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Carlos dos Santos Viana54

Diego Pita Ramos55

João Paulo dos Santos Reges56 Marcelino Pinheiro dos Santos57

No ano de 2012 diversos agricultores familiares, indígenas, acampados e assentados, pescadores, mulheres, juventude,

54 VIANA , C. S. 1. Diretor Administrativo do ECOBAHIA - Instituto Baiano de Desenvolvimento Ambiental e Sócio Produtivo, Graduado em Ciências Sociais – pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz, Especialista em Educação do Campo da UESC, membro do Grupo de Estudo e Pesquisa Movimentos Sociais, Diversidade e Educação do Campo e Cidade – GEPEMDECC. E-mail: kakaecobahia@gmail.com

55 PITA RAMOS, D. Coordenador Geral do Instituto de Apoio ao Desenvolvimento Ambiental e Humano - IDEAH. Docente na Faculdade Zacarias de Góes -- FAZAG. Mestre em Planejamento Territorial pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS. E-mail: dpitaramos@

gmail.com

56 REGES, J. S. Técnico em Agroecologia do ECOBAHIA e Estudante do Curso de Apicultura e Meliponicultura pela Universidade de Taubaté. E-mail:

joaopauloreges@gmail.com

57 SANTOS, M. P. Pedagogo UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz, Especialista em Psicologia Social – UESC - Universidade Estadual de Santa Cruz, Especialista em Ensino de Ciências e Matemática – UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz, Especialista em Educação do Campo – UESC. E-mail: marcelino_psantos@hotmail.com

movimentos sociais e diversas comunidades de povos tradicionais e entidades, realizaram uma experiência nova no Sul da Bahia, no município de Arataca, a I Jornada de Agroecologia da Bahia. Estes Coletivos reunidos pensaram durantes 3 dias saídas que melhorassem a vida dentro das comunidades além do enfrentamento, e estudaram possibilidades com finalidade de construírem algumas perspectivas dentro da cadeia da cacauicultura fortemente afetada pelo surgimento da doença Vassoura de Bruxa que dizimou economicamente a região cacaueira. Visto que, conforme apresenta Viana (2017, p. 1),

o enfrentamento da crise da lavoura cacaueira que assolou a região sul da Bahia, modificando radicalmente os aspectos econômicos e sociais que por ora vem permitindo uma modificação das suas bases produtivas, do acesso à terra e às relações de trabalho. Diante do enorme esvaziamento dos espaços do campo (êxodo rural) no sul da Bahia, foi que a Jornada de Agroecologia da Bahia se gestou como meio para pensar as alternativas que possibilitassem o enfrentamento desta crise.

Diante os enormes desafios apresentados durante os momentos da I Jornada de Agroecologia, os coletivos entenderam que era necessário um espaço continuado plural e diverso para ser pensar as saídas e alternativas do enfrentamento da crise que assola a região. Desta maneira, criaram uma rede chamada inicialmente de “Teia dos Povos da Cabruca e Mata Atlântica” que mais tarde com sua expansão a outros territórios e Estados, passa a se chamar “Teia dos Povos”, cuja finalidade é articular as comunidades e os movimentos sociais que viviam realidades semelhantes para construírem um projeto de vida orientado e tendo como base fundante a agroecologia.

A Teia dos Povos assume o papel de pensar e realizar ações práticas baseada nas diversas demandas dos grupos que a compõe, dentre elas, para enfrentar problemas da organização da

produção, degradação ambiental, e da soberania alimentar; para isso lança mão de uma ferramenta que os povos e comunidades tradicionais chamavam de mutirões coletivos, mas que a Teia dos Povos a qualificou como “Trechos Solidários” que são os passos pequenos escolhidos para construir uma prática agroecológica de modo colaborativo e solidário, fundada nas experiências dos povos onde de maneira itinerante faz-se um giro nas comunidades para conhecer, fortalecer os saberes ancestrais, trocar saberes, formar e consolidar a Teia dos Povos apresentados às comunidades a vontade de sonhar com um projeto de qualidade de vida que dialoga de forma integrante e integrada o homem, o território e a natureza. Assim, esse estudo pretende identificar e mapear de que forma Os Trechos Solidários se caracterizam enquanto práticas agroecológicas na Construção e Consolidação da Teia dos Povos.

