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Legislação e posturas municipais

Constituem-se Leis e Códigos Municipais de Posturas os instrumentos, instituídos pelo Poder Público local, com a finalidade de disciplinar as condutas que os cidadãos devem

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observar para a ocupação e adequação ordenada dos espaços públicos66. Nessas Leis e Códigos inserem-se normas que devem ser obedecidas quando da construção, manutenção e conservação de ruas, avenidas, travessas, becos, praças, pontes e outros espaços urbanos englobados nos chamados logradouros públicos; normas que cuidam do licenciamento para uso por determinados períodos ou esporadicamente; que cuidam, também, do exercício das diversas atividades e sua regulamentação; e, ainda, dizem respeito à instalação dos diferentes mobiliários que a cidade precisa como dos instrumentos de utilização publicitária.

Pela possibilidade de interferência desses engenhos de publicidade no ambiente, Silva (2006, p. 58) lembra que

a instalação de engenhos publicitários suscita cuidado na construção das normas de posturas, considerando os efeitos de interferência direta na leitura do conjunto urbano acautelado e a possibilidade de existência de normativa específica dos órgãos de preservação estadual ou federal.

Nessa linha de análise, concebendo-se a cidade na sua totalidade, onde o (meio) ambiente cultural sofre costumeiramente danos de toda sorte, pertinentes e qualificadas as ponderações de Marchesan (2007, p. 266) ao abarcar, com a visão de pesquisadora, intérprete e operadora de direito, a poluição que os engenhos publicitários e outros meios de suporte causam.

(...) a poluição estética aparece sob a forma de inserções que rompem a beleza dos bens integrantes do patrimônio material ou pela supressão ou demolição total ou parcial desses bens ou, ainda, pela deterioração das ambiências ou paisagens que acabam por afetar negativamente a qualidade de vida.

Além dessas observações, a pesquisadora citada analisa a presença poluidora de outros veículos publicitários, responsáveis pela “poluição visual”, dentre os quais luminosos, cartazes, painéis, banners e letreiros de todo o tipo, tornando o cidadão-consumidor, de certa forma, coagido a ser “atingido” por essa propaganda.

Percebe-se, assim, o quanto caberia ao Poder Público municipal, em estar atento a essa proliferação publicitário-poluente que infesta os ambientes urbanos e, embasado nas suas competências legislativas, ser o carro-chefe na implantação de políticas públicas garantidoras

66 Essas normas, das Leis e Códigos de Posturas, fazem parte dos primórdios da existência dos Municípios. A

titulo de informação, em Santa Maria, quando de sua 1ª Câmara de Vereadores, eleita em 19 de maio de 1858, a incumbência de redigir o Código de Posturas Municipais coube ao vereador João Thomaz da Silva Brasil. Tal fato é relatado por João Belém, em seu livro História do Município de Santa Maria, pag. 108 a 111.

e orientadoras para alcançar-se o estágio de cidadania responsável ao empregar todos os meios para tornar a cidade social, cultural e sustentavelmente demarcada.

Essa descaracterização da cidade, descaso aos cidadãos e afronta ao Patrimônio Cultural, na precisa abordagem de Marchesan (2007, p. 267),

Também pode decorrer da proliferação desordenada de elementos aparentes de infra-estrutura urbana, tais como postes de energia elétrica, de iluminação pública, de telefone, internet, televisão a cabo, antenas e torres de telecomunicações que desqualificam o entorno dos bens culturais e, em especial, dos centros e conjuntos de valor cultural.

Ao reforçar a convicção de que o Poder Público municipal e, vezes outras, o Judiciário, não têm dado a atenção devida à proliferação de antenas de telecomunicações, notadamente as de telefonia móvel que infestam sítios de valor histórico, muitas vezes em nome da “modernidade”, Ana Maria Moreira Marchesan (2007, p. 267) reforça a assertiva, alhures devidamente explicitada, de que

Uma cidade ou centro histórico (...) não constitui um mero aglomerado de edificações, mas um conjunto no qual tanto o edificado como o não edificado têm peso: o cheio e o vazio, a casa e a distância entre uma casa e outra, as diversas visões panorâmicas, as múltiplas perspectivas.

Aliás, preocupações dessa natureza, referentes às posturas e à crescente e sufocante poluição visual que descaracterizam, não apenas o sentido arquitetônico-estético e o conjunto da beleza plástica que as cidades, por serem referências próximas e integradas à vida dos cidadãos proporcionam, não são recentes.

