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D ISCURSO COMO R EPRESENTAÇÃO : T EORIA DE REPRESENTAÇÃO DE ATORES

3.5 CATEGORIAS ANALÍTICAS

3.5.2 D ISCURSO COMO R EPRESENTAÇÃO : T EORIA DE REPRESENTAÇÃO DE ATORES

Van Leeuwen (1997; 2008) desenvolveu sua teoria a fim de responder as perguntas: “quais são os modos pelos quais os actores sociais podem ser representados no discurso inglês? Que escolhas nos apresenta a língua inglesa para nos referirmos às pessoas?” (VAN LEEUWEN, 1997, p. 169). A partir disso, ele apresenta uma série de modos sociossemânticos que são utilizados para a representação dos atores sociais e sua relevância sociológica e crítica. Portanto, tais categorias são provenientes da Sociologia e não da Linguística.

Os motivos para tal escolha, de acordo com o autor, são dois: o primeiro, causado pela falta de biunicidade da língua, isto é, a falta de “co-referência exata entre as categorias sociológicas e linguísticas” (VAN LEEUWEN, 1997, p. 170). Para ele, o que há de mais relevante é identificar os modos, haja vista que muitos são os recursos linguísticos que podem ser usados para representar os atores sociais de um mesmo modo. Ainda, acredita que o foco nas categorias formais da língua, advindo da Linguística, pode atrapalhar a visualização dos aspectos semânticos intrínsecos da sua teoria. O segundo motivo advém “da suposição que o significado é inerente à cultura e não à língua e não pode ser associado a uma semiótica

específica” (VAN LEEUWEN, 1997, p. 171). Dado o exposto, faz-se necessário afirmar que o autor, mesmo assim, baseia-se na Linguística, quando do desenvolvimento das categorias.

As representações sociais acontecem por inclusão ou exclusão dos atores nos textos, que podem servir de interesses e propósitos próprios do autor do texto ou dos leitores. Por isso, essa categoria de análise é muito relevante quando se procura identificar ideologias investidas nas práticas sociais, por meio de textos. Ela auxilia não só na identificação das ideologias nos aspectos linguísticos formais dos textos, mas também no entendimento social da relevância de se incluir ou excluir atores sociais e a partir de que jeito. Portanto, antes de prosseguir, apresento a Figura 7, em que consta a rede de sistema da representação de atores sociais.

Figura 7: Rede de sistema da Representação de Atores Socais

Fonte: Van Leeuwen (1997, p. 219).

Levando em consideração que as categoriais de representação de atores sociais que mais se evidenciaram nas análises foram os dois tipos de Exclusão, a Inclusão por Ativação, a Inclusão por Passivação e a Inclusão por Impersonalização – Abstração, reservarei essa seção para a explicação apenas dessas categorias.

Começo, então, pela Exclusão. Van Leeuwen (1997), aponta que há duas formas de se excluir um ator social de um texto: por supressão e por encobrimento. A supressão ocorre quando não há nenhuma marca no texto a respeito do ator social que está sendo

excluindo, não sendo possível ao leitor recuperá-lo em outras partes do texto. Já o encobrimento é mais brando, haja vista que os atores sociais excluídos já foram incluídos no texto em momento anterior. Assim, no caso do encobrimento, é possível que o leitor infira sobre quem está se falando, mesmo que não tenha certeza.

As formas linguísticas que se tem para suprimir um ator social são, em primeiro lugar, o apagamento da agente da passiva; estratégia muito comum e conhecida. A supressão também ocorre com as orações infinitivas, que, em vez de serem Processo, tornam-se Participantes nas orações; com o apagamento dos Beneficiários nos Processos materiais; e com as nominalizações, que funcionam como nominais, ainda que se refiram a ações. Para

encobrir atores sociais, por outro lado, faz-se por meio de elipses em orações infinitivas e

orações paratáticas. Há ainda todas as estratégias usadas para suprimir, tendo em vista que ambos se tratam de exclusão. A diferença está na possibilidade, ou não, de recuperar o ator no texto, para saber se é encobrimento ou supressão (VAN LEEUWEN, 1997; 2008).

A Inclusão por Ativação ocorre quando os atores sociais são representados como agentes das atividades. Linguisticamente, ativa-se atores sociais pondo-os como Atores nos Processos materiais, como Comportante, nos comportamentais, como Experienciador, nos mentais, Dizente, nos verbais, Identificador, nos relacionais, e como Circunstâncias introduzidas pela preposição “por”. A Inclusão por Passivação, por outro lado, se dá pela representação dos atores como “<submetendo-se> à atividade, ou <como sendo receptores dela>” (VAN LEEUWEN, 1997, p. 187). A sujeição dos atores ocorre, principalmente, quando são colocados como Meta ou como Beneficiário, nos Processos materiais, como Fenômeno, nos mentais, como Destinatário, nos verbais, ou como Portador, nos relacionais. Os demais modos não é de interesse neste momento (VAN LEEUWEN, 1997; 2008).

Por último, há a Inclusão por Impersonalização – Abstração, que representa os atores sociais por meio de uma qualidade atribuída na representação. A relevância desta forma de representar os atores sociais está nos efeitos que pode causar, pois, nas palavras do autor:

pode encobrir a identidade e/ou o papel dos actores sociais; pode fornecer autoridade impessoal ou força a uma actividade ou qualidade de um actor social; e pode acrescentar conotações negativas ou positivas a uma actividade ou enunciado de um actor social. (…) Por esta razão, a impersonalização abunda na linguagem da burocracia, uma forma de organização da actividade humana que é constituída a partir da negação da responsabilidade, e governada por procedimentos impessoais que, uma vez colocados nos seus lugares, são quase impermeáveis à agência humana. Por fim, as abstrações acrescentam significados conotativos: as qualidades abstraídas dos seus portadores servem, em parte, para os interpretar e avaliar (VAN LEEUWEN, 1997, p. 210).

Na próxima subseção, a última deste capítulo teórico, discorro sobre a categoria de modalidade, que serviu de apoio nas análises a esta categoria e à anterior.