• Nenhum resultado encontrado

Ao refletirmos sobre a vida dos jovens na sociedade contemporânea, precisamos estar atentos a uma série de questões simbólicas e materiais que envolvem a vida desses indivíduos e 7 O estigma era a marca de um corte ou uma queimadura no corpo e significava algo de mal para a convivência social. Podia simbolizar a categoria de escravos ou criminosos, um rito de desonra etc. Era uma advertência, um sinal para se evitar contatos sociais, no contexto particular e, principalmente, nas relações institucionais de caráter público, comprometendo relações comerciais (GOFFMAN, 2013).

que contribuem, fortemente, para a construção de sua juventude e de seus projetos de vida. Como já mencionamos, não existe um padrão de juventude. Segundo Pais (2006), ao falarmos de juventude de classe média ou popular, operária ou estudante, estamos nos referindo à juventude no sentido de “diferente”. Ela aparece socialmente dividida, em função de seus interesses, das suas origens sociais, das suas perspectivas e aspirações. Assim,

jovens que pertencem a classes sociais diferentes, mesmo que estejam na mesma cidade, possuem padrões comportamentais e emocionais diferentes.

A adolescência é vista em diversas culturas e épocas como importante momento de domínio das regras e dos valores da vida social, de ganho de autonomia, de maturidade física e psíquica e de gradativa incorporação de papéis sociais do mundo. Independentemente das diversas nuances e singularidades transculturais e históricas que possam existir nessa etapa da existência, pode-se considerar que, atualmente, a adolescência é uma fase extremamente especial do desenvolvimento humano. Nesse período, o adolescente vai construindo uma imagem de si e várias competências cognitivas e socioculturais rumo à inserção nas relações da sociabilidade adulta (BRASIL, 2005, p. 80).

São muitas as correntes teóricas e pesquisadores das áreas das ciências sociais, da psicologia, da educação, do direito, entre outros, que fazem diferentes recortes sobre as juventudes e buscam compreender as questões contemporâneas que giram em torno desses sujeitos e que ajudam a constituir esse grupo. Segundo Bourdieu (1983), sempre existirá alguém considerado mais jovem ou mais velho a depender da idade que tenha, a depender das questões culturais e do período histórico do qual se fala. Além do que, experiências socialmente marcadas por ambiências em desigualdades, como por raça, classe, gênero e sexualidades, repetimos, condicionam processos de maturidade e vivências que se afastam de idealizações sobre tal ciclo de vida.

Gilberto Velho (2003), ao tratar das questões relacionadas ao projeto de vida, esclarece que nenhum sujeito está isento do meio e das experiências que têm ao longo da vida. A vida de grande parte dos indivíduos está repleta de condicionamentos e determinações sociais. Ele chama de campos de possibilidades circunscrito. Este campo pode impulsionar certos indivíduos a emoções que geram otimismo e sentimento de pertença enquanto outros podem ser “direcionados” às emoções que os limitem. A questão do projeto é apresentada por Velho como sendo uma capacidade que os indivíduos desenvolvem para a realização de objetivos, tomadas de decisões, esquematizando um caminho para a concretização de sonhos.

Os jovens que nos referimos neste artigo se veem com muitas dificuldades quando o assunto é refletir sobre um projeto de vida. Alguns dos sonhos que têm, parecem distantes demais para serem concretizados. As emoções geradas pelas faltas em suas vidas causam sentimentos de inseguranças, angústias e medos. A vida em grande parte dos bairros periféricos tendem a limitar as experiências infantis e juvenis, dificultando o acesso desses indivíduos a vivências com o lazer, a educação, a saúde e a segurança. O conhecimento de outras áreas da cidade, condições que contribuiriam para a ampliação de visão de mundo desses futuros adultos, quase sempre é tomado pela estranheza das pessoas do “centro” que não se sentem confortáveis com a presença de figuras da periferia. O shopping é citado pelos

jovens como um dos espaços mais desejados por eles (as), e é nesse mesmo espaço que esses jovens percebem, fortemente, as barreiras sociais que existem entre alguns indivíduos. Ao serem notados por frequentadores e acompanhados por seguranças, eles (as) têm a impressão que não deveriam fazer parte daquele lugar. Experiências como essas só aumentam as emoções que tendem a criar barreiras para futuras projeções sociais.

