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Questionamentos iniciais

No documento Ensino e pesquisa na educação geográfica (páginas 49-54)

As discussões acerca do ensino de Geografia têm ocupado significativo lugar na agenda de debates dessa ciência. Questões didáticas e metodológicas que dizem respeito ao processo de ensino/aprendizagem da Geografia como componente curri- cular, nos níveis fundamental e médio, estão no centro desse debate, assim como aspectos inerentes à formação inicial e continuada do professor dessa disciplina. As reflexões que proponho tecer ao longo deste ensaio emergiram da minha vivência como professora da disciplina Ensino de Geografia,

lecionada nas instituições de ensino UFRN e UERN13, e das

12 Mestre em Geografia pela UFRN e doutoranda em geografia pela mesma universidade. Professora da rede municipal de ensino. E-mail: dianapfarias@yahoo.com.br

13 No interstício de 2011.2 a 2013.1, lecionei a disciplina Ensino de Geografia no curso de Pedagogia na UFRN. Entre 2013.2 e 2014.2, lecionei a mesma disciplina no curso de Pedagogia da UERN.

leituras teóricas que referenciam a área. É nesse cenário fecundo que afloraram as questões mobilizadoras da presente discussão, cujo enfoque principal diz respeito à formação inicial do pro- fessor de Geografia dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Meu interesse em propor a discussão se deve, sobretudo, por entender que, a despeito da crescente produção teórica que aborda temas relacionados ao ensino de Geografia, as questões que envolvem especificamente a Geografia Escolar nos anos iniciais do Ensino Fundamental, no tocante à formação inicial dos professores, carecem de maiores reflexões. Decerto que as questões que serão postas e as proposições delas decorrentes não terão caráter conclusivo, bem como não há, de minha parte, a pretensão em responder às demandas da área no âmbito deste texto. O que se pretende é oferecer uma reflexão que contri- bua para ampliar a visão sobre os elementos que envolvem a formação inicial dos professores de Geografia, que têm ou que terão sob sua responsabilidade o ensino desse componente curricular nos anos iniciais da Educação Básica.

O trabalho docente, em qualquer nível de ensino, requer do professor o exercício da percepção. A maneira como observa- mos, analisamos e julgamos os anseios e as dúvidas dos nossos alunos deve interferir na escolha dos caminhos teóricos e meto- dológicos que elegemos para subsidiar nossa prática pedagógica. O modo como mediamos o conhecimento incide diretamente na maneira como este será assimilado pelo aluno. Diante de turmas de graduação em licenciatura, parece-me que esse exercício perceptivo deve ser redobrado, sobretudo quando se leciona uma disciplina que, em linhas gerais, deve apontar “por que, o que e como se ensinar” um dado componente curricular.

Os alunos que cursam a disciplina Ensino de Geografia são oriundos do curso de Pedagogia. São eles que estarão ocu- pando as salas de aula dos anos iniciais do Ensino Fundamental na condição de professores. Logo, serão esses profissionais que ministrarão os conhecimentos e conteúdos geográficos para esse nível de ensino, conforme veremos na legislação. O ingresso na disciplina, nas duas instituições mencionadas, é efetuado por alunos que estão cursando o 5º período e tem como pré-requisito a disciplina Didática. Embora esses alunos já disponham de referenciais teóricos que versam sobre os saberes e habilidades da prática docente, a maioria encontra-se imersa em dúvidas, em especial, sobre as ações didáticas do professor de Geografia. A mais constante delas é sobre o que ensinar e como ensinar Geografia para crianças. É compreensível que tenham essas e outras dúvidas, uma vez que o contato com as referências que abordam temas de natureza geográfica só acontece durante a disciplina.

Nessas condições, o desafio que se coloca é o de buscar fornecer elementos que levem esses alunos a pensar sobre o ensino de Geografia e de como poderão desenvolver suas práticas pedagógicas. Para tanto, o primeiro passo é evidenciar que não há um receituário que diga como ensinar, seja a Geografia ou qualquer outro conhecimento. O segundo é discutir com esses alunos sobre a necessidade de articulação entre os saberes e as experiências acumuladas, seja por intermédio das disciplinas já cursadas, seja pela vivência escolar que muitos já possuem. Um número significativo de alunos desempenha a função de auxiliar de professores, assim, eles devem trazer para a sala as diversas situações observadas que marcam o cotidiano escolar e que interferem no processo de ensino/aprendizagem.

