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REFLETINDO TÉCNICAS, ESTRATÉGIAS E HABILIDADES EDUCATIVAS

3 O EDUCANDO JOVEM E ADULTO CONSIDERADO A PARTIR DE

3.4 REFLETINDO TÉCNICAS, ESTRATÉGIAS E HABILIDADES EDUCATIVAS

Quando nos referimos à utilização de técnicas, estratégias e habilidades na prática educativa da alfabetização de jovens e adultos, estamos defendendo a utilização de uma forma inteligente de atuar no fazer docente, propiciando ao educando, “refletir sobre seu próprio poder de refletir [...] Esta educação corajosa, exigia um método que permitisse ao educador

ajudar o homem a ajudar-se, a fazer-se agente de sua própria recuperação através de uma postura conscientemente crítica diante de seus problemas” (PAIVA, 2003, p. 252)

Essa postura do fazer pedagógico do (a) alfabetizador(a) de jovens e adultos, pode ser possível por meio de uma prática que, valorize o diálogo, a observação, o conhecimento da realidade cultural do educando. Este foi o caminho apontado por Freire, como forma de colaborar com o educando a superar suas limitações e promover uma atitude crítica diante da realidade que está inserido.

A estratégia oferecida por Freire pretendia, como assinala Paiva (Ibid. p. 253), “ser mais que o simples domínio psicológico e mecânico das técnicas de leitura e escrita; pretendia formar uma atitude de criação e recriação. Por isso, devia partir de situações concretas e se realizar através do diálogo”. Considerar na prática educativa a realidade do educando é não apenas conduzi-lo a uma revisão crítica da sua condição social, política, cultural, mas também ajudá-lo na transformação dessa realidade. Daí a preocupação de uma prática alfabetizadora libertadora que, possa ajudar a sair de uma concepção ingênua, para uma visão consciente, crítica de si mesmo e do mundo. Paiva (Ibid. p. 253) assim, esclarece o método:

A prática do método tinha com base inicial o levantamento do universo vocabular dos grupos com os quais a equipe pretendia trabalhar. Em seguida eram escolhidas as palavras no universo vocabular pesquisado, devendo ser selecionadas pela sua riqueza fonêmica, pelas dificuldades fonéticas e pelo engajamento da palavra numa dada realidade social, cultural ou política. Tais palavras eram relacionadas a situações existenciais típicas do grupo, que serviam como ponto de partida da discussão, à qual se seguia a decomposição das famílias fonêmicas correspondente aos vocábulos geradores. Para esse trabalho era necessário uma adequada preparação dos coordenadores e a confecção de material didático através de slides e cartazes.

Com o método acima exposto, ou com a utilização dessa técnica, tanto o papel do educando quanto do(a) educador(a) é inteiramente novo. O educando em vez de passivo, condicionado a respostas prontas e limitadas, torna-se ativo e reflexivo. Assim, o(a) educador(a) sai de uma condição tradicional, como mero transmissor de conhecimentos e funciona como sujeito motivador na prática educativa, como bem assinala Lima (1965, p. 178)

A técnica do círculo de cultura (...) o coordenador (nome dado ao professor) não ensina: Cria uma situação de aprendizagem em que o próprio esforço motivado do aluno provoca a aprendizagem. Ora, uma função como esta não exige alta especialização em técnicas de alfabetização, mas apenas um pouco de liderança para fazer um grupo atuar.

Tudo isso nos faz pensar em técnicas que o(a) educador(a) pode criar para servir de meios que atendam as necessidades do educando diante de sua realidade. Assim, cabe ao educador e à educadora, por meio de seu fazer pedagógico aberto, intuitivo, criativo, curioso, reconhecer as condições que seus educandos vivem, valorizando seus saberes prévios como forma de incentivo e gosto pela sua própria história, ajudando-o a aprender e a reaprender o seu mundo. Como ressalta a professora entrevistada Margarida Alves “Alfabetizar é criar, é entender o aluno, é mostrar tudo o que você sabe, é dividir com os seus conhecimentos e mostrar ao aluno que ele é capaz”. Sobre essa questão Lima assinala (1965, p. 175), referindo- se ao Método Paulo Freire

Compreendeu o formulador do novo processo que alfabetização, pretendendo provocar profunda modificação no tipo de relacionamento do alfabetizando e a realidade, só se impõe como força motivadora se for estabelecido forte liame psicológico entre a atividade alfabetizante e as situações de vida do analfabeto [...].

