• Nenhum resultado encontrado

(1)

Ifá e o Male (Muçulmano) eram amigos. Um dia Male disse a Ifá: “Vou procurar uma mulher gravida, se ela concordar, será instalada em minha casa, pra que não tenha contato com mais ninguém. Se esta mulher parir uma menina, eu a criarei para que seja minha esposa: sou muito ciumento para casar-me com uma mulher de cuja inocência não tenha absoluta certeza.

Indo ao mercado, ele encontrou uma mulher grávida, que concordou em colaborar com seus planos. Passado algum tempo a mulher deu a luz uma linda menina, para alegria do Male. O Mulçumano ficou muito contente e logo pôs-se a pensar: “Como poderei evitar que olhos masculinos vejam esta menina, até o dia em que possa desposa-la!” Depois de muito pensar, decidiu construir um casa dentro de sua própria casa e ali instalar mãe e filha.

Nenhum homem, nem mesmo ele, tinha acesso a menina, que cresceu rapidamente.

Quando a jovem completou dez anos, sua mãe abandonou a casa, deixando-a sozinha. Enquanto isso, Ifá contava os anos de idade da menina.

Um dia, achando que ela já deveria estar suficientemente grande, foi visitar Male e chegando a sua casa, entrou saudando-o cordialmente.

Depois da visita, Ifá pôs-se a pensar: “Como é que pode? O mulçumano contratou uma mulher gravida que pariu uma menina, esta menina jamais viu ou foi vista por qualquer pessoa do sexo masculino! Nem mesmo Metolõfi, o rei de nosso pais, viu a criança. Mas eu vou tentar vê-la!”

Munindo-se de seus instrumentos divinatórios, fez a consulta, surgindo Obara , que lhe recomendou que tomasse uma caixa, acaça, um galo, azeite de dendê e fizesse uma oferenda a Legba. Feito isto, teria que entrar na casa de Male e tranca-la por dentro com a chave.

Ifá preparou tudo e foi a casa do amigo. Lá chagando saudou-o: “Salamaleikun!” E o muçulmano respondeu: “Alakumasala!” Ifá disse então: “kalafi!” Male respondeu: “Laafia!” Ifá, entrando no quarto do amigo, disse: “amanhã partirei em viagem, gostaria de confiar-lhe a caixa de meu tesouro. Minha mulher preferida lhe entregará a caixa, para que você a guarde em lugar tão seguro que nenhum homem possa encontrá-la. “Como não?” disse o Marabú. “Não somos amigos? Quando partirás?” - “Dentro de três dias e só voltarei daqui a três meses”.

No terceiro dia pela manhã, Legba disfarçado na esposa preferida de Ifa, foi a casa de Male e disse: “meu marido encarregou-me de procura-lo para entregar-lhe a caixa que se encontra embrulhada nestes panos. Ele virá busca-la dentro de três meses, quando regressará da viagem.

Male chamou a escrava que cuidava da menina, para que guardasse a caixa na casa onde vivia a jovem, mas a caixa era por demais pesada e a mulher não pode carrega-la. Diante do impasse, Male resolveu levar ele mesmo a caixa para o quarto da jovem e ao faze-lo, viu-a pela primeira vez, saindo em seguida e trancando por fora todas as portas.

Ifa, que mantinha-se escondido dentro da caixa, vendo Male sair, trancou por dentro a porta do quarto da jovem e avistou-a, saudou-a, no que foi correspondido.

“Você me conhece?” perguntou. “Não!” retrucou a moça.

Ifa então colocou-se a vontade e começou a divertir a moça, depois, deitando-se com ela, possuiu-a. Isto feito aconselhou a jovem a lavar-se com água morna, no que foi atendido.

Ifá só se alimentava de obi. Na hora da refeição, vendo-o comer somente nozes de kola, a moça perguntou por que não se alimentava das mesmas coisas que ela? e Ifa respondeu: “Eu como feijão sem pimenta, carne defumada, peixé defumado, tudo temperado com lelekun. A jovem ordenou então as servas que não mais pusessem pimenta na comida. Os alimentos passaram desde então a ser preparados com lelekun, Ifa revelou então, que não come cabrito da forma simples que todo mundo prepara e que também não se lava como as outras pessoas.

Finalmente, a jovem ficou gravida e Male de nada desconfiou. Como estivesse próximo de findar-se o terceiro mês, Ifá disse a moça: “se o muçulmano lhe indagar sobre sua barriga, não fale nunca no meu nome.

Findo, o terceiro mês, Ifá encerrou-se novamente na caixa, que a moça embrulhou nos panos, da mesma forma que viera.

Legba, novamente disfarçado na mulher de Ifa, apresentou-se ao Male dizendo: “meu marido chegou de viagem e pediu viesse buscar sua caixa, Assim que se sinta descansado, virá agradecer pessoalmente pelo grande favor prestado.

Depois de seis meses, o muçulmano resolveu tomar a jovem como mulher. Lavou-se cuidadosamente, vestiu um belíssimo búbú que lhe havia presenteado Ifa, entrou no quarto e encontrou a moça com uma enorme barriga... Quase sufocado exigiu explicações. “Eu pensava que todas as barrigas deveriam crescer como a minha... não sei como são as coisas do lado de fora desta porta!”

Male correu a contar o acontecido ao rei, que surpreso, mandou que cuidasse do parto, já que havia uma gravidez.

O dia do parto chegou, a criança, antes de nascer, tinha que ouvir o nome do pai pronunciado por sua própria mãe.

O Marabu não conseguia entender o que se passava. A mulher gemia e contorcia-se em dores. A criança teimava em não nascer. Foi então que resolveu pedir os conselhos de seu amigo Ifa.

Ifa consulta e surge novamente Obara , exigindo que uma perna de antílope seja sacrificada. O pernil é cortado em sete partes que depois de cozidos, são entregues, uma a Mawu, uma a Metolõfi, uma a Mingã

e é Ifá o encarregado de fazer estas oferendas. O quarto pedaço, é oferecido a esposa preferida do Male, o quinto, a esposa preferida de Ifa, o sexto ao Bokono e o último a parturiente, levado pelas mãos de Ifa. Ao receber a oferenda, a mulher cheia de dores, perguntou: “Quem me envia esta carme? - “É Ifa quem te oferece!”- “ Ifa? Que Ifa?” - “O que disse?” Perguntou Ifa. - “Ifa!” - “O que?” - “Ifa! Eu falei Ifa! Foi Ifa que me deu esta carne!”

Quando a mulher acabou de falar, a criança, ouvindo o nome de seu verdadeiro pai, resolveu sair para o mundo... e era o retrato de Ifa.

Male ficou desconfiado com tudo o que acabara de assistir e aborrecido, levou o problema ao conhecimento do rei Metolõfi que, achando tudo muito natural, aconselhou o muçulmano a deixar de desconfiar do amigo.

Um belo dia, Ifa convocou todas as pessoas, inclusive Male e disse a todo o mundo: “Hoje lhes farei uma revelação. A mulher do muçulmano, que recentemente deu a luz uma criancinha... “e revelou todo o segredo que envolvia aquele nascimento. Depois concluiu “Qualquer mulher, mesmo se a prenderem dentro de quarenta caixas, encontrará um dia, um homem. E um ser no qual não se deve confiar e ao qual não se dever revelar segredos. As mulheres são pouco mais que os animais!”

Ebó: modela-se um voko (*) de argila semelhante ao homem. O voko é colocado dentro

No documento O Verdadeiro Jogo de Buzios Jeje-Nago (páginas 94-96)

Outline

Documentos relacionados