• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 ESTADO DA ARTE

2.2 Caracterização da interação Universidade-Empresa

2.2.1 Mecanismos ou atividades de interação

O Quadro 2.3 apresenta uma coletânea das atividades ou mecanismos de interação mencionados na literatura. No total foram identificados 32 artigos que mencionam mecanismos de interação, desses, 17 eram publicações internacionais e 15 nacionais. No total foram encontrados 47 mecanismos diferentes, dentre os quais somente 3 não foram mencionados em artigos internacionais: “cursos de pós-graduação (strictu sensu)”;

“estudantes realizando atividades de pesquisa nas empresas”; e “Trabalho de Conclusão de

Curso apoiado pela empresa”. Já os artigos nacionais mencionam somente 26 mecanismos diferentes. O detalhamento das ocorrências dos mecanismos por autor é apresentado no Apêndice A, à página 191.

Quadro 2.3 Mecanismos de interação universidade-empresa (continua)

Mecanismo Geral Int Br

Consultorias 20 11 9

Patentes e licenciamento 16 11 6

Incubadoras 13 5 8

Cursos de extensão ou especialização (para capacitar funcionários de empresas) 13 4 9

Pesquisa contratada 11 7 4

Spin-offs 11 7 4

Pesquisa conjunta ou colaborativa (cooperação em pesquisa) 11 6 5

Interações informais 10 6 4

Uso de publicações 10 6 4

Conferências ou outros eventos (público da empresa e da universidade) 10 5 5 Contratação de egressos ou alunos (dos projetos de colaboração U-E) 9 5 4

Parques Tecnológicos e outros espaços dedicados 7 2 6

Assistência técnica e serviços especializados 7 1 6

Pesquisa patrocinada (subvenções públicas ou fundos privados) 6 4 2

Projetos de P&D 6 3 3

Intercâmbio temporário de pessoal 5 3 2

Parcerias interorganizacionais 5 1 4

Troca de ativos e serviços 5 1 4

Uso de instalações da universidade 4 3 1

Desenvolvimento de produtos, processos e software 4 1 3

Estudantes em estágio nas empresas 4 1 3

Compartilhar resultados de pesquisa 3 3 0

Financiamento de bolsas de pesquisa pela indústria 3 3 0

Compra de protótipos ou produtos 2 2 0

Orientação conjunta 2 2 0

Redes de profissionais 2 2 0

Comitês envolvendo profissionais das empresas locais 2 1 1

Empresas que pertencem à Universidade 2 1 1

Quadro 2.3 Mecanismos de interação universidade-empresa (conclusão)

Mecanismo Geral Int Br

Concurso de planos de negócios 1 1 0

Copyright 1 1 0

Empreendimentos conjuntos ou cooperativos 1 1 0

Grupos de trabalho com usuários 1 1 0

Licenças sabáticas 1 1 0

Mobilidade de pesquisadores entre universidade e empresa 1 1 0

Oportunismo/sorte 1 1 0

Palestras ministradas pelo pessoal da empresa na universidade 1 1 0

Professores substitutos ou temporários 1 1 0

Programas de mentoria e clínicas para start-ups 1 1 0

Programa de relacionamento com empresas 1 1 0

Programas de trainees e transferências temporárias nas empresas 1 1 0

Publicação conjunta 1 1 0

Residência na empresa 1 1 0

Treinamento de alunos de pós-graduação nas empresas 1 1 0

Cursos de pós-graduação (strictu sensu) 1 0 1

Estudantes realizando atividades de pesquisa nas empresas 1 0 1

Trabalho de Conclusão de Curso apoiado pela empresa 1 0 1

Totais 222 123 101 Fonte: Elaborado a partir de Dagnino (2009); Bonaccorsi e Piccaluga (1994); Zagottis (1995); Brisolla et al. (1997); Bozeman (2000); Klofsten e Jones-Evans (2000); Nowak e Grantham (2000); Rogers, Takemi e Yin (2001); Lima e Teixeira (2001); Agrawal e Henderson (2002); Cohen et al. (2002); Schartinger et al. (2002); Lima (2004); Etzkowitz et al. (2005); Bercovitz e Feldman (2006); Wang (2006); Botelho, Carrijo e Kamasaki (2007); Castro, Jannuzzi e Mattos (2007); Landry, Amara e Ouimet (2007); Lester (2007); Perkmann e Walsh (2007); Rapini (2007a); Silva (2007); Albuquerque et al. (2008); Almeida (2008); Costa e Torkomian (2008); Martinelli et al. (2008); Arza (2010); Arza e López (2011); Silva Neto et al. (2011); Closs et al. (2012).

