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3 MEIOS CONSENSUAIS E DISPUTAS REPETITIVAS NO JUDICIÁRIO

3.2 A NÁLISE DOS RESULTADOS

3.2.2 Justiça Estadual

Na Justiça Estadual, foram visitados os seguintes programas: (i) Posto Avançado de Conciliação Extraprocessual (Pace) – SP; (ii) CEJUSC-SP; (iii) CEJUSC-MG; (iv) CEJUSC- Brasília; e (v) Núcleo de Mediação e Conciliação do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul (TJMS). Os programas estaduais estudados, em sua maioria, foram instaurados antes de a Resolução nº 125/2010 entrar em vigência, tendo sofrido algumas alterações para se adequar à política judiciária instituída pelo CNJ.

265 Segundo informações disponibilizadas pelo Gabinete de Conciliação do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em 2012 foram designadas 33.564 audiências de conciliação, das quais aproximadamente 75% foram efetivamente realizadas. Do total de audiências realizadas, pouco mais de 58% resultaram em acordos que, segundo os números do Judiciário, movimentaram um total de mais de R$ 156 milhões. Ao todo, foram 92.204 pessoas atendidas em sede de conciliação. Informações consolidadas de 2012 fornecidas pelo

Gabinete de Conciliação do TRF3, disponíveis em:

<http://www.trf3.jus.br/trf3r/fileadmin/docs/conciliacao/2012/Acumulado_Anual.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2013.

266 O percentual de satisfação com o atendimento recebido dos servidores da Justiça Federal é de 82,9%, enquanto os que se sentiram bem atendidos pelos juízes federais foram 78,4% do total de respondentes. Com relação, especificamente, ao atendimento do conciliador, todos os respondentes deram avaliações entre bom (37,3%) e muito bom (62,7%). Importante notar também que 93,5% dos usuários reportaram não terem se sentido pressionado para firmar um acordo e que 98,1% acreditam que a conciliação poderia auxiliá-los a resolver novos problemas no futuro. Informações consolidadas de 2012 fornecidas pelo Gabinete de

Conciliação do TRF3, disponíveis em:

<http://www.trf3.jus.br/trf3r/fileadmin/docs/conciliacao/2012/Acumulado_Anual.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2013.

3.2.2.1 Implementação e trajetória

Em São Paulo, as primeiras iniciativas de conciliação no âmbito processual datam de 2004, quando da instalação de um setor de conciliação no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP) e no Foro Central da Capital (Fórum João Mendes). Com a Resolução nº 125/2010, foram estabelecidas as exigências de capacitação ditadas pelo CNJ, com consequente aumento no rigor do cadastramento de conciliadores. Em novembro de 2011, foi inaugurado o centro pré-processual, que teve dentre as primeiras iniciativas a realização de dias específicos de conciliação de disputas envolvendo a CDHU.

Nessa época, já havia em São Paulo, além dos setores de conciliação (processual), o Pace, instalado em 2008 por meio de uma parceria entre o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e a Associação Comercial de São Paulo (ACSP)267.

Em Minas Gerais, o programa judicial de conciliação data de 2002, quando da instalação do primeiro Centro Judiciário do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG) em Belo Horizonte. Em 2007, passou-se a trabalhar também com a mediação de conflitos em processos de família. Com a Resolução nº 125/2010, foram criados o setor pré- processual e o setor de cidadania, sendo que essas três frentes — processual, pré-processual e cidadania — formam o CEJUSC-MG.

As primeiras iniciativas no Distrito Federal também ocorreram em 2002, quando então foi criado o Programa de Estímulo à Mediação, fruto de uma iniciativa conjunta da Presidência e da Vice-Presidência da Corregedoria do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Com a política do CNJ, os programas de mediação e de conciliação judiciais passaram a ser coordenados pelo Núcleo Permanente de Mediação e Conciliação (Nupemec) e centralizados nos CEJUSCs, enquanto a coordenação das iniciativas já existentes e voltadas para públicos-alvos específicos (justiça comunitária, justiça restaurativa e apoio judicial de idosos) passou a ser exercida pelo Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupecon)268.

267 Mais informações sobre a parceria entre o TJSP e a ACSP para instalação do Posto Avançado de Conciliação Extraprocessual estão disponíveis no texto encaminhado para a sexta edição do Prêmio Innovare, em 2009. Disponível em: <http://www.premioinnovare.com.br/praticas/conciliacao- extrprocessual-ferramenta-eficaz-para-solucao-de-conflitos/>. Acesso em: 4 de nov. 2013.

