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Lacunas teóricas na mensuração da satisfação dos consumidores no comércio eletrônico

2.4 S ATISFAÇÃO DO CONSUMIDOR NO COMÉRCIO ELETRÔNICO

2.4.2 Uma discussão teórica sobre ferramentas de mensuração da satisfação

2.4.2.1 Lacunas teóricas na mensuração da satisfação dos consumidores no comércio eletrônico

Depois de realizar ampla revisão bibliográfica e analisar diferentes escalas propostas para mensurar a satisfação do consumidor no comércio eletrônico, Chen, Rodgers e He (2008) constataram que nenhum dos modelos analisados havia sido amplamente citado em publicações científicas; complementarmente, nenhum instrumento de mensuração da satisfação do consumidor online desenvolvido consolidou-se entre os pesquisadores da área, o que evidencia a falta de concordância entre os acadêmicos e a lacuna teórica existente.

Adicionalmente, Chen, Rodgers e He (2008) identificaram alguns equívocos que explicam o alcance limitado dos modelos e escalas de mensuração da satisfação online propostas, dentre os quais se citam:

(1) Redundância de construtos;

(2) Nomenclaturas equivocadas dos construtos e muito variadas entre diferentes escalas;

(3) Não inclusão de construtos associados ao aspecto emocional da satisfação no comércio eletrônico;

(4) Utilização de construtos associados somente à avaliação da qualidade de serviços para mensurar a satisfação do consumidor online;

(5) Exclusão do construto inovação percebida.

A seguir, cada um destes equívocos identificados na revisão teórica de Chen, Rodgers e He (2008) foi discutido de forma mais detalhada.

A redundância pode ser encontrada nos modelos propostos por Anand (2007) e Szymanski e Hise (2000), que incluem as variáveis ‘facilidade de navegação’ e ‘estrutura de navegação’, ambas referentes à conveniência proporcionada ao consumidor enquanto este explora a loja virtual.

A escala proposta por Doll e Torkzadeh (1988) também exemplifica a questão da redundância, na medida em que inclui os construtos ‘formato do website’ e ‘facilidade de uso’, ambos relacionados à estrutura da interface da loja virtual.

Adicionalmente, pode-se verificar a redundância nas escalas utilizadas por Cheung e Lee (2005) e McKinney, Yoon e Zahedi (2002), que incorporam os construtos ‘facilidade de

uso’ e ‘navegabilidade’, ambos associados à navegação dos indivíduos no website de determinada empresa.

Por fim, pode-se citar também como exemplo de redundância a escala desenvolvida por Yang et al. (2005), que engloba os construtos utilidade dos conteúdos e adequação das informações, ambos associados à relevância das informações presentes no website.

Por outro lado, a questão do equívoco de nomenclaturas fica evidente no modelo de Szymanski e Hise (2000), que inclui no construto design as variáveis ‘facilidade de busca’ e ‘rapidez na apresentação dos conteúdos’. Aqui fica evidente que o construto design incorporou dimensões associadas à conveniência do consumidor, que é um construto distinto.

Outro exemplo desta questão envolvendo a nomenclatura dos construtos pode ser encontrado na escala desenvolvida por Srinivasan, Anderson e Ponnavolu (2002), utilizada por estes autores com o intuito de analisar as características de um website e sua influência sobre a satisfação e lealdade do consumidor online.

Na escala desenvolvida, Srinivasan, Anderson e Ponnavolu (2002) abordam o construto personalidade do website, que é bastante subjetivo e não congruente em relação ao objetivo delimitado inicialmente no estudo, focado nas características objetivas das lojas virtuais (CHEN; RODGERS; HE, 2008).

Complementarmente, a questão da variação de nomenclaturas referentes ao mesmo construto pode ser observada se forem comparadas escalas distintas, tais como a proposta por Yoo e Donthu (2001), que inclui o construto estética do website, a escala de Cho e Park (2001), que inclui o construto design, a escala de Aladwani e Palvia (2002), que inclui o construto aparência do website, e a escala de Muylle, Moenaert e Despontin (2004), que engloba o construto layout, sendo que todas as nomenclaturas citados estão relacionadas ao mesmo construto (design do website) e não qualquer esforço de consolidação conceitual por parte dos pesquisadores.

Outro fator que, segundo Chen, Rodgers e He (2008), explica a existência de muitas escalas de mensuração da satisfação online que alcançaram pouco impacto no meio científico é a não inclusão de medidas referentes ao aspecto emocional da satisfação e ao prazer associado às compras eletrônicas.

Segundo Bauer, Falk e Hammerschmidt (2006) e Éthier et al. (2006), o prazer e entretenimento propiciados ao consumidor por determinada loja virtual durante a experiência de compra no comércio eletrônico também exercem influência sobre a satisfação online e, consequentemente, devem ser incluídos nos modelos que se propõem a abordar o tema.

Contudo, apesar disso, as escalas existentes de mensuração da satisfação online focam o aspecto racional da satisfação e ignoram elementos afetivos, o que evidencia uma lacuna teórica a ser explorada em trabalhos futuros (CHEN; RODGERS; HE, 2008).