Os mecanismos mais citados na literatura nacional foram: “consultorias” (9 vezes),

“cursos de extensão ou especialização” (9 vezes) e “incubadoras” (8 vezes), enquanto que na literatura internacional os mais mencionados foram: “consultorias” e “patentes e licenciamento” (11 vezes), “pesquisa contratada” e “spin-offs” (7 vezes).

Além dos três mecanismos não mencionados pela literatura internacional, percebe-se

que “assistência técnica e serviços especializados” apresenta uma divergência grande entre o

número de citações na literatura nacional e a internacional. Isso poderia se explicar como uma característica particular da realidade brasileira.

Alguns autores estabelecem grupos ou classes de mecanismos que englobam duas ou

mais atividades de interação, como por exemplo: “serviços de pesquisa” para se referir a pesquisa contratada e consultorias; “comercialização” para se referir a patentes, licenciamento

e spin-offs de forma conjunta; “parcerias de pesquisa” para se referir a pesquisa colaborativa ou contratada e centros compartilhados de pesquisa. Em outras palavras não existe consenso entre os pesquisadores sobre a melhor maneira de classificar as interações.

Dentre essas classificações a mais citada é a de Bonaccorsi e Piccaluga (1994) que agrupa as formas de colaboração entre universidade e empresa em seis categorias, conforme se mostra no Quadro 2.4. Esta classificação diferencia as relações individuais das formas mais institucionalizadas e tem um foco no tipo de formalização entre as partes. Também considera a existência ou não de uma instituição de intermediação.

Quadro 2.4 – Modalidades de Relacionamento entre Universidade e Empresa

Modalidade Atividades

Relações pessoais informais (a universidade não é envolvida)

Consultoria individual por acadêmicos, workshops informais, reuniões para troca de informações, publicações de resultado de pesquisa. Relações pessoais formais

(convênios entre a universidade e a empresa)

Bolsas de estudo e apoio à pós-graduação, estágio de alunos, intercâmbio de pessoal, especialização de funcionários nas universidades.

Envolvimento de uma Instituição de Intermediação

Relação de parceria via terceiros sob a forma de associações industriais, institutos de pesquisa aplicada, escritórios de assistência geral, consultoria institucional (companhias/fundações universitárias). Convênios formais com objetivo

definido

Pesquisa contratada, desenvolvimento de protótipo e testes, treinamento de funcionários, projetos de pesquisa cooperativa ou programas de pesquisa conjunta.

Convênios formais sem objetivo definido

(tipo guarda-chuva)

Patrocínio industrial de pesquisa e desenvolvimento em departamento da universidade, doações e auxílios para pesquisa, genéricos ou para departamentos específicos.

Criação de estruturas próprias para a interação

Parques tecnológicos, institutos, laboratórios, incubadoras de empresas, consórcios de pesquisa.

Fonte: adaptado de Costa e Cunha (2001)

Em outra perspectiva, Perkmann e Walsh (2007) propõem uma classificação das interações com vistas a relacioná-la com o grau de envolvimento entre as partes e o grau de finalização, sendo esta definida como o grau em que a investigação científica persegue uma finalidade (técnica, social ou econômica) específica em oposição à obtenção de novos conhecimentos pelo interesse próprio do pesquisador. O Quadro 2.5 apresenta a classificação das atividades de interação em função do grau de envolvimento entre as partes, onde: a transferência é considerada um nível baixo de envolvimento, a mobilidade de pessoas entre as duas organizações requer um nível médio de envolvimento, enquanto que as parcerias e serviços de pesquisa requerem um alto grau de envolvimento. Os mecanismos “uso de

publicações científicas” e “networking” do pesquisador, podem acompanhar todas os demais

Quadro 2.5 – Atividades de interação pelo grau de envolvimento

Grau de envolvimento Links Atividades

Alto = relacionamento

Parcerias de pesquisa P&D colaborativo

Serviços de pesquisa Atividades pagas pela indústria, incluindo pesquisa contratada

Médio = mobilidade

Empreendedorismo

acadêmico Spin-offs ou star-ups

Transferência de RH

Treinamento de empregados das indústrias; treinamento de alunos de pós-graduação na indústria. Estágios (trainees) para alunos de pós- graduação.