268 O Nupecon recepcionou as atividades outrora exercidas pelo Sistema Múltiplas Portas de Acesso à Justiça (SMPJ), criado em 2009 com intuito de ampliar as atividades exercidas pelo Programa de Estímulo à Mediação, com exceção das mediações cíveis e familiares, hoje coordenadas pelo Nupemec. O Nupecon é responsável pelos seguintes projetos: Centro Judiciário de Solução de Conflitos e de Cidadania do Programa Justiça Comunitária, Núcleo de Formação e Pesquisa em Justiça Comunitária, Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania da Central de Apoio Judicial aos Idosos e Centro Judiciario de Solução de Conflitos e de Cidadania do Programa Justica Restaurativa. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO

O núcleo do TJMS é o mais recente dentre os estudados. Criado em 2010, já sob a égide da Resolução nº 125/2010, restringiu-se, inicialmente, ao oferecimento de mediação em processos de família. Apenas em 2013 foram realizadas as primeiras ações para realização de audiências de conciliação, com a organização de mutirões de disputas relacionadas ao Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT).

3.2.2.2 Desenho, atores e condições de acesso

O CEJUSC-SP, o CEJUSC-MG e o CEJUSC-Brasília são, como determinado pela Resolução nº 125/2010, vinculados aos respectivos núcleos permanentes de métodos consensuais de solução de conflitos de seus estados. No TJMS ainda não havia sido instalado um centro propriamente dito, mais as mediações vêm sendo conduzidas desde 2010 sob a égide do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos do referido tribunal.

Como todos os programas já estão submetidos aos parâmetros do CNJ, relatam, de modo geral, que seus objetivos centrais são a pacificação e a promoção do acesso à justiça pelos meios consensuais de solução de disputas. Há outros valores mencionados pelos entrevistados, como a busca por um meio mais rápido de solução de conflitos (Pace-SP); o estímulo à solução consensual de disputas (CEJUSC-MG); e a redução da excessiva judicialização e recorribilidade dos conflitos de interesses (CEJUSC-Brasília).

Os recursos utilizados são do Judiciário, que deve ceder servidores para compor a estrutura administrativa das centrais e dos núcleos. Como prevê o artigo 3º da Resolução nº 125/2010269, poderão ser firmadas parcerias público-privadas para levantamento de recursos

para instalação de centros de conciliação e de mediação. É essa a situação do Pace, que, embora seja anterior à referida resolução, mantém-se vinculado ao Judiciário paulista e atua também sob a égide da política judiciária do CNJ270.

Com exceção das iniciativas de São Paulo (CEJUSC-SP e Pace-SP), os programas oferecem mediação e conciliação. No Pace-SP, afirma-se que, muito embora não haja essa

FEDERAL E TERRITÓRIOS. Núcleo Permanente de Mediação e Conciliação. Relatório de Atividades do

NUPEMEC 2012. 2012. Disponível em: <http://www.tjdft.jus.br/institucional/2a-vice-

presidencia/relatorios/nupemec/relatorio-semestral-nupemec-1o-2013/anexo-03-relatorio-anual-de- atividades-nupemec-2012/Relatorio%20NUPEMEC_2012.pdf/view>. Acesso em: 4 nov. 2013.

269 “Art. 3º O CNJ auxiliará os tribunais na organização dos serviços mencionados no art. 1º, podendo ser firmadas parcerias com entidades públicas e privadas.”

270 Por essa parceria, é obrigação do Tribunal de Justiça fornecer os conciliadores capacitados e o sistema de gestão, enquanto a Associação Comercial é responsável pelo espaço físico e pelos recursos materiais.

oferta formal da mediação, ou uma distinção entre mediação e conciliação, em alguns casos são aplicadas técnicas tidas como próprias da mediação271. Contudo, na grande maioria das situações trata-se de “conciliação pura e simples” entre indivíduos e instituições financeiras. São Paulo e Minas Gerais já trabalham também no âmbito pré-processual, enquanto o Núcleo do TJMS e o CEJUSC-Brasília só oferecem, até o momento, a conciliação e a mediação processuais.

Com relação aos mediadores/conciliadores, todos os programas trabalham com profissionais voluntários (advogados, estudantes, aposentados, etc.) capacitados nos termos da política judiciária do CNJ.