Esses jovens sabem que precisam pensar em um projeto para suas vidas, mas não sabem como começar e como podem criar meios para seguir em direção a um futuro melhor. Muitos são levados ao mundo do trabalho muito precocemente pelas necessidades econômicas e isso só limita os avanços nos estudos e uma real projeção futura. Muitas vezes, desde o fundamental 2, esses jovens já estão realizando algum trabalho para ajudar seus familiares. São muitas as atividades laborais, ajudam os pais no mercadinho do bairro, vendem bolos e salgados, auxiliam nas atividades de pedreiro, de corte e costura, em salões de beleza, mas sempre em funções de baixa escolaridade. Infelizmente esses jovens terminam por acreditar que são esses, os únicos, espaços que eles (as) devem ocupar ao longo da vida. Ainda são poucos os estudantes que acreditam que podem superar as barreiras sociais que prejudicam a concretização dos seus projetos de vida.

Diante dessa realidade, poderíamos falar na existência de dois grupos de jovens: um ciente das dificuldades que enfrentarão com seus projetos de vida, mas repletos de sonhos e de estratégias para superarem os obstáculos; e outro grupo, que não se permite sonhar e se restringe às emoções e sentimentos que os imobiliza. Neste caso, não se deixam acreditar em um futuro melhor, pensam que certas conquistas do mundo não são para eles (as).

Considerações Finais

Através dos estudos e reflexões realizados neste artigo, podemos afirmar que, intimamente, são muitos os desejos e inquietações desses jovens de classes populares. Percebemos que, no fundo, todos desejam conquistar uma vida mais digna, contudo, diante dos sofrimentos vividos, preferem não criar expectativas. Essa postura evitaria frustrações e sofrimentos futuros.

Não é fácil ser jovem e perceber que existem questões sociais e culturas que desfavorecem a concretização dos seus desejos e projetos de vida. Segundo Machado Pais (2006), é difícil falar em sonhos juvenis em uma sociedade que os exclui, em que a educação pública não é de qualidade, em que a busca por emprego não oferece igualdade de oportunidades. As faltas de acesso aos serviços públicos e privados de qualidade têm contribuído para a falta de esperança desses jovens.

As memórias dessas faltas geram emoções que não contribuem para a projeção desses jovens através de um projeto de vida bem construído. Mesmo assim, observamos uma parcela desses jovens que acreditam que podem romper com as barreiras impostas pela sociedade e que sonham em ocupar espaços que lhes foram negados durante a vida. São esses jovens que têm o potencial de incentivar outros jovens a acreditarem em um futuro melhor.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Sobre educação e juventude. Rio de Janeiro: Zahar,

2013.

BOURDIEU, Pierre. A juventude é apenas uma palavra. Rio de Janeiro:

Marco Zero, 1983.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Impacto da violência na saúde dos brasileiros. Brasília, DF: 2005.

GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade

deteriorada. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2013.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Introdução à sociologia da emoção.

João Pessoa: Manufatura, 2004.

MAUSS, Marcel. A expressão obrigatória dos sentimentos. In: Ensaios de Sociologia. São Paulo: Editora Perspectiva, 2011.

PAIS, José Machado. Buscas de si: expressividades e identidades juvenis. In:

ALMEIDA, Isabel ; EUGÊNIO, Fernando (Org.). Culturas Juvenis: novos

mapas do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

POSSEBON, Elisa Pereira Gonsalves. O universo das emoções: uma

introdução. João Pessoa: Libellus, 2017.

VELHO, Gilberto. Projeto e metamorfose. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,

FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DO