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5 A CONCILIAÇÃO E A MEDIAÇÃO DE DISPUTAS REPETITIVAS:

5.1 O TRATAMENTO ADEQUADO DE DISPUTAS REPETITIVAS

5.1.5 Objetivos, metas e critérios de avaliação

O estudo da tecnologia de desenho de solução de disputa traz uma série de critérios que podem ser adotados para avaliar um sistema, tais como efetividade (qualidade e durabilidade dos resultados) e eficiência394, custos de transação, satisfação das partes com o processo e com o resultado, estabilidade das decisões ou acordos firmados e recorrência de

392 “Art. 170. Ressalvada a hipótese do § 6º do art. 168, o conciliador e o mediador receberão, por seu trabalho, remuneração prevista em tabela fixada pelo tribunal, conforme parâmetros estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça.

§1º A mediação e a conciliação podem ser realizadas como trabalho voluntário, observada a legislação pertinente e a regulamentação do tribunal.

§2º. Os tribunais determinarão o percentual de audiências não remuneradas que deverão ser suportadas pelas câmaras privadas de conciliação e mediação, com o fim de atender aos processos em que haja sido deferida a gratuidade de justiça, como contrapartida de seu credenciamento.”

393 E a percepção da população quanto à legitimidade do programa judicial em si, como já discutido no item 5.2.1.3, acima.

disputas semelhantes395. Tais critérios deverão estar relacionados com o objetivo do sistema ou programa de solução de disputas, razão pela qual a avaliação constante é fundamental para se aferir se os objetivos traçados estão sendo atingidos e, ainda, se tais objetivos devem ser revistos para que os interesses e necessidades dos envolvidos sejam atendidos.

Como Wayne D. Brazil e Jennifer Smith observam, quando o Judiciário usa seus próprios recursos para promover a utilização de serviços para resolução de controvérsias através da utilização de mecanismos consensuais, sinaliza sua intenção de vincular sua própria imagem com a qualidade desses serviços, ao mesmo tempo em que externaliza uma visão institucional positiva acerca do valor agregado por esses mecanismos ao sistema396. Há, portanto, uma clara preocupação não só com a eficiência, mas também com a qualidade desses meios.

Em sendo a avaliação de suma relevância para atingimento dos fins do sistema ou programa de resolução de disputas, é fundamental que mensure a qualidade do processo, o que se reflete na percepção da parte ao resultado e o processo em si. Sobre a importância dessa avaliação da satisfação das partes, uma pesquisa realizada nos EUA que comparou as atitudes e percepções das partes em casos de torts que foram julgados mediante processo judicial (trial), remetidos para arbitragem anexa ao Judiciário ou para judicial settlement conferences, concluiu que a percepção dos litigantes quanto a justiça do processo afeta substancialmente sua satisfação quanto aos resultados obtidos. Conclui-se que as partes dão grande importância para um procedimento em que se sintam ouvidas e em que recebam tratamento imparcial, cuidadoso e digno397.

Nada obstante, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, embora os programas de resolução de disputas anexos ao Judiciário tenham como objetivo o tratamento adequado de

395 URY, William L.; BRETT, Jeanne M.; GOLDBERG, Stephen B., 1993.

396 “In the absence of clear legislative directives, what objectives can court-connected programs legitimately pursue? Since the neutrals in a court-sponsored program will be perceived, at least in some measure, as agents of the court, ADR programs should reflect the goals the court system is designed to serve. The business of the courts is not business, it is justice, and particularly protection of respect-worthy procedural guarantees. In other words, a court-connected ADR program must be designed to achieve justice and to foster public respect for the judicial system as a whole. To achieve these ends, the neutrals' conduct must conform to the process integrity values that are central to a public court's mission”. (BRAZIL, Wayne D.; SMITH, Jennifer, 1999, p. 9).

397 “The litigants we interviewed appeared to want a dignified, careful and unbiased hearing of their case. They are favorably impressed by procedures that give them a feeling of control over the process of resolving their case and that allow them to feel comfortable with the proceedings (…). Litigants want procedures with which they can feel comfortable, but this does not mean that they want less formal procedures – informality does not make litigants either more or less comfortable. It is also important to litigants to have lawyers whom they view as trustworthy and competent”. (LIND, E. Allan et al. The perception of justice: tort litigant’ views of court-annexed arbitration, and judicial settlement conferences. Santa Monica: RAND, 1989. p. 75-80).

disputas, preservação do relacionamento entre as partes e da qualidade dos mecanismos oferecidos, dentre outros, realizam avaliações embasadas apenas em critérios de eficiência: número de audiências realizadas, índice de comparecimento das partes, acordos firmados, valores envolvidos, etc. O enfoque eficientista também se encontra presente na redação do artigo 8º, §8º, da Resolução nº 125/2010, do CNJ, segundo a qual a celebração de acordos deve ser considerada uma meta de produtividade dos juízes coordenadores dos CEJUSCs398.

Em sendo uma das características da litigância repetitiva sua representatividade quantitativa, há o risco de que essas disputas sejam tratadas de forma massificada também no âmbito dos meios consensuais, objetivando-se apenas a realização de acordos para redução do acervo de processos. A promoção de meios de avaliação de cunho unicamente eficientista favorece esse tipo de tratamento, além de proporcionar situações nas quais as partes, principalmente os litigantes ocasionais, sejam pressionadas para transacionarem, ante a importância atribuída à celebração de acordo em índices cada vez maiores.

Ainda assim, alguns programas demonstram uma preocupação com a qualidade do procedimento em si, tendo estabelecido instrumentos para avaliar a satisfação das partes com o processo e com o resultado, atuação dos mediadores e conciliadores e se utilizariam novamente a mediação ou a conciliação para resolverem seus conflitos399.Essa abordagem qualitativa é fundamental para se assegurar que a representatividade de volume e similitude das questões envolvidas nas disputas repetitivas não implique no oferecimento de uma justiça de segunda classe pelo Judiciário que vise somente à negociação de acordos sem se preocupar com o tratamento adequado desses conflitos.

398 “Artigo 8º, § 8º Para efeito de estatística de produtividade, as sentenças homologatórias prolatadas em razão da solicitação estabelecida no parágrafo anterior reverterão ao juízo de origem, e as sentenças decorrentes da atuação pré-processual ao coordenador do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania”.

399 Ressalta-se, nesse sentido, a avaliação realizada pela CECON-SP (Justiça Federal), pelo CEJUSC-Brasília e pelo CEJUSC-JEC de Brasília, que aferem a satisfação das partes e advogados quanto a atuação dos mediadores/conciliadores, com a condução do procedimento e com os resultados obtidos. Em Brasília, é mensurada também a satisfação das partes quanto a atuação dos prepostos dos grandes litigantes, o que permite ao Judiciário que intervenha junto a estes entes caso seus prepostos não estejam adotando posturas colaborativas nas sessões de conciliação e mediação (ver Capítulo 3). Nos Estados Unidos, esse tipo de avaliação é realizado somente pelo Complementary Dispute Resolution Division of the State Court of New Jersey e pelo Foreclosure Mediation Program of the State Court of New Jersey Residential Mortgage (ver Capítulo 4).