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Tempo(s) e percepções: o olhar do estudante

No documento Ensino e pesquisa na educação geográfica (páginas 79-87)

Quanto às apresentações, a participação dos alunos foi efetiva, contando com a produção dos slides pelos grupos. Os resultados apontam que os estudantes avaliaram o conteúdo de climatologia e a atividade como positivos enquanto conhecimento de mundo e importantes na construção dos conceitos básicos.

Quando questionados se consideravam o conteúdo de climatologia importante para a compreensão de mundo, 100% dos entrevistados afirmaram ser fundamental entender a influ- ência dos fenômenos climáticos sobre a sociedade e os sistemas naturais. Surgiram respostas complementares como: “O clima influencia a vida das pessoas em vários aspectos, e entendê-lo ajuda a compreender não só as pessoas como os elementos naturais.” (A); “É importante entender as mudanças climáti- cas para sabermos, mesmo que de forma mínima, controlar o ambiente em que vivemos, estudar o porquê dessas alterações.” (B); “É através do tempo e do clima que compreendemos os intemperismos físicos e biológicos.” (C); “É importante estu- dar o clima para sabermos sua influência em outros aspectos naturais, como a vegetação e o relevo. Assim como as atividades humanas que vêm influenciando significativamente no clima, nos últimos tempos.” (D); “[...] como a imigração e emigração da população pelo clima desfavorável, decorrendo disso muitos acontecimentos [...]” (E).

Nota-se que há uma diversidade de argumentos que sustentam a importância dos estudos climáticos. Algumas respostas, inclusive, apontam situações que envolvem a com- preensão da influência da sociedade sobre o clima e deste sobre a economia e as migrações.

Quando questionados se a atividade de observação do tempo ajudou na compreensão do conteúdo de climatologia, em particular na do clima do RN, também 100% dos entrevistados afirmaram que sim. No entanto, nota-se que houve um equívoco quando alguns afirmaram ter conhecido as variações de clima e tempo do Rio Grande do Norte, quando foram observadas apenas as condições meteorológicas de 10 dias, na capital Natal.

Todavia, para o entendimento do clima regional, os conceitos básicos devem ser discutidos e compreendidos. Observando-se a Figura 1, destaca-se a linguagem gráfica normalmente utilizada na representação dos dados meteo- rológicos. Os climogramas unem diversos dados referentes à temperatura e à pluviosidade, os quais são distribuídos em uma escala temporal.

Figura 1 – Diagrama Termopluviométrico de Natal

Com isso, ao invés de simplesmente interpretarem um climograma, os estudantes passam a produzi-lo, integrando a linguagem matemática na interpretação dos fenômenos. As respostas foram diversas: “Sim, uma vez que foram analisados aspectos relacionados às nuvens e às precipitações, e em como variou.” (A); “Sim, porque isso foi uma experiência muito boa, depois dela não sabemos do clima do nosso estado apenas na teoria, mas também na prática.” (B); “Sim, conhecemos as variações de temperatura e umidade do nosso estado.” (C); “Sim, é a partir da observação que compreendemos as características climáticas do lugar onde vivemos.” (D); “Sim, eu vi na prática o que estudei teoricamente sobre o clima do RN. Ao conhecer os tipos de nuvens, sabemos que a ocorrência de chuva era mínima porque a nuvem que prevalece não é tão carregada de gotículas de água.” (E); “Ajudou sim, uma vez que não nos prendemos só à internet. Fomos observar e listar nossas próprias conclusões, fixando mais o assunto.” (F); “Sim. Porque quando observei o tempo comecei a entender melhor como funciona a climatologia.” (G).

Muitos destacaram a contribuição da realização da ati- vidade prática, o que estimulou o confronto entre a teoria e a prática. Nesse sentido, destacam-se França Junior e Malysz (2007) quando afirmam que devemos divulgar técnicas e meto- dologias de ensino a fim de que um maior número de pessoas possa entender a dinâmica atmosférica.

