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A questão a ser investigada neste trabalho é a da escassez de mão-de-obra no setor de transportes rodoviários de mercadorias. Conforme a revisão de literatura, este é um problema que tem sido recorrente ao longo dos últimos anos, de forma mais ou menos acentuada consoante diversas circunstâncias.

Esta investigação é relevante pois apesar da literatura encontrada sobre o tema ser extensa a nível europeu, falta investigação acerca do caso português. Este estudo apresenta a mais-valia de ser um estudo focado no mercado de trabalho português.

4.1 Objetivo da Investigação

A presente investigação tem o propósito de melhor compreender a situação do mercado de trabalho dos motoristas do transporte rodoviário de mercadoria português. Assim, pretende-se, especificamente, explorar os seguintes pontos:

1. Identificar e analisar as razões que, na opinião dos empregadores, justificam a potencial escassez de motoristas atual.

2. Identificar a forma como as empresas e, particularmente, os gestores de recursos humanos lidam com o problema.

4.2 Enquadramento Metodológico

Tendo em conta os objetivos anteriormente referidos, este estudo procura identificar causas e processos que explicitem as dinâmicas do mercado de trabalho dos motoristas de transporte rodoviário de mercadorias. Assim, a metodologia qualitativa surge como mais indicada. Um método de investigação qualitativo procura compreender situações de forma mais particularizada, nomeadamente, razões, motivações e causas associadas aos problemas em estudo. Considera um problema na sua perspetiva mais alargada e aumenta o leque de hipóteses e fatores a ter em conta, uma vez que dá espaço a que sejam identificadas uma diversidade de fatores que contribuem para o aumento do conhecimento do tema em investigação. Pretende-se, então, assegurar o carácter flexível e aberto dos processos de recolha de informação e, tendo em conta esse objetivo, a metodologia qualitativa será a mais adequada.

Ao contrário do estudo de IRU (2019) que implementou inquéritos a trabalhadores do setor para melhor compreender o posicionamento que estes têm para com o seu posto

28 de trabalho, o interesse deste estudo é analisar o posicionamento dos gestores de recursos humanos e compreender as suas perspetivas em relação a este tópico, nomeadamente, compreender se existe ou não escassez de mão-obra, e quais as causas que estes percecionam para a existência desse fenómeno. Desta forma, pretendemos ter uma ideia o mais clara e completa possível sobre as causas percecionadas do problema, compreender os processos que levaram à situação atual do mercado de trabalho, a relação entre esses processos e o possível impacto dos mesmos. É, portanto, um estudo exploratório que visa compreender de que forma a oferta de trabalho evolui a partir do ponto de vista percecionado por quem procura o fator trabalho.

A abordagem de estudo de caso sugere-se como adequada nesta investigação uma vez que procuramos explorar um fenómeno localizado e compreender os mecanismos explicativos associados a uma realidade delimitada, nomeadamente, compreender como evolui e se altera a oferta de um grupo profissional específico: os motoristas de transportes rodoviários de mercadorias.

4.3 Participantes

Os participantes selecionados para integrar neste estudo são técnicos de recursos humanos, gerentes/diretores de empresas transportadoras ou gestores de tráfego que acumulem funções de recursos humanos, especificamente, o recrutamento e seleção de motoristas. Neste âmbito, procura-se reunir as perspetivas daqueles que lidam diariamente com o recrutamento dos motoristas, que têm proximidade com candidatos e motoristas e que conhecem com proximidade aspetos essenciais da profissão.

Os participantes foram selecionados a partir de uma amostra de conveniência, dada a proximidade geográfica e disponibilidade do participante no tempo necessário para a realização deste estudo.

Assim, participaram nove entrevistados: quatro são profissionais de recursos humanos, dois são gerentes/diretores de empresas transportadoras e três são gestores de tráfego. A idade média dos participantes é de 39 anos (entre 31 e 55 anos). Cinco são homens e quatro são mulheres.

Foi constatado que nove seria o número de entrevistas suficiente uma vez que a partir da oitava entrevista, não se detetaram elementos significativamente novos que contribuíssem para o aumento da diversidade de variáveis a analisar.

29 Na tabela seguinte, apresenta-se a informação relativa aos participantes.

Data Realização Entrevista Tempo de Entrevista Função do Participantes Antiguidade do Participante na Função (anos) Idade do Participante Género do Participante P. 1 29/05 00:38 CEO/DRH 12 30 F P. 2 29/05 00:26 Gestor de Processos 36 55 M P. 3 30/05 00:32 CFO/DRH 12 32 F P. 4 05/06 01:14 DRH 6 35 F P. 5 05/06 01:46 Gestor Operações 0.5 36 M P. 6 05/06 01:16 Gestor Tráfego 19 47 M P. 7 25/06 00:27 DRH 12 34 M P. 8 01/07 00:32 Analista de RH 6 31 F P. 9 04/07 00:55 Técnicos de RH 11 48 M

4.4 Técnicas e Procedimentos de Recolha de Dados

A recolha de dados foi feita através de entrevistas semiestruturadas. Estas representam uma técnica flexível que visa permitir a exploração de tópicos previamente determinados, ainda que não estandardizando todas as questões a colocar nem a forma como as mesmas são abordadas com os diferentes participantes.

