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Monsanto – A maior companhia de sementes do mundo – Uma análise.

Em 2004, as sementes biotecnológicas da Monsanto e/ou sua tecnologia de mani- pulação genética foram usados em 88% do total da área mundial plantada com transgênicos.

Segundo a Monsanto, a quantidade de hectares cobertos com sua biotecnologia foi de 71 milhões em 2004, o que equivale ao tamanho da Zâmbia.

Percentual de cultivos transgênicos correspondente a Monsanto:

- Soja transgênica – A soja da Monsanto se cultivou em 91% da área mundial dedicada à

soja transgênica em 2004. (Dos 48 milhões de hectares de soja transgênica no mundo, 44 milhões são da Monsanto)

- Milho transgênico – O milho transgênico da Monsanto foi semeado em 97% da área

mundial de milho transgênico durante 2004. (Dos 19,3 milhões de hectares no mundo, o milho da Monsanto foi plantado em 18,77 milhões)

- Algodão transgênico – O algodão transgênico da Monsanto foi utilizando em 63,5% de

toda a área semeada com esse cultivo. (De 9 milhões de hectares de algodão, a Monsanto plantou 5,7 milhões)

- Canola transgênica – A canola transgênica da Monsanto foi semeada em 59% da area

mundial dedicada à esse cultivo em 2004. (De 4,3 milhões de hectares de canola transgênica no mundo, a Monsanto usou 2,54 milhões)

Nota: Essas estatísticas se baseiam em fontes da indústria: Monsanto e o ISAAA (Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações Agrobiotecnológicas).

a propriedade da semente – o primeiro elo da cadeia alimentar – fica nas mãos de poucas companhias transnacionais, o fornecimento mundial de alimentos fica muito vulnerável aos caprichos dos mer- cadores. Os diretores das corporações tomam decisões para cuidar de seus inte- resses e aumentar os lucros e não para assegurar a alimentação do mundo.

Percentual do mercado mundial de sementes: Milho – Monsanto controla 41% do total.

Soja – Monsanto controla 25% do total.

Algodão: Em abril de 2005, a Monsanto adquiriu a Emergent Genetics por 300 milhões de

dólares. Emergent, que é a terceira maior companhia de sementes de algodão tanto na Índia como nos Estados Unidos, tem aproximadamente 12% do mercado de sementes de algodão dos EUA e 10% do mercado de sementes híbridas de algodão na Índia.

Monsanto se apodera da horta.

Com a aquisição da Seminis por 1,4 bilhões de dólares em 2005, a Monsanto se coloca em uma posição dominante no mercado emergente de sementes de hortaliças, um segmento antes inexplorado pela Monsanto. Com diversas marcas, Seminis fornece mais de 3.500 variedades de sementes para produtores de frutas e hortaliças em 150 países. A aquisição da Seminis incluiu as seguintes marcas:

- Royal Sluis - Petoseed - Bruinsma

- Asgrow Vegetable Seeds

Para a Monsanto, “as sementes de hortaliças são o próximo movimento estratégico” porque “é um segmento de alto valor e rápido crescimento na agricultura”. Segundo a Monsanto, o percentual de lucro por vendas de sementes e traços é maior para as hortaliças (64%) do que para os feijões de soja (63%) ou para o milho (57%). Agora a Monsanto assume uma posição líder de mercado mundial de sementes de hortaliças, onde antes era virtualmente invisível.

Feijões – Monsanto controla 31% do comércio mundial de sementes Pepinos – Monsanto controla 38% do comércio mundial de sementes Pimentas – Monsanto controla 34% do comércio mundial de sementes Pimentões – Monsanto controla 29% do comércio mundial de sementes Tomates – Monsanto controla 23% do comércio mundial de sementes Cebolas – Monsanto controla 25% do comércio mundial de sementes.

Um novo estudo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos anali- sa como a concentração na indústria de sementes afeta a investigação. Nos EUA, o investimento do setor privado em in- vestigação e desenvolvimento de varie- dades vegetais incrementou 14 vezes en- tre 1960 e 1997, enquanto que o investi- mento público se estancou.

Sabe-se que as leis de propriedade intelectual (os direitos de obter e as pa- tentes) que fornecem às empresas os di-

reitos exclusivos sobre as variedades ve- getais estimularam a concentração da in- dústria de sementes. Analisando o milho biotecnológico, o algodão e a soja, os pesquisadores da USDA encontraram que a intensidade da pesquisa baixou à medida que os mercados de sementes se concentravam mais.

“As companhias que sobreviveram à consolidação da indústria de sementes estão financiando menos a investigação do que quando haviam mais empresas envol-

vidas, segundo o tamanho de seus merca- dos individuais... Também pode ocorrer que, com menos companhias desenvolven- do cultivos e vendendo sementes, haja uma menor quantidade de variedades.”

