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O SABER FAZER DO(A) EDUCADOR(A) E A REALIDADE DO EDUCANDO

3 O EDUCANDO JOVEM E ADULTO CONSIDERADO A PARTIR DE

4.1 O SABER FAZER DO(A) EDUCADOR(A) E A REALIDADE DO EDUCANDO

Este item propõe identificar a inteligência da prática alfabetizadora frente à realidade de vida do alfabetizando.

Na fala das educadoras entrevistadas, observamos que em sua prática educativa há o reconhecimento das experiências de vida do educando. Encontramos este resultado, quando as educadoras ressaltam que o contexto cultural e social do educando são trabalhados no espaço escolar por meio da utilização de alguns recursos didáticos, como: a observação, o diálogo, o debate e a produção textual, captando a realidade de vida do educando. Sobre essa questão, Freire (1992, p. 48) em meio a um diálogo com um camponês pergunta: “O que é ser camponês?” obtendo a seguinte resposta: “é não ter educação, posses, trabalhar de sol a sol sem direitos, sem esperança de um dia melhor [...]”.

Ao provocar esse diálogo, Freire mostra em sua prática educativa, que cabe ao educador e à educadora, ao trabalhar com o educando jovem e adulto, direcionar (não manipular) sua ação pedagógica num trabalho envolvente acerca da própria realidade do educando, considerando seus saberes prévios, transformando e ultrapassando a aprendizagem puramente mecânica da leitura e da escrita, em conhecimento de mundo. Nesse processo, o educando se torna sujeito pensante, escrevendo e lendo sua prática social, esclarecido sobre os acontecimentos que o cerca.

Das sete alfabetizadoras, quatro demonstram uma preocupação de fazer em sua prática algo especial, um trabalho que considere a realidade de vida dos educandos, valorizando as experiências do seu cotidiano. Elas externaram em seus discursos a importância de um saber fazer educativo contextualizado com o mundo vivido pelo educando, afirmando que este é um meio para um aprendizado eficaz, em que o educando aprende a ler e escrever a sua história. Como assinala a professora Anita Garibaldi, “O aluno trabalhador, [...] precisa de algo

especial [...] livro com textos pequenos, estória que chama a atenção deles. Ex. sobre futebol,

novelas, texto que conte pequenas estórias, relatando um fato [...]” (grifos nossos).

Ao analisarmos a fala de Anita Garibaldi percebemos que ela compreende o trabalho com a alfabetização de jovens e adultos, como algo que precisa ser realizado de forma peculiar a esse grupo de estudantes. Ao indagá-la sobre esta questão, num movimento com o grupo focal, a educadora explicitou que o algo especial que o educando necessita, refere-se à capacidade do(a) educador(a) da alfabetização de jovens e adultos em produzir um material que não se encontra elaborado nos livros didáticos. Esta produção baseia-se de acordo com os fatos ocorridos na vida do estudante, de acordo com os acontecimentos de seu cotidiano, valorizando sua realidade social e cultural na prática educativa. Como assinala Freire (2003, p. 28), “a prática educativa consciente, crítica, política, não se permite limitar-se aos procedimentos escolarizantes”.

De modo geral, notamos a preocupação das educadoras em trabalhar com uma prática diferente, por se tratar de um corpo discente composto de jovens e adultos (e não de crianças), já possuindo uma história de vida, que proporciona a construção de um modo de ser e fazer através de suas experiências individuais, coletivas e sociais.

Nesse sentido, a maioria das educadoras dizem acreditar que o educando jovem e adulto tem maior êxito se, no processo ensino-aprendizagem, forem valorizadas suas práticas sociais. Podemos associar esta análise ao dizer de Freire (2003, p. 29), que estima um fazer pedagógico considerando as experiências do educando, “respeitando os sonhos, as frustrações, as dúvidas, os medos, os desejos dos educandos, crianças, jovens ou adultos, os educadores e educadoras populares têm neles um ponto de partida para sua ação [...]”.

Dito de outro modo, considera-se por meio de suas falas, que a maioria das educadoras investigadas, mostram que há disponibilidade para atuar de forma inteligente: flexível, criativa, dinâmica e intuitiva, valorizando o contexto de vida de seus educandos, como podemos verificar em seus depoimentos:

-Anita Garibaldi - receber seu aluno bem, uma parte criativa que não deixe o aluno cansado, incentivando a importância de ser alfabetizado [...] contando fábula de incentivo.

-Pagu - [...] procurar sempre elogiar e estimular seu aluno a não desistir, ser flexível

e dinâmico, preparar suas aulas com o foco voltado para seu aluno.

-Chiquinha Gonzaga - é preciso ser “responsável, consciente e flexível às

necessidades diversas que surgem, ter uma carreira acadêmica é de valiosíssima

importância (grifos nossos).

A professora Pagu, ainda diz que, a prática alfabetizadora de jovens e adultos deve ser

“dentro de sua realidade, onde o contexto trabalhado em sala de aula seja de acordo com o seu cotidiano, o conteúdo tem que estar dentro da vivência do aluno”(grifo nosso).

As alfabetizadoras da EJA em Itambé, demonstraram não ser possível pensar numa alfabetização que atenda às necessidades dos alunos trabalhadores sem reconhecer a realidade na qual estão inseridos, sem valorizar suas experiências de vida no espaço escolar, que se traduzem por meio da linguagem oral de sua cotidianidade. Identificamos dessa forma, através de suas falas um discurso que pode apontar para uma prática flexível às transformações e desafios na alfabetização de jovens e adultos.

Notamos ainda, que as educadoras alfabetizadoras demonstram, através de suas falas, uma preocupação com uma ação intuitiva, criativa e curiosa. Intuitiva porque demonstraram a preocupação de uma prática perceptiva, que busca detectar nos educandos, através de suas experiências de vida, seu conhecimento de mundo. “É preciso que o(a) educador(a) saiba que

seu ‘aqui’ e o seu ‘agora’ são quase sempre o ‘lá’ do educando [...] não é possível ao (a) educador(a) desconhecer, subestimar ou negar os ‘saberes de experiência feitos’ com que os educandos chegam à escola” (FREIRE, 1992, p. 59).

A criatividade se encontra presente nesta investigação, principalmente quando as educadoras expressam a importância de um fazer diferente na alfabetização de jovens e adultos (como explicado anteriormente),utilizando sua inteligência inventiva. E, encontramos uma prática curiosa, quando as educadoras fazem entender, que precisam ser curiosas, estar sempre aprendendo para apoderar-se de uma ação educacional de qualidade, procurar saber mais, para saber fazer melhor. Encontramos isso na fala da professora Chiquinha Gonzaga “é

preciso mais incentivo da parte do município, no que diz respeito a uma preparação de

professores e também a busca dessa preparação pelos próprios professores. Através de

faculdade, cursos e especializações. Há sempre algo mais a fazer”(grifo nosso).