Material e métodos

O presente estudo se caracteriza como uma pesquisa qualitativa, sendo que o método de abordagem utilizado se deu por meio do estudo de caso. Foram analisadas as propostas dos trechos, suas execuções, as mídias sociais como blogs e Facebook,

os relatórios de atividades e de reuniões, o planejamento tático e estratégico, localizados em especial na secretaria executiva localizada no Assentamento Terra Vista no munícipio de Arataca.

As informações analisadas nesta pesquisa se deram mediante a leitura dos materiais já produzidos pela Teia dos Povos, como os TCCs, artigos, pela vivência de campo, onde foram levantados dados de fontes primárias, por meio da participação em reuniões (através do procedimento da observação, com a tomada de nota em caderno de anotações) realizadas na Aldeia Catarina Paraguaçu, no Município de Pau Brasil--Bahia, no assentamento Terra Vista,

no município de Arataca--Bahia, na Comunidade Pesqueira de Graciosa, no Município Valença -- Bahia, na Aldeia Serra do Padeiro, no Município de Buerarema--Bahia e na Comunidade Quilombola do Guaxinim, no Município Cruz das Almas--Bahia.

Coletivizando a luta: a construção da Teia dos Povos

A Teia dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica surgiu após intensos debates ao final da 1º Jornada de Agroecologia em 2012, cuja finalidade no primeiro momento era um espaço permanente de organização, articulação das lutas dos povos da Cabruca e Mata Atlântica. Com a expansão da sua atuação essencialmente para além da Mata Atlântica, da Bahia e do Brasil, passou a ser chamada de Teia dos Povos a partir do ano de 2014. Nesse contexto, conforme a Teia dos Povos (2013):

A Teia Agroecológica dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica foi criada a partir dos diálogos continuados da I Jornada de Agroecologia da Bahia, realizada em 2012, no Assentamento Terra Vista. Em formato de rede, ela tem o papel de traçar a agenda de ações anuais que auxiliam no desenvolvimento, empoderamento e emancipação das comunidades e elos que a integram (p.1).

A partir das reuniões, vídeos, atas, blogs, documentos internos

podemos entender a Teia dos Povos como uma articulação de forças, constituídas pela necessidade e motivação de construir a unidade entre os povos: indígenas, quilombolas, movimentos populares e entidades que lutam pela soberania humana, da terra, do território e do poder em vistas de construir um projeto de sociedade justa, igualitária e solidária, com participação efetiva das crianças, jovens mulheres, homens que, sensíveis aos dilemas mundiais do tempo presente, encaram o socialismo como a única

alternativa para o planeta da destruição e a sociedade da barbárie (SANTOS, 2017).

A Teia dos Povos possui a sua estrutura organizacional que varia de acordo o contexto. Importante ressaltar que tem o papel de traçar a agenda de ações anuais que auxiliam no desenvolvimento, empoderamento e emancipação das comunidades envolvidas, embora a mesma não possua personalidade jurídica. Nesse contexto, a composição da Teia dos Povos, busca fortalecer as revoltas, o fortalecimento das consciências e alcançar os seus objetivos revolucionários, subdivide-se internamente em níveis de participação e responsabilidades de acordo a natureza e representatividade de cada “Núcleo de Base” e “Elos”. A Teia dos Povos entende como “núcleo de base” os povos quilombolas, os povos indígenas, os movimentos populares e afins. Estes têm o papel de dar o direcionamento nos posicionamentos e decisões estratégicas do coletivo, e por conta disso compõe a “Diretoria Executiva”. Enquanto os “Elos” podem ser descritos como as entidades de apoio (associações, cooperativas, ONGs, sindicatos, assentamentos, acampamentos, dentre outros), grupos de estudos e ações, e compõe a “Coordenação Ampliada” sendo responsáveis pela direção e a coordenação das decisões táticas da Teia dos Povos. Baseados nos documentos internos, para a Teia dos Povos, há o entendimento que as decisões estratégicas estão ligadas as ações e planejamentos de longo alcance, enquanto as decisões táticas estão ligadas as ações e intervenções imediatas e por conta disso de curto prazo. Por sua vez, a Teia dos Povos vai se consolidando, caracterizando e se concebendo como um espaço político de encontros dos povos; fortalecimento dos territórios; das organizações pela agroecologia; da soberania alimentar e educacional (onde o papel político, cidadão e solidário de cada integrante estão em jogo). Todavia, se configura como uma articulação que busca através da “organização e atuação em rede”

