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O LIVRO DIDÁTICO NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DA ALFABETIZAÇÃO DE

3 O EDUCANDO JOVEM E ADULTO CONSIDERADO A PARTIR DE

4.4 O LIVRO DIDÁTICO NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DA ALFABETIZAÇÃO DE

Nos preocupamos em analisar a forma como o livro didático é utilizado na prática pedagógica das educadoras, com a finalidade de provocar uma reflexão acerca de seu uso na alfabetização de jovens e adultos.

Mesmo sendo o livro didático uma abordagem já muito debatida em outros níveis de ensino, na modalidade da EJA é rara a discussão, por isso fazemos questão de salientá-lo nesta pesquisa. Pois acreditamos que ele interfere de forma relevante na prática pedagógica do ensino de jovens e adultos, considerando que não há uma formação específica para essa modalidade de ensino (Graduação), e nem sempre uma formação continuada impondo, assim, aos educadores e às educadoras a recorrerem com mais freqüência aos conteúdos dos livros didáticos, como meio facilitador de orientação em sua prática educativa, tornando, desse modo, uma temática importante de ser refletida.

De forma geral, seis das sete educadoras investigadas, afirmaram que o livro é complexo e está fora da realidade do educando, apesar de em alguns casos os textos apresentarem alguma consistência. O livro didático intitulado: Educação para Jovens e Adultos trabalha, segundo as alfabetizadoras, numa abordagem que não trata da vivência do

educando jovem e adulto, não considera sua realidade de trabalhador, sendo de difícil compreensão. As educadoras, assim, assinalam:

-Anita Garibaldi - O livro sinceramente não gostei, nem meus alunos, textos muito grande, não interessa muito aos meus alunos [...].

-Maria Quitéria - Nosso livro didático é rico em textos, que facilita uma boa

alfabetização para eles. Quanto aos assuntos a serem abordados, muitos fogem

do nosso planejamento. Pois são muito adiantados para eles.

-Irmã Dulce - Na minha visão, achei um pouco complexo, para ser utilizado por pessoas (alunos) que estão ingressando no processo de alfabetização. Por não estarem tão preparados para entender textos com uma grande proporção de compreensão.

-Margarida Alves - O livro não está dentro da realidade do aluno. Mas quando

digo vamos ler, todo mundo se empolga e discute e fala e comenta, eles mostram que têm vontade de ler [...] e o currículo não bate com o livro (grifos nossos).

O livro didático avaliado nesta pesquisa foi o livro de Miranda, (2005, p. 3), Educação de Jovens e Adultos11. Escolhemos inicialmente como referência a primeira página do livro que expõe a estrofe de uma música de Caetano Veloso, que diz:

Um índio descerá de uma estrela colorida brilhante De uma estrela que virá numa velocidade estonteante E pousará no coração do hemisfério sul na América Num claro instante.

Nota-se o conteúdo acima exposto complexo, descontextualizado em que não se aborda a realidade vivida do educando jovem e adulto, tornando difícil usá-lo na prática educativa de forma dinâmica, proveitosa e criativa. Verifica-se ainda no livro da EJA, textos grandes e de difícil compreensão, como: Amanhã é Jajá, de Lúcia Pimentel Góis (In MIRANDA, op.cit. p. 238), com duas páginas e meia de história. Assim, não é apenas complicado para o educando se interessar e aprender, mas também para o(a) educador(a) aplicá-lo de forma eficaz em sua prática.

A forma como os conteúdos são abordados nos livros didáticos, compromete seriamente o fazer docente e conseqüentemente a formação do educando. Os conteúdos programáticos oficiais, geralmente encontrados nos manuais adotados pelas escolas é aporte no direcionamento do processo ensino-aprendizagem que, porém, se não for bem conduzido se torna um prontuário nas mãos do(a) educador(a).

Avaliando a fala das educadoras alfabetizadoras entrevistadas em Itambé, constatamos que nos livros didáticos não há uma preocupação em ressaltar o contexto regional, em indicar

11

MIRANDA, Anna Lúcia e outras. Educação de Jovens e Adultos - Integrado. Ensino Fundamental – Primeiro Segmento – 1ª a 4ª série. – Cultura. Dinâmica. 1ª edição, 2005. Material utilizado na EJA em Itambé.

um trabalho considerando a partir da realidade local do educando. E, podemos acrescentar a isso, a complexibilidade dos conteúdos nele expostos, de um nível fora do alcance dos educandos. O descaso com o universo do educando é nítido nos livros didáticos. Em relação ao ensino da alfabetização de jovens e adultos, há um grande vácuo nos livros didáticos ao se tratar à realidade vivida pelos educandos. Refletindo sobre essa questão, percebemos a necessidade de pensar numa maneira mais inteligente de utilizar o livro didático na prática educativa na alfabetização de jovens e adultos.

No entanto, vale frisar que apesar da crítica ao livro didático, não significa dizer que não se possa trabalhar e tirar bons proveitos dele; ao contrário trata-se de uma ferramenta de trabalho, um referencial, que bem produzido e utilizado colabora de forma fundamental como aporte da inteligência da prática educativa e, conseqüentemente, com o aprendizado do educando.

O(a) educador(a) encontra no livro didático apropriado, assim, como em outras fontes de conhecimento, apoio para o seu trabalho pedagógico. Os livros didáticos não são indispensáveis na prática pedagógica, mas não se deve valorizá-los demais, tampouco cair no outro extremo. Sem dúvida, eles são valiosas fontes de informações e o seu uso desperta no educando o gosto pela leitura. Por meio dele, em sala de aula, o(a) educador(a) terá mais um instrumento que pode desenvolver no educando a prática de estudar sozinho, de se informar com mais autonomia, o que poderá levá-lo a adquirir mais independência, desde que seu conteúdo seja adequado e trabalhado de acordo com a sua realidade.

Contudo, é importante que o(a) educador(a) analise o livro didático e escolha o mais adequado para o contexto de seu educando. O ideal seria passar por sua avaliação antes de serem impostos nas escolas pelas secretarias de educação. Esta é uma realidade que já encontramos, mas, que, porém não funciona. Os(As) educadores(as) escolhem os livros num determinado encontro pedagógico, mas geralmente chegam outros sem maiores explicações.

Dessa forma, consciente da importância de um bom livro didático, se faz necessário refletir e re-pensar na melhor forma de utilizá-lo na prática pedagógica com jovens e adultos. Porém, vale ressaltar, que as atividades do(a) educador(a) não podem se resumir em transmitir aos educandos o conteúdo estabelecido pelo livro, diante das limitações que ele apresenta no momento atual. Dito de outro modo, em nossa perspectiva de análise os textos didáticos não devem constituir-se nos limites das atividades pedagógicas, haja vista, compreendermos que o ensino da alfabetização de jovens e adultos deve ter como ponto de partida a realidade vivida pelos educandos.

Através da reflexão da utilização do livro didático na alfabetização de jovens e adultos, identificamos uma outra preocupação, a compreensão de currículo pelas educadoras, entendendo que ambos (o livro didático e o currículo) estão interligados na prática pedagógica.