Baixa = transferência Comercialização de

propriedade intelectual Patentes e licenciamento

O uso de publicações científicas e networking pode acompanhar todas as formas de interação Fonte: adaptado de Perkmann e Wlash (2007)

Outra forma de classificar os mecanismos é apresentada por Fuentes e Dutrénit (2012) que usam o termo “canais de interação” para se referir a um grupo de atividades ou mecanismos de interação e afirmam que estes podem ser agrupados em categorias de acordo com o grau de formalidade, o grau de interação, a direção do fluxo do conhecimento ou o potencial de obter resultados aplicados. A pesquisa incluiu 10 formas de interação que foram classificadas em 4 canais conforme apresentado na Quadro 2.6.

Quadro 2.6 – Canais de interação universidade-empresa

Canais de interação Formas de interação

Informação e treinamento Publicações

Conferências Informação informal Treinamento Projetos e consultoria de P&D P&D contratado

P&D conjunto Consultoria

Direitos de Propriedade Intelectual Licenciamento de tecnologia Patentes

Recursos Humanos Contração de recém graduados

Fonte: De Fuentes e Dutrénit (2012)

2.2.2 Drivers ou fatores determinantes

O interesse em descrever e entender melhor a interação universidade-empresa levou os pesquisadores a se perguntarem quais fatores a influenciam de forma positiva ou negativa. Diversos trabalhos foram publicados na última década nesta direção.

Fuentes e Dutrénit (2012) discutem o impacto dos fatores que conduzem a concretização (drivers) da colaboração sobre os canais de interação, assim como os impactos desses canais sobre os benefícios percebidos pelos pesquisadores e empresas. Com base na revisão de literatura desse trabalho foi possível elaborar uma síntese dos fatores determinantes da interação Universidade-Empresa, tanto da perspectiva da empresa como da academia (ver Quadro 2.7).

Quadro 2.7 – Drivers da interação universidade-empresa.

Tipo Fatores

Empresa

Estruturais

Tempo de constituição da empresa Tamanho da empresa

Ambiente setorial e industrial

Empresa faz parte de grupo empresarial Comportamentais

Tipo de atividades de P&D Intensidade de P&D

Estratégias abertas para gerar novas ideias

Geográficos Proximidade geográficA

Relacionados à política tecnológica

Incubadoras de negócios

Promoção de clusters industriais inovadores Iniciação de pesquisa conjunta

Academia

Institucionais

Afiliação

Missão dauniversidade

Experiência prévia em trasferência de tecnologia Escala de recursos para pesquisa

Acesso a diversas fontes de recursos Qualidade da pesquisa

Individuais

Gênero e Idade do pesquisador Experiência prévia em interação

Status acadêmico do pesquisador e seu campo de pesquisa

Fonte: elaboração própria com dados de Fuentes e Dutrénit (2012)

Landry, Amara e Ouimet (2007) obtiveram evidencias mostrando que dois determinantes explicam a transferência de conhecimento em seis campos de pesquisa: ligações entre pesquisadores e usuários das pesquisas e foco do projeto de pesquisa nas necessidades dos usuários. Enquanto que o financiamento de empresas ou agencias do governo, o foco do projeto de pesquisa nas necessidades dos usuários (empresas ou agências do governo), o tamanho da unidade de pesquisa, a intensidade das ligações entre pesquisadores e usuários, anos de experiência em pesquisa desde a aquisição do título de doutor, número de publicações, grau de novidade da descoberta, afiliação do pesquisador a uma grande universidade, estar na área de engenharia em lugar de outros campos de pesquisa, e ser homem foram as variáveis com desempenho significativo e correlação positiva com a transferência de conhecimento. Outras variáveis, incluídas no modelo, tais como: apoio

financeiro da própria universidade, o tempo dedicado pelo pesquisador ao ensino, e o nível na carreira acadêmica não apresentaram correlação com a transferência do conhecimento.

