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Dado o quadro de relevância histórica, social, cultural e profissional dos africanos escravizados no Brasil e dos quilombolas de Mesquita, em particular, parece adequado refletir sobre a presença ou ausência do Estado em relação aos negros, principalmente, no tocante à educação. É necessário, então, verificar a existência de políticas públicas específicas, bem como analisar a intencionalidade na efetivação dessas ações. Isto tem sido discutido inclusive na dimensão territorial; território, aqui entendido, nas dimensões geográfica e política:

A discussão sobre território é fundamental para a implantação e o desenvolvimento de políticas e ações, sobretudo para a proposta educativa na perspectiva da cidadania, da inclusão, da formação integral e da sustentabilidade humana.Nessa linha de raciocínio, território não é o palco onde acontece o enredo da vida. No território desenvolvem-se as relações sociais, inclusive no sentido de alterá-lo. As relações sociais – educação, cultura, produção, trabalho, infraestrutura, organização política, mercado etc. – compõem as dimensões territoriais. Por quê? Porque essas relações são interativas, complementares e não existem fora do território.O território é, ao mesmo tempo, espaço geográfico e político, onde os sujeitos executam projetos de vida e organizam-se mediante as relações de classe (BRASÍLIA, 2013, P. 26).

Em termos de políticas públicas para os quilombos, merece destaque o Programa Brasil Quilombola (BRASIL, 2003) que desenvolve ações educativas, habitacionais, nutricionais, de saneamento e de melhorias de renda entre outras, acorrendo para isso a integração de órgãos como Ministério de Desenvolvimento e Combate a Fome (MDS), Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

No campo da educação, há que se destacar o artigo 26-A da LDB com a redação dada pela Lei 11.645, de 2008 (BRASIL, 2008), a qual torna obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados. Junto a isto, merece ainda destaque o processo de construção das diretrizes pedagógicas para a educação quilombola, que culminou na edição da Resolução n. 08, de 20 de novembro de 2012 (BRASIL, 2012). Por último, em termos de legislação e programa de governo, menciona-se o Decreto 7.824, de 2012 (BRASIL, 2012) que trata das cotas raciais nas universidades públicas.

Quanto à ação do governo municipal de Cidade Ocidental, no que tange à unidade de ensino do Quilombo, é notória a lacuna em se tratando das políticas quilombolas. Perdura, entre as partes, um contínuo estado de conflito em que são envoltas as ações de criação e de aplicação das políticas educativas.

Por conseguinte, evidenciam-se posturas políticas determinantes para a existência de uma ação educacional inadequada às instituições educacionais das comunidades remanescentes de quilombo, o quer dizer, o não atendimento ao mínimo do que determina a legislação específica. Verifica-se assim que a prática educativa em Mesquita tende ao comum, sem atender a contento ao diferencial exigido pelas características próprias do local.

Tal inferência pode ser esclarecida com a análise dos critérios de contratação de docentes, do processo da definição de currículo, do método de escolha das estratégias pedagógicas e da intencionalidade quanto ao diálogo com a comunidade.

Para Artiaga (1959), os colonizadores portugueses proibiam a prática do ensino aos subjugados, a fim de coibir qualquer tentativa de emancipação. Devido a essa opressão histórica, os quilombolas de Mesquita tiveram que ser proativos nas ações educacionais, tanto no sentido de cobrarem providências ao Estado, como também de contratarem docentes por iniciativa própria e providenciarem a logística necessária. Isto é, a construção de prédio escolar, as providências quanto a transporte e moradia para os professores, dentre outros. A atual escola do Quilombo, que em 2014 completou 50 anos de existência, é símbolo e resultado do envolvimento dos quilombolas na causa educativa (CIDADE OCIDENTAL, 2014a).

Oficialmente, Mesquita é o quilombo mais próximo da Capital da República, condição geográfica essa que não tem, em nada, garantido algum tipo de privilégio em termos de políticas públicas. Empreender, portanto, este projeto de pesquisa significa contribuir para a ampliação dos conhecimentos da academia, da ciência e da sociedade em geral. Isto porque Mesquita dispõe de muitas informações relativas à história, cultura, política e economia, as

quais podem esclarecer melhor o mundo próprio das comunidades remanescentes de quilombo e também da vida humana como tal.

Assim sendo, o trabalho investigativo em Mesquita potencializa a discussão do processo educativo nas comunidades tradicionais, haja vista que verificando a existência ou inexistência de políticas apropriadas e o perfil destas, sinaliza para a necessidade de mais atenção a grupos historicamente marginalizados, cujo status social não registra grandes mudanças, atualmente.

O Quilombo Mesquita insere-se em um quadro importante da sociedade, com contribuições históricas, inclusive em relação à construção da Capital e, notadamente, com valores culturais diversos, que muito podem acrescentar à ação educativa do País.

Atualmente, os quilombolas Mesquita encontram-se em litígio com o Distrito Federal por questões fundiárias, visto vez que boa parte das terras da cidade satélite de Santa Maria pertence aos Mesquita, advinda de herança. Essas terras foram griladas e, como tudo indica, com participação ou anuência do Estado, comprometendo-se assim o desfrute delas por parte dos atuais proprietários quilombolas.