O estudo da USDA também enfatiza que a pesquisa pública sobre a variedade de cultivos “tem um efeito estimulante sobre a investigação privada de biotecnologia”. Os autores concluem que o aumento do investimento público para a pesquisa de fitomelhoramento “não esta- ria somente mantendo as altas taxas de devolução ao público dos benefícios da pesquisa pública, mas sim que até poderia promover, de certa forma, o investimento privado”.

Qual é a moral da história? No caso da agrobiotecnologia nos Estados Unidos, a redução na concorrência está associada com a redução em pesquisa e desenvolvi- mento. Apesar da indústria de sementes argumentarem o contrário, a concentra- ção neste setor resultou em pouca inova- ção. Por fim, um mercado de sementes altamente concentrado significa menores, e não maiores opções para os agriculto- res.

Revolução ou involução? Segun-

do os promotores da biotecnologia, “nos primeiros dias de maio de 2005 um agri- cultor em alguma parte do mundo plantou o hectare número 400 milhões de algum cultivo biotecnológico”. Para os promoto- res dos transgênicos, saber o número total de hectares plantados com sementes transgênicas é como para o McDonald’s colocar um anúncio do número de hamburguers servidos embaixo de seus arcos dourados:

“Hoje chegamos a um bilhão de acres. No futuro, plantarão e colherão tantos bilhões de acres de cultivo biotecnológico no mundo todo que deixaremos de contar cada acre como McDonald’s conta seus hamburguers, como temos feito até agora.” – Thuth About Trade and Technology, grupo que apóia o livre comércio e a biotecnologia agrícola, com sede em Des Moines, Iowa, EUA.

A proliferação de hambúrgueres vendidos pela mega empresa mundial de fast food é uma boa comparação com o alcance que tem as sementes dos Gigan- tes Genéticos: a invasão desses produtos impõe enormes custos sociais que usual- mente não são reconhecidos nem discu- tidos até que a tecnologia seja encontra- da por todos os lados.

Tomemos a contaminação transgênica, o fluxo genético indesejado transferido por polinização de cultivos transgênicos (OGMs) para cultivos con- vencionais ou orgânicos que se encon- tram ao redor. Nos primeiros dias da biotecnologia discutiu-se como possibili- dade remota, mas logo se tornou uma realidade, depois um incômodo e agora em uma crise (para alguns). Com a rápi- da expansão da área de transgênicos, os agricultores encontram cada vez mais di- ficuldades em produzir variedades não- transgênicas.

Pesquisadores canadenses escreve- ram em Ecological Economics no início deste ano que “a perda ou a limitação da produção de cultivos não-transgênicos certificados pode significar a imposição de condições externas sobre os produto- res, consumidores e outros usuários ao longo da cadeia”. Enfatizam que os cus-

tos de oportunidade para os agricultores poderiam incrementar dramaticamente enquanto o número de áreas de produ- ção livre de transgênicos se reduziria, se os consumidores aborrecidos decidissem simplesmente evitar comestíveis com al- gum conteúdo transgênico.

Hoje, os cientistas estão discutindo sobre como medir a contaminação transgênica e o que isso significa. Tratam de determinar as distâncias de isolamento para evitar a dispersão de pólen e a polinização. Pelo menos 28 governos além da União Européia resistem contra os re- quisitos nos rótulos dos comestíveis transgênicos e por estabelecer níveis de tolerância para o conteúdo transgênico em alimentos rotulados. Os consumidores de alguns mercados estão perdendo a capa- cidade de selecionar produtos livres de transgênicos ou têm que pagar mais e evi- tar por completo os comestíveis deriva- dos da biotecnologia. Os agricultores que decidem não cultivar OGMs enfrentam uma perda de mercado se seus produtos se contaminam, ou respondem legalmen- te se os genes patenteados e não autoriza- dos se encontram em sua propriedade.

Como lidarão as pessoas com os custos sociais impostos pelos cultivos transgênicos e a contaminação transgênica? Quem julgará e quem paga- rá? Os pesquisadores canadenses ofere- cem duas soluções problemáticas: “que os cultivadores de transgênicos paguem um imposto para compensar aos que não querem semeá-los por qualquer perda gerada pela contaminação ou, alternati- vamente, que os agricultores que não se- meiam transgênicos possam pagar aos

que semeiam para que o façam de ma- neira restrita.” Ambas propostas são ina- ceitáveis porque nenhuma delas impõe limites apropriados para a fonte de con- taminação: a indústria biotecnológica.

Há sinais indignantes de que as de- cisões são tomadas para favorecer aos gigantes genéticos e transferir os custos e a culpa da contaminação transgênica aos agricultores e consumidores.