Arza e López (2011) chegaram as seguintes descobertas: 1) não há um efeito claro da base de conhecimento das empresas na probabilidade de interagir com a universidade, para as pequenas empresas o efeito foi negativo, já no caso das grandes empresas o efeito não é significativo; 2) com relação às atividades de rede, as empresas que estabelecem ligações com clientes e fornecedores são mais propensas a estabelecer ligações com universidades também, mostrando que os recursos de rede cumprem um papel na interação; 3) filiais que se reportam à matriz são menos propensas a estabelecer ligações com universidades, o que sugere um efeito de substituição para empresas estrangeiras entre ligações com parceiros globais e ligações com parceiros nacionais; 4) existe um efeito de substituição entre a universidade e o mercado para intercâmbio de informações, aquelas empresas que interagiam com outras firmas para intercambiar informações interagiam menos com as universidades.

O Quadro 2.8 apresenta uma síntese dos fatores compilados na literatura a partir da análise de 69 artigos científicos, sendo 55 internacionais e 14 nacionais. No total foram compilados 51 fatores diferentes que influenciam a interação universidade-empresa, apresentados em ordem decrescente de número de citações. O detalhamento das ocorrências e agrupamento dos fatores por autor é apresentado no Apêndice B e C, página 196 e 199 respectivamente.

Quadro 2.8 – Fatores que influenciam a interação universidade-empresa encontrados na literatura (continua)

Fator Geral Int Br

Prestígio ou reputação científica 14 13 1

Localização geográfica 14 9 5

Recursos 13 10 3

Características e dinâmica do setor 11 11 0

Tamanho 10 10 0

Experiência em interação U-E 10 9 1

Políticas públicas 9 7 2

Unidades de ligação (tamanho, autonomia, staff) 9 3 6

Intensidade e orientação de P&D 8 8 0

Apoio organizacional à interação U-E 8 3 5

Capital humano científico e técnico 7 4 3

Gênero 6 6 0

Comportamento colaborativo 6 5 1

Missão e posicionamento estratégico 6 5 1

Idade 5 5 0

Natureza e dinâmica da área da ciência (básica/aplicada, emprego) 5 5 0

Políticas, normas ou regras formais 5 5 0

Experiência e capacidade empresarial 6 5 1

Quadro 2.8 Fatores que influenciam a interação universidade-empresa encontrados na literatura (conclusão)

