15 – PÓS-OPERATÓRIO DE CESARIANA URGENTE POR PRÉ-ECLÂMPSIA / ECLÂMPSIA / HELLP
MANUSEAMENTO PÓS-PARTO DA PRÉ-ECLÂMPSIA / ECLÂMPSIA
A pré-eclâmpsia resolve nas 12 semanas após o parto, no entanto as puérperas podem ter ainda pressões arteriais aumentadas no pós-parto imediato. Neste período deve manter-se vigilância da:
* saturação de oxigénio, PA, estado de consciência e débito urinário, * função hepática, contagem plaquetar.
1. CONTROLO DA PRESSÃO ARTERIAL
Manter PA sistólica <=160 mmHg e/ou diastólica <=110 mmHg para reduzir o risco de complicações, entre as quais:
● Edema agudo do pulmão ● AVC
● Encefalopatia ● Isquémia do miocárdio.
Fármaco de 1ª linha 4
● Labetalol
– bólus inicial de 20mg em 2-3 min e repetir a cada 10 min, até obter o efeito desejado (dose máxima de 300mg), ou
– bólus inicial de 50 mg em 10 min, seguido de perfusão a 20 a 50 mg/h, até obter o efeito desejado.
Contraindicações: asma grave; usar com prudência na grávida com doença
cardíaca prévia.
Efeitos secundários: tonturas, náuseas e cefaleias.
Quando não surge o efeito pretendido, associar um fármaco de 2ª linha: ● Nifedipina: 10 mg oral, com intervalos de 15 a 30 min, até um máximo
de 50mg.
Usar com precaução na pré-eclâmpsia severa, em virtude de poder causar hipotensão grave e agravar a fraqueza muscular.
Efeitos secundários: taquicardia, palpitações e cefaleias.
Quando há resistência aos tratamentos anteriores:
● Perfusão de nitroprussiato de sódio 0,3 -1,5 mcg/kg/min (até 6 mcg/kg/ min) sob monitorização da PA invasiva.
Pode desencadear taquicardia reflexa; na pré-eclâmpsia severa induz hipotensão intensa e bradicardia paradoxal.
2. PROFILAXIA E TRATAMENTO DAS CONVULSÕES
O fármaco de primeira linha na prevenção e tratamento das convulsões é o
sulfato de magnésio, sendo que este não interfere na progressão da doença,
nem na mortalidade materna. Este está indicado em todos os casos de pré- -eclâmpsia severa.5
A profilaxia das convulsões deve manter-se no pós-parto, dado que 1/3 das convulsões ocorrem neste período, principalmente nas primeiras 48h pós-parto.
Quando as convulsões ocorrem antes da 20ª semana de gestação, com sinais neurológicos focais, coma prolongado ou >48h após o parto deve ser efetua- do estudo imagiológico para despistar um AVC, encefalopatia hipertensiva, feocromocitoma, lesões expansivas do SNC, abcesso cerebral, epilepsia ou outras causas.
Profilaxia das convulsões
● 4 g de sulfato de magnésio durante 15-20 min (diluir 2 ampolas de sulfato de magnésio a 20% em 100 ml de dextrose a 5% em água), seguido de perfusão de 1-2 g/h (2-4 ampolas de sulfato de magnésio a 50% em 1000 ml de dextrose 5% em água, a 100 ml/h)
Tratamento das convulsões
● Abordagem ABCD
o Aspirar as secreções, proteger a via aérea, oxigenar e intubar se necessário
o Decúbito lateral esquerdo o Minimizar o traumatismo materno o Controlar as convulsões (ver abaixo)
o Corrigir acidose materna: se pH<7,1 administrar bicarbonato de sódio o Corrigir desequilíbrios ácido-base
● O tratamento de 1ª linha nas primeiras convulsões e nas convulsões recorrentes é o sulfato de magnésio:
o 4 g de sulfato de magnésio em 5-10 min, seguido de perfusão de 1g/h por 24h após a última convulsão.
