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Jéssica Maibuk Agatha Cristine Depiné

Josemar Sidinei Soares

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo principal a

exploração da leitura e a aprendizagem interpretativa buscando relações entre a Ciência Jurídica e a ciência na obra Viagem ao Centro da Terra, de Júlio Verne. Na obra foram identificadas particularidades dos personagens, que apesar de serem oponentes quanto à crenças e conhecimentos, possuíam conhecimentos científicos indispensáveis para o progresso da expedição. Constata-se também no estudo que a ciência está em constante mudança, de acordo com o anseio da sociedade, e que, apesar de errante, intenciona harmonizar a vida em sociedade, transformando essa convivência em uma colaboração mútua. Por fim, conclui-se que tanto na obra quanto na ciência jurídica, um objetivo é buscado de forma idealizada, sem considerar obstáculos para chegar ao esperado. Através desta obra, pode-se encontrar de forma clara princípios que nos cercam, o direito e os princípios vistos nas relações sociais, de forma que, nesta literatura, pode-se rever nossos conceitos e atitudes perante a sociedade. O método utilizado foi o indutivo através de pesquisa bibliográfica.

Palavras-chave: Ciência Jurídica. Júlio Verne. Viagem ao

Centro da Terra.

Introdução

ciência jurídica, apesar de seu positivismo e de sua autoridade, tem o objetivo de assegurar uma vida em sociedade de forma harmoniosa. Observa-se segundo Hermes Lima (1964, p. 135) que a lei [...] visa assegu- rar o funcionamento pacífico da convivência social num determinado sis-

tema de relações humanas. E sempre, ao criar as normas que regem a sociedade, estuda-se qual a perspectiva quanto à sua eficácia, se ela terá efeitos positivos sobre a sociedade e se beneficiará de alguma forma o pro- cesso de reciprocidade nas relações sociais.

E assim, busca-se, no presente trabalho, desenvolver uma análise sobre as relações entre a obra de Júlio Verne, no caso o livro Viagem ao

Centro da Terra, escrito em 1864, e a Ciência Jurídica, segundo a qual,

formam-se os princípios e modos de viver. Apesar de dificilmente analisa- das as situações que fazem os indivíduos dependentes uns dos outros, percebe-se tanto na obra quanto na nossa vivência, uma interdependência que rege os padrões da sociedade. Por mais que estes padrões variem a cada sociedade, dependendo sempre do ambiente, da forma de ser dos componentes desta sociedade e de suas perspectivas e necessidades, em todas verifica-se que a união das forças de trabalho e respeito torna possí- vel o progresso de toda a sociedade e também de cada indivíduo particu- larmente.

Tudo isso relaciona-se com o livro Viagem ao Centro da Terra, quan- do observa-se no início do processo um grande contraste de ideias e princí- pios entre os viajantes, mas que depois se tornaram complementares uns aos outros, por meio de um respeito mútuo e da relevância de cada um dentro daquela pequena sociedade. Este compartilhamento de conhecimen- tos e experiências tornou, na obra, os viajantes aptos a alcançar o Centro da Terra.

Na Ciência Jurídica que rege cada sociedade, como já foi dito, exis- te uma expectativa de encontrar a harmonia e a justiça social, assim como na obra de Júlio Verne existe uma meta a ser alcançada. Nota-se então, tanto na obra Viagem ao Centro da Terra quanto na Ciência Jurídica, esta busca idealizada, sem considerar qualquer obstáculo como intransponível para alcançar o objetivo proposto.

1 A Obra

A história começa em Hamburgo, na Alemanha, quando o professor Lidenbrock, um geólogo e cientista, chega em casa trazendo um livro que comprara em uma loja. Tratava-se do livro de Snorre Turleson, o

Heimskringla, um livro sobre crônicas dos príncipes noruegueses que rei-

naram na Islândia. Foi na empolgação deste achado que uma coisa estra- nha ocorreu. Coisa que levaria o professor e seu sobrinho Axel para a mais estranha expedição do Século XIX.

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Um antigo pergaminho com caracteres incompreensíveis caiu do li- vro. Este pergaminho gerou então certa curiosidade, que levou os dois a estudarem melhor aqueles itens. Verificaram que o escritor do livro não era o mesmo do pergaminho, isso porque este continha letras que só foram inseridas no alfabeto islandês mais de um século depois. Deduziram então que aquele livro pertencera a outrem, que havia escrito aquele pergami- nho, e ao encontrar caracteres quase ilegíveis no verso da segunda folha, descobriram o nome de Arne Saknussemm, um sábio alquimista que vi- veu no Século XVI.