As entrevistas semiestruturadas são constituídas por questões maioritariamente abertas que orientam o entrevistador na recolha de informação, permitindo-lhe abordar diferenciadamente cada participante, explorando de forma específica os seus contributos, perceções e conceções (Rubin, H., & Rubin, I., 1995). No mesmo sentido, as entrevistas semiestruturadas potenciam a exploração e compreensão da visão inerente à individualidade da experiência de cada participante do fenómeno em estudo (Yin, 2011).

A construção do guião fundamentou-se na revisão de literatura previamente realizada. O guião final incluiu 11 questões de caracterização sociodemográfica dos entrevistados e das empresas e 15 questões abertas, organizadas em oito grupos (guião incluído no anexo número um). Os dados sociodemográficos servem fundamentalmente para caracterizar os entrevistados, compreender a proximidade dos mesmos às questões, identificar a dimensão da empresa e a representatividade da classe profissional dos motoristas na empresa assim como caracterizar o grupo de motoristas em funções na empresa, em termos de idade, escolaridade e género. Com as respostas abertas pretende-se que o

30 entrevistado elabore acerca do mercado de trabalho dos motoristas de transportes rodoviários de mercadorias tanto a nível da oferta de mão-de-obra como dos processos de recrutamento e retenção; procurou-se que o entrevistado explorasse aspetos associados às condições de trabalho e a forma como estas afetam certos grupos específicos, nomeadamente as mulheres e os jovens. Pretendeu-se ainda que os entrevistados se pronunciassem relativamente a possíveis soluções que contribuíssem para um aumento dos candidatos à profissão.

Os procedimentos referentes à recolha de dados tiveram início com um primeiro contacto telefónico com empresas que atuam no setor de transportes rodoviários de mercadorias em Portugal. No caso das respostas positivas à participação no estudo, procedeu-se então ao agendamento da entrevista presencial. As entrevistas foram gravadas e transcritas, com a devida autorização dos participantes, para que o posterior tratamento dos dados fosse facilitado10.

A duração média das entrevistas foi de 51 minutos, tendo sido realizadas entre maio e julho de 2019.

4.5 Análise de Dados

A análise de dados foi realizada segundo a Análise de Conteúdo Temática, com recurso ao software NVivo (QRS International). Esta técnica de análise de dados é um método sistemático de categorização temática do conteúdo recolhido, permitindo destacar as descrições consideradas como mais pertinentes assim como valorizar a frequência com que as descrições surgem nos discursos dos participantes (Moraes, 1999). Neste caso, os dados recolhidos e analisados encontravam-se em formato textual.

Assim, numa primeira fase, realizou-se a transcrição literal e integral das entrevistas previamente realizadas e gravadas, nomeando, para efeitos de anonimização e análise, os contributos dos participantes de P1 a P9. Posteriormente, realizou-se uma leitura das mesmas, identificando de forma geral as ideias convergentes que emergiam. De seguida, realizou-se a codificação das categorias e subcategorias consideradas pertinentes à luz da literatura e dos objetivos do estudo.

10 As gravações e transcrições das entrevistas assim como as autorizações dos participantes podem ser

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4.6 Procedimentos de Qualidade da Informação

A qualidade das informações obtidas em investigações qualitativas depende fundamentalmente da postura rigorosa, consciente e reflexiva do investigador ao longo de todo o processo de investigação. Lincoln e Guba (1985) apontam quatro critérios a ter em conta neste âmbito, sendo estes amplamente utilizados e aceites na comunidade científica. Estes são, a credibilidade, referente à confiança nos resultados obtidos e na sua veracidade, a transferibilidade, isto é, a sua aplicabilidade em diferentes âmbitos, a confiabilidade, que traduz a solidez e replicabilidade dos resultados e, por fim, a confirmabilidade, que implica o combate da postura interpretativa do investigador, contribuindo para a neutralidade e imparcialidade da investigação.

No sentido de assegurar o cumprimento destes critérios, operacionalizaram-se algumas estratégias. Assim, com recurso ao diário de investigação, procurou-se registar, de forma sistemática e progressiva, os procedimentos e inerentes desafios encontrados durante o processo de investigação, tendo este sido um meio de melhoria contínua e constante reflexão. Por outro lado, realizou-se também uma entrevista-piloto, no sentido de avaliar a adequabilidade do guião aos objetivos da investigação e, de uma forma geral, melhorar a compreensão das questões. A entrevista-piloto foi particularmente relevante pela realização de uma reflexão que permitiu ajustar a postura da entrevistadora e reorganizar as questões do guião de forma a tornar a entrevista mais fluída. Adicionalmente, realizou-se um registo de entrevista para cada uma das recolhas realizadas, assegurando a sistematização de informação e de forma a evitar o surgimento de problemas logísticos referentes à perda ou troca de dados e aumentando, portanto, a transparência do processo. Por fim, a avaliação da análise de categorização das entrevistas foi efetuada pela orientadora desta investigação que sugeriu melhorias ao nível da organização e definição dos temas explorados. Desta forma, contribuiu-se para a neutralidade e imparcialidade do estudo.

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