Como exemplo desta lacuna específica, citam-se as escalas propostas por Doll e Torkzadeh (1988), Szymanski e Hise (2000), Novak, Hoffman e Yung (2000), Cho e Park (2001), McKinney, Yoon e Zahedi (2002), Muylle, Moenaert e Despontin (2004), Liu et al. (2008) e Kim, Kim e Kandampully (2009), todas focadas exclusivamente no aspecto racional da satisfação online.

Ainda analisando os problemas levantados por Chen, Rodgers e He (2008) em diferentes modelos e escalas de mensuração da satisfação online, destaca-se também a questão da confusão realizada por diferentes autores entre satisfação e qualidade percebida.

Muitos pesquisadores desenvolveram instrumentos de mensuração da satisfação online com base exclusivamente em escalas de avaliação da qualidade percebida de serviços; assim, os dois conceitos (qualidade percebida e satisfação) fundem-se em um só construto e as diferenças existentes entre ambos são ignoradas (WOLFINBARGER; GILLY, 2003; HOLLOWAY; BEATTY, 2008).

Nestes casos, as variáveis independentes dos estudos desenvolvidos englobam as dimensões da qualidade de serviços, enquanto as variáveis dependentes medem a satisfação do consumidor no comércio eletrônico. Como exemplo deste equívoco, citam-se os trabalhos de Bauer, Falk e Hammerschmidt (2006), Kim, Kim e Kandampully (2009) e Anand (2007).

Adicionalmente, outra lacuna teórica existente nos atuais estudos sobre satisfação do consumidor online está relacionada à não inclusão de uma perspectiva de inovação; neste sentido, em estudos futuros, dever-se-ia abordar a percepção de inovação dos consumidores na mensuração da satisfação online (CHEN; RODGERS; HE, 2008).

Stock (2011) defende que a percepção de inovação dos consumidores está relacionada à percepção que estes desenvolvem acerca do quanto diferentes dimensões adicionadas aos serviços foram capazes de solucionar problemas que antes não eram solucionados e de promover melhorias no relacionamento entre a organização e os clientes.

Já Zolfagharian e Paswan (2009) e Stevens e Dimitriadis (2005) delimitam inovação percebida como a avaliação realizada pelos consumidores acerca de quanto os elementos que fazem parte de determinado pacote de serviços são significantemente diferentes em relação a outros pacotes de serviços existentes no mercado.

Analisando a formação da percepção de inovação dos consumidores, Kunz, Schmitt e Meyer (2011) destacam o papel desempenhado pela percepção dos consumidores acerca da própria capacidade inovativa das organizações.

Segundo estes mesmos autores, o conceito de capacidade inovativa percebida pode ser delimitado como a percepção subjetiva do consumidor acerca da capacidade das organizações de inovar, resultando em ideias novas, criativas e relevantes, além de novas soluções para o mercado (KUNZ; SCHMITT; MEYER, 2011).

Neste sentido, pode-se verificar que existem duas correntes teóricas que buscam explicar a percepção de inovação do consumidor. Por um lado, a inovação percebida pelo consumidor é analisada como sendo o resultado da avaliação realizada pelos consumidores acerca do quanto determinado pacote de serviços é diferente dos demais atualmente disponíveis no mercado (ZOLFAGHARIAN; PASWAN, 2009; STEVENS; DIMITRIADIS, 2005; STOCK, 2011); por outro lado, a inovação percebida é delimitada como resultado da percepção dos consumidores acerca da capacidade inovativa das próprias organizações (KUNZ; SCHMITT; MEYER, 2011).

Com a atual evolução tecnológica e as características cada vez mais inovadoras dos websites, ignorar a percepção de inovação do consumidor no comércio eletrônico é um erro que não pode ser cometido se o objetivo é buscar um entendimento mais aprofundado acerca da satisfação online (STOCK, 2011).

Finalizando este subtópico, segue no Quadro 18 um resumo de cada uma das lacunas apontadas por diferentes pesquisadores associadas à mensuração da e-satisfação.

Lacuna teórica na mensuração da satisfação online Autores Nenhum modelo elaborado até o momento com o intuito de explicar a

satisfação online foi amplamente citado em publicações científicas; além disso, nenhum instrumento de mensuração da satisfação online consolidou-se entre os

pesquisadores da área.

CHEN; RODGERS; HE (2008).

Muitos modelos e escalas de mensuração da satisfação online confundem os construtos satisfação e qualidade percebida.

CHEN; RODGERS; HE (2008); HOLLOWAY;

BEATTY, (2008); WOLFINBARGER; GILLY

(2003).

As escalas existentes de mensuração da satisfação online geralmente focam o aspecto racional da satisfação e ignoram elementos afetivos.

CHEN; RODGERS; HE (2008); BAUER; FALK; HAMMERSCHMIDT (2006);

Os estudos sobre satisfação online não incluem a perspectiva de inovação percebida entre as variáveis independentes da pesquisa.

STOCK (2011); CHEN; RODGERS; HE (2008). Quadro 18: Lacunas teóricas na mensuração da e-satisfação.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Dholakia e Zhao (2010), Chen, Rodgers e He (2008), Holloway e Beatty (2008), Bauer, Falk e Hammerschmidt (2006), Éthier et al. (2006), Posselt e Gerstner (2005) e Wolfinbarger e Gilly (2003).