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Sugestões que Aumentam a Atração e Retenção de Mão-de-Obra

5. Resultados

5.2 Aspetos Associados ao Recrutamento e Retenção de Mão-de-Obra

5.2.3 Sugestões que Aumentam a Atração e Retenção de Mão-de-Obra

A terceira temática que emergiu das respostas dos participantes e que foi inserida no âmbito da segunda grande categoria explora as sugestões sugeridas pelos participantes relativamente a possíveis práticas que passam por contribuir para uma melhoria da atração e retenção de mão-de-obra do setor. Tendo sido analisados os entraves que existem à atração e retenção dos profissionais, procura-se agora compreender formas de atuação para as empresas. Neste âmbito, os participantes apontaram uma diversidade de respostas que foram organizadas nas subcategorias que serão analisadas seguidamente.

5.2.3.1 Aumento de Fiscalização

A sugestão de melhoria mais referida pelos participantes prende-se com a necessidade de uma fiscalização mais acentuada das normas que regem o setor. Neste âmbito, os participantes apontam tanto a necessidade de se fiscalizarem as práticas relativas ao cumprimento das regras laborais, nomeadamente associadas ao CCT, como também o cumprimento de outro tipo de normas relacionadas com a manutenção dos veículos e diretrizes ambientais que têm um impacto na estrutura de custos das empresas.

“Eu acho que deveria haver mais fiscalização. Há uma pressão muito grande para os motoristas fazerem mais e mais. Sobrecarregados. Horas de condução fora dos limites legais” (P. 5)

“A ACT devia ter mais efetivos e fiscalizar com muito mais regularidade para sermos todos obrigados a cumprir. E aí assim, conseguiríamos repercutir os aumentos de custos para o cliente” (P. 6)

“A ACT e Segurança Social deviam andar aí todos os dias. O que está a faltar é fiscalização. As empresas já deveriam estar todas a praticar os novos valores (…) Até na manutenção dos veículos devia haver muito mais fiscalização. Vê-se muitos sítios a lavarem os camiões na via pública o que é proibido. É obrigatório as empresas terem um túnel de lavagem com separação de resíduos. Não se veem fiscalizações no âmbito ambiental” (P. 7)

59 Vários participantes referiram que uma possível intervenção do Estado, no sentido de facilitar a integração de novos trabalhadores, nomeadamente a simplificação das habilitações obrigatórias ao exercício da profissão, seriam benéfico para o mercado de trabalho do setor.

“O Estado vai ter que começar a olhar para este setor de outra forma e dar benefícios, não só aos motoristas mas também às empresas para que nós possamos ter maior margem e facultar melhores condições de trabalho” (P. 1)

“Uma evolução seria se nos tornássemos mais fáceis a nível burocrático” (P. 6)

“O Estado deveria apoiar de alguma forma os custos de formação. A nível de encargos fiscais, o Estado foi o principal beneficiário da entrada em vigor do CCT. Foi um aumento enorme de impostos. Se hoje pago mais 400€ por um trabalhador, o trabalhador só vai ver 50/60€ desses 400€, o resto vai todo para o Estado. O Estado podia definir um conjunto de benefícios fiscais para as empresas de transporte, por exemplo, através dos custos dos combustíveis que são um custo muito significativo” (P. 7)

5.2.3.3 Incentivos à atração de jovens, mulheres e outros grupos para a categoria profissional

Por fim, os participantes sugeriram diversas iniciativas de forma tanto a atrair mais motoristas como a melhorar as condições de trabalho dos que já estão no setor. Foram referenciados aspetos como a desmistificação dos aspetos negativos da profissão, o apoio financeiro na formação de novos motoristas, a melhoria das infraestruturas que apoiam o transporte internacional e uma melhor distribuição dos resultados de forma a tornar a profissão mais atrativa do ponto de vista financeiro. Um dos participantes sugere que a profissão deva ser redesenhada de forma a adaptar-se às novas circunstâncias do mercado de trabalho.