No CEJUSC-SP, são descritas sistemáticas de encaminhamento diversas para o pré e para o processual. No pré-processual, há, de um lado, os casos nos quais pessoas físicas buscam a conciliação para renegociação de dívida, especialmente de cartão de crédito, após terem sido atendidas no Procon-SP, e, de outro, grandes litigantes que buscam o centro para propor a organização de mutirões em ações nas quais são credores, com destaque para a CDHU, a Eletropaulo, a Telefônica e bancos. Quando da pesquisa, essa segunda modalidade (credores organizando mutirões) correspondia à maior parte da pauta de audiências. Em menor número, o CEJUSC pré-processual também atende casos de família encaminhados pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo (DPSP). Já no processual, o encaminhamento é realizado discricionariamente pelos juízes para os setores instalados nos respectivos foros. Também são realizados mutirões por iniciativa dos grandes litigantes, que indicam os processos a serem incluídos nas pautas de audiência, ficando o envio destes a critério do juízo.

Ainda no pré-processual, o CEJUSC-SP vem trabalhando com Núcleo de Tratamento de Superendividamento da Fundação Procon-SP para realização de audiências coletivas entre o indivíduo e seus credores (bancos, concessionárias de serviço, predominantemente)272. O

271 “A gente sabe como é que começa uma audiência, mas nunca sabe como é que termina. Ali, por exemplo, está tendo uma briga de família, de vizinhos ali. Chama-se ‘conciliação’, mas em determinados casos nós acabamos aplicando técnicas de mediação, um pouco mais modificada porque, assim, pelo tempo, pela agilidade, pela quantidade de audiências. Ninguém entra com pedido de mediação. Claro que o que existe são determinados casos que você não pode ter uma postura mais ativa como conciliador, mas você atua como um mediador. Existem casos em que é feita, vamos colocar, uma mediação, se você for ver técnicas aplicadas, as formas de condução do próprio conciliador.” (coordenador do Pace-SP).

272 O programa de Superendividamento foi idealizado pelo Núcleo de Pesquisa sobre o Superendividamento, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, coordenado pela professora Claudia Lima Marques, e implantado por um projeto-piloto em 2007 nas comarcas de Charqueadas e Sapucaia do Sul com objetivo de promover “a reinserção social do consumidor superendividado, através da conciliação paraprocessual ou processual, obtida em audiências de renegociação com a totalidade de seus credores”. (BERTONCELLO, Káren Rick Danilevicz; LIMA, Clarissa Costa de. Tratamento das situações de superendividamento do

atendimento do consumidor inicia-se com uma triagem realizada no próprio CEJUSC ou em postos do Poupatempo, em que se avaliam a condição financeira do consumidor e a sua capacidade de renegociação das dívidas, e segue com uma palestra em que recebe orientações financeiras, com o objetivo de instruí-lo para negociação com os credores. Os conciliadores devem passar por uma capacitação específica para lidar com essas negociações coletivas, inclusive com os aspectos socioeconômicos e psicológicos do endividamento. Relata-se que o Procon e o Judiciário realizam tratativas prévias com as empresas credoras usualmente envolvidas para instá-las a apresentarem propostas de acordo mais vantajosas aos endividados e para sensibilizar seus representantes para o procedimento de audiência coletiva273. É comum que os consumidores não compreendam a composição da dívida (juros, principal, prestações) e que sintam mais segurança para negociar no ambiente do Judiciário, com a presença do Procon, do que diretamente com o credor.

O Pace-SP, que atua somente com pré-processual, recebe majoritariamente casos de dívidas oriundas de empréstimos, cartão de crédito, alienação fiduciária de veículo. Segundo o coordenador do posto, esses “devedores de massa” muitas vezes buscam o Procon, que os encaminha para a conciliação, depois de terem tentado ser atendidos nos canais de atendimento da empresa credora, sem sucesso274. Também é cada vez mais significativo o volume de audiências realizadas no sistema de mutirões, nos quais as empresas buscam o Pace para negociar com seus consumidores (geralmente também em casos de dívidas).

O CEJUSC-MG também adota uma sistemática de convênios e mutirões focados em grandes litigantes no âmbito pré-processual e com o encaminhamento de processos por magistrados no processual. Todos os processos em que são designadas audiências preliminares de conciliação (artigo 331 do CPC) são remetidos para o centro. Indivíduos também podem procurar diretamente o setor pré-processual para solicitar a realização de uma sessão de conciliação ou mediação. No processual, cabe aos juízes definirem qual o encaminhamento do processo (mediação ou conciliação), ao passo que são os mediadores que

<http://www.tjrs.jus.br/export/processos/conciliacao/doc/projeto_superendividamento.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2013).

