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CAPÍTULO 2 ESTADO DA ARTE

2.3 Transferência de Tecnologia versus Colaboração

Durante a revisão bibliográfica se percebeu claramente duas vertentes de pesquisas: de

um lado os estudos sobre “transferência de tecnologia”, “comercialização” e “empreendedorismo acadêmico”; do outro, aqueles que se ocupam do “engajamento em colaboração com a indústria” (chamado de forma simplificada de “engajamento” ou “colaboração”). Este último caracterizado por facilitar o fluxo de conhecimento tecnológico

através de um processo informal de comunicação (LINK et al, 2007).

Perkmann et al. (2013) definem engajamento acadêmico como a colaboração relacionada ao conhecimento entre pesquisadores acadêmicos e organizações não acadêmicas. Esse processo se caracteriza pela sua organização e objetivos, pois: i) representa uma instancia de colaboração interorganizacional, normalmente envolvendo interações pessoais, que ligam universidades e outras organizações, principalmente empresas, e ii) geralmente os parceiros perseguem metas que são mais amplas do que a realização de pesquisa para fins de publicação acadêmica e que representem algum tipo de utilidade para o parceiro não acadêmico.

O engajamento inclui tanto atividades formais como pesquisa colaborativa, pesquisa contratada e consultoria, quanto atividades informais, tais como dar conselhos pontuais e networking com os profissionais da área. Perkmann et al. (2013) apresentam o engajamento em contraposição à comercialização, para tanto, fazem referencia ao trabalho de Rothaermel, Agung e Jiang (2007) sobre empreendedorismo universitário.

Ambos os artigos relatam um aumento crescente no número de publicações relacionadas aos temas que respectivamente abordam. Perkmann et al. (2013) encontraram, no período compreendido entre 1989 e o primeiro trimestre de 2011 um crescimento perceptível entre 2007 e 2010 de publicações sobre engajamento acadêmico, com um pico de publicações no ano 2008, conforme se pode observar na Figura 2.6.

Fonte: Perkmann et al., 2013 Figura 2.6 – Artigos publicados por ano sobre engajamento acadêmico

No caso de Rothaermel, Agung e Jiang (2007), que cobrem o período entre 1981 e 2005, foi identificado um crescimento exponencial a partir do ano 2000 impulsionado pelo lançamento de 11 edições especiais sobre o assunto (ver Figura 2.7). Os mesmos autores identificaram também quatro correntes emergentes em esta área: i) pesquisa universitária empreendedora, ii) produtividade dos Escritórios de Transferência de Tecnologia (Technology Transfer Offices), iii) criação de novas empresas, e iv) o contexto incluindo redes de inovação.

Fonte: Rothaermel et al., 2007 Figura 2.7 – Artigos publicados por ano sobre empreendedorismo universitário

Depois do explanado até aqui, é possível sintetizar as principais características das duas vertentes identificadas no conjunto de trabalhos publicados. De um lado, a corrente que pode ser chamada de empreendedorismo universitário, cujo foco principal é entender como a universidade pode contribuir com o desenvolvimento econômico regional partindo dos

pressupostos da teoria do empreendedorismo. Os mecanismos de transferência de tecnologia mais estudados são: patentes, licenciamento e criação de novas firmas com participação de membros da comunidade acadêmica (spin-offs), dentro da visão de que a geração de conhecimento se dá dentro da universidade para posteriormente ser repassada à comunidade via comercialização dos direitos de propriedade intelectual. O grau de institucionalização é alto, com a criação de Escritórios de Transferência de Tecnologia (ETT) nas universidades, encarregados de divulgar as tecnologias desenvolvidas dentro da universidade e negociar o licenciamento de patentes. Outra forma de institucionalização é a criação de incubadoras de negócios, para dar apoio aos membros da comunidade acadêmica (professores e alunos) empreendedores que decidam abrir novas empresas para produzir e comercializar os resultados das suas pesquisas. Há ainda uma forma de institucionalização que ultrapassa os limites organizacionais das universidades, se trata dos Parques Tecnológicos, que são implantados com apoio direto do estado para atrair empresas chamadas de alta tecnologia para se localizarem fisicamente perto de uma universidade voltada para a pesquisa “de ponta”.

Do outro lado, a vertente de estudos sobre colaboração ou engajamento, também chamado de transferência informal de tecnologia, tem um foco de estudo mais amplo e se ocupa dos demais mecanismos de interação além daqueles típicos da comercialização. Perkmann e Walsh (2007) identificaram os mecanismos de colaboração mais frequentes: a pesquisa colaborativa, pesquisa contratada e consultoria. A motivação dos pesquisadores neste caso é diversa, tais como: aprender com a indústria, financiamento de pesquisas, receber doação ou ter acesso a equipamentos e serviços essenciais para as pesquisas em andamento. As ações de institucionalização neste caso geralmente estão relacionadas com normas e procedimentos internos da universidade para dar apoio às atividades ou mecanismos de interação com a indústria, podendo em alguns casos incluir a construção de novos laboratórios ou centros de pesquisa financiados pela iniciativa privada, cujo uso pode ou não ser compartilhado.

Perkmann et al. (2013) desenvolveram um marco conceitual que abrange esse e outros estudos sobre engajamento em colaboração (ver Figura 2.8). As caixas de texto e as setas pontilhadas representam conceitos e relações que ainda não foram estudadas adequadamente. Observa-se que foram destacados três grupos de fatores: organizacionais, individuais e institucionais, que explicam o fenômeno da colaboração. Também é importante observar que o marco abrange outras saídas da universidade além da pesquisa, identificadas como saídas educacionais e saídas comerciais.

Figura 2.8 – Marco analítico do engajamento dos pesquisadores

Landry, Amara e Ouimet (2007) mostram que os pesquisadores das universidades são muito ativos na transferência de seu conhecimento mesmo quando não estejam comercializando os resultados das suas pesquisas. Dada a frequência desse fato, recomendam que seja dada mais atenção à transferência de conhecimento não comercial. A missão dos Escritórios de Transferência de Tecnologia deveria envolver não somente a comercialização de propriedade intelectual, mas também a busca de novas oportunidades de compartilhar conhecimento não comercial.

Pelo exposto, percebe-se que o conceito de colaboração é mais amplo e adequado ao estudo da interação universidade-empresa, pois abrange um maior número de mecanismos e motivações, além de incluir os aspectos informais do fenômeno.