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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Considerações sobre elementos contextuais

4.1.2 Liberdade discursiva

Tanto a plataforma dos três jornais quanto o Facebook exigem cadastro prévio para o uso. No site da Folha de S. Paulo57, é obrigatório que se informe o email, nome e sobrenome, CEP, e que se escolha uma senha; e de caráter opcional há a possibilidade de se informar data de nascimento, sexo e país. Em O Estado de S. Paulo58, o formulário exige como obrigatório nome e sobrenome, email, senha, data de nascimento, sexo, país, estado e cidade. E como não obrigatório, o CEP. Uma inovação é que o formulário dá a possibilidade do uso de um nome de usuário diferente do nome e sobrenome.

O jornal O Globo direciona o cadastro de usuário para o portal onde está hospedado, o

Globo.com59. Feito o cadastro, é possível comentar conteúdos de todos os demais sites e aplicativos do portal. Os dados solicitados são: nome completo, email, data de nascimento, sexo, e outras informações para garantir a segurança da senha. Mas o elemento que chama mais atenção é a possibilidade de importar dados do Facebook para que o tempo gasto seja menor.

Nos três jornais, não há qualquer indicativo de que os dados informados sejam conferidos antes da aprovação do cadastro, o que facilita a possibilidade de pessoas darem informações inverídicas e criarem perfis falsos. O cadastro no Facebook, por sua vez, é mais complexo e a construção de um perfil demanda relativamente mais tempo. Contudo, o cadastro básico que permite o comentário nas páginas dos jornais exigem poucos dados, apenas nome, sobrenome, email, gênero e data de aniversário.

No termo de uso publicado no próprio site, os jornais Estadão e O Globo asseguram que os dados informados no cadastro são confidenciais e se restringem ao propósito de identificação. Contudo, são previstas exceções em caso de solicitação por parte do poder público, após pedido formal, ou para empresas do mesmo grupo. Especificamente, o jornal O Globo explica que são coletadas informações pessoais em três circunstâncias: 1) quando faz o cadastro; 2) quando participa de promoções; e 3) quando entra em contato

57 Disponível em: http://login.folha.com.br/register Acesso em: 10 dez. 2012 58 Disponível em: http://cadastro.estadao.com.br/ Acesso em: 10 dez. 2012 59 Disponível em: https://login.globo.com/cadastro/3735 Acesso em: 10 dez. 2012

com o serviço de atendimento. Entre outras aplicações, O Globo diz usar estes dados pessoais para “otimizar a usabilidade e a experiência interativa durante a navegação”, “elaborar estatísticas gerais, sem que haja identificação dos usuários”, e “responder às dúvidas e solicitações”.

O termo de uso da Folha60, por sua vez, é mais restrito no seu escopo, mas deixa clara a necessidade de cadastro para fazer comentários. Mesmo assim a empresa diz que, para auxiliar nos casos em que é preciso identificar o autor de algum comentário, registra o IP de todas as pessoas que logam no sistema de comentários.

Plataforma Total

Jornal Facebook

Identificação Sim Count 1007 1150 2157

% of Total 41,9% 47,9% 89,8% Não Count 0 1 1 % of Total 0,0% 0,0% 0,0% Pseudônimo Count 230 13 243 % of Total 9,6% 0,5% 10,1% Total Count 1237 1164 2401 % of Total 51,5% 48,5% 100,0%

Tabela 9: Intercessão entre a identificação e a plataforma para todos os comentários analisados (N = 2.401).

Na amostra de comentários analisada por este estudo, a identificação pode ser considerada alta, considerando-se que se trata de um ambiente online. Conforme a Tabela 9, apenas um usuário no Facebook foi considerado como não identificado. Contudo, 9,6% dos comentários publicados nos sites dos jornais foram assinados com pseudônimos. Este número pode ser explicado pelas características do sistema de cadastro dos jornais, que não são eficientes na verificação das informações prestadas pelo usuário, bem como pela lógica da sociabilidade nas diferentes plataformas.