Fator Geral Int Br

Participação em redes e associações 4 4 0

Sistema de incentivos e recompensas 4 4 0

Características da tecnologia ou nicho tecnológico 4 3 1

Desenho organizacional 4 3 1

Procedimentos operacionais 4 3 1

Produtividade científica 4 3 1

Demanda potencial do conhecimento ou tecnologia 3 2 1

Marketing e comunicação 3 2 1

Ambiente legal e normativo do país 2 2 0

Estilo de gestão e liderança 2 2 0

Estratégia e objetivos organizacionais 2 2 0

Motivações 2 2 0

Nível e trajetória na carreira 2 2 0

Sistema nacional de inovação 2 2 0

Tamanho das unidades acadêmicas 2 2 0

Tempo de constituição 2 2 0

Parcerias público-privadas 2 1 1

Redes e organizações da sociedade civil 2 1 1

Sistema de ensino técnico e superior 2 0 2

Atitudes 1 1 0

Clima das unidades acadêmicas 1 1 0

Contratos de pesquisa fechados com empresas 1 1 0

Demografia 1 1 0

Diversificação 1 1 0

Financiamento público de pesquisas 1 1 0

Identidade 1 1 0

Orientação à exportação 1 1 0

Subvenções à pesquisa recebidas do governo 1 1 0

Tamanho das empresas do setor 1 1 0

Valor econômico do conhecimento ou tecnologia 1 1 0

Associações industriais e empresariais 1 0 1

Setor dedicado à interação 1 0 1

Totais 221 178 43 Fonte: Elaborado a partir de Pavitt (1984); Faulkner e Senker (1994); Klevorick et al. (1995); Lee (1996); Mansfield e Lee (1996); Brisolla et al. (1997); Geuna (1998); Stiglitz e Wallsten (1999); Bozeman (2000); Etzkowitz e Leydesdorff (2000); Greenaway e Haynes (2000); Klofsten e Jones-Evans (2000); Salter e Martin (2001); Bozeman e Gaughan (2007); Cohen et al. (2002); Colyvas et al. (2002); Lundvall et al. (2002); Santoro e Chakrabarti (2002); Schartinger et al. (2002); Segatto-Mendes e Sbragia (2002); Friedman e Silberman (2003); Zerhouni (2003); Laursen e Salter (2004); Mowery e Nelson (2004); Chapel et al. (2005); Etzkowitz, Mello e Almeida (2005); Perkmann e Walsh (2007); Bercovitz e Feldman (2006); Fontana et al. (2006); Hanel e St-Pierre (2006); Botelho, Carrijo e Kamasaki (2007); Castro, Jannuzzi e Mattos (2007); D'Este e Patel (2007); Landry, Amara e Ouimet (2007); Rapini (2007); Rothaermel, Agung e Jiang (2007); Silva (2007); Sohn e Kenney (2007); Albuquerque et al. (2008); Almeida (2008); Costa e Torkomian (2008); Jensen et al. (2008); Segarra-Blasco e Arauzo-Carod (2008); Tether e Tajar (2008a); Boardman e Ponomariov (2009); Eom e Lee (2009); Garnica e Torkomian (2009); Geuna e Muscio (2009); Giuliani e Arza (2009); Jain et al. (2009); Mariz (2009); Santana e Porto (2009); Arza e Vazquez (2010); Bekkers e Bodas-Freitas (2010); Broström (2010); Caldera e Debande (2010); Dutrénit et al. (2010); Giuliani et al. (2010); Marques, Freitas e Silva (2010); Arza e López (2011); Bishop et al. (2011); Laursen et al. (2011); Rivera-Huerta et al. (2011); Torres et al. (2011); Wigren-Kristoferson et al. (2011); Botelho e Almeida (2012); Closs et al. (2012); Perkmann et al. (2013).

Os artigos internacionais mencionam 48 dos 51 fatores compilados, enquanto que na literatura nacional são mencionados somente 23 fatores. Dentre os fatores mais mencionados na literatura internacional encontram-se: “prestígio ou reputação científica”, “características e dinâmica do setor”, “tamanho”, “recursos”, “localização geográfica” e “experiência em interação U-E”. Já na literatura brasileira os fatores mais citados são: “unidade de ligação”,

“localização geográfica” e “apoio organizacional à interação U-E”. A existência de

associações industriais e empresariais, assim como a empresa ter um setor dedicado à interação com a universidade são dois fatores mencionados somente na literatura nacional.

2.2.3 Motivação para a interação

Outro aspecto estudado pelos pesquisadores é a identificação das motivações individuais que levam aos pesquisadores a se envolver seja com transferência de tecnologia seja com colaboração com o setor privado.

Para Perkmann et al. (2013) o engajamento acadêmico deve ser visto com um comportamento pró-ativo dos docentes, tendo em vista o alto grau de autonomia profissional de que gozam. Assim, a contribuição para o bem organizacional e o próprio desempenho individual está mais ligado à motivação pessoal do que ao comando e controle dos seus superiores. Depreende-se dessa afirmação a importância de estudar e compreender a motivação dos pesquisadores, dada a função central que desempenham na interação universidade-empresa.

