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Mensuração do valor justo em condições de baixa liquidez

No documento Manual de Contabilidade Societária (páginas 190-192)

oriundos dos instrumentos financeiros Para se atingir o objetivo de possibilitar aos usuá‑

8.10 Mensuração do valor justo em condições de baixa liquidez

A crise ocorrida no mercado financeiro interna‑ cional em 2008 trouxe questionamentos importantes acerca da mensuração pelo valor justo de instrumen‑ tos financeiros em mercados com pouca liquidez. A mensuração pelo valor justo é extremamente facili‑ tada quando existem mercados ativos e líquidos para o instrumento financeiro em consideração. Quando a liquidez é reduzida, a confiabilidade das mensurações do valor justo é prejudicada especialmente para instru‑ mentos financeiros exóticos e com pequeno histórico de negociação.

Esses problemas recentemente levantados no mer‑ cado internacional são relativamente comuns no mer‑ cado brasileiro na medida em que problemas de liqui‑ dez tendem a ser mais comuns e frequentes. Poder‑se‑ia dizer, inclusive, que a baixa liquidez tende a ser a regra

e não a exceção no Brasil. Recentemente, o IASB pu‑ blicou uma orientação com o intuito de auxiliar as em‑ presas no processo de mensuração pelo valor justo em mercado com baixa liquidez.

Em maio de 2008, em resposta às recomendações emitidas pelo Financial Stability Forum (Enhancing

Market and Institutional Resilience), o IASB formou um

grupo de experts composto por preparadores, audito‑ res e reguladores com o intuito de elaborar um rela‑ tório a respeito das melhores práticas que devem ser adotadas para mensurar o valor justo de instrumentos financeiros quando os mercados não estão mais ati‑ vos (baixíssima liquidez). Esse relatório foi chamado de Measuring and Disclosing the Fair Value of Finan-

cial Instruments in Markets that are no Longer Active.

Em 30 de setembro de 2008, a Comissão de Valores Mobiliários norte‑americana (SEC) e o FASB (Finan‑ cial Accounting Standards Board, órgão responsável pela normatização da contabilidade nos EUA) também emitiram um relatório com o objetivo de clarificar a mensuração pelo valor justo (relatório disponível em www.sec.gov e www.fasb.org). Adicionalmente, em 10 de outubro de 2008, o FASB emitiu o SFAS 157‑3 que complementou o pronunciamento SFAS 157 (fair value

measurements) para clarificar e adicionar um exemplo

acerca da mensuração do valor justo. O IASB emitiu um comunicado afirmando que as disposições do SFAS 157‑3 estão de acordo com o disposto no IAS 39. Ou seja, pode ser claramente observada uma preocupação extensiva dos órgãos normatizadores contábeis (FASB e IASB) e dos reguladores de mercado (SEC) a respeito da mensuração do valor justo de instrumentos finan‑ ceiros em mercados com baixa liquidez.

As principais considerações presentes no relató‑ rio Measuring and Disclosing the Fair Value of Financial

Instruments in Markets that are no Longer Active são as

apresentadas a seguir:

a) o objetivo da mensuração pelo valor justo é chegar a preços que seriam obtidos em tran‑ sações normais em mercados minimamente estruturados (não está se falando em bolsas de valores ou mercadorias necessariamen‑ te, mas em mercados com um mínimo de funcionamento ordeiro e organizado). Uma venda forçada não pode ser considerada uma transação normal;

b) a entidade deve medir o valor justo de seus instrumentos financeiros usando toda a informação disponível. Quando estiver utilizando um modelo (mark-to-model), a entidade deve maximizar o uso de inputs ob‑ serváveis (como taxas de juros de mercado) e minimizar o uso de inputs não observáveis

(como fluxos futuros de caixa projetados, por exemplo);

c) o preço de mercado de um ativo ou passivo semelhante é um indicador representativo do valor justo de um instrumento financeiro. Preços obtidos em mercados inativos podem ser usados, mas não como inputs determi‑ nantes;

d) as características de um mercado inativo são: (i) queda drástica de volume de negociação; (ii) os preços disponíveis variam muito ao longo do tempo ou entre os participantes de mercado; e (iii) os preços não são atuais. No entanto, esses fatores não são suficien‑ tes para determinar que um mercado não é ativo e essa classificação exige julgamento. Um mercado ativo é aquele no qual as tran‑ sações estão sendo realizadas regularmente de forma transparente e honesta (arm’s len-

ght). No entanto, essa classificação depende

de julgamento e das circunstâncias de cada mercado e de cada instrumento financeiro; e) preços de mercado que não sejam oriundos

de transações forçadas ou em situação de li‑ quidação não podem ser ignorados na men‑ suração do valor justo por intermédio da utilização de uma técnica de mensuração. Quando um mercado se torna inativo não é adequado supor que todas as transações rea‑ lizadas são transações forçadas. No entanto, também não é adequado supor que qualquer transação realizada é representativa do va‑ lor justo. Independentemente da técnica de mensuração utilizada, a entidade deve fazer os ajustes que os participantes do mercado fariam – como para risco de crédito e liqui‑ dez, por exemplo;

f) uma transação normal de mercado (não forçada) é aquela na qual os participantes desejam negociar e possuem exposição ao mercado;

g) quando não existirem inputs observáveis, a entidade irá mensurar o valor justo com base em modelos e inputs oriundos da admi‑ nistração (como fluxos de caixa projetados e taxas ajustadas ao risco para descontar tais fluxos). No entanto, a entidade deve fazer os ajustes que os participantes de mercado fariam – como ajustes para risco de crédito e liquidez – na utilização dos supramenciona‑ dos modelos;

h) em alguns casos a utilização de inputs não observáveis é preferível à utilização de

inputs observáveis quando eles represen‑

tam o valor justo das transações. Quan‑ do esse não é o caso e muitos ajustes são necessários, pode ser mais adequado usar

inputs não observáveis;

i) em alguns casos a utilização de múltiplos

inputs oriundos de fontes diversas fornecem

a melhor estimativa do valor justo;

j) a natureza das informações fornecidas por fontes de mercado (brokers) deve ser levada em consideração. Esses agentes podem for‑ necer informações com base em transações realizadas ou em seus próprios modelos de avaliação.

A utilização de modelos de mensuração do valor justo dos instrumentos financeiros pressupõe que a en‑ tidade conheça adequadamente os instrumentos e suas características. É fundamental ainda que a entidade evidencie como foi realizada a mensuração em todas as suas características. Essa evidenciação é extremamente relevante porque entidades distintas podem chegar a valores diferentes na mensuração de um mesmo ins‑ trumento financeiro. Assim, os usuários externos à en‑ tidade devem possuir informações que possibilitem um entendimento claro do efeito dos instrumentos finan‑ ceiros na posição patrimonial da entidade e nos riscos a eles relacionados.

8.11 Pronunciamento de pequenas e médias

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