A Lei Municipal 125, de 20 de setembro de 1951, foi decretada e promulgada pela Câmara de Vereadores de Santa Maria como Código de Posturas Municipal. E já naquela época se externava esta preocupação com a poluição dos anúncios publicitários. Diz seu Art. 200, inclusive explicitando pena de multa:

Art. 200 – É proibido, sob pena de multa de CR$ 100,00 a CR$ 500,00 e obrigação de ressarcir os danos causados, colocar anúncios:

a) – (...) b) – (...)

c) – que desfigurem de qualquer forma as linhas arquitetônicas dos edifícios; d) – que, de qualquer forma prejudiquem os aspectos paisagísticos da cidade, seus panoramas, monumentos típicos, tradicionais, ou históricos, edifícios públicos, igrejas ou templos.

Ainda com referência a Posturas Municipais, a Lei Municipal 1161, de 20 de outubro de 1964, “Atualiza o Código de Posturas Municipais”. Faz clara referência ao Código de

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Posturas Municipais, originário da Lei Municipal 125, de 20 de setembro de 1951. No entanto, no que diz respeito ao tema que se está enfocando, não houve nenhuma modificação ou acréscimo, mesmo tendo se passados 13 anos67.

Figura 13 - Desde 1951, a legislação municipal tem preocupação com a poluição visual no entorno de monumentos culturais e templos religiosos, como a Catedral do Mediador. Mas, como se pode ver, a

modernização, muitas vezes, anestesia essa preocupação (2011). Fonte: Arquivo Pessoal

A legislação mais recente do Município de Santa Maria, na prática, apresentou, nos itens que estão sendo comparados, poucas alterações ou mudanças profundas. Especificamente na abordagem que se está observando – colocação de anúncios publicitários na cidade – as normativas se assemelham de uma a outra lei. Na Lei Municipal 2237, de 30 de

67 O Código de Posturas de 1964 foi promulgado pelo Prefeito-interventor, que após a cassação do prefeito

(Paulo Lauda, professor e médico) e do vice-prefeito (Adelmo Simas Genro, professor e advogado) eleitos democraticamente e empossados, foram cassados pelo Golpe de 64, em maio daquele ano. Não chegaram a completar três meses de mandato. (O doutor Adelmo é o pai de Tarso Genro, governador do Rio Grande do Sul, eleito em 2010 e empossado em janeiro de 2011)

dezembro de 1981, que Institui o Código de Posturas do Município de Santa Maria e dá outras providências, encontra-se o seguinte, sobre a colocação de anúncios, no Art. 173, in verbis:

Art. 173 – Não será permitida a colocação de anúncios ou cartazes quando:

I - (...)

II – De alguma forma prejudiquem os aspectos paisagísticos da cidade, seus panoramas naturais, monumentos típicos, históricos e tradicionais.

De modo semelhante, a Lei Municipal 3916, de 08 de novembro de 1995, que trata do mesmo assunto, inscreve quase em termos idênticos, com uma ou outra pequena variação:

Art. 59 – Não será permitida a colocação de anúncios ou cartazes que: I – (...)

II – prejudiquem de alguma forma os aspectos paisagísticos da cidade, seus panoramas naturais e/ou monumentos típicos, históricos ou tradicionais.

Ao se dar cada vez mais importância à qualidade de vida, compreendida no atendimento às necessidades do corpo e do espírito, e se entender o papel do Poder Público como indutor da consciência coletiva de participação e cidadania, robustece-se, igualmente, a urgência e o imperativo para que as Municipalidades não descurem de suas responsabilidades político-administrativas e não se despeguem de suas competências para legislar sobre o interesse local, precisamente de proteger o Patrimônio Cultural (Figura 13).

Nessa concepção, serve de referência, o que dispõe a Lei Orgânica do Município de Santa Maria, no seu Art.136 – No estabelecimento de diretrizes e normas relativas ao

desenvolvimento urbano, o Município assegurará: (...) IV – a preservação, a proteção e a recuperação do meio ambiente natural e cultural; V – a criação de áreas de especial interesse urbanístico, social, ambiental, cultural, turístico e de utilização pública.

Percebe-se, não há como negar, a preocupação e a consciência manifesta de não se descurar das atenções ao Patrimônio Cultural, inclusive, e também, nas normativas de como pôr-se e dispor-se no convívio espacial e ordenamento de funções e atividades da e na cidade.