Nesse sentido, o trabalho de D’Este e Perkmann (2011) traz uma contribuição importante ao agrupar 12 itens motivacionais relatados pelos pesquisadores em 4 fatores motivacionais, conforme se mostra no Quadro 2.9

Quadro 2.9 – Motivações dos pesquisadores para participar de interações U-E

Itens motivacionais Motivação (fatores)

Fonte de renda pessoal

Busca de direitos de Propriedade Intelectual Comercialização Informação sobre problemas da indústria

Feedback da indústria

Informação sobre pesquisa da indústria Aplicabilidade da pesquisa

Fazer parte de uma rede

Aprendizagem

Acesso a materiais

Acesso a perícia em pesquisa Acesso a equipamentos

Acesso à doação de recursos Receita de pesquisa da indústria

Receita de pesquisa do governo Acesso ao financiamento Fonte: D’Este e Perkmann (2011)

Em outra perspectiva, Landry, Amara e Oiumet (2007) recorreram à Teoria dos Recursos com o intuito de explicar porque os pesquisadores se envolvem em transferência de conhecimento. Assumiram que os pesquisadores, assim como as empresas, controlam um conjunto de recursos e habilidades idiossincráticas que são distribuídos e mobilizados nas atividades de transferência de conhecimento. Nessa perspectiva, tais atividades crescerão quando os recursos ou a sua mobilização for adequada ou suficiente. Na literatura sobre tecnologia e transferência de tecnologia, os recursos que permitem aos pesquisadores transferir conhecimento incluem recursos financeiros, organizacionais, relacionais e bens pessoais. Com base nesses quatro tipos de recursos, em conjunto com os atributos do conhecimento, as Landry, Amara e Oiumet (2007) desenvolvem o framework conceitual sobre a transferência de conhecimento apresentado na Figura 2.2.

Figura 2.2 Framework conceitual da transferência de conhecimento

Em uma contribuição para entender a especificidade da realidade brasileira, Burchart (2011) relata a resistência, aos projetos de colaboração com empresas privadas ainda presente na academia brasileira. Tais projetos são vistos de forma depreciativa ou como um desvio dos propósitos da ciência. Isso mostraria que a comunidade científica no Brasil não vê o interesse comercial como motivação individual valida ou aceitável. Como reflexo disso, os pesquisadores mencionam interesses altruístas como motivação dos projetos de colaboração,

Recursos financeiros - Financiamento privado - Financiamento governamental - Financiamento interno Atributos do Conhecimento - Publicações - Campos de Pesquisa

- Projetos de pesquisa com foco nas necessidades do usuário

- Descobertas científicas recentes

Recursos organizacionais

- Tamanho da universidade - Tamanho da unidade de pesquisa - Requisitos de ensino

Recursos relacionais

- Ligações com potenciais usuários não-acadêmicos

Recursos pessoais - Experiência Variáveis de controle - Gênero - Antiguidade Pesquisadores da universidade engajados em transferência de conhecimento - Transmitir os resultados de pesquisa - Apresentar os resultados de pesquisa

- Participar em grupos de trabalho - Prestar serviços de consultoria - Contribuir ao desenvolvimento

de produtos e serviços novos ou melhorados

- Envolvimento em atividades de negócios

- Comercialização dos resultados de pesquisa

como contribuir para o desenvolvimento tecnológico do país. Porém, foi captada evidencia de um processo de mudança dentro da academia favorável ao empreendedorismo universitário, em consonância com as recentes estratégias de financiamento público de pesquisas que tem forçado os cientistas a se ligar com a indústria.

O Quadro 2.10 apresenta todos os motivos relatados na literatura pesquisada. Dentre os 10 artigos científicos que mencionam as motivações 8 foram publicados no Brasil e 2 em periódicos internacionais. O motivo mais mencionado na literatura nacional é “obter recursos

financeiros para a universidade”, o que evidencia a importância da interação com empresas

para a universidade como forma de captar recursos extras. O detalhamento das ocorrências das motivações por autor é apresentado no Apêndice D, à página 213.

