• Nenhum resultado encontrado

Segundo Mauro Koury (2004), a Sociologia das emoções surgiu na década de 1970 como uma subárea da Sociologia e da Antropologia. No Brasil, ganhou espaço na década de 1990, sem deixar de lado as leituras sociológicas clássicas, os estudos buscam oferecer visibilidade as emoções e o quanto elas são influenciadas e geradas por questões sociais e culturais.

Definir emoção não representa uma tarefa fácil. Durante muito tempo as emoções ficaram ligadas estritamente a área da psicologia. Segundo Possebon (2017), psicólogos como Robert Plutchik, chegam a afirmar que os seres humanos desenvolvem oito tipos de emoções: confiança, tristeza, raiva, aversão, alegria, medo, surpresa e antecipação, são através delas que surge uma infinidade de outras emoções. Essas emoções geram sensações físicas e emocionais geradas por algum reconhecimento cerebral. Esse reconhecimento é provocado por alguma experiência

vivida, ou seja, é açulado por estímulos sociais e culturais. Daí a necessidade das emoções serem estudadas para além da psicologia, partindo também para a Sociologia e Antropologia.

Marcel Mauss (2011), através dos seus estudos relacionados às expressões das emoções que são motivadas por atrações culturais e sociais, demostra o quanto a exibição do sofrimento e da tristeza podem ser movidas por costumes e práticas sociais.

O ritual oral dos cultos funerários australianos que, num considerável grupo de população bastante homogênea e bastante primitiva, não só o choro, mas também outras expressões orais não são só fenômenos psicológicos e fisiológicos, mas sim fenômenos sociais marcados por manifestações não-espontâneas e de mais perfeita obrigação (p. 147).

Dessa forma, percebemos o quanto as emoções estão ligadas as vivências sociais, influenciadas até pelo apelo ao consumo, muito presente na contemporaneidade. São inúmeras as motivações que levam os indivíduos a sentirem emoções que os induzem a agirem ou deixarem de agir a favor de si mesmos. Emoções positivas como a confiança, segurança e amorosidade, tendem a contribuírem para que os indivíduos tenham uma vida mais saudável e, consequentemente, um pouco mais de otimismo e autoconfiança diante de questões do dia a dia. Já as emoções ligadas ao sofrimento, angústia e medo, geram desconforto e ações menos arriscadas. Os indivíduos tendem a não confiar nas próprias potencialidades.

1.1 Padrões emocionais socialmente aceitos

As sociedades, normalmente, estabelecem os padrões econômicos, familiares, educacionais e religiosos que são vistos como mais adequados. Em relação às emoções, também existem

os padrões que são mais aceitos socialmente. Sendo assim, os indivíduos que se enxergam fora desses padrões tendem a almejar se adequar àquele grupo ou a aceitarem o fato de estarem fora dos padrões estabelecidos. Qualquer uma das opções gera desconforto e falta de pertença.

Quando tratamos de projeto de vida, estamos falando dos sonhos que temos para o futuro e quais os planos que estamos traçando para realizá-los. A sociedade espera que os adolescentes, normalmente, no final do ensino médio, já tenham em mente qual a profissão que desejam atuar. Para grande parte desses jovens as emoções provocadas por esta cobrança social geram insegurança e medo. Como já dissemos neste artigo, ao falarmos de juventudes estamos tratando de realidades muito diversas. Uma parcela dos jovens é preparada emocionalmente para passarem por essa fase de tomada de decisão em relação ao projeto de vida. Mesmo diante das orientações e todo o aparato oferecido pela escola e pela família, ainda enfrentam momentos de insegurança, desmotivação e medo. E como será que se sentem os jovens das classes populares nesse momento tão significativo em suas vidas? Esses jovens não possuem os referenciais de profissões que exigem cursos superiores porque poucos são os familiares e amigos que alcançaram o curso superior. A educação escolar, no caso brasileiro, não recebe os investimentos públicos necessários para que as escolas ofereçam aos seus estudantes uma educação de qualidade.

Ainda sobre os padrões emocionais tão presentes em vários campos da vida os jovens, não podemos deixar de pontuar que a vida contemporânea, através dos novos meios de comunicação e interação, representadas em grande medida por diversas redes sociais, deixa transparecer entre os indivíduos determinadas emoções que não são reais. Através das mídias contemporâneas não percebemos com clareza quais as reais emoções de nossos

pares (amigos), isso só contribui para disseminar os padrões emocionais socialmente aceitos.

Quase sempre esses padrões estão relacionados as vidas que são expostas virtualmente. Famílias unidas, pessoas bem vestidas, festas, baladas, amigos, consumo de todo tipo e uma juventude saudável e feliz. Segundo Bauman (2013), o apelo pelo consumo aumenta o sentimento de exclusão de uma parcela da população, causando baixa estima por não poderem consumir.

Para os consumidores excluídos, versão contemporânea dos que não têm, não comprar é o estigma7 desagradável e pustulento de uma vida sem realizações – de ser uma não entidade e não servir para nada. Significa não somente a falta de prazer, mas a falta de dignidade humana. De significado na vida. Em última instância, de humanidade de quaisquer outras bases para o autorrespeito e para o respeito das pessoas à sua volta (BAUMAN, 2013, p.83).

Todos esses padrões geram emoções diversas, quase sempre relacionadas a falta de capacidade para ser como os outros. Essa falta de confiança, em si próprio e na própria realidade, tende a impedir que os jovens, principalmente das classes populares, sonhem. E sem sonho não existe projeto de vida.