanças na organização da vida das pessoas e na forma como vivem e pensam. A tecnologia, marcada pela sua ubiquidade revela-se já imprescindível em determinados domínios do quotidiano, quer se esteja no trabalho ou, em momentos de lazer. Aliás, numa

ticas, atributo do ensino tradicional, mas cada vez mais pela mestria das novas tecnologias, daí a urgência em democratizá-las, dominá-las e aplicá-las ao ensino-aprendizagem.

Na verdade, a atualidade e o mundo em que hoje vivemos impõem, cada vez mais, competências alargadas e atualizadas para podermos acompanhar a voragem dos tempos que existe porque a informação é criada a uma velocidade vertiginosa e chega até nós quase em simultâneo.

Desta forma, a evolução alucinante das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) levaram ao apare- cimento de novos espaços de construção do conhecimento. A escola em geral e, os professores em particu- lar, deixaram de ser os guardiães sem crédito de um cofre de conhecimento há muito esventrado pela verti- gem do progresso das tecnologias e, deste modo,

“ o professor deixou de reclamar para si o privilégio e o monopólio na transmissão do saber, mas encontra-se na sua profissionalidade, en-

quanto mediador nos processos de busca e organização da infor- mação, no desenvolvimento do espírito crítico, numa relação marca- da pela não superioridade ou inferioridade frente ao aluno, mas antes

pelo estatuto de interlocutor, a par de outros, no intercâmbio, na permuta, no encontro e confronto de opiniões em autênticas comuni-

dades de argumentação e comunicação.” (Escola, 2007: 135)

Perante este fenómeno evolutivo das tecnologias, a escola não pode ficar indiferente deixando que a veloci- dade do tempo tecnológico a ultrapasse ou, então, a invada e a seduza de forma acrítica pelo seu brilho nem sempre genuíno.

Na verdade, esta “nova” escola surge porque os alunos estão muito mais motivados para as TIC e menos, para os métodos tradicionais de ensino, pois eles “respiram” tecnologia e usam diariamente essas ferra- mentas. Como consequência dessa sociedade cada vez mais tecnológica, a escola terá de continuar a repen- sar as suas formas de ensino, uma vez que se tem apostado na modernização das mesmas, essencialmente, através do PTE aprovado por Resolução do Conselho de Ministros n.º 137/2007, a 18 de Setembro de 2007, que pretende tornar real a integração das Tecnologias de Informação e Comunicação no universo educativo, implicando mudanças nos contextos e nos processos de ensino e de aprendizagem.

Considerando que este programa é o maior programa de modernização tecnológica das escolas portugue- sas e, até final de 2010 equipou as escolas com 1 computador por cada 2 alunos, 1 videoprojector por sala de aula e 1 quadro interativo por cada 3 salas de aula, verificamos que se está a apostar na substituição dos velhos quadros negros por novos recursos tecnológicos, nomeadamente o QIM, o projetor e o computador. Mas será que 1 quadro interativo por cada 3 salas de aula é suficiente para que todos os alunos lhe tenham acesso? Esse desenvolvimento tecnológico não provocará uma desigualdade de oportunidades numa escola que deverá promover a igualdade de oportunidade para todos? Será que estes programas sonhados e im- plementados são desenvolvidos pelos professores, enquanto atores que melhor conhecem esse palco da educação?

Na verdade, com o QIM e todos os recursos que a ele se podem associar, os intervenientes educativos (pro- fessor / aluno) têm ao seu dispor um rol extraordinário de escolhas e metodologias em prol de uma edu- cação de qualidade (Dulac, 2006). Ao utilizarem essas ferramentas digitais procurarão superar a desmoti- vação tão vigente em contexto de sala de aula e, granjearão a tão desejada sabedoria digital. Estas tecnolo- gias podem constituir uma mais-valia na construção e partilha do saber e poderão romper com o ensino preso à pedagogia mais tradicionalista.

