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O presente trabalho é decorrente de uma pesquisa qualitativa. Segundo Gray (2012), a pesquisa qualitativa pode utilizar recursos diversos, como, por exemplo, observações, entrevistas, questionários e análises documentais. Sampieri, Collado e Lucio (2006) afirmam que o enfoque qualitativo, ao contrário do quantitativo, baseia-se na coleta de dados sem aferição numérica. É também utilizado para descobrir ou aperfeiçoar questões de pesquisa e ainda pode, ou não, comprovar hipótese nos processos de interpretação.

Portanto, o enfoque qualitativo apresenta abordagem mais descritiva que aferitiva. Sendo assim, a pesquisa leva em conta tanto o posicionamento de Gray (2012) quanto o de Sampieri, Collado e Lucio (2006). Tais procedimentos tendem a acentuar aspectos mais descritivos e conceptivos que numéricos, haja vista que desvela percepções, conceitos, identificações ou negações de participantes de uma comunidade.

Tendo em vista a análise vivencial de uma comunidade possuidora de características próprias, faz-se necessário o uso também de pesquisa de tipo etnográfico. Para Wielewicki

(2001), esse gênero de pesquisa descreve um conjunto de conhecimentos e entendimentos específicos, compartilhados por membros de um grupo local. Merece destaque, neste campo, a contribuição de Angrosino (2009), particularmente no que diz respeito à pesquisa etnográfica e observação participante.

Uma vez que a presente investigação faz um levantamento histórico da “comunidade- alvo”, utiliza-se vastamente de pesquisa documental. Para Marconi (2001), esse gênero de pesquisa refere-se a peças de arquivos públicos como, por exemplos, de documentos públicos, publicações parlamentares; de acervos particulares e de documentos jurídicos. São analisados, portanto, dispositivos constitucionais, leis, decretos e resoluções; documentos cartoriais e fontes particulares.

Fundamental também aqui é a pesquisa bibliográfica. Para Marconi (2001), este tipo de investigação compõe-se de livros, revistas científicas, publicações avulsas, imprensa escrita, periódicos, anais e trabalhos científicos. E como que acrescentando outro item à lista de Marconi (2001), este trabalho faz uso de escritos não publicados.

O uso dos recursos das pesquisas qualitativa, etnográfica e documental dá suporte à investigação da história de Mesquita, à discussão do conceito de quilombo, à análise da evolução do processo emancipatório quilombola e sua influência na gestão da escola local. Dado que o presente trabalho refere-se a um ambiente de conflito, entre diferentes grupos com interesses opostos, faz-se uso do método dialético, de forma que os diferentes posicionamentos de ordem conceitual, ideológico, político ou educacional são analisados na dinâmica de seus enfrentamentos.

Embora a literatura ocidental atribua a Hegel (1969) a formulação desse método, a motivação da pesquisa é voltada mais para o que defende Nascimento (2002). Para ele, a dialética é criação africana, assim como a geometria, a astronomia, dentre outros. Portanto, o olhar dialético, aqui, sintoniza com a extensa riqueza cultural da África. Uma vez que o trabalho tem por objeto uma comunidade de ancestralidade africana, a escolha do método já constitui uma forma de diálogo com a etnia investigada.

O método dialético, aqui é compreendido como materialismo dialético, o qual explica a mutabilidade das coisas a partir do enfrentamento dos opostos, bem como materialismo histórico (MARX, 1964) que evidencia o lado conflitivo dos grupos sociais (TRIVIÑOS, 1987). Convém esclarecer que o presente trabalho não pretende entrar na discussão entre Hegel (1969), acentuando o absoluto; Marx (1964), enaltecendo o papel do ser material e Gramsci (1978), valorizando os aspectos históricos e culturais.

A dialética aqui visa analisar os fatores determinantes dos conflitos em Mesquita, as reais oposições, dissimulações e possibilidades de convergências. Percebe-se que explicitamente a base dos enfrentamentos passa pelas diferentes matizes capitalista e socialista. Assim sendo, o caráter realista, cientista e materialista de Marx (1964) consiste em importante instrumento de análise aplicado à realidade mesquitense.

Quanto à estrutura tripartite da dialética, aparentemente não há discordância entre os autores acima citados. Quando então se fala em dialética, deve-se compreender a análise da realidade em termos de tese (afirmação), antítese (negação) e síntese (tentativa de aproximação conceitual, dados dois opostos).

Valendo-se da trilogia dialética, busca-se verificar que os diferentes pontos de vista de ordem conceitual, ideológico, político e educativo em relação à dimensão quilombola, nem sempre representam oposições reais, ou insuperáveis. Quando, por exemplo, esclarecido o real significado das comunidades remanescentes de quilombo, percebe-se que muitos dos contrapontos são conciliáveis em uma ampla síntese. Mas, o processo investigativo evidencia também que as aparentes oposições, em muitos casos, não passam de estratégias para encobrir jogos de interesses de toda natureza.

Sendo assim, por se tratar de uma realidade social conflitiva, exige-se esforço contínuo na verificação dos fatos, em suas múltiplas nuances, abstendo-se de adotar um posicionamento unilateral.

As diferentes faces desse processo incidem diretamente no dia a dia da escola pública, da comunidade investigada, onde se evidencia um espaço educativo achacado ou combalido de tendências educacionais, políticas e comunitárias, as quais interferem diretamente na gestão da escola.

O processo metodológico da pesquisa incluiu, ainda, realização de entrevistas semiestruturadas com quilombolas e não-quilombolas, de diferentes faixas etárias. Entre esses encontram-se pessoas da comunidade, da escola, da Secretaria de Educação de Cidade Ocidental e pessoas totalmente externas à comunidade. Foram realizadas trinta entrevistas e dezenove delas utilizadas explicitamente no texto, o que não significa que as demais não foram aproveitadas indiretamente.

Quanto aos entrevistados selecionou-se pessoas sabidamente favoráveis e contrárias ao Quilombo, assim como também quem não aparentasse na comunidade alguma posição definida sobre o assunto; de forma que foram entrevistados defensores, opositores e indiferentes.

Por fim, buscando documentar com o rigor científico necessário a realidade histórica em estudo, utilizou-se de registro fotográfico, tendo as imagens utilizadas não por simples ilustração, mas antes de tudo como argumento e prova.