Outro desafio foi a tradução do pergaminho, pois as letras se dispu- nham de forma que se tornavam enigmas. Foi Axel, o sobrinho do profes- sor, que por um acaso descobriu a chave para decifrar aquele manuscrito, que dizia:

Desce na cratera de Yocul de Sneffels que a sombra do Scartaris vem acariciar antes das calendas de julho, viajan- te audacioso, e chegarás ao centro da Terra. O que eu fiz. Arne Saknussemm (VERNE, 2009, p. 32).

Foi aí então que o audacioso professor resolveu entrar nessa aven- tura e viajar ao centro da Terra. Assustado, Axel começa a apresentar teorias que impossibilitam um ser humano chegar ao centro da Terra.

Está perfeitamente reconhecido que o calor aumenta cerca de um grau por cada setenta pés de profundidade abaixo da superfície da Terra. Admitindo-se que esse aumento de ca- lor seja proporcionalmente constante e sendo o raio terres- tre de mil e quinhentas léguas, existe no centro uma tempe- ratura superior a duzentos mil graus. As matérias do interi- or da terra encontram-se, portanto, no estado de gás incandescente, pois os metais, o ouro, a platina, as rochas mais duras não resistem a tal calor. Agora eu lhe pergunto: É possível ao homem penetrar em um meio como esse? (VERNE, 2009, p. 37).

Mas, mesmo com teorias de grande valia, que racionalmente não seriam discutidas, o professor apresenta uma crença no que parecia im- possível, dizendo que ninguém conhece o que existe dentro da terra, visto que só se conhece a décima segunda milésima parte do seu raio, e que também a ciência está em constante mudança e as teorias se substituem continuamente (VERNE, 2009, p. 37). Começa então a oposição de co- nhecimentos que serão de grande valia para o futuro da expedição.

Sem atingir o sucesso em suas argumentações, partiu Axel com seu tio dois dias depois com destino à Islândia, especificamente, à cidade de Reykjavick. Deveriam viajar para lá o mais depressa possível para que che- gassem a tempo de ver a sombra do Scartaris sobre a cratera do Sneffels.

Chegando à Islândia, hospedaram-se na casa do senhor Fridriksson, professor de ciências naturais da cidade de Reykjavick. Este indicou aos viajantes a companhia de um guia, habitante da península, hábil caça- dor, que seria de importância para o sucesso da ida até o Sneffels.

O nome do guia era Hans Bjelke, o qual, mesmo sem saber, os acom- panharia até o centro da Terra. Chegando ao vulcão Sneffels, deveriam esperar a sombra que indicasse o caminho que levaria ao centro da terra, porém o tempo não estava favorável, não havia sol para que uma sombra se formasse. Todavia, dias mais tarde, o sol incidiu sobre a cratera, fazendo com que, ao meio-dia, uma sombra aparecesse sobre a chaminé central. As- sim, informando o caminho exato que os levaria ao centro da Terra.

Com este direcionamento, começava então a verdadeira viagem. E durante esta, os personagens passaram pelas mais diversas situações. Uma delas foi a falta da água. Segundo o professor, a água seria o único obstá- culo para a realização de seu projeto (VERNE, 2009, p. 110), e justamen- te, quando esta acabou definitivamente, Axel não conseguiu mais prosse- guir, e entregue às torturas que aquela falta de água proporcionava, aca- bou desmaiando.

Ao tornar a acordar, ainda sofrendo com as dores, viu o islandês saindo de lanterna na mão, suspeitou então que ele estivesse os abando- nando. O que ele não esperava é que o islandês trouxesse uma solução para o problema que poderia tirar-lhes a vida. Depois de uma hora, o retor- no do guia trouxe a surpreendente notícia: ele encontrara água. Porém esta água estava separada deles por um muro de granito. Então, ao en- contrar o ponto mais preciso onde a correnteza se ouvia com mais nitidez, o guia, com sua picareta, foi gastando o rochedo com uma série de panca- das repetidas, até a hora em que uma fenda foi aberta e a água finalmente jorrou. Com a água correndo durante o caminho, foi descartada a possibi- lidade de esta ser o motivo para o fracasso da expedição. Também começa- mos a notar a partir de então a necessidade do guia para o progresso da viagem, pois, embora à primeira vista este seja um simples viajante da Islândia, seus conhecimentos empíricos, como tornaremos a ver, foram indispensáveis para que a vida se mantivesse durante a jornada.

Outra difícil situação passada pelos viajantes foi no momento em que estes ainda desciam pela galeria, quando Axel virou despropositalmente em alguma das diversas bifurcações daqueles corredores e acabou se per- dendo. No entanto, pouco conhecimento se tinha acerca destes terrenos

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onde andavam, fazendo com que a solidão do rapaz em lugares desconhe- cidos se tornasse mais perigosa. Então o desespero e as perspectivas es- cassas de sobrevivência fizeram com que seu corpo caísse “[...] como uma massa inerte junto da muralha e perdesse qualquer sentimento de exis- tência” (VERNE, 2009, p. 130).