reunir e unir os povos, os movimentos sociais e afins, norteados pela ciência da agroecologia como ferramenta essencial para a superação deste atual modelo de exploração dos bens da natureza, do planeta e do homem pelo homem.

A Teia atuará de forma permanente enquanto uma rede que reconstrói a solidariedade entre as comunidades tradicionais, movimentos do campo e da cidade, ampliando assim o sentido da agroecologia, tão distorcida pelo excesso acadêmico e teórico e de tão pouca prática (TEIA DOS POVOS, 2014, p. 2).

Nesse sentindo, um dos conceitos teóricos de agroecologia que mais se aproxima da visão da Teia dos Povos é o apresentado por Altieri (1989, p. 53-54 apud Feiden), que conceitua da seguinte

forma: “A agroecologia é uma ciência emergente que estuda os agroecossistemas integrando conhecimentos de agronomia, ecologia, economia e sociologia”58, reforçando essa ideia temos que “a Agroecologia é uma ciência integradora de diferentes conhecimentos” (CAPORAL, 2004, p. 06).

Devemos desconstruir o tecnicismo perigoso, para defender uma agroecologia que une os povos e saberes, para garantir saúde dos nossos alimentos, solos e águas, das nossas relações sociais, da nossa identidade cultural, espiritual e ancestral (TEIA DOS POVOS, 2014, p.1).

Contudo, para a Teia dos Povos, a “Agroecologia” nada mais é que um conceito acadêmico para definir o resgate à forma como nossos ancestrais cultivavam e se relacionavam com a terra e com o seu modo de vida. De outra maneira, a “Agroecologia”

58 Para maiores informações sobre o conceito de agroecologia ver: ALTIERI, M. A. Agroecologia: as bases cientificas da agricultura alternativa. 2. Ed. Rio

de Janeiro: PTA-FASE, 1989, 240 p. e ALTIERI, M. A. Agroecologia: as

bases cientificas da agricultura sustentável. Guaíba: Agropecuária; AS –PTA, 2002, p. 592.

e seus saberes tradicionais vêm como proposta prática e política ao enfrentamento da imposição capitalista (TEIA DOS POVOS, 2014, p.3).

Percebemos a necessidade e nos comprometemos em aperfeiçoar a prática da agroecologia nos nossos territórios, articulando saberes ancestrais com novos conhecimentos, usando tecnologias e formação política para o empoderamento popular (TEIA DOS POVOS, 2014, p.2).

A partir dos dados extraídos das fontes citadas anteriormente nesta pesquisa, os princípios revolucionários da Teia dos Povos fundamentam-se na ancestralidade, histórica, cultural, religiosa, ética, filosófica, científica e política que apontam para uma sociedade sem exploradores nem explorados. Como referência de princípios tem-se: a direção coletiva; a divisão de tarefas; a participação e disciplina consciente; a diversificação das formas de lutas; o estudo e conhecimento da realidade, o respeito ao coletivo, a valorização humana, a defesa da natureza, dos territórios tradicionais, das águas, das culturas, da agroecologia e de todas as espécies de vida do planeta.

A construção da unidade dos povos a partir dos trechos