“É preciso desmistificar um bocadinho a profissão atual. Não é a mesma coisa de há 20 anos” (P. 2) “Temos de explicar as contrapartidas que podem ter, as vantagens salariais e até outras. Por exemplo, os nossos motoristas, apesar da pouca escolaridade, sabem falar um bocadinho de outras línguas, conhecem outras culturas, conhecem novos países e isso são fatores positivos que precisávamos de divulgar mais. Por exemplo, apostar na divulgação da profissão nas escolas como existe para outras profissões, nos centros de formação, no IEFP” (P. 3)

“Teria de haver aqui uma forma de se identificar as pessoas que têm/tiveram carta de pesados e ajudar que estas obtenham o CAM de forma a tornarem-se elegíveis novamente. Aqui a grande questão são os custos.

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Os incentivos têm de passar por diminuir os custos de renovação e a exigência pois também teriam de passar por tudo novamente. O processo deveria ser facilitado para que estas pessoas se sentissem mais incentivadas a reintegrar o setor” (P. 3)

“As autoestradas são do Estado mas as áreas de serviço são das concessionárias. E as concessionárias ou têm rentabilidade ou não. A quem compete… não sei responder. Compete ao Estado sim no sentido em que os responsáveis compreendessem como é que o setor está montado e dar o apoio físico para que o fluxo de mercadoria nas principais vias de escoamento, A4 e A25, fosse facilitado. Mas temos outra questão: nós somos muito pequenos. Nós temos 3 áreas de serviço daqui até Espanha. E os outros países? Estão preocupados com isso? Vão colocar infraestruturas para apoiar o comércio internacional? Estamos a anos- luz disso. Repare, as poucas infraestruturas que temos só existem desde este boom de autoestradas dos últimos anos, na geração dos nossos pais não havia nada disto, era muito pior” (P. 4)

“Talvez uma possível solução seja distribuir melhor os resultados. É algo que acontece nesta empresa” (P. 5) “Falta, talvez, uma reorganização e/ou um pensar diferente da função. Enquanto que há uns anos, a função funcionava bem assim, hoje é complicado. Talvez reorganizar turnos de trabalho. No entanto, não é uma área de negócio fácil que permita esses ajustamentos. Os custos seriam duplicados, teriam de se contratar mais trabalhadores. É mais fácil pagar trabalho suplementar do que pagar por um trabalhador extra” (P. 8)

Diversos participantes indicaram a utilização de “duplas” (duas motoristas por viagem, por exemplo, um casal de motoristas que trabalha em conjunto) na profissão como forma de integração de mais mulheres na profissão. Quatro participantes (P. 3, P. 4, P. 7, P. 9) assumem que esta já foi prática na empresa em que trabalham, apesar de já não o ser. Esta prática apresenta a vantagem de permitir que o veículo nunca pare, e portanto, tornar o transporte mais rápido e eficiente. No entanto, apresenta a desvantagem de exigir dois motoristas por cada veículo, o que duplica os recursos humanos necessários ao transporte, pelo que, aumenta os custos do trabalho. Além deste ponto, um participante apontou também o facto de os motoristas não estarem muito recetivos a aceitar trabalhar em duplas uma vez que implica que dividam o seu espaço.

“No passado, trabalhávamos com duplas. Neste momento, por decisão estratégica, não compensa ter duplas” (P. 4)

“Ter um motorista disponível para ter outra pessoa, é difícil. Quase nenhum aceita. Se sugerirmos isso a um motorista, que ele agora vai ter um novo motorista durante um mês para viver com ele dentro do camião, eles dizem-nos que não” (P. 9)

Dos participantes, dois indicaram a imigração como uma forma que poderá contribuir para colmatar a falta de motoristas atual.

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“Teremos de ir pelo percurso natural da imigração que em todo o mundo e em todos os momentos faz o mesmo trabalho por menos dinheiro. É normal. É como os portugueses que emigraram para França, foram ganhar muito bem mas ganhavam menos que os franceses e foram fazer os trabalhos que os franceses não queriam fazer. Os franceses não aceitavam fazer pelas condições que lhes eram oferecidas e os portugueses aceitavam. E nós temos um país fantástico, bastante atrativo e há gente válida em todo o mundo para poder vir para aqui trabalhar” (P. 6)

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