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João Correia Saraiva Júnior

No documento Ensino e pesquisa na educação geográfica (páginas 71-76)

Introdução

As metodologias do Ensino de Geografia vêm apresen- tando, nas últimas décadas, propostas pedagógicas que bus- cam superar a perspectiva de memorização dos conceitos e a pouca reflexão sobre a importância dos fenômenos naturais. Tratando-se da dinâmica atmosférica, tal situação parece ser agravada, em particular, sobre a compreensão dos dados meteorológicos no entendimento dos fenômenos climáticos e, consequentemente, a influência destes sobre a sociedade.

Muitos avanços precisam ser concretizados, sobretudo na Educação Básica, na qual os estudantes, em geral, sentem 14 Professor de Geografia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – IFRN. E-mail: joao.correia@ ifrn.edu.br

dificuldades na construção de modelos mentais que sustentem a compreensão da dinâmica climática global e das particula- ridades dos lugares.

No ensino de Geografia, os conteúdos de climatologia ganham um significado especial, pois tratam da influência direta dos fenômenos sobre a sociedade e os ecossistemas. Aquecimento global, estiagens, inundações urbanas, tempes- tades, nevoeiros e derretimento das geleiras são fenômenos de grande repercussão nos meios de comunicação, embora sejam, muitas vezes, tratados com sensacionalismo e falta de seriedade, atingindo diversos segmentos sociais e consequen- temente estudantes em formação. Assim, discutir em sala de aula tempo, clima e ação dos fenômenos sobre as pessoas tem se tornado uma tarefa ímpar em meio a tantas possibilidades.

Partindo da premissa de que a função do ensino de Geografia também é de potencializar a construção do conhe- cimento da dinâmica atmosférica e de sua influência sobre a sociedade, revelamos neste capítulo uma prática pedagógica que prioriza a construção dos saberes a partir da observação do tempo e da coleta de dados meteorológicos.

O objetivo dessa prática pedagógica foi investigar a aplicabilidade da metodologia de observação do tempo mete- orológico em turmas do Ensino Médio integrado do campus do IFRN-Natal Central, como forma de tentar dinamizar o ensino de Geografia e auxiliar na produção do conhecimento. A justificativa para a realização de tal trabalho repousa na necessidade de avaliarmos constantemente as atividades propostas em sala de aula, de forma a contribuirmos para um ensino de Geografia mais dinâmico e capaz de auxiliar os estudantes na compreensão dos fenômenos naturais.

Outros trabalhos foram realizados nessa perspectiva a exemplo dos estudos de França Junior e Malysz (2010), realizado em Maringá/PR. Maia e Maia (2010) também discutem a execu- ção de atividades de observação do tempo e a sistematização das características climáticas com estudantes do ensino básico na Bahia. Além disso, Maia, Silva e Christofoletti (2012) relatam a aplicação dessa proposta com estudantes em Salvador.

Um elemento comum nos trabalhos citados é o envol- vimento dos estudantes na atividade e a utilização de uma tabela para registros diários e posterior descrição feita pelos discentes. Neste trabalho, optou-se por analisar a resposta dos envolvidos quanto às suas percepções e avaliação da atividade realizada.

Em Natal/RN, as características climáticas convidam a refletir sobre a dinâmica do tempo atmosférico. A influência das brisas, o decréscimo na temperatura durante o inverno e as altas taxas de insolação na maior parte do ano são marcantes no cotidiano dos moradores e visitantes da cidade.

A metodologia contemplou a revisão bibliográfica de autores que discutem práticas pedagógicas em Geografia, em particular, a proposta de observação do tempo meteorológico. Foi realizada previamente a proposta às turmas do primeiro ano para a coleta de dados em um intervalo de 15 dias, com registros fotográficos e pesquisas pela internet. Os estudantes foram divididos em grupos e apresentaram os resultados por meio de slides e preenchimento de planilhas. Posteriormente, foram aplicados questionários aos estudantes para coleta de dados referentes à eficiência da atividade e, finalmente, realizada a tabulação dos dados.

De forma geral, espera-se contribuir com a melhoria nas práticas da Geografia Escolar, de forma a tornar os conteúdos referentes ao tempo e ao clima mais próximos da realidade dos estudantes.

Metodologia

A atividade foi proposta às turmas do primeiro ano do Ensino Médio integrado do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), campus Natal Central, distribuídos nos turnos matutino e vespertino, tota- lizando 110 discentes participantes da realização do exercício proposto. Destes, um total de 68 alunos participaram dessa pesquisa mediante a aplicação e respostas do questionário.

Foram distribuídos grupos de seis estudantes em cada turma e dadas as orientações com 30 dias de antecedência. O período de coleta dos dados pelos estudantes totalizou 15 dias, culminando com a apresentação em slides nos dias seguintes. Além da consulta nos sites do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), responsável pela atualização dos dados meteorológicos, os participantes fizeram registros diários dos dados sobre os campos térmico, higrométrico e da direção do vento, e foto- grafaram as nuvens para posterior classificação.

A tabela proposta (Tabela 1) com os dados continha as informações adaptadas do trabalho de Rossato e Silva (2007) e França Junior e Malysz (2010). Foi planejado um tempo curto de observação em função da realidade curricular dessas turmas de Geografia. O modelo incluiu a coleta de dados meteorológicos, sensação térmica e tipos de nuvens. Cada grupo precisou fazer registros fotográficos diários das condições de tempo (particu-

Tabela 1 – Atividade de observação do tempo meteorológico

A) Forte (FO); Mediano (ME); Fraco (FR); B) Registrar o horário da precipi- tação pluvial e duração; C) Descrever os tipos de nuvens observadas em cada dia; D, F, G) Obter dados no site http://www.inmet.gov.br/portal/; E) Agradável-AG; Regular-RE; Insuportável-IN. Fonte: Adaptado de Rossato e Silva (2007) e França Junior e Malysz (2010) pelo autor.

Os estudantes apresentaram os resultados em sala (tempo máximo de 20 minutos para cada grupo) e as discussões sucediam ao final de cada apresentação. Para maior compreensão da efe- tividade da proposta, foi aplicado um questionário alguns dias após a realização da atividade. As perguntas foram elaboradas objetivando investigar se o(a) entrevistado(a): 1) considerava o conteúdo de climatologia importante para a compreensão do mundo; 2) se a atividade de observação do tempo ajudou na compreensão do conteúdo de climatologia, em especial, na do Rio Grande do Norte; 3) quais as informações que o(a) entrevistado(a) descobriu e quais lhe chamaram mais atenção; 4) se o(a) entrevis- tado(a) teve dificuldades na obtenção das informações solicitadas e, em caso positivo, quais foram os entraves; 5) imaginar e expor,

se fossem estudar novamente o assunto de climatologia, quais assuntos gostariam que fossem discutidos.

Após a devolutiva dos questionários respondidos, partiu-se para a tabulação e interpretação dos dados. Alguns participantes foram identificados por meio das letras A, B, C, D, E, F e G.

No documento Ensino e pesquisa na educação geográfica (páginas 71-76)