• Nenhum resultado encontrado

2 TEORIA DOS JOGOS E COOPERAÇÃO

2.4 CLASSIFICAÇÃO DOS JOGOS

2.4.2 Jogos cooperativos

O escopo da Teoria dos Jogos abrange o estudo de jogos classificados em cooperativos e não-cooperativos, dependendo de como a cooperação é considerada. Inicia-se apresentando, neste estudo, a primeira classificação: os jogos cooperativos. Por questões de definições conceituais e posicionamentos, expõe-se que os jogos de natureza cooperativa e a Teoria da Cooperação possuem pressupostos teóricos diferenciados, apesar de complementares e subseqüentes. Tem-se, primeiramente, a exposição dos trabalhos de natureza cooperativa,

com os precursores Von Neumann e Morgenstern (1944); posteriormente, como uma evolução desses, a Teoria da Cooperação, com base em Axelrod (1984). Esta última utiliza-se dos preceitos teóricos da primeira como seu alicerce, mas propõe aprimoramentos e traz à tona indagações que serão desveladas adiante.

De acordo com Carraro (1996), os jogos cooperativos tiveram um expressivo desenvolvimento nas últimas décadas e são, em sua opinião, sem dúvida alguma, o tipo de jogo mais utilizado no estudo do comportamento estratégico de agentes, em especial, na economia. Autores como Von Neumann e Morgenstern (1944), Nash (1951), Aumann (1959), Harsanyi (1967), Kreps (1996), Fergusom (1996), Binmore, (1997), Doria e Doria (1999), Chalegre (2001), Nasar (2002), Bêrni (2004) e Fiani (2006) afirmam que em jogos cooperativos as coalizões existem e são permitidas. Destaca-se que o termo coalizão possui inúmeros sinônimos em jogos cooperativos e podem ser usadas também as palavras acordo, promessas, contrato, pacto, combinação, compromisso, conforme o teórico de referência e que, neste estudo, são aceitos todos. Contudo, o que se ressalta é que, independentemente da denominação utilizada, se faz necessário que essa coalizão exprima relações mútuas (VON NEUMANN; MORGENSTERN, 1944), e ocorra entre dois ou mais agentes (AUMANN, 1959).

Por sua vez, se de um lado se reconhece que o ser humano é instintivamente egoísta (RIDLEY, 2000), devido a sua natureza de assegurar a própria proteção e satisfação de necessidades, ainda que isso ocorra em detrimento de outro; por outro lado, o autor ressalta que o ser humano também possui habilidades para formar coalizões. Sobretudo, destaca que em jogos cooperativos as coalizões não são realizadas de maneira espontânea, mas tem-se a obrigação da ocorrência de ajustes, alianças, arranjos entre os jogadores que estão interagindo, como deixa explicito Harsanyi (1967). Há, por conseguinte, a exigência de pactos entre as partes nas situações de jogos cooperativos.

Contudo, como relata Myerson (1991), para que esses acordos se mantenham em jogos cooperativos, ainda que obrigatórios, alguns pré-requisitos devem ser satisfeitos. Fiani (2006) registra que esses compromissos precisam apresentar garantias efetivas a todas as partes, para que possam envolver-se e comprometer-se formalmente. Von Neumann e Morgenstern (1944) contribuem afirmando que as coalizões precisam ser também consistentes, com elementos solidamente unidos, de forma duradoura, estável, resistente. Além disso, necessitam ser, segundo Bêrni (2004), favoráveis a todos. Para que isso ocorra é mister que em jogos

cooperativos sejam possíveis a ordenação e a aplicação de planejamento de estratégias em conjunto pelos jogadores (SCHUCH, 2003).

Aos olhares de Kreps (1996) e Pimentel (2005), jogos cooperativos visam à ação coletiva. Almeida (2005) acrescenta que os grupos de indivíduos comprometidos uns com os outros formulam decisões racionais, em que os meios que os indivíduos empregam para obter seus fins importam mais do que os fins em si, assevera Fiani (2006), e como já exposto. Em outras palavras, os jogadores, como um grupo, devem se comprometer inteiramente com as estratégias (NASAR, 2002).

Como, em jogos cooperativos, engendra-se para que os jogadores formem acordos, têm-se, assim, estímulos fortes para que busquem colaborar, como desvela Fergusom (1996) e, assim, aumentarem os resultados do grupo, como aprimora Kreps (1996). Isso significa maximizar os payoffs dos jogadores envolvidos, obtendo-se a melhor a solução ou, ainda, como coloca Binmore (1997), a distribuição dos ganhos entre os participantes. De acordo com Myerson (1991, 2007), se coopera em relação aos estímulos para formação e manutenção de acordos. O autor enaltece, sobretudo, que um acordo só se manterá se for interessante para todos os envolvidos, havendo, então, reciprocidade; caso contrário, inexiste motivação para a continuidade do acordo. Contudo, como em partidas cooperativas, os jogadores podem sinalizar aos outros agentes seu desejo de realizar pactos. Segundo Chalegre (2001), isso favorece os estímulos e a obtenção de melhores payoffs.

Por fim, aponta-se a evidência de que, em jogos cooperativos, a comunicação entre as partes que jogam é componente fundamental (DORIA; DORIA, 1999). Nesse tipo de jogo, a comunicação prévia é permitida entre os jogadores, antes de decidirem que estratégia adotarão, como declaram Von Neumann e Morgenstern (1944). Assim, a dimensão, em termos de quantidade, alcance e duração, em que os jogadores podem comunicar-se têm efeito profundo e direto no resultado de um jogo, segundo Davis (1983). Constata-se, dessa forma, apesar de a comunicação ser permitida, de fazer parte da composição de jogos cooperativos, esta pode ocorrer em níveis distintos. Davis (1983) relata que se pode ter uma comunicação que seja quase insignificante entre os jogadores, assim como haver jogos nos quais os jogadores comunicam-se livremente. O autor evidencia que, via de regra, quanto mais cooperativo for o jogo, mais os interesses dos jogadores coincidem e mais significante é a capacidade de comunicar-se.

Contudo, para que essa comunicação seja a mais eficaz possível, necessita que transcorra sem distorções e que a emissão de mensagens não implique uma alteração direta da matriz original do jogo (SILVA, 2004). O autor acrescenta que, embora a comunicação, de imediato, pareça facilitar a realização de coalizões, também abre espaço para imposições de ameaças e blefes que prejudicam a maximização dos payoffs para uma das partes. Por isso, estar atento a como se dá o processo de comunicação entre jogadores, em jogos cooperativos, é de relevância, tendo em vista que em jogos desta naturezahá busca do compromisso sólido que leve ao compartilhamento efetivo dos payoffs, a partir de acordos imprescindíveis.