O propósito principal dos sistemas de comentários dos jornais é viabilizar a manifestação da opinião sobre os mais diferentes temas; a função de sociabilidade é secundária e muitos são os que não estão interessados nesta dimensão; daí a conclusão de que, nos jornais, os usuários têm pouco a perder ao identificar-se através de um pseudônimo (9,6%). Já o uso do Facebook é orientado para sociabilidade, construção de laços sociais. Assim, é compressível a inexpressiva ocorrência de pseudônimos (0,5%).

4.1.2.2 Moderação

Os três jornais fazem pré-moderação dos comentários, isto é, um software bloqueia a postagem de um conjunto de palavras chulas, palavrões e expressões ofensivas de modo geral. Esta é uma das principais práticas de moderação dos jornais, pelo menos é a única que funciona sistematicamente e em todas as circunstâncias. Nenhum dos jornais divulga previamente quais as palavras proibidas, mas há uma expectativa de que este tipo de moderação, quando não exagerada, possa contribuir para a garantia de um mínimo de civilidade e, do ponto de vista do jornal, garantir que a empresa não vai hospedar discursos odiosos e ter prejuízos financeiros, de imagem ou ter que responder judicialmente. Os usuários demonstram ter consciência desta prática, como nos seguintes exemplos: “São tantos os comentários com todo tipo de ofensa que o jornal não está publicando!” [M. M., Folha, Jornal, Mensalão]; “rabO pode escrever, não é mesmo moderador??” [E. L., O Globo, Jornal, Homofobia]. O Estado de S. Paulo fala explicitamente desta possibilidade em seu termo de uso com as seguintes palavras:

O Grupo Estado poderá pré-visualizar, rever, sinalizar, filtrar, modificar, recusar ou remover todo ou qualquer material (incluindo conteúdo e comentários) de qualquer Serviço. Para tanto, poderá utilizar ferramentas de busca e filtros que poderão cruzar palavras a fim de adotar ações preventivas quanto à exposição de comentários de caráter caluniador e/ou difamador e de conteúdos sexuais explícitos e/ou ilegais, bem como que violem quaisquer itens das Condições Gerais de Uso do Portal, e eventualmente, utilizar serviços e softwares de terceiros disponíveis para limitar o acesso a material que possa ser considerado impróprio (O ESTADO DE S. PAULO).

Contudo, frente ao sistema de filtros, os usuários desenvolvem estratégias para burlar as limitações. É comum a ocorrência de palavras com a grafia errada, palavras com espaço, ponto ou travessão entre as sílabas, como no exemplo: “Esse governinho de gente O.R.D.I.N.Á.R.I.A acha que está acima de qualquer Lei, até da Constituição. [J. F., Folha, Jornal, Cotas]”. De todo mundo, qualquer pessoa pode denunciar uma mensagem se entendê-la como imprópria. Na Folha de S. Paulo, não é necessário nem mesmo estar logado. Qualquer pessoa pode clicar no botão “Denuncie”, situado no cabeçalho de todos comentários, e escrever uma justificativa para a denúncia; não é informado limite de caracteres (ver Figura 7).

Em O Estado de S. Paulo, é preciso estar logado para enviar a denúncia. Uma vez pressionado o botão “Denunciar”, o usuário precisa digitar uma justificativa de até 1.200 caracteres. Em O Globo, é necessário estar logado para que o botão “denunciar” apareça; na sequência é necessário enviar uma justificativa de até 200 caracteres para que o moderador avalie o caso. Após a apreciação da denúncia, a ação dos moderadores nem sempre é visível porque os comentários simplesmente somem. Contudo, em algumas situações as ações da moderação são perceptíveis em caixas de mensagem sem conteúdo. Especialmente na plataforma de O Estado de S. Paulo, o moderador age por meio de um perfil que explica e adverte quanto à possibilidade de supressão de comentários por não estarem de acordo o entendimento do jornal (ver Figura 8).

