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5. Resultados

5.2 Aspetos Associados ao Recrutamento e Retenção de Mão-de-Obra

5.2.2 Retenção de Mão-de-Obra

5.2.2.3 Práticas Empresarias Valorizadas pelos Motoristas

56 Relativamente às práticas que fomentam a retenção, uma das práticas percebida como mais valorizada pelos motoristas (P. 1, P. 2, P. 5) prende-se com o financiamento de custos de formação além da que o motorista já possui, para que possa ter um upgrade de carreira e ficar habilitado a conduzir outro tipo de veículos. Estas iniciativas contribuem não só para manter os motoristas como também para procurar novas soluções para as necessidades de trabalho. Mediante a necessidade das empresas, estas preferem apostar nos seus colaboradores e financiar o upgrade para a qualificação necessária. Apesar de esta iniciativa representar um investimento financeiro para as empresas, apresenta duas grandes vantagens: em primeiro lugar, a aposta em colaboradores que já conhecem torna o risco do investimento menor; e em segundo lugar, aumenta o comprometimento dos colaboradores para com a empresa o que é um forte contributo para a retenção desses trabalhadores.

“O que optamos por fazer há muitos anos em relação aos pesados é apostar nas pessoas que já conduzem ligeiros e já estão na empresa há algum tempo. Se os motoristas estiverem interessados, nós ajudamos na obtenção da carta de pesados e do CAM (…) São custos de formação suportados pelas empresas e a competência adquirida pertence ao motorista. É uma ajuda significativa” (P. 1)

“Por exemplo, esta empresa aposta nos seus trabalhadores. Se for de ligeiro, atualizámos para a de pesados. A empresa patrocina e o custo é diluído nos salários. Se for o CAM então não exigimos contrapartida. Esta opção é válida para quem quiser ter mais poder de compra. Para a empresa, antecipar esse valor simboliza aumentar o compromisso entre empresa-trabalhador” (P. 5)

Houve ainda participantes que referiram a importância de não haver trocas de camiões entre motoristas pois estes valorizam manter sempre o mesmo camião.

“Nós temos aqui temos a filosofia de que um motorista quando entra é-lhe atribuído um conjunto: trator e reboque. O motorista sabe que aquele é o carro dele, é a casa dele, não tem de andar a trocar. E isso para eles é bom e positivo” (P. 4)

“O motorista gosta muito de ter o seu camião, que é a sua casa, não gosta que os colegas utilizem o seu camião. Nós tentamos olhar a isso porque o motorista valoriza isso. Seria mais rentável se eu preparasse o camião e ele saísse com o primeiro motorista que estivesse pronto. Aí eu esquecia as pessoas e se calhar depois não ia ter pessoas para trabalhar. Mas os bons profissionais não gostam de trabalhar assim” (P. 6)

Foi também referido que a segurança no pagamento e o facto de este ser atempado é uma das características mais valorizadas pelos motoristas.

“Cumprir com os pagamentos é importantíssimo também (…) A segurança nos pagamentos é importantíssima. E os motoristas vão passando a palavra” (P. 6)

57 Foi identificado que um dos aspetos mais valorizados pelos motoristas se prende com a antecedência com que conhecem as rotas que lhes foram atribuídas assim como a calendarização de fins-de-semana.

“O que eles gostam mais são os serviços diretos porque permite-lhes calendarizar um bocadinho mais a vida. Os motoristas não sabem se vão estar fora 8 dias ou 12 dias. Esvaziam o camião e têm de esperar por carga… depende do que aparecer. Outra coisa é: temos um serviço de linha Porto-Paris-Porto. Eu posso passar fim-de-semana sim, fim-de-semana não em casa mas sei disso com antecedência, está calendarizado. E isso é um ponto de atração. As empresas estruturem o serviço de forma a ser mais calendarizado” (P. 4)

Os participantes apontaram também a importância da segurança dos procedimentos inerentes à profissão, nomeadamente, o abastecimento dos veículos ser efetuado sem percalços.

“E depois há uma coisa importante que é (…) ter facilidade em meter combustível com os cartões bancários, a segurança nisso (…) E aqui sabem que isso não lhes falta. Se ligam, alguém atende. Os cartões de combustível têm sempre plafond e podem abastecer. Sabem que não estão sujeitos a multas. A nossa empresa retira relatórios diários acerca das infrações dos motoristas. Nesta empresa um motorista só transgride porque teve estrita necessidade, porque ninguém manda e ninguém pode dizer que não sabia. Até notamos que há motoristas que chegam aqui e ficam surpreendidos pela extensão da formação que lhes fornecemos. E há necessidade disso porque as coimas também são elevadas para as empresas. E hoje em dia a classificação de riscos das empresas em termos de infrações rodoviárias é importante, a qualquer momento uma brigada, seja em que país for, pode pesquisar e mandar parar os nossos carros” (P. 4)

Por fim, verifica-se ainda outras duas características referenciadas, designadamente, a existência de seguro de saúde e a proximidade entre gestores e motoristas. Esta última revela especial importância, considerando a interferência que a profissão tem na esfera pessoal do motorista.

“Por exemplo, o seguro de saúde, que é uma ninharia para a empresa, é muito valorizados pelos funcionários. É uma segurança. Também importa” (P. 5)

“Nesta empresa, temos de saber o nome e história de cada funcionário. Promovem o respeito, o compromisso, a empatia. Quanto é que isso vale? É o ambiente de trabalho, as relações interpessoais, é o compromisso que nós precisamos, a entreajuda, o ambiente que se vive na empresa” (P. 5)

“Na nossa empresa temos uma vertente muito humana e familiar, não é só o que a lei diz. Eu sei quem são os filhos dos meus motoristas e tentamos ao máximo corresponder às expectativas mesmo quando os motoristas pedem para estar em Portugal num certo dia em específico (…) As condições que a empresa oferece em termos de acompanhamento e de humanização. O fator humano é importantíssimo nesta empresa. A proteção e o

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ambiente familiar que tentamos manter uns com os outros. Achamos que é um fator diferenciador entre as outras empresas” (P. 6)