Na busca de encontrar novas formas de atuação educacional na alfabetização de jovens e adultos, utilizou-se uma prática pedagógica não-diretiva, o método Paulo Freire, sistematizado em 1962, considerado como um conjunto de ações educativas envolvente, consciente e colaboradora. Como assinala Paiva (2003, p. 251), “não era uma simples técnica neutra, mas todo um sistema coerente no qual a teoria informava a prática pedagógica e os seus meios”.

Nesse sentido, a professora Chiquinha Gonzaga fala a respeito de uma estratégia inteligente na prática alfabetizadora, “referindo-se ao que tenho vivenciado, o primeiro passo parte de um diálogo desafiador, fazer reconhecer a importância e a necessidade de se fazer uma vida escolar. Junto vem a reconstrução da auto-estima, partindo do ponto de que nunca é tarde para quem realmente deseja algo [...]”.

Diante do exposto, entendemos com Lima (Ibid. p. 176), que a prática inteligente alfabetizadora atinge seu maior propósito – ajudando na aprendizagem concreta, conscientizadora da linguagem e da leitura de mundo – quando considera o universo cultural do educando.

É preciso não esquecer que o analfabeto obteve, bem ou mal, um sistema de equilíbrio social em baixo nível, de modo que exija habilidades toda especial para introduzir em sua equação vivencial elemento novo que provoque o desejo de alfabetizar-se como forma de readquirir equilíbrio em nível mais elevado.

Alfabetizar jovens e adultos requer atenção especial, diferente daquela trabalhada para a criança, pois “as técnicas de alfabetização infantil parecem ao adulto algo que não merece a atenção de um homem maduro, por conter forte conteúdo lúdico, apropriado a crianças” (PAIVA, op.cit. p. 253). O jovem e o adulto já percorreu uma história de vida que lhe impõe problemas, exigindo da vida e da escola soluções práticas às suas reais necessidades.

É relevante frisar que, não se pretende indicar nesta pesquisa um modelo inteligente único e acabado para alfabetizar jovens e adultos, mesmo porque, de acordo com cada contexto emerge uma nova realidade, e é desse novo, que o(a) educador(a) vai construindo uma nova prática em conjunto com o educando. O que queremos defender é o que Brandão (1981, p. 27) assinala, “o método aponta regras de fazer, mas em coisa alguma ele deve impor formas únicas, formas sobre como fazer. De uma situação para outra, de um tempo para o outro, sempre é possível criar sobre o método, inovar instrumentos e procedimentos de trabalho”.

Assim, quando nos referimos ao método exposto por Freire e sobre alguns aspectos da inteligência da prática educativa (a abertura, a intuição, a criatividade e a curiosidade) não estamos defendendo um modelo singular a ser seguidos pelos(as) educadores(as) e educandos, mas, sobretudo, estamos querendo mais uma vez provocar uma reflexão sobre o saber fazer alfabetizador. Este tem como objetivo maior, reconhecer no processo ensinar-aprender, a oralidade do educando jovem e adulto, sua prática social, seu mundo existencial.

Nesse sentido, a professora Anita Garibaldi expressa “trabalho utilizando jogos, quebra cabeça em forma de textos, comparação de palavras, fazer pesquisas, dinâmicas que,

incentiva os alunos a falar. Textos que estejam mais perto da realidade deles [...]” (grifo nosso). E, assim, nessa dinâmica educativa entre o(a) educador(a) e o educando, redescobrir o

mundo desse jovem e adulto, ajudando-o não apenas a apreender a técnica da linguagem oficial, mas da linguagem do seu mundo e do mundo letrado. Como assinala Brandão (op. cit. p. 49),

Só assim a alfabetização cobra sentido. É a conseqüência de uma reflexão que o homem começa a fazer sobre sua própria capacidade de refletir. Sobre sua posição no mundo. Sobre seu poder de transformar o mundo. Sobre o encontro das consciências. Reflexão sobre a própria alfabetização, que deixa de ser assim algo externa ao homem, para ser dele mesmo.

É necessário a conscientização do(a) alfabetizador(a) e que, ele(a) mesmo busque condições de enxergar e aprender com sua própria história de vida, percebendo que é preciso romper seus limites, servindo como um efetivo colaborador da aprendizagem do

alfabetizando. “A tarefa do educador é, antes de qualquer coisa, a de criar uma outra educação” (BRANDÃO, Ibid. p. 85).

Há de se considerar ainda que novas propostas educacionais vêm ampliando o sentido e o conceito da prática alfabetizadora, exemplo disso é o método do letramento defendido por Soares(2003). É importante que, o(a) educador(a) entenda o letramento como uma maneira de alfabetizar, valorizando o conhecimento de mundo do educando.