o Se convulsões recorrentes, administrar bólus adicional de 2g ou au- mentar a perfusão basal para 1,5-2 g/h
o No caso de convulsões refratárias ao sulfato de magnésio: ● Fenitoína 15 mg/kg ev (max. 50 mg/min)
● Lorazepam 0,02 mg/kg ev em 1 min
● Diazepam em bólus 0,1-0,3 mg/kg ev num minuto, até um máximo de 20mg ou perfusão 40 mg/500ml de SF
Monitorização da terapêutica
● Magnesiémia 2/2h (horária se insuficiência renal)
● Avaliação do reflexo rotuliano 4/4h, se abolido pesquisar reflexos pro- fundos
● Controlo da diurese (alvo >25 ml/h)
● Se abolição dos reflexos ou diminuição da diurese, deve interromper-se a perfusão
● Sinais de toxicidade do sulfato de magnésio: o Diminuição dos reflexos osteo-tendinosos o Depressão respiratória
o Paragem cardio-respiratória ● Níveis séricos de sulfato de magnésio:
o 4-6 mg/dl » profilaxia das convulsões
o 9-12 mg/dl » perda dos reflexos osteo-tendinosos o 12-18 mg/dl » paragem respiratória
o 25-30 mg/dl » assistolia
● Em caso de toxicidade administrar Gluconato de cálcio 10%, 10 ml durante 3 min.
3. FLUIDOTERAPIA E MONITORIZAÇÃO INVASIVA
Após o parto, o balanço hídrico é muito importante.
Deve ser evitada a sobrecarga hídrica pelo risco aumentado de edema agudo do pulmão, uma causa frequente de morbimortalidade materna. Este ocorre habitualmente às 48-72h pós-parto por mobilização dos fluidos do espaço extravascular e surge em cerca de 3% dos casos de pré-eclâmpsia.6
Por esse motivo, as puérperas devem ter restrição hídrica até que seja retomada a diurese natural, o que costuma acontecer por volta das 36-48h pós-parto. Muitas puérperas têm um breve período de oligúria, período este que deve ser antecipado e não sobrecorrigido com diuréticos.
● Limitar o uso de fluidos a 80 ml/h ou 1 ml/kg/h.
● Há dúvidas quanto ao uso de colóides vs cristalóides, pois os colóides podem aumentar muito a pressão venosa central (PVC) corrigindo a pres- são coloidosmótica enquanto os cristalóides podem aumentar o edema já existente por extravasamento capilar.7
● Registar o débito urinário a cada 4h, devendo este ser > 80 ml/4h. ● Evitar o uso de diuréticos.
● Após 2 períodos de 4h com débito urinário < 80 ml há 2 cenários pos- síveis8:
o Balanço positivo >750 ml nas últimas 24h » administrar 20 mg de furosemida. Pode administrar-se 250 ml de colóides se diurese >200ml na hora seguinte.
o Balanço negativo nas últimas 24h » administrar 250 ml de colóide em 20min. Se o débito urinário se mantiver baixo, administrar 20 mg de furosemida. Se na hora seguinte o débito urinário for > 200 ml,
administrar 250 ml de colóide durante 1 hora. Se a diurese continuar baixa, contactar a nefrologia.
● Indicação para a monitorização da PA Invasiva o Instabilidade hemodinâmica
o Controlo difícil da PA
o Perfusão de fármacos vasodilatadores diretos o Obesidade materna
o Perdas sanguíneas > 1000 ml
o Necessidade de análises frequentes, particularmente em contexto de edema pulmonar.
● Indicação para a monitorização da PVC o Perdas sanguíneas elevadas
o Avaliação da resposta à fluidoterapia o Oligúria
Os valores de PVC podem ser enganadores, pois apesar do edema periférico geralmente há depleção do volume intravascular, aumento das resistências vasculares sistémicas e alteração da pressão venosa, que pode não refletir o volume intravascular.
4. ALTERAÇÕES DA COAGULAÇÃO
Monitorizar a contagem de plaquetas e avaliar a necessidade de transfusão: o Se inferior a 20x109/l transfundir plaquetas.
o Se < a 50x109/l ou em decréscimo rápido ou coagulopatia avaliar a ne- cessidade de administrar plaquetas e/ou outros componentes sanguíneos.
5. ANALGESIA
Se a grávida tiver cateter epidural funcionante, este deve ser utilizado para analgesia.
A sua remoção deve ser programada e precedida por estudo laboratorial com contagem plaquetar e tempos de coagulação, de forma a ser realizada em segurança.
Deve também ser respeitado o intervalo de segurança da heparina de baixo peso molecular (HBPM).
Nos outros casos devem-se administrar opióides endovenosos e evitar os anti-inflamatórios não esteróides (AINEs)9.
6. OUTRAS CONSIDERAÇÕES
o Proteção gástrica com ranitidina ou inibidor da bomba de protões (IBP) o Profilaxia da Tromboembolia Pulmonar (TEP) iniciada após o parto e
mantida até à deambulação.
7. PEDIR APOIO DA UNIDADE DE CUIDADOS INTENSIVOS (UCI) PARA O PÓS-PARTO NA ECLÂMPSIA E PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE