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Porque utilizar o infográfico na Educação Geográfica?

No documento Ensino e pesquisa na educação geográfica (páginas 97-107)

Antes de apresentar os motivos para a utilização da linguagem infográfica no ensino de Geografia, cabe inicial- mente apresentar o que vem a ser um infográfico e as suas especificidades. “O termo infográfico vem do inglês ‘infor- mational graphics’ e alia texto e imagem a fim de transmitir uma mensagem visualmente atraente para o leitor, mas com contundência de informação.” (MÓDOLO, 2007, p. 5). Acredita-se que com o advento das novas tecnologias, a modernização da notícia deu espaço para surgir o infográfico. Logo, o infográfico seria um híbrido entre a linguagem da notícia e a dos gráficos, uma linguagem icônica. Para Furst (2010), alguns elementos distinguem o infográfico da notícia, entre eles a autoria, pois o infográfico, apesar de complementar a notícia, é produzido por autores distintos e com conteúdos variados. Outro ponto a frisar é o fato de o infográfico possuir um título próprio e um lead (a primeira parte de uma notícia em destaque), o que propicia uma autonomia na leitura.

Os infográficos, portanto, são textos multimodais que apresentam uma combinação de texto escrito, imagens e dados para explicar os fenômenos ou fatos em uma visão científica. Encontram-se comumente apresentados em jornais ou revistas como complementação das notícias, ou mesmo em artigos científicos, em que ilustram os objetos de estudo, integrando as suas partes. Segundo Caixeta (2005), o infográfico vem atender uma nova geração de leitores que estão habituados à lingua- gem visual, icônica, e que preza pela rapidez e praticidade das informações. Para Furst (2010), o apelo visual desse recurso tem como objetivo persuadir o leitor pelas imagens, assim como pelo direcionamento claro das informações.

Diante disso, vislumbra-se utilizar o infográfico no contexto educacional, pois é um recurso que se constitui em interfaces visuais de convívio do aluno. Outro ponto a ser destacado é quanto à característica dessa nova geração de leitores que está sob o campo do domínio visual e da instan- taneidade da informação.

Nesse sentido, a Teoria da Carga Cognitiva (SWELLER, 1998), projetada para fornecer orientações destinadas a ajudar na apresentação de informações de uma maneira que incentive as atividades do aluno e otimize o seu desempenho intelectual, poderá nos ajudar a compreender como o infográfico auxi- liaria nesse processo. Essa teoria relata que o processamento de informações do cérebro humano possui uma memória sensorial, que capta os estímulos do meio externo, e outra memória de curto prazo, conhecida como memória de trabalho, que está continuamente processando informações, contudo, o armazenamento desta é limitado. A educação com linguagem multimídia tenta contornar essa limitação da memória de

trabalho utilizando a combinação entre linguagem visual e verbal. Dessa forma, podemos inferir que a aprendizagem se processa com êxito quando estiver em sintonia com o processo cognitivo do sujeito, ou seja, quando a quantidade de infor- mações (visuais e verbais) dispostas ao aluno for compatível com o seu nível de compreensão.

Assim, fica evidente que as novas tecnologias trouxeram linguagens textuais (como o infográfico) que agregam um número elevado de informações, mas que são facilitadas pela proximidade espacial dos elementos verbais e não verbais. Enquanto uma hipermídia, os infográficos permitem uma leitura não linear que pode ser percorrida de diversas maneiras, a depender do interesse do leitor. Cabe então investigar como esse recurso pode ser incorporado aos processos de ensinar e aprender Geografia na escola básica. A pesquisa desenvolvida por Costa (2010) sobre o uso de infográficos como gênero textual aponta que os alunos, em sua maioria, conhecem essa linguagem e que é a Geografia a disciplina que mais faz uso dela, de modo que esse dado é norteador para desenvolvermos nossa investigação.