273 Além da coordenadora do CEJUSC-SP, foram entrevistadas, informalmente, duas conciliadoras que atuam nos casos de superendividamento em São Paulo e a representante do Procon, oportunidade em que também foram observadas in loco audiências coletivas realizadas com “superendividados” e seus credores.

274 “A gente tem dois tipos de público - pessoas físicas querendo pagar, por incrível que pareça, e pessoas jurídicas cobrando pessoas físicas. Se for pensar pelas pessoas jurídicas, sempre cobrança. Tem discussões de contrato, coisas grandes, honorários, essas coisas todas, mas o grosso é cobrança. E as pessoas físicas, por incrível que pareça, eu acho que é uma das informações mais relevantes que o posto tem é assim: são pessoas que não conseguem ser atendidas por lugar nenhum e que só querem pagar sua dívida. Aí entra naquela questão da dificuldade de acesso à empresa, a um banco, call center, serviço de atendimento. […] São devedores de massa. Ou são credores que têm devedores de massa.” (coordenador do Pace-SP).

decidem se um caso atendido no pré-processual deve ser encaminhado para mediação ou para conciliação.

No Mato Grosso do Sul, o Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos analisa todos os processos de família da comarca e seleciona aqueles que podem ser remetidos à mediação (excluídos os casos de violência doméstica). A partir daí, as partes são convidadas a comparecerem e a participação é voluntária. Em 2013, começaram a ser realizadas as primeiras audiências de conciliação já em uma sistemática de mutirão temático (DPVAT). Neste, as partes (empresa e pessoa física) podem inscrever seus processos no site do Tribunal de Justiça para que sejam remetidos para conciliação.

O CEJUSC-Brasília adota também uma sistemática denominada “pauta concentrada”, na qual uma empresa ou entidade interessada manifesta interesse por um “evento conciliatório”, que consiste na realização de audiências de conciliação concentradas em dias determinados.

Todos os centros e núcleos podem ser gratuitamente acessados pelas partes interessadas, sem o pagamento de custas.

Em termos de orientações às partes, é de destaque o papel exercido pelo Procon em São Paulo no Programa de Superendividamento, promovendo palestras para os consumidores e reunindo-se previamente com os credores para instruí-los quanto ao procedimento de conciliação coletiva. Além disso, o CEJUSC-SP e o CEJUSC-Brasília contam com a assessoria da Defensoria Pública e do Ministério Público no âmbito pré-processual, em que frequentemente as partes comparecem sem advogado. Apesar de também atuar no pré- processual, o Pace não conta com a mesma assessoria da Defensoria Pública. Relata-se ser papel do conciliador orientar o indivíduo sobre o procedimento. Em Minas Gerais, investe-se bastante no papel do Setor de Cidadania para prestar informações às partes que não estão assessoradas na conciliação e na mediação.

3.2.2.3 Tratamento de disputas repetitivas

Todos os programas estudados lidam com disputas consideradas repetitivas e com a relação entre litigantes repetitivos e litigantes ocasionais: cobranças de dívidas relacionadas a empréstimos contraídos mediante condições análogas, alienação fiduciária de veículo, ações relacionadas ao seguro DPVAT, dívidas com concessionárias de serviços e operadoras de

telefonia celular e ações indenizatórias manejadas por consumidores em face delas e de empresas de varejo fulcradas em produtos e serviços semelhantes.

Em São Paulo, enfatizou-se a dificuldade de o conciliador intervir quando observa a disparidade de informações entre as partes sem comprometer a sua imparcialidade275. Há também a dificuldade de se lidar com o desequilíbrio em termos de poder de barganha em razão da falta de flexibilidade com que os litigantes repetitivos comparecem na sessão conciliatória276,277, especialmente quando são credores.