Usando o QIM o professor pode apostar numa inovação de práticas pedagógicas (Ferreira, 2011:89) e em abordagens, assentes em metodologias tão diferentes quanto possível: narração, exposição, investigação, experimentação, simulação, etc. Desta forma, e devido aos vários ritmos de aprendizagem, o professor con- segue atingir e sensibilizar um maior número de alunos. Uma abordagem múltipla permite também que o próprio professor enfrente diversas formas de compreensão do mesmo assunto.

Neste oceano emaranhado de tecnologia, o quadro interativo multimédia traz para a sala de aula uma nova dimensão tecnológica que pode envolver os alunos, num ambiente de aprendizagem mais criativo, interati- vo e sobretudo dinâmico. Passaremos das aulas relativamente estáticas, onde os alunos tinham um papel de observadores e consumidores de conteúdos, para um universo audiovisual, isto é, da “era” do som, mo- vimento e imagem, com uma crescente participação dos alunos, (Fernandes, 2009).

Cremos que o QIM poderá dar frutos, francamente positivos, no processo de ensino e aprendizagem. Para além do fator novidade, interatividade, partilha, entre outros, oferece ainda um conjunto de ferramentas que, de certa forma, procuram facilitar e enriquecer diversas tarefas em contexto de sala de aula.

Mas se o Kit tecnológico previu apenas apetrechar as escolas com um QIM por cada três salas de aula, ca- berá à escola reduzir as diferenças de acessibilidade e possibilitar a utilização deste tão importante recurso. Se é verdade que a função da escola é educar os futuros cidadãos, as TIC deverão ajudar a pôr em prática os princípios de uma escola democrática: igualdade de oportunidades, formação crítica dos futuros cidadãos e adaptação das crianças à sociedade.

Perante tantas potencialidades do QIM a questão primordial que se coloca é saber se todos (escolas, pro- fessores e alunos) estão no mesmo patamar de igualdade no seu acesso. Além disso, outras inquietações se podem colocar pois, a integração do QIM nas escolas conta também com obstáculos pedagógicos porque, saber utilizar um QIM não significa que se saiba transformá-lo numa ferramenta pedagógica ou que se vá permitir redescobrir o prazer de aprender. A implementação do QIM pressupõe que a formação de pro- fessores seja muito rigorosa: mais do que saber manipulá-lo, eles deverão ser capazes de refletir critica- mente sobre o seu uso e a sua utilização pedagógica. Para muitos professores, não é mais do que uma “bo- nita janela” com velhos conteúdos e usada sob os princípios das velhas pedagogias, mas na verdade o que é importante é que se análise de forma crítica as possibilidades de aprendizagem do QIM.

Em termos pedagógicos, a sua presença na escola pode contribuir para o prazer de aprender, mas esta presença não garantirá, a eficácia pedagógica. Esta deverá ser construída.

É fundamental aprender a dominar as ferramentas tecnológicas para melhor planificarmos e melhor as contextualizarmos no currículo. Mais que um mero mediador entre o conhecimento e os alunos, o pro- fessor deverá saber como utilizar as TIC e como integrá-las no ensino. É evidente que a formação dos pro- fessores deve visar responder a uma cultura tecnológica mas também implicar uma renovação pedagógica, permitindo uma capacitação para máxima rentabilização dos meios.

Esta renovação da educação “pressupõe que se assuma um novo modelo de ensino e aprendizagem vislum- brando-se um novo horizonte educativo sintetizado em duas frases: aprender a aprender e ensinar a aprender” (Ontória, 1994: 7).

Rentabilizar o uso do QIM parece-nos fundamental ao desenvolvimento de estratégias de ensino e apren- dizagem capazes de motivar os alunos, que mergulham diariamente nas lides tecnológicas. A forma atrati- va como permitem a apresentação da informação e as potencialidades interativas que lhe são reconhecidas devem ser canalizadas para um ensino aberto à partilha de ideias, à colaboração dos diferentes interve- nientes e consequente construção do conhecimento.

Não podemos ignorar que o mundo em que vivemos se revela, cada vez mais, num mundo informático. É neste mundo que as crianças de hoje serão chamadas a viver, a traçar o seu caminho.

Quadro Interativo Multimédia: A “Nova” fratura digital na aprendizagem do