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Do município e do patrimônio cultural

No decorrer do trabalho e na breve abordagem de conceitos e da legislação, pôde-se observar, com clareza, o quanto a Constituição Brasileira, em vigor desde 05 de outubro de 1988, deu importância ao Município, como ente federado. O texto constitucional estabelece- lhe a condição de formar, através de união indissolúvel, com os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, a República Federativa do Brasil, constituindo-se em Estado Democrático de Direito, conforme expresso no artigo 1° da Constituição19.

A partir deste entendimento, procura-se compreender e expor as competências inerentes ao Município para legislar - ou servir-se da legislação adequada - no âmbito do que lhe assegura a Constituição. Estabelecido o foco principal e norteador do presente trabalho no seu todo, no intuito de definir Cultura e Patrimônio Cultural e mecanismos para protegê-los, especifica-se, na Constituição, a partir da concepção da análise de que, como ente federado, o Município tem competências que lhe são próprias e intransferíveis, na matéria, quais procedimentos lhe estão ao alcance e que instrumentos ou institutos legais pode invocar, dispor, criar e efetivamente utilizar, para alcançar eficaz e celeremente, a Proteção do Patrimônio Cultural.

Ao se pesquisar e analisar, conceitual e doutrinariamente, a competência do Município, com referência ao Patrimônio Cultural, intentou-se, com fulcro no Art. 30 da Constituição Brasileira, que diz ser da competência do Município: legislar sobre assuntos de

interesse local; e: suplementar a legislação federal e estadual no que couber , compreender o

sentido e a abrangência desta competência em legislar fundamentalmente sobre assuntos de

interesse local.

Ao estabelecer-se o entendimento de interesse local, buscou-se situá-lo como interesse

cultural local, e destacar o papel do Município neste campo. Tendo, então, embasamento na

concepção de que o interesse local, para legislar sobre Patrimônio Cultural, no âmbito de sua circunscrição e competência constitucional, é do Município, estabelecem-se parâmetros de entendimento sobre o espaço e o território onde, via de regra, localiza-se referido Patrimônio

Cultural: a comunidade, a cidade, a extensão da área geográfica do Município.

19 A Constituição da República Federativa do Brasil – publicada no Diário Oficial da União n. 191-A, de 5 de

outubro de 1988 – no Título I – Dos Princípios Fundamentais – reza em seu Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...)

Confirmando-se tal entendimento, busca-se agora, agrupar os instrumentos legais existentes e aplicáveis, para que o Município, no âmbito de sua competência e de suas respectivas características e peculiaridades, legisle, protetivamente, sobre (seu) Patrimônio

Cultural. Ou, então, sirva-se dos instrumentos legais e mecanismos administrativos e de

gestão já existentes e aptos a serem postos em prática na causa da proteção e acautelamento do Patrimônio Cultural situado em seu território. E sendo assim, por razões de território, de imperativos constitucionais e de responsabilidades político-administrativas, circunscrito a sua competência constitucional para legislar, espera-se que, em verdade, assim possa (e queira) fazer.

Parte-se, prioritariamente, dos instrumentos legais protetivos inscritos na Constituição e de outros mecanismos pertinentes passíveis de servirem às políticas públicas de resguardo e tutela do Patrimônio Cultural. Optou-se pela referência, e breve análise, aos instrumentos legais mais conhecidos e exeqüíveis, utilizados ou utilizáveis pelo Município na sua política de promoção e proteção ao Patrimônio Cultural, sem, no entanto, aprofundar conceitos ou especificar procedimentos processuais de sua aplicação em casos concretos, por não ser objeto da presente pesquisa.

Antes, porém, reafirma-se, novamente, que a Constituição Federal é o instrumento maior e fundante que dá legitimidade às diferentes formas de proteção e conservação do

Patrimônio Cultural. Há vários artigos que para isto apontam. Alguns, os mais pertinentes,

serão objetos de referência ou análise ao longo do trabalho.

O Artigo 216, seus incisos e parágrafos, além de nomear quais bens constituem o

Patrimônio Cultural brasileiro, também deixam claramente expressa a responsabilidade do

Poder Público – sempre incluído o Município – e da Comunidade para com a proteção desses Bens Culturais. Ao tempo que referencia esses bens que são constitutivos do Patrimônio

Cultural pátrio – incluindo expressamente o Tombamento de todos os documentos e sítios

remanescentes dos antigos quilombos -, a Constituição estabelece um conjunto de responsabilidades e de instrumentos de gestão, promoção e proteção, bem como possibilita, desde que exista lei específica para tanto, não apenas incentivos para a produção e conhecimento de Bens e valores culturais, mas também punição aos que causarem danos ou ameaças ao Patrimônio Cultural, dando, pois, embasamento legitimador, para que se definam procedimentos para atingir esses objetivos. Transcreve-se, in litteris, o artigo 216 e os parágrafos que abordam e sustentam as afirmações aludidas:

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Artigo 216 – Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I – as formas de expressão;

II – os modos de criar, fazer e viver;

III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV- as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;

V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

1.º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventário, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. 2º. – Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem.

3.º - A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais.

4.º - Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei. 5.º - Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscência históricas dos antigos quilombos.

6.º - É facultado aos estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, para o financiamento de programas e projetos culturais, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de:

I – despesas com pessoal e encargos sociais; II – serviço da dívida;

III – qualquer outra despesa corrente não vinculada aos investimentos ou ações apoiadas. (CRFB, 2010, p. 39 a 70).

Todavia, se a norma e a disposição legal podem representar constrangimento ou coerção indevida ao Poder Público e aos Cidadãos, há de se almejar que tal não precise ocorrer, uma vez que é de bom alvitre, fale mais alto e motive ações objetivas e concretas, a consciência da responsabilidade pública e o protagonismo da cidadania participativa, atenta e zelosa pelo seu Patrimônio Cultural, história eloqüente de uma trajetória individual e comunitária que, indiscutivelmente, dignifica a todos, agentes públicos ou cidadãos comuns, ontem, hoje e pelas gerações vindouras.

No intuito de alcançar os objetivos e propósitos inicialmente definidos para este trabalho, em continuação, apresentam-se instrumentos jurídicos e administrativos, que pelas suas características operacionais e processuais são aptos e estão à disposição para que, sempre e ainda mais, o Patrimônio Cultural seja promovido, acautelado e protegido. São eles: Tombamento; Inventário; Registro; Ação Popular; Ação Civil Pública; Termo de Ajustamento de Conduta; Estudo do Impacto ao Patrimônio Cultural; Estatuto da Cidade; Função Social da Propriedade e da Cidade; Plano Diretor; Direito de Preempção; Estudo do Impacto de Vizinhança; Transferência do Direito de Construir; Operações Urbanas Consorciadas; Lei do Perímetro Urbano; Unidades de Conservação Cultural; Lei de Zoneamento; Desapropriação

Para Preservação Cultural; Inquérito Civil; Incentivos e Benefícios Fiscais; Lei de Posturas Municipais; Leis Municipais de Proteção; Lei Orgânica do Município; Plano de Preservação; Mandado de Injunção; Mandado de Segurança Coletivo; Fiscalização, Monitoramento e Vigilância; Fundos Culturais e Leis de Incentivo; Empréstimos e Financiamentos; Lei Específica ou Via Judicial; Conselhos de Cultura, Patrimônio Cultural e Meio Ambiente; Educação Patrimonial Cultural.