Para o desenvolvimento da pesquisa, foi inicialmente realizado um diagnóstico de campo na Escola Estadual Aída Ramalho, na cidade de Mossoró/RN. O intuito inicial era uma sondagem sobre o grau de contato e dependência que esses alunos teriam com as novas tecnologias. Em síntese, o grupo de alunos do Ensino Médio que possui meios de acesso à internet em casa mostrou um grau de dependência elevado quanto à utilização do aparelho celular e do computador, e dividem a utilização desses recursos com as redes sociais e trabalhos escolares.

Diante desses resultados preliminares, resolveu-se fazer uma experiência de apresentação da linguagem infográfica no

contexto de sala de aula. Para tanto, dividiu-se a atividade em algumas etapas. A primeira etapa consistiu no planejamento em que, conjuntamente com a professora regente, procurou-se verificar as possibilidades de integração com o seu planejamento diário, bem como os conteúdos que seriam explorados. Uma vez definidos esses dados, passou-se à coleta e à seleção de infográfi- cos em ambientes virtuais de sites de busca para a utilização em sala de aula. O terceiro momento consistiu na apresentação dos infográficos como exposição inicial do conteúdo programático e debate. Ao final, os alunos responderam a um questionário sobre o conhecimento em relação à linguagem infográfica, às dificuldades encontradas, ao modo como os infográficos contribuíram para esclarecer os conteúdos.

Na fase de planejamento, decidiu-se com a professora regente que o conteúdo a ser explorado seria sobre a formação das placas tectônicas e suas consequências, em seguida, procu- rou-se selecionar um conjunto de infográficos para mediação dos conteúdos. Entre os infográficos selecionados, segue um exemplo abaixo:

Antes de apresentar o conteúdo, resolvemos apresentar o que era um infográfico e como ele se estruturava. A organização dos infográficos é feita a partir da fragmentação do conteúdo, sendo constituído de informações com textos verbais e imagens com as quais mantêm uma ligação direta. As informações são distribuídas em blocos, cada um possuindo sentido completo, o que significa dizer que ele não precisa de outros para informar, mas que complementa os demais. Durante a leitura do gráfico, as conexões desses blocos de informações e imagens são realizadas naturalmente pelo leitor, não importando o ponto de partida. Seguindo essa sistemática, os infográficos foram apresentados e ao final foi realizada a investigação sobre a aprendizagem.

Na primeira parte da sondagem, os alunos foram ques- tionados se já conheciam um infográfico. De um universo de 22 alunos, 37% responderam que já conheciam e 63% que não conheciam. Acredita-se que, embora tenha sido elevado o número daqueles que desconheciam, esse resultado pode ter alguma relação com o desconhecimento do termo “infográfico” e não necessariamente da essência do objeto.

No segundo momento, questionou-se qual parte dos infográficos chamou mais atenção deles e nesse ponto houve respostas diversas. Predominaram as que fizeram relação com as imagens de movimento das placas, e outros ainda fizeram relação com o gráfico que explica a Escala Richter e seus efeitos. Como mostram as respostas dos alunos: aluno 13 – “A parte das escalas, pois cada um mostra o que com o passar do tempo vai acontecendo ou pode acontecer, a sequência deixa bem claro.”; aluno 6 – “O movimento das placas é a parte de melhor entendimento com as ilustrações.”. Logo, pode-se constatar que o infográfico desperta interesses diversos e que, como ficou evidenciado nas falas dos sujeitos, facilita o entendimento dos

Em seguida, o questionário indagava sobre o nível de facilitação dos gráficos e imagens no entendimento dos con- teúdos, nesse quesito 62% apontaram que os gráficos têm um nível médio de facilitação, o que significa que eles associam a mediação à linguagem verbal, que ainda é a predominante no âmbito escolar.

