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A primeira parte da fundamentação teórica, que consiste na realização de uma pesquisa sobre a história da comunidade, em tela, tem por base documentos históricos, tais como antigos Registros Paroquiais, Certidões de Batismo, documentos das Sesmarias e cartoriais da região de Luziânia. Compõe ainda este conjunto de materiais o Relatório Antropológico: comunidade quilombola de Mesquita (BRASIL, 2011), produzido por técnicos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Incra, baseado em investigações documentais e entrevistas. O relatório antropológico serve de fundamentação à elaboração do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTD), instrumento de legitimação da identidade quilombola perante o poder público e parte do processo de titulação dos territórios remanescentes de quilombo.

Nessa mesma linha histórica, são utilizados o Relatório Cruls: Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil (BRASIL, 1894) e o documentário Quilombo (CARVALHO, 1975).

O conhecimento produzido pela obra cinematográfica de Carvalho (1975) é ampliado por pesquisadores luzianenses. É o que se constata nas obras No Caminho da história (MELO, 2000) e Luziânia: cidade luz (REIS, 1995). Elas forneceram dados para a

investigação histórica, como por exemplo, o cultivo do marmelo em Mesquita, a passagem dos “revoltosos” por Mesquita e a percepção externa no tocante ao histórico quilombola dessa comunidade. ÁLVARES (1978), ao escrever História de Santa Luzia: Luziânia, seja talvez o mais historiador do tema; obra essa que inclusive serviu de fonte aos dois últimos autores citados.

Não obstante, como no estudo da história pode haver um contraponto com a oralidade (memória), propõe-se fazer, aqui, uso dos estudos de Le Goff (2003) e de Bosi (2009), os quais relacionam a memória com a história. Este trabalho de aproximação e contraponto, consequentemente, é enriquecido por elementos coletados em entrevistas semiestruturadas, realizadas com diversos segmentos da população do Quilombo Mesquita.

Os dados coletados fundamentam a investigação do processo emancipatório dos Mesquita, com a corroboração das informações do já mencionado Relatório Antropológico: comunidade quilombola de Mesquita (BRASIL, 2011). Esses dados são enriquecidos com observações em campo de pesquisa, como por exemplo, o da participação dos quilombolas na elaboração do Plano de Educação de Cidade Ocidental e do Plano Diretor de Cidade Ocidental. Faz-se uso também de registros da Associação Renovadora Quilombo do Mesquita, dos relatórios e certificações, de registros e objetos pessoais dos quilombolas e de materiais audiovisuais produzidos pelos meios de comunicação.

A abordagem do processo emancipatório em Mesquita, adquirindo um aspecto de cidadania, pode também ser fundamentada em Bobbio (2004), o qual aborda o assunto na perspectiva de consolidação dos direitos do homem. Assim, fala de um novo ethos mundial, o que representa o mundo do dever, o qual nem sempre é correspondido pelo mundo real.

Em posição similar, encontra-se Carvalho (2011), quando discute a cidadania no Brasil, na ótica dos direitos civis, políticos e sociais, passando pelos períodos da colonização, da república, da ditadura militar e da redemocratização.

Já Gomes (2010) fornece uma base mais transversal, pois insere a ideia de cidadania dentro do contexto da luta quilombola. Portanto, o processo emancipatório negro, um espaço importante de conquista da cidadania, acontece de maneira explícita no processo quilombola. Gomes (2010), ainda pode contribuir na investigação da história dos quilombos e na definição de sua abrangência conceitual.

Guimarães-Iosif (2009), por sua vez, amplia a discussão, elevando à arena global a reflexão da emancipação cidadã no campo da educação. Para ela, a educação global emancipatória consiste em estimular o estudante a aprender a ser humano, aprender a aprender sempre, aprender a compreender, aprender a pensar criticamente, aprender a se

organizar coletivamente; enfim aprender a mudar. Guimarães-Iosif (2009), ainda constitui em fundamentação para o conceito de cidadania, propriamente dita, de cidadania global e para a história da cidadania no Brasil.

