• Nenhum resultado encontrado

Allan Diêgo Rodrigues Figueiredo22

O contexto político, social e econômico do Brasil tem descambado para uma situação que foge aos mínimos padrões éticos. Imersos numa realidade corrupta, desagregadora de valores, os cidadãos/ãs brasileiros/as vêm perdendo a esperança na “Pátria Amada”, desmotivados de buscar caminhos outros para alcançar a justiça e a igualdade social. O momento social é de obscuridade e incertezas no que tange aos posicionamentos dos governantes, que instauram políticas públicas que estão longe de contemplar a realidade social, econômica e cultural do povo.

No cenário da política, os neoliberais têm implantado seus projetos capitalistas de modo incisivo e distante de considerar a voz do povo, nos moldes de um governo dito democrático. Percebe-se que os partidos de direita, movidos por uma espécie de aversão à população, parecem optar pela construção de um projeto de sociedade excludente, repressor e violador dos direitos humanos. Diante da complexidade e diversidade dos caminhos incertos que o país pode seguir, enviesados por princípios excludentes, faz-se

22 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação Contemporânea da Universidade Federal de Pernambuco, Campus Agreste (UFPE – CAA). Bolsista FACEPE. Possui licenciatura em Filosofia pela Faculdade São Bento da Bahia, Bacharel em Teologia pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e Especialização em Hermenêutica Bíblica pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). E-mail: allandiego_st@hotmail.com

necessário pensar meios e táticas de viabilizar a luta, a liberdade e a dinâmica da resistência.

Frente às posturas de estado mínimo e ao abandono das esferas da sociedade por parte do poder público, cabe aos cidadãos/as (re)pensar um novo jeito de viver, uma nova forma de postar-se perante o desmonte dos direitos dos cidadãos/ãs, sobretudo os que se referem à saúde, à segurança e à educação. A partir dessas múltiplas realidades que constituem o país pós-golpe (2016) e, também, pensando de maneira macro em outros países que negam os direitos básicos dos cidadãos, como poderão ser reinventadas as posturas dos cidadãos? Como lutar e persistir? De que modo ousar sem desesperançar dos sonhos de diversas gerações contemporâneas e futuras? Como lutar e resistir com força coletiva?

Esperam-se caminhos novos, percursos outros, principalmente, a partir das forças revolucionárias dos sujeitos políticos coletivos23, que possam reforçar um conjunto de reflexões e ações a respeito da temática da resistência perante as políticas públicas que os governos neoliberais-capitalistas implementam, tornando a vida dos indivíduos vulnerável, exposta à miséria e, assim, excluindo o ser humano da humanidade, colocando-o numa condição de condenado à desumanização. Portanto, ao que parece, o novo horizonte que surge é o da educação à resistência,

23 Tendo por sujeitos políticos coletivos os movimentos sociais, estes tanto podem significar a ação de transformar a sociedade e a educação quanto a reação, ou a retroação para defender o status quo, ou manter a ordem vigente das relações sociais de produção, que são relações de exploração do trabalho alheio. A história da expropriação da terra comum e dos instrumentos de trabalho dos camponeses, ou a chamada acumulação primitiva (Marx, 1982. O Capital. Livro I, Vol. II), constitui o capital enquanto uma relação social e garante a continuidade da apropriação do trabalho e da ciência produzidos socialmente, sendo essa última transformada em força produtiva (RIBEIRO, 2013, p. 28).

ou seja, aprender a (re)existir, reinventar-se, tomando como ponte o fortalecimento dos movimentos sociais populares, levando em consideração a sua forma de organização coletiva.

Com isso, o presente texto desenvolve-se a partir do problema: quais as possíveis aproximações entre os desdobramentos da coletividade do MST e a forma de vida coletiva da Filosofia Ubuntu, para a construção de uma educação à resistência? O objetivo é estudar a coletividade vivenciada no MST e a forma de vida coletiva da Filosofia Ubuntu, numa perspectiva de contribuição para uma educação à resistência dos movimentos sociais populares. Deste modo, a reflexão dá-se em torno da categoria coletividade, partindo do MST e da perspectiva Ubuntu, procurando compreender os projetos de luta dos movimentos sociais Populares. Para a construção da discussão teórica, usou-se a metodologia de cunho bibliográfico e uma abordagem crítica que procura refletir as posturas de resistência como uma resposta contra-hegemônica às posturas opressivas que são impostas por governantes autoritários.

A escolha pelo Movimento24 deu-se por sua força histórica e por ser considerado um dos movimentos sociais mais importantes da sociedade brasileira, por suas lutas, que forjam projetos de humanização através de princípios que valorizam o coletivo. E por que escolher a Filosofia Ubuntu para fortalecer a discussão em torno das concepções de “coletivo” nos movimentos sociais? A Filosofia Ubuntu é uma afroperspectiva que coloca a construção do Nós (coletivo) no centro das vivências dos povos africanos,

24 No decorrer do texto, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também será nominado como Movimento com m maiúsculo.

mormente, no período do Apartheid25, como uma alternativa no enfrentamento desse momento político de segregação racial.

Ao tomar essas duas expressões de formação e modo de vida – MST e Ubuntu – a discussão é tecida no sentido de percebê-las como locus de epistemologias diversas, levando em consideração

espaços/tempos distintos. Segue-se disso a utilização do conceito fronteiras/margens para discutir o modo como o MST e os povos africanos foram subalternizados e invisibilizados, mas, mesmo assim, continuaram fazendo da vida um novo (re)existir (uma educação constante à resistência) frente às posturas perversas de governos autoritários, reacionários, antidemocráticos, misóginos e racistas. Por isso, acredita-se que a reflexão sobre a educação à coletividade será um caminho alternativo de enfrentamento aos governos antidemocráticos e ajudará a incidir novos olhares para os movimentos sociais no contexto brasileiro e latino-americano. A abordagem é qualitativa e o estudo, bibliográfico, com técnica exploratória e explicativa. A discussão teórica dá-se pelos estudos pós-coloniais, utilizando conceitos relacionados às Epistemologias do Sul. A estrutura textual tem a seguinte sequência: Fronteiras/Margens e Epistemologias do Sul; MST e a Coletividade como um princípio de resistência; A Filosofia Ubuntu: uma forma de viver a partir do “Nós”; e, Aproximações: Resistir é (re)existir em Coletividade. Deste modo, são utilizados os saberes de vários autores abalizados nas temáticas em questão, tais como: Santos (2000; 2003); Mignolo (2008); Dussel (1997);

25 O apartheid foi uma política de segregação racial implantada na África do Sul, segundo a qual uma minoria branca detinha todo o poder econômico, social e político. À imensa maioria negra só restava obedecer rigorosamente à legislação separatista imposta pelos brancos, os únicos que tinham direito ao voto. Este regime vigorou, oficialmente, de 1948 a 1992, quando foi erradicado depois da luta de resistência da população, sob a liderança de Nelson Mandela, e da pressão internacional sobre o país.

Nunes (2010); Ramose (2002; 2010); Lage (2008); Fanon (1961); Caldart (2001; 2012); Freire (1994; 2000); e Bogo (2012).