Como forma de expressão do trabalho realizado, os grupos socializaram as observações e produziram material gráfico referente aos parâmetros indicados na tabela. Na Figura 2, um grupo de estudantes fez o registro das temperaturas em horários diferenciados e sintetizou as informações como estão no gráfico:

Figura 2 – Registro diário das temperaturas durante a atividade

Fonte: Dados cedidos pelos estudantes (2014)

Uma das respostas chamou atenção, pois o(a) participante considerou a atividade “desnecessária”. A atividade consistia em analisar os dias e classificá-los, entretanto, este(a) respondeu: “Apenas com uma abordagem geral seria possível explicar o clima da região”. Nesse caso específico, o(a) entrevistado(a) compreendeu que a atividade consistia em classificar os dias segundo aquelas categorias e considerou que apenas uma abor- dagem geral seria suficiente para a compreensão do clima do Rio Grande do Norte. Provavelmente não ficou claro para ele(a) que, a fim de se ter o entendimento do clima regional, faz-se necessário conhecer a metodologia de classificação climática, a qual necessita de registros diários das condições atmosféricas.

Quando questionados sobre quais informações lhes cha- maram mais atenção, 70% dos entrevistados afirmaram ter sido a classificação das nuvens e sua relação com as condições

térmicas e higrométricas. Os outros 30% destacaram a mudança do tempo, eventualmente de forma brusca, com luminosidade intensa pela manhã e chuvas no período vespertino. As respostas transcritas a seguir traduzem os resultados das informações mais relevantes: “[...] que havia vários tipos de nuvens e como o céu era diferente em algumas horas do dia” (A) e “As diversas formas como o tempo pode estar e a rapidez como ele pode mudar, pois gostei de acompanhar as transformações decor- rentes da observação.” (B).

Todos os participantes obtiveram as informações sem dificuldades. Nesse caso, deve-se levar em consideração a realidade do IFRN, que dispõe de laboratório de informática para coleta de dados pelos alunos, das 7h às 22h. Em outras instituições, provavelmente, a realização da atividade não seria possível, em função da inacessibilidade da internet nas escolas e nos domicílios. Assim, para proposição de qualquer trabalho, o professor deve ter sensibilidade para apresentar atividades de pesquisa que sejam compatíveis com a realidade do aluno.

Na última questão, os participantes sugeriram diversos temas a serem estudados em climatologia como a “A influência do clima nas atividades comerciais e industriais”; “Realizar essa atividade por um período mais extenso”; “O possível clima futuramente”; “Como a mudança climática influencia na eco- nomia e na história populacional brasileira”; “A variação do clima na cidade de Natal”. Dois entrevistados destacaram ainda a curiosidade em discutir as características climáticas do lugar onde residem (independentemente da escala de análise) e a sua influência sobre a sociedade.

Mesmo que a realização da atividade tenha sido apon- tada pelos estudantes como experiência positiva, ressalta-se

a limitação que essa metodologia possui quando não insere a dinâmica social. Afinal, por mais adequada que seja uma metodologia para a abordagem de um determinado conteúdo, outros mecanismos que facilitem a aprendizagem devem ser difundidos. Assim, as possibilidades de abordagem da climato- logia são inúmeras e podem ser melhoradas, também, de acordo com as curiosidades dos próprios estudantes, concretizando um ensino que atenda ao currículo institucionalizado e aos anseios dos alunos em formação.

Considerações finais

Segundo as perspectivas de abordagem do clima, a ativi- dade de observação do tempo possui características fortemente influenciadas pela Climatologia Analítica, que discute as mudan- ças meteorológicas de acordo com as variações numéricas. Nesse sentido, ao participarem da coleta dos dados e do registro diário das condições meteorológicas, os estudantes puderam confrontar a teoria discutida em sala de aula com a vivência em campo.

No entanto, para a abordagem da Climatologia Dinâmica, que prioriza a movimentação das massas de ar, tal atividade revelou-se insuficiente, porém, necessária para início das discussões. Os registros diários com apreensão dos atributos atmosféricos são importantes e complementam a análise cli- mática dos lugares.

Tratando-se do estímulo à reflexão sobre o lugar de vivên- cia do aluno, a atividade revelou-se de extrema importância em função da contribuição. Quanto ao envolvimento dos estudantes, ao trabalho realizado em grupo e à coleta de dados em sites cien- tíficos, o resultado foi satisfatório, pois possibilitou o estímulo

Vale ressaltar que o estudo da dinâmica atmosférica não é um fim, mas um meio para a construção de possibilidades integradoras entre os conceitos que contemplam a sociedade e a natureza. O ensino de Geografia pode ser melhorado, contudo, enquanto profissionais, precisamos ficar atentos aos métodos de ensino e quais os avanços e limitações dessas propostas.

Referências

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VESENTINI, J. W. Repensando a Geografia Escolar para o século XXI. São Paulo: Plêiade, 2009.

PARA EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA:

No documento Ensino e pesquisa na educação geográfica (páginas 79-87)