Do Seminário Internacional em Política e Governança Educacional: para a cidadania, diversidade, direitos humanos e meio ambiente resultou a obra Anais do Seminário Internacional em Política e Governança Educacional: para a cidadania, diversidade direitos humanos e meio ambiente (GUIMARÃES-IOSIF, R.; ALVES, J.M.P.; SCÁRDUA, M.P. , 2011), a qual contribui para assinalar a tendência de discussão da cidadania na atualidade. Assim, a abordagem inclui a cidadania relacionada aos direitos humanos, direitos sociais, diversidade e meio ambiente.

Embora contendo apenas resumos dos artigos, os anais do seminário têm um dado particular, uma referência direta ao Quilombo Mesquita, isto é, o artigo de Batista (2011), com o título Implementação da Lei 10.639/03 na Escola Quilombo do Mesquita. Batista (2011) investiga a instituição educativa pública local, na perspectiva de aplicação da Lei 10.639, de 2003 (BRASIL, 2003), a qual determina o ensino da História da África e da Cultura Afro-brasileira e Indígena.

Quanto à análise das relações de conflito, considerando que elas podem iniciar-se pela dimensão conceitual, O Programa Brasil Quilombola (BRASIL, 2003), o artigo 68, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (BRASIL, 1998), o Decreto 4887, de 2003 (BRASIL, 2003), além do Relatório Antropológico: comunidade quilombola de Mesquita (BRASIL, 2011), apresentam um bom quadro da abrangência conceitual e existencial que a realidade atual exige.

Nesse quadro em que se analisam as relações de conflito, a partir da delimitação conceitual de quilombo, uma boa contribuição é dada por Nascimento (2002), com sua reflexão sobre os quilombos rurais, urbanos e de agremiações como escolas de samba. Nascimento (2002), também alude ao papel coletivista, contraponto ao individualismo capitalista, que o quilombismo tem a contribuir com a sociedade contemporânea.

No estudo das relações de conflitos no Quilombo, é necessário inserir também a dimensão identitária. Chagas (1994) discute a dimensão identitária negra em uma perspectiva evolutiva, “em construção”, de forma que os elementos identitários, aqui envolvidos, são forjados na cotidianidade da existência. Contribui também nessa linha Bauman (2005), na perspectiva de uma realidade líquida, atentando para o aspecto de mutabilidade no conceito de identidade.

Recorre-se também a Triviños (1987), propriamente no que toca à dialética, em termos de materialismo dialético e materialismo histórico, no adentramento da dimensão conflituosa; o que será melhor explicitado na Metodologia.

Nesta linha de reflexão, insere-se também Filice (2010) acentuando a necessidade de enfrentar os desajustes sociais, a começar do paradigma da luta de classes, não se atendo apenas ao fator econômico, mas chegando também aos aspectos de cunho racial.

Uma vez que se investiga a educação quilombola em Mesquita, especialmente no que se refere à gestão escolar, faz-se necessário munir dos fundamentos da Resolução n. 08, do Conselho Nacional de Educação, de 2012 (BRASIL, 2012), a qual recomenda as diretrizes da educação quilombola. Consoante a isso, encontram-se o Plano Nacional de Educação (PNE) (BRASIL, 2014a), o Plano Estadual de Educação do Estado de Goiás (GOIÁS, 2008) e o Plano Municipal de Educação do Município de Cidade Ocidental (CIDADE OCIDENTAL, 2014b). Na mesma abordagem, insere-se o Projeto Político Pedagógico da instituição educacional local (CIDADE OCIDENTAL, 2014a).

Por fim, faz-se uso dos conhecimentos gerados da pesquisa de Paré Oliveira e Vellhoso (2007), referentes à educação quilombola, tendo por base os quilombos São Miguel dos Pretos (RS) e Kalunga (Engenho II, GO). Importante, sobretudo, por abordarem elementos ligados à memória, história e organização social dos quilombolas.