Quadro 2.10 – Motivações para participar de interação universidade-empresa relatadas na literatura

Motivação Ator Geral Int Br

Obter recursos financeiros para a universidade Universidade 7 1 6 Encontrar e absorver informação ou conhecimento Empresa 6 3 3

Aumentar capacidade inovativa Empresa 5 2 3

Resolver problemas concretos Empresa 5 2 3

Prestígio e reconhecimento da contribuição científica Pesquisador 4 0 4

Acesso a recursos da universidade Empresa 4 1 3

Oportunidade de trabalho / seleção mão-de-obra Universidade / Empresa 4 1 3

Remuneração financeira Pesquisador 4 1 3

Contratar serviços técnicos Empresa 4 2 2

Desenvolver ou melhorar produto ou processo Empresa 3 0 3

Enriquecer agenda para pesquisas futuras Pesquisador 3 0 3

Aplicar conhecimento em contextos reais Pesquisador 3 1 2

Produzir ou desenvolver novos conhecimentos Pesquisador 3 1 2

Transferência de tecnologia Universidade 3 1 2

Identificar e explorar oportunidades tecnológicas ou

de mercado Empresa / Pesquisador

2 1 1

Melhoria da qualidade do ensino e da pesquisa Universidade 2 1 1 Obter recursos não financeiros para a universidade Universidade 2 1 1

Reduzir custos de P&D Empresa 2 1 1

Contribuir para o desenvolvimento do país Universidade / Pesquisador 1 0 1

Divulgação da imagem da universidade Universidade 1 0 1

Evitar burocracia da universidade Pesquisador 1 0 1

Publicar artigos científicos Pesquisador 1 0 1

Realização da função social da universidade Universidade 1 0 1

Realização pessoal Pesquisador 1 0 1

Treinar empregados Empresa 1 0 1

Reduzir custos operacionais Empresa 1 1 0

Totais 74 21 53 Fonte: Elaborado a partir de Brisolla et al. (1997); Segatto-Mendes e Sbragia (2002); Costa e Torkomian (2008); Santana e Porto (2009); Arza (2010); Marques, Freitas e Silva (2010); Arza e Lopes (2011); Burcharth (2011); Silva Neto et al. (2011); Closs et al. (2012).

Para as empresas, o motivo mais citado foi “encontrar e absorver informação ou

conhecimento”, enquanto que, para os pesquisadores o motivo mais mencionado foi a busca de “prestígio e reconhecimento da contribuição científica”.

2.2.4 Benefícios percebidos com a interação

De acordo com Costa e Cunha (2001) as modalidades de relacionamento universidade e empresa apresentam uma série de resultados benéficos com um impacto direto tanto nas universidades quanto nas empresas, e de forma indireta, porém real, no âmbito governamental.

As vantagens diretas encontradas na literatura são:

A universidade tem a possibilidade de captar recursos adicionais para o desenvolvimento das pesquisas básica e aplicada, oferecendo um ensino vinculado aos avanços tecnológicos; a empresa pode desenvolver tecnologia com menor investimento financeiro, em menos tempo e risco; e o governo pode fomentar o desenvolvimento da nação com menor nível de investimento em infraestrutura e capacidade instalada de pesquisa e desenvolvimento. (COSTA; CUNHA, 2001, p.63 grifo nosso).

Fuentes e Dutrénit (2012) identificam os benefícios da interação percebidos tanto pelos pesquisadores quanto pelas empresas a partir da revisão de literatura por eles apresentada, agrupados em dois grupos de benefícios individuais e três grupos de benefícios para as empresas (ver Quadro 2.11)

Quadro 2.11 – Benefícios percebidos da interação Universidade-Empresa

Benefícios percebidos pelos pesquisadores Benefícios percebidos pelas empresas

Grupos Benefícios Grupos Benefícios

Intelectuais

Ideias para projetos colaborativos futuros Ideias para pesquisas futuras Compartilhar conhecimento ou informação Reputação Fortalecer capacidades baseadas em P&D

Aquisição de P&D complementar Aquisição de P&D substituto Uso de recursos disponíveis nas

instituições públicas de pesquisa

Econômicos

Compartilhar

equipamentos/instrumentos Provisão de inputs para

pesquisa Recursos financeiros Fortalecer capacidades baseados em outras atividades de inovação (não P&D)

Transferência de tecnologia das instituições públicas de pesquisa Aquisição de conhecimento para

resolução de problemas

Aumentar capacidade de absorver informação tecnológica

Obtenção de informação sobre tendências em P&D

Acesso a recursos humanos qualificados Melhoria da qualidade Teste de produtos/processos Aumento do controle de qualidade

No Brasil é comum associar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento como