“TODO NÚMERO É ZERO DIANTE DO INFINITO”
VICTOR HUGOR
1 9 9 5 - 3 3 4 8
P
itágoras mostrou no mundo ocidental a sagrada ciência dos números conhecida há milênios nos templos da Ásia e do Egito. A ciência dos números é de grande importância para o estudo do misticismo e em grande parte baseia-se na Cabala.Q
ual a realidade objetiva e subjetiva inerentes aos números? - Que são os eles, apenas sinais indicativos de quantidades, ou existem mistérios nos números?C
om a “creação” do universo, três condições se apresentaram de imediato: Descontinuidade, tempo (cronológico) e espaço. Com o “Fiat Lux”, a primeira manifestação, surgiu UM lxvi - Primeira Manifestação - que se subdividiu sucessivamente em miríades de subunidades. O que era um continuum tornou-se descontinuum, e assim surgiu a multiplicidade. Ao nível do Nada coisa alguma havia para ser contada, portanto nele não tem sentido a existência de números, ocorrendo o inverso com a creação, quando houve o surgimento de coisas contáveis e conseqüentemente a necessidade dos números. Certamente todo o conhecimento do universo pode ser expresso por números por isso eles são considerados imensa fonte de mistérios. Todo os mistérios do universo estão contidos nos números.O
Verbo coordena o mundo através de “peso, medida e número”. Veja-se, porém, que mesmo peso e medida são expressos por números, portanto número é o mais soberano elemento da creação.C
oisa alguma é imóvel dentro da creação, e também coisa alguma é continua, tudo é fragmentário e móvel, tudo é constituído de partes, de unidades sucessivas e isso envolve o contar, portanto uma manifestação dos números.C
omo decorrência de ser algo inerente à própria creação deve-se por isto considerar os números, como disse François-Xavier Chaboche:“Os números não apenas em suas propriedades lógicas, aritméticas, algébricas, geométricas... mas
também, mas, sobretudo, em suas dimensões analíticas, simbólicas, psicológicas, lúdicas, poéticas, mágicas e meta-psíquica, entre outras”.
A
ciência da Antigüidade levava em conta primeiro o mundo do invisível, do infinito e do divino, para explicar o mundo visível, limitado e humano. Não se dissociavam esses dois mundos. As estruturas da matéria eram como que o reflexo imediato das estruturas do espírito. Dentro de tal conceituação não se podem dissociar os números do mundo objetivo.P
itágoras, em sua época, foi discípulo de Mestres do Egito, da Índia, da Grécia, da Fenícia e da Caldeia, havendo fundado em Crotona a Escola Itálica. A base de sua doutrina é “a Unidade Divina, absoluta eprimordial, na qual ele vê a mônada das mônadas; a imortalidade da alma a pluralidade das existências num sentido de evolução; a organização harmoniosa do universo baseada na serie dos números, à qual ele atribuía maior poder”.
lxvi
Não se trata do UM correspondente ao “E” e sim da Primeira Manifestação ao nível da Creação.
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esta série de palestras já vimos que os três primeiros números (1-2-3) na realidade podem ser considerados apenas um. O zero é o Nada, o Imanifesto Cósmico. O UM o Manifesto inconscientizável. O dois é o próprio UM em pólo oposto. O três o conscientizável.N
a realidade o três não se manifesta por si próprio, é preciso haver algo em que ele se manifeste. O feio é a polaridade oposta do bonito (1 - 2) e essa dualidade permite o surgimento da idéia de beleza (3) e assim por diante. Ora, essa idéia de beleza só se manifesta em função de algo. Não pode haver beleza se antes não existir algo em que esta possa se apresentar.N
o mistério três está contido tudo o que diz respeito aos sentimentos e sensações, assim como ao intelecto, às coisas que são conscientizáveis, mas que requerem a existência de algo através do qual possa se fazer sentir.P
odemos concluir, como já dissemos, o três não tem existência concreta no mundo objetivo. Um, Dois eTrês não pertencem ao mundo material, ou mesmo energético, e sim a um mundo subjetivo, espiritual, por assim
dizer.
O
número Quatro representa a existência objetiva no mundo material. Ao nível dele a coisa pode existir por si mesma no mundo material, portanto diz respeito a algo objetivo, enquanto isso os números um, dois, três são apenas um só, mas não manifesto diretamente no mundo denso. Somente a partir do quatro é que os números indicam expressões do mundo denso.A
lgo para se manifestar objetivamente tem que ter existência a partir do quatro. Como já estudamos antes, o quatro representa dois bipólos e conhecido como o número da estabilidade. O número cinco é ligado diretamente às manifestações biológicas e aos líquidos; o seis, ao aperfeiçoamento, o oito à orientação e o nove à manifestação da vida.O
sete, é tido como o número da creação. Porque é o número da creação? - A creação se apresentou tendo fundamentalmente a vibração como causa. Surgiu a partir de quando parte do Nada começou a vibrar. As coisas criadas só se manifestam pela vibração. Onde não houver vibração é o “mundo” do Nada, da imanifestabilidade. Como o universo é manifestabilidade, tudo o que nele existe o faz pela vibração. O elemento diferenciativo entre o Nada e o Universo Creado é a descontinuidade, e é exatamente a vibração que condiciona a descontinuidade.P
or ser o número da creação, o sete é o número que se apresenta com maior incidência em todas as ocorrências do universo; tudo dentro da creação de alguma forma está a ele ligado. Porque é o sete o número da creação? - porque a creação consiste basicamente de coisas em vibrações e as vibrações agrupam-se em sete (oitava musical). É o número que mais aparece em citações de todas as obras místicas, na magia, no ocultismo em geral, na Bíblia e em todos os livros sagrados como mencionaremos depois.O
motivo da importância do sete é porque as vibrações se distribuem em oitavas. Tomemos como exemplo a escala musical. São sete notas aquém e além das quais tem inicio outra oitava e assim sucessivamente. Essa é uma propriedade das vibrações e conseqüentemente o que liga a vibração ao número sete, mas isso não é o bastante, existe um mistério ainda maior: por que as vibrações se apresentam, em oitavas?... Veremos depois.N
essa palestra não nos deteremos muito sobre o número sete porque isso é o que temos feito em todo o nosso trabalho. A maior parte do que escrevemos nas palestras antecedentes, de uma forma ou de outra diz respeito às vibrações e conseqüentemente ao número sete.S
em a vibração não haveria o universo tal como o conhecemos, assim podemos dizer que o número sete é essencial ao universo. Sem o número cinco não haveria o lado biológico da natureza, mas esta poderia existir independentemente de haver ou não esse lado. Sem o seis não haveria o aperfeiçoamento, mas o universo poderia existir sem haver o aperfeiçoamento. O oito diz direcionamento, mas mesmo assim o mundo poderia existir sem ele. Sem o quatro as coisas físicas não poderiam existir, mas mesmo assim ainda continuaria a existir o universo em níveis de energia. Mas sem o sete não haveria coisa alguma, seria impossível a existência de tudo o que está criado, o universo como um todo não existiria; por isso o sete é tido como o número da creação. A creação é, em linhas gerais, as manifestações explícitas no simbolismo do sete.A
gora vejamos o porquê das vibrações se apresentarem em grupos de sete. Numa primeira fase o um se desdobra (primeiro desdobramento) formando uma trindade, o três que por sua vez esta primeira tríade se desdobra numa segunda perfazendo 7 (segundo desdobramento).NADA 1 1 º d e sd o b ra m e n to 1 3 2 2º desdobra m ento = 7 = 3 4 5 6 7 Ilustração 14
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a primeira fase do desdobramento da creação formou-se o Um - Dois - Três (na realidade apenas o próprio UM sob tríplice aspecto). Na segunda fase, o Sete. Como os três primeiros números são UM, o número dois da seqüência natural aparentemente deveria ser o quatro. Mas, no sentido da creação o sete vem primeiro que o quatro, portanto o segundo lugar a ele pertence, conforme se pode ver pelo esquema.O
quatro representa a estruturação física e esta não pode anteceder. Poderia haver a concretização das coisas representadas pelo quatro se antes não houvesse a vibração, isto é o sete? - Não, por certo. Não pode algo se estruturar sem antes haver sido creado, por isto o sete antecede a fase quatro. Primeiro foi preciso vibrar para haver creação e depois aquilo que já existia pela vibração se estruturar. Assim sendo os três primeiros números é um, o sete é o dois. Depois de estruturado, então pode haver biológico, o liquido constituindo três, depois o aperfeiçoamento, o quatro, depois a orientação o seis e finalmente a vida humana o nove.1 - 2 - 3 = 1 7 = 2 4 = 3 5 = 4 6 = 5 8 = 6 9 = 7
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or meio de uma experiência física pode-se ver como o sete segue de imediato o três (UM). Tomemos um raio de luz simbolizando o Um que penetra um prisma (sólido de três faces, portanto o três. O UM (raio) ao ultrapassar o três (prisma) se projeta como sete. O raio se decompõe em sete cores). O raio não emerge do prisma como quatro e sim como sete. Por analogia com o espectro solar, o sete é considerado a manifestação imediata do um através do três.A
s sete “emanações luminosas” são descritas pela Tradição como sete raios de creação (separação) e de união (reintegração).Ilustração 15
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partir de três cores fundamentais pode-se reconstituir todo o espectro, isto é, as sete cores do arco-íris. Isto é a relação da fonte - o divino, ou o Sol - com sua manifestação. Vide Ilustração. 3Ilustração 16