Por fim, perguntou-se se o infográfico tornou mais fácil a explicação da professora. Nessa questão, todos responderam afirmativamente, como se percebe na justificação de suas res- postas: aluno 7 – “[...] porque se vê com mais clareza, tanto facilita pra mim quanto para o professor.”; aluno 11 – “[...] porque fica chamando mais atenção para aprender.”; aluno 13 – “[...] porque se ela só tivesse falado, sem nada a mostrar, eu não teria aprendido.”. Em vista desses fatos, torna-se evidente que os infográficos favorecem a aprendizagem ao associar imagens, textos e gráficos, possibilitando, assim, as conexões que a memó- ria de trabalho, por sua limitação, talvez não proporcionasse em um texto do livro didático. Contudo, compreende-se que a utilização do infográfico, assim como qualquer outro recurso didático, deve ser planejada com cautela, para que não se torne o próprio objetivo da aula e perca-se de vista as finalidades da aprendizagem.

O último momento da atividade foi a confecção de info- gráficos com conhecimentos da geografia local. Para tanto, foi proposto a esse grupo de alunos da Educação Básica que apontassem elementos da geografia local que interessavam para estudo e para a elaboração dos infográficos. A primeira etapa foi de levantamento de informações e dados necessários para produzir o infográfico. Procedeu-se, inicialmente, com uma pes- quisa documental, depois, com o tratamento das informações.

À medida que os alunos conseguiam novas informações, eles eram estimulados a pensar e selecionar as mais importantes e quais seriam destaques no infográfico.

O segundo momento dessa atividade foi explorar o site Piktochart (http://piktochart.com) com sua interface de elabora- ção de infográficos, identificando os recursos e possibilidades de usos. A etapa final consistiu na elaboração de dois infográficos, contendo dados sobre a Geografia da cidade de Mossoró/RN: um sobre a poluição do Rio Mossoró e outro sobre o clima urbano, como mostram as figuras a seguir:

Figuras 2 e 3 – Infográficos produzidos pelos alunos da Educação Básica sobre o clima urbano e o Rio Mossoró

Considerações finais

Diante dos dados e informações expostos sobre o uso e especificidades dos infográficos na Educação Geográfica, ficou evidente a inevitabilidade da tecnologia no nosso cotidiano. Os ambientes escolares e, sobretudo os saberes disciplinares, não podem negligenciar o papel das tecnologias no processo de ensinar e aprender. Essa inevitabilidade deve-se ao fato da força motriz do capital ser representada pela informação e, nesse contexto, as linguagens multimidiáticas operam para concretizar os projetos econômicos, quando não, as forças imaginárias constituem-se no modelo de divulgação dessas tecnologias.

Os indivíduos que vivem na “sociedade da informação” aprendem cada vez mais com o campo visual associado às lin- guagens verbais. A aprendizagem por meio dos infográficos no ensino de Geografia não é nenhuma novidade, pois a linguagem gráfica é parte do repertório curricular dessa disciplina. No entanto, o contexto atual apresenta as inúmeras possibilidades que surgem com a convergência de mídias e, sobretudo, em se trabalhar com a possibilidade de autoria, o que faz com que os alunos se empenhem para uma aprendizagem ativa. O principal objetivo do infográfico, além de informar, é ajudar no processo cognitivo dos sujeitos. Esse papel se torna claro na medida em que se insere no currículo como mais uma ferramenta de aprendizagem.

A apresentação final dos infográficos significou um momento de construção de conhecimento pelos alunos, pois, diante de informações e dados secundários, eles tiveram de sistematizar e pensar no layout do infográfico. Acreditamos que efetivamente essa experiência tenha contribuído para a

Referências

CAIXETA, R. A arte de informar. Associação Brasileira de Imprensa. 2005. Disponível em: <http://www.abi.org.br/paginaindividual. asp?id=556>. Acesso em: 18 fev. 2011.

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FURST, M. S. B. C. Infográficos: habilidade na leitura do gênero por alunos de ensino médio. 2010. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.

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SWELLER, J. et al. Cognitive architecture and instructional design.

UTILIZAÇÃO DE TÉCNICAS LÚDICAS

No documento Ensino e pesquisa na educação geográfica (páginas 97-107)