É nesse horizonte, marcado por dúvidas e expectativas, que se desdobram as minhas ações à frente da disciplina Ensino de Geografia, sentimentos que partilho com os alunos. Ouvi-los permite que exponham suas dúvidas e expectativas em torno do que pensam sobre a Geografia como conhecimento e, mais precisamente, sobre o seu ensino, o que tem se revelado um caminho metodológico na construção da disciplina, no intuito de construir junto com estes futuros professores elementos que de fato contribuam para guiar sua prática didática e pedagógica.

Como ciência e como disciplina escolar, a Geografia está presente nos currículos da Educação Básica, devendo ser lecio- nada por um profissional habilitado para este fim. Para tanto, vejamos o que propõe a legislação vigente sobre esse aspecto. Em conformidade com a resolução N° 1 do Conselho Nacional de Educação (CNE), o artigo 2° das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Pedagogia estabelece que caberá ao profissional dessa área “o exercício da docência na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental”, sendo res- ponsável por ensinar conforme posto no artigo 5º: “VI – ensinar Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia, Artes, Educação Física, de forma interdisciplinar e adequada às diferentes fases do desenvolvimento humano”. É importante destacar que, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, esses conhecimentos são ministrados majoritariamente por um pro- fissional cuja formação inicial é a graduação em Pedagogia; não há, portanto, um professor específico para cada ramo disciplinar.

A partir do que é estabelecido por meio das diretrizes e considerando o contexto experienciado na disciplina Ensino de Geografia, levantamos algumas questões que dizem respeito ao processo de formação inicial do professor dos anos iniciais,

mais especificamente do pedagogo, no que tange ao ensino de Geografia. Sendo da competência desse profissional o ensino dessa área do conhecimento nesse nível da Educação Básica, alguns questionamentos se fazem necessários para se discutir a formação inicial desse professor. Assim, é importante refletir sobre os seguintes aspectos: quais são os saberes e habilidades teóricas e metodológicas específicas da Geografia que precisam ser desenvolvidas por parte desse professor? Pensar acerca dos elementos que envolvem essa questão me parece salutar no que se refere à formação inicial. Muito se tem discutido sobre a qualidade do ensino de Geografia que é ofertado nas escolas de Educação Básica. Porém, a busca por melhorias deve passar, entre outros aspectos, pela qualidade da formação profissional. Espera-se que quanto melhor e mais completa for essa for- mação (inicial e continuada), maiores serão as chances desse profissional desempenhar suas funções de modo satisfatório.

Nesse contexto, outra questão aparece e encontra-se intrinsecamente correlacionada às demais. Qual o objetivo de ensinar e de aprender Geografia nos anos iniciais? Essa tem sido uma das questões que mais ouço dos alunos que cursam a disciplina Ensino de Geografia. Parte desse questionamento tem origem na própria trajetória dos alunos quando estudantes do Ensino Fundamental e Médio. É comum ouvir dos alunos depoimentos como “eu não me lembro de nada que estudei em Geografia” ou “eu não sei nada de Geografia”. Não lembrar ou dizer que não sabe os conteúdos de Geografia não significa não os ter estudado, ou que, na qualidade de professor, não será capaz de ensiná-los. A partir dessas afirmações, compreendo que caberá à disciplina promover um debate que exponha a impor- tância do ensino nos anos iniciais, evidenciando qual o valor de seus conhecimentos para a formação de crianças em fase de

alfabetização. Essa conscientização reforça o papel do professor nesse processo; em última análise, justifica ao licenciando a busca pela (re)construção dos saberes e habilidades específicos da Geografia para o exercício de sua atividade docente.

Nesse sentido, apresento aqui algumas considerações sobre o ensino de Geografia nos anos iniciais a partir do que dizem os documentos oficiais, especialmente os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o ensino de Geografia, bem como as propostas e reflexões de alguns autores. Por meio dessa análise, é possível depreender quais conceitos e fundamentos alicerçam o ensino de Geografia nos anos iniciais e que, portanto, necessitam ser apreendidos por parte dos professores.

O ensino de Geografia nos anos iniciais:

No documento Ensino e pesquisa na educação geográfica (páginas 49-54)