Figura 8: Recorte de postagem do perfil “Moderador do Estadão”.

Nas páginas do Facebook, também é possível denunciar algum conteúdo que se considere ofensivo. Na plataforma, é possível denunciar a página toda, uma postagem ou um comentário. Para denunciar a página, basta clicar em configurações no topo da página, ao lado do botão curtir, e escolher um dos motivos pré-estabelecidos para a denúncia e seguir as instruções. Já a denúncia de posts e comentários segue o mesmo padrão. Basta clicar no “X”, situado no canto superior direito. O conteúdo é suprimido de imediato e é oferecida a possibilidade de denunciar, basicamente, por ser spam ou por conter conteúdo ofensivo. Para finalizar a denúncia, basta seguir as instruções. Ao final é exibida a seguinte mensagem: “Agradecemos a denúncia. Observação: denunciar o conteúdo não garante sua remoção do site.”. Em caso de comentários é dada ainda a possibilidade de bloquear o comentador. Assim, o usuário não é exposto a comentários da pessoa bloqueada, o que não impede que esta pessoa continue a postar.

Nos termos de uso, os jornais Folha61, Estadão62 e O Globo63 apresentam uma série de ressalvas afirmando que “não se responsabiliza pelo conteúdo de nenhum comentário” e que este “não é revisado”. Estas empresas têm o cuidado de se eximir de qualquer responsabilidade jurídica dos conteúdos postados pelos leitores, além de que o jornal reserva para si a possibilidade de excluir qualquer comentário que fira direitos de outros ou que entenda-se como desrespeitoso, bem como da possibilidade de interrupção a qualquer tempo dos serviços prestados por estes sites, inclusive a seção de comentários, sem que os usuários possam reclamar judicialmente. O Estado de S. Paulo chega a recomendar aos usuários que salvem cópias ou façam back-ups dos próprios conteúdos, por conta da incerteza na manutenção do banco de dados ou, mesmo, da continuidade do serviço de comentários.

O Estadão também proíbe expressamente que os usuários façam campanha para políticos, coligações ou partidos, ou que façam comentários que incitem crimes ou que se configurem como violação de direitos. A Folha, além dos elementos citados anteriormente, diz que os comentários não devem conter publicidade, pornografia, conteúdos racistas, informações sobre atividades ilegais ou incitação ao crime, calunias, injúria ou difamação, concursos ou correntes, spam ou quaisquer mensagens periódicas, e, por fim, “discriminação, ódio ou violência” contra “uma pessoa ou a um grupo devido à sua raça, religião ou nacionalidade”.

Do ponto de vista da autoria, os usuários são aconselhados a postarem apenas conteúdo da própria autoria e a assumirem as implicações jurídicas do uso de conteúdos que ferem o direito de autor de terceiros, além disso o usuário ao postar renuncia a possíveis ganhos econômicos decorrentes do comentário. As empresas se concedem o direito de usar o conteúdo de qualquer modo, em qualquer meio, sem que o usuário possa reclamar por ganhos econômicos. O Globo coloca nos seguintes termos:

Ao enviar conteúdos, o usuário transfere exclusivamente, gratuitamente, universalmente e permanentemente, sem a criação de qualquer vínculo, todos os direitos patrimoniais de autor à INFOGLOBO COMUNICAÇÕES S/A, podendo esta de qualquer forma usar, transferir ou gozar dos direitos autorais da obra em qualquer mídia.

61 Disponível em: http://comentarios.folha.com.br/termos_e_condicoes Acesso em: 10 dez. 2012. 62 Disponível aqui: http://www.estadao.com.br/termo-de-uso/ Acesso em: 03 dez. 2012.

E mesmo sem direitos, os autores têm o dever de se certificar que o conteúdo enviado é lícito e que não viola direito autoral. Caso contrário, o termo coloca sob a responsabilidade do usuário a defesa de reclamações de terceiros por possíveis violações.