Com o retorno dos seus sentidos, Axel ouviu barulhos, que a princi- pio pensou que fossem alucinações, mas esses barulhos ficaram mais níti- dos e logo se viu que eram vozes. Como só haviam eles por aqueles corre- dores, concluiu que seriam seus companheiros. Procurando então o pon- to na parede que se ouvia o som de forma clara, pronunciou algumas palavras nitidamente, e por um espantoso efeito acústico, conseguiu a comunicação. Ao estabelecer a comunicação, foi direcionado a caminhar adiante, pois qualquer galeria dentro daquele labirinto levaria a um vasto espaço onde o professor Lidenbrock e Hans se encontravam.

Realmente, o final daquele corredor levou Axel àquele vasto espaço onde seus companheiros se encontravam, e a aventura pôde continuar com todos reunidos novamente. O lugar onde se encontravam beirava algo jamais esperado por aqueles aventureiros: um oceano no interior da Terra, com um céu composto por vapores móveis e mutáveis.

Construída uma jangada, o professor, seu sobrinho e o guia embar- caram naquele desconhecido oceano, com a esperança de novas desco- bertas. Surpreendentemente, presenciaram uma luta entre um ictiossauro (réptil antediluviano com o focinho de um marsuíno, a cabeça de um la- garto e os dentes de um crocodilo) e um plesiossauro (serpente escondida na carapaça de uma tartaruga). Além disso, passaram por uma forte tem- pestade. Axel define o som da tempestade como: “Se todas as pedreiras do mundo saltassem ao mesmo tempo, não ouviríamos mais barulho” (VERNE, 2009, p. 167). Na tempestade foram atingidos por uma bola de fogo e cobertos por jatos de chamas, envolvidos por certa eletricidade.

Quando a tempestade terminou, chegaram a alguns rochedos, e, salvos pelo corajoso guia, conseguiram pisar em terra firme. Resolveram então explorar a nova terra, enquanto o guia recuperava o que restava depois da tempestade. Neste lugar onde estavam encontraram várias ruí- nas de seres existentes nas primeiras épocas, fósseis de corpos humanos totalmente reconhecíveis e ainda rebanhos de mastodontes vivos e um ser humano vivo, “[...] um gigante, capaz de dar ordens àqueles monstros” (VERNE, 2009, p. 186).

Estupefatos, resolveram fugir, e dirigiram-se às margens do oceano, onde encontraram um punhal de origem espanhola do Século XVI, aban- donado naqueles areais há mais de duzentos anos. E, chegando a um túnel escuro, via-se sobre uma placa de granito as iniciais A. S.

Voltaram então em busca de Hans1. O guia deixara tudo pronto

para uma partida. Tinha a jangada restaurada e havia conseguido recu- perar quase todos os bens que tinham sido perdidos depois da tempestade. Retomaram por mar o caminho que haviam percorrido até o túnel com as iniciais de Arne Saknussemm.

Ao chegar, se depararam com um desagradável obstáculo. Uma ro- cha intransponível se colocava ao caminho dos viajantes e não encontra- ram outra maneira de transpassá-la a não ser com a pólvora.

O islandês voltou à jangada e trouxe uma picareta de que se serviu para abrir um buraco de mina. Não era trabalho fácil. Tratava-se de fazer uma abertura bastante considerável para conter cinquenta libras de algo- dão-pólvora, cujo poder explosivo é quatro vezes maior do que o da pólvo- ra para o canhão.

No dia seguinte, Axel foi acender a mecha que levaria ao algodão- pólvora enquanto seu tio e Hans esperariam na jangada. Mas um aciden- te ocorreu. Ao haver a detonação, a forma dos rochedos modificou-se, abrin- do um enorme abismo. Todos foram derrubados, e em plena escuridão, arrastados para dentro do abismo pelo mar com extrema velocidade.

A água ao atingir o fundo do abismo, iniciou o retorno à superfície. Os viajantes a acompanhavam, subindo com rapidez. Logo viram que se tratava de uma erupção, e que se tudo funcionasse como o esperado, seri- am expelidos à superfície da Terra por algum vulcão. E como o esperado, foram lançados para a superfície pelo vulcão Etna, na Sicília.

Ao voltar então para Hamburgo, se tornaram prestigiosos, por suas descobertas e por suas aventuras. Hans, o homem a quem deviam tudo, quis deixar Hamburgo e voltar à sua terra na Islândia. O professor viveu sua glória merecida e Axel casou-se com sua querida Grauben.