Para coordenador do Pace-SP, essa falta de flexibilidade é um dos fatores que se pretendeu “atacar” quando da concepção dos mutirões de conciliação, nos quais se negocia previamente com o grande litigante para que apresente propostas mais flexíveis de acordo até para justificar a paralisação da pauta de audiências para atendimento apenas de disputas de seu interesse:

a gente tenta negociar antes, com as empresas. A gente tenta falar, “qual é a sua margem?”, “o que vocês estão pensando?” Porque no mutirão eu paro o setor para “trabalhar para as empresas”. São 300 audiências numa semana, por exemplo. “Eu não atendo mais ninguém, só atendo vocês. Como é que eu vou justificar isso para o Judiciário e até para a própria Associação Comercial que eu fiquei uma semana trabalhando para você e que você não fez 50% de acordo? Então, assim, eu preciso saber o que você está pensando.” É possível conseguir maior flexibilidade das empresas no mutirão. (coordenador do Pace).

No CEJUSC-MG, também se atua no âmbito processual com a sistemática de mutirões mediante convênios com grandes litigantes278. Essas parcerias impõem certo cuidado com o relacionamento com os prepostos, que acabam convivendo com os funcionários e os conciliadores no dia a dia das audiências279. Ressalta-se também a

275 “Não pode ser conciliador de graça e pronto, senta lá e faz a sessão. Tem que ser capacitado. Por isso que a Resolução 125 exige a capacitação, para que ele tenha condições de ajudar as duas partes. O conciliador tem que ser imparcial, ele não pode advogar para a parte, ele não pode ser contra uma em favor da outra. A mesma orientação que ele está dando para uma parte, ele tem que dar para a outra também, na mesma proporção.” (coordenadora do CEJUSC-SP).

276 “Eu acho que a dificuldade maior mesmo é a falta de ‘mexer no bolso’ dos outros, é uma coisa complicada, mas se de repente o credor não vem tão aberto a ajudar o devedor, não que ele tenha obrigação, mas ele podia ser um pouco mais maleável.” (coordenadora do CEJUSC-SP).

277 “A maior dificuldade que não sai acordo é justamente, vamos lá, por falta de flexibilidade por parte das empresas. [proposta] Meio que engessada. Se as empresas olhassem isso como uma forma de fidelização, de agradar o cliente, sei lá, uma diferença de uma, duas ou três parcelas, não ia fazer a menor diferença para a empresa. […] Poderia ser mais flexível.” (coordenador do Pace-SP).

278 Foram citados na entrevista os convênios com Cemig, Telefonia Oi, HSBC e Losango.

279 “Para os conciliadores também é difícil ultrapassar essa barreira com a empresa, ainda mais é só o Cemig por enquanto. E a gente está trabalhando para isso, para que eles consigam. Desde o início, o mesmo preposto vem muito para as audiências. Desde o início, por conta deste convênio, não sei o que que eles pensaram. Eles vêm achando como se o TJ estivesse do lado, e não é isso. Existe um convênio, mas ninguém está ali para tomar partido.” (juíza coordenadora do Setor Pré-Processual do CEJUSC-MG).

importância da presença da juíza coordenadora do setor e do treinamento dos conciliadores para que lidem especificamente com essa figura do preposto de modo a evitar que o relacionamento construído pela convivência não interfira na condução das sessões conciliatórias280.

Como já mencionado, o CEJUSC-Brasília trabalha essencialmente com a lógica denominada de “pauta concentrada”, que se assemelha com um mutirão porém é realizada recorrentemente e concentra um número menor de audiências por dia281. Para tanto, também firma parcerias com os grandes litigantes282 que fazem contato com o centro, realizando-se uma reunião prévia para discutir procedimentos, ações da empresa “que podem facilitar as negociações, posturas dos representantes que aumentam as chances de acordo e cláusulas usuais dos termos de acordo (custas, honorários, multas etc.)”283. O grande litigante encaminha a lista de processos ao centro, que designa uma data para as audiências, oficiando os juízos para encaminhamento dos processos.

O coordenador administrativo do CEJUSC-Brasília também comenta o desafio de lidar com as partes com menos informações sobre o procedimento e sobre a disputa em si e entende que a pauta concentrada propicia que sejam dadas mais informações a essas partes, bem como que os conciliadores adotem uma postura mais interventiva e adequada, considerando o tipo de demanda que compõe a pauta.

No Mato Grosso do Sul, a preocupação com disputas repetitivas e com o relacionamento com litigantes repetitivos começa a surgir na medida em que o núcleo se prepara para realizar seus primeiros mutirões de conciliação com grandes litigantes. Essa relação é vista desde então com cautela, sendo destacada a premissa de que os conciliadores

280 “A gente está tentando treinar os conciliadores. É difícil, a gente encontra muita resistência em relação a