Nos EUA, os governos dos estados estão aprovando leis escritas dissimuladamente pela indústria biotecnológica, tornando ilegal o que os governos locais haviam proibido ou res- tringido em relação aos transgênicos. Decididos a não permitir proibições lo- cais de cultivos transgênicos, como as aprovadas em três condados da Califórnia, a indústria promoveu 14 leis que impedem o protesto por parte de ci- dadãos contra os cultivos transgênicos.

Outro exemplo é que a indústria das sementes e governos aliados estão pro- movendo agressivamente a tecnologia Terminator de sementes como um méto- do viável para deter o fluxo genético.

Delta & Pine Land, a companhia com sede nos Estados Unidos que está desenvolvendo ativamente a esterilização genética de sementes, lança o argumento indignante e cientificamente falaz de que o Terminator “providencia a vantagem para a biosegurança de evitar a mais re- mota possibilidade de movimento de transgenes.”

Muitos países estão adotando no- vas leis de sementes dirigidas a restringir os direitos dos agricultores de controlar e

usar suas sementes. Um relatório amplo de GRAIN examina a imposição de no- vas e repressoras leis de sementes, que substituem a anterior legislação em mui- tos países. Segundo GRAIN, “o princi- pal objetivo dessas leis é dar uma melhor proteção às variedades privadas de se- mentes desenvolvidas por empresas e deixar de lado completamente as varie- dades próprias dos agricultores.”

Sementes transgênicas e pesticidas: outro mito da indústria destruído: Desde o início da

biotecnologia, a indústria prometeu que as sementes transgênicas reduziriam o uso de agrotóxicos na agricultura. Um estudo de Charles Benbrook (2004) analisa o uso de agrotóxicos e sua relação com os cul- tivos transgênicos nos Estados Unidos de 1993 à 2004 (a área de transgênicos nos Estados Unidos é 60% da área mundial). O estudo conclui que o uso total de agrotóxicos sobre os acres cultivados com transgênicos aumentou em 4,1% desde 1996. Esses resultados contradizem o ar- gumento tão repetido pela indústria de que os OGMs ajudam à reduzir os praguicidas na agricultura. Segundo Benbrook:

Cultivar milho, soja e algodão ge- neticamente modificados (GM) propor- cionou um aumento de 122 milhões de libras no uso de agrotóxicos desde 1996. Se por um lado os cultivos britânicos reduziram o uso de inseticidas durante este período em 15, 6 milhões de libras, por outro os cultivos tolerantes a herbicidas aumentaram o uso para 138 milhões de libras. Os cultivos britâni- cos reduziram em 5% o uso de insetici- das em milho e algodão, enquanto que

a tecnologia de tolerância à herbicidas ocasionou um aumento de 5% nestes três principais cultivos. Visto que se usa tan- to herbicida em milho, soja e algodão, comparado com o volume de inseticida aplicado ao milho e ao algodão, o uso de agrotóxicos cresceu em 4,1% nos acres plantados com variedade transgênicas. – Charles M. Benbrook, “Genetically Engineered Crops and Pesticide Use in the United States: The First Nine Years.” Biotech InfoNet, Technical Paper Number 7, octubre de 2004.

Os agricultores estão sendo força- dos a aplicar quantidades maiores de herbicidas sobre as plantações transgênicas tolerantes à herbicidas por- que alguns matos desenvolveram resis- tência, mesmo com a confiança que se tinha nos cultivos tolerantes a herbicidas. Benbrook acha que a “confiança de um herbicida”, o glifosato, como o mé- todo principal para controlar as ervas da- ninhas em milhões de acres cultivados com variedades de plantações tolerantes a herbicidas é o fator principal que obri- ga os agricultores a “aplicar mais herbicidas por acre para obter o mesmo nível de controle das pragas.”

O glifosato, o agrotóxico mais utili- zado em todo o mundo, é considerado tipicamente menos daninho que outros herbicidas químicos. Entretanto, novos estudos sobre o glifosato e a fórmula pa- tenteada da Monsanto, RoundUp, levan- tam sérias preocupações sobre a segu- rança deste tóxico para a saúde humana e o ambiente. Aproximadamente três quartos da área mundial dedicada a culti- vos transgênicos no ano passado foram

plantados com cultivos tolerantes à apli- cação de glifosato.

Conclusão: a consolidação da in-

dústria de sementes significa menos con- corrência, menor opções aos agricultores e maior vulnerabilidade para as comuni-

dades agrícolas e para a segurança ali- mentar mundial. As opções se reduzem ainda mais com o aumento da contami- nação transgênica que invade os cultivos tradicionais e orgânicos.

Texto retirado site: www.etcgroup.org