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Muito se tem discutido na “praça pública” sobre a liberdade de escolha da escola e a necessidade de serem os pais a gerir essa procura. No entanto, esta só tem sentido se estiver associada à capacidade das famílias de tratarem a informação relevante para uma escolha consciente e não induzida. Igualmente, só poderemos considerar liberdade de escolha se os indivíduos forem capazes de sustentar as suas escolhas ou lhes sejam fornecidos recursos que as sustentem. “En outre, le choix ne comprend pas seulement des décisions rationnelles, résultant d'un calcul stratégique

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des avantages et des coûts, mais intègre aussi des considérations affectives sur ce qui s'avérera le mieux pour assurer le bonheur de chaque enfant.” (Duru-Bellat & Van Zanten, 1999, p. 180).

Em Portugal a liberdade de escolha não estava devidamente enquadrada num regime júridico ou normativo, no momento que fizemos este estudo, mas as famílias foram contornando estas limitações alterando a morada ou local de trabalho, recorrendo a outro encarregado de educação de “conveniência”, recorrer a “influências” ou escolher disciplinas que só existem na escola pretendida (cf. Antunes & Sá, 2010, p. 113).

A escola, sobre a qual fizemos o estudo de caso, situa-se no centro da cidade e próxima da central de camionagem, um pouco mais distante da estação de comboios, mas também acessível a pé. Foi sujeita a um conjunto de remodelações e ampliação, que fez aumentar a sua lotação consideravelmente, ao ponto de agora conseguirem incluir todos os alunos que pretendem frequentar a escola. Isto não se tinha verificado nos últimos anos, pois os alunos que se matriculavam eram em número bem superior à capacidade da escola.

Quem nos faz referência histórica, da última década, a esta situação foi o professor Coordenador de Matemática, referindo-se ao período em que fez parte dos órgãos de gestão da escola.

Eu estive na direção nos anos 2000/2001, estive dois anos na direção, não houve eleição, mas estava na Assembleia Geral e houve aí umas demissões, pronto. Mas estive dois anos e, pronto, a ideia que eu tenho – depois não estive assim por dentro do processo, mas pronto – mais ou menos era qualquer coisa de meio por meio, portanto, tínhamos capacidade para acolher 200 alunos e apareciam 350, 400 processos e era dramático, de facto. (E4 2)

Esta dificuldade em conseguir a matrícula pretendida parece ter contribuído, segundo a encarregada de educação entrevistada, para um acréscimo de desejo da frequência da escola.

O andar na “Escola do Amieiro” será moda. E depois como também há… Acho que eles têm dificuldade em… a nível da lotação que já está completa. Portanto, não é fácil entrar-se. Isso muitas das vezes também é um fator. Posso ir! Para a outra tenho vaga. O proibido ser o apetecido. Eu isso não sei explicar. (EE1 3 P1)

Parece de facto existir um fenómeno de atratividade produzido pela escola, para o qual não haverá uma explicação clara. Esta escola era a antiga escola industrial, algo que por norma não é favorável para uma imagem de prestígio, exigência e qualidade de ensino. Tanto mais que a cidade também tem um antigo liceu, relativamente próximo, cerca de 1,5 km, do outro lado da cidade. A grande diferença será mesmo o facto da escola estudada ser mais acessível por transportes públicos, especialmente para alunos de fora da cidade que se deslocam de autocarro.

Isso mesmo foi referido pelas famílias inquiridas, como se pode observar no quadro seguinte, como um importante fator na escolha da escola156.

156 No “Quadro 2” deste trabalho já podemos constatar que aproximadamente 55% dos alunos vive a 5 km ou mais de distância da escola. No entanto, não inquirimos as famílias

quanto ao meio de transporte utilizado para irem para a escola, o que poderia neste momento ser um dado importante para enriquecer a discussão de dados. Inicialmente, pensamos no meio de transporte como um recurso económico da família que reforçaria outros dados por nós inquiridos e não como um fator de escolha da escola. Por este motivo não foi colocada a questão no questionário, também consideramos que a distância seria um indicador dos que usam o autocarro como meio de transporte.

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Quadro 61- Motivos da escolha da escola: Proximidade dos transportes

Frequência Percentagem Percentagem Válida Percentagem Acumulada

Sem importância 41 16,4 17,7 17,7 Pouco importante 36 14,4 15,5 33,2 Importante 73 29,2 31,5 64,7 Muito importante 82 32,8 35,3 100,0 Total 232 92,8 100,0 Não responde 18 7,2 Total 250 100,0

As famílias que consideraram ‘importante’ são 31,5%, e para o parâmetro de ‘muito importante’ são 35,3%, daquelas que responderam à questão.

A importância da proximidade dos transportes foi referida por vários alunos entrevistados, assim como a centralidade da escola. Das várias menções desta questão expomos a seguinte que nos foi fornecida na entrevista exploratória por um dos alunos entrevistados.

E também pela mesma razão que o P2, porque era mesmo no centro da cidade. Lá está. Eu vinha de autocarro, saía do autocarro e estava praticamente na escola. E estava perto de tudo. Eu queria ir ao shopping… ia ao shopping. Eu queria ir a uma loja, ia. Queria ir almoçar ali, ia. Acho que é isso. (EE2 7 P1)

Também a Diretora reconhece a importância da localização estratégica da escola.

Pois, não. Eles têm alguns alunos, só que como nós temos a vantagem de estar perto de uma estação de autocarros, temos a vantagem de estar perto, em termos físicos, do campo de futebol, da natação, do “ Sport Clube” e a cinco minutos a pé da “Academia Musical”, há uma preferência clara por esta escola. E já há assim uma tradição de nós recebermos esses alunos. Portanto, a maior parte dos pais quando ouve dos outros pais, já não fala no “Liceu”, já fala no “Amieiro” e, portanto, vêm para cá os meninos. (EE3 1)

A mensagem passada pelos pais dos alunos que frequentam a escola, também é apontada como um elemento importante na capacidade de divulgar a boa imagem da escola.

Assim, quando questionamos as famílias, não é de estranhar que a proximidade ao centro da cidade tenha uma percentagem considerável entre aqueles que consideram ‘importante’, 40,5%, ou ‘muito importante’, 18,5%. Tal como se observa de seguida.

Quadro 62- Motivos da escolha da escola: Proximidade do centro da cidade

Frequência Percentagem Percentagem Válida Percentagem Acumulada

Sem importância 34 13,6 14,7 14,7 Pouco importante 61 24,4 26,3 40,9 Importante 94 37,6 40,5 81,5 Muito importante 43 17,2 18,5 100,0 Total 232 92,8 100,0 Não responde 18 7,2 Total 250 100,0

Quando insistimos com a Diretora da escola sobre os fatores mais importantes para a grande procura desta escola, ela não centra num único indicador, mas refere que será de um conjunto destes.

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Há muitos fatores: um, não vamos descurar, que é verdade, é a localização da escola, porque se um miúdo vem de “Vila Norte” – voltamos aos miúdos que vêm de longe – se um miúdo vem de “Vila Norte” e faz um transporte é uma coisa, se vem de “Vila Norte” e faz dois transportes é outra, tem que se levantar mais cedo, gasta mais dinheiro, pronto. Depois é o passa-palavra, o meu pai andou aqui, o meu tio andou aqui, o meu irmão andou aqui, eu quero andar aqui, portanto, como é uma escola que já tem cento e vinte e oito anos, acaba por ter várias gerações. Portanto, acaba por ser o facto de a escola ser central, haver uma relação muito próxima com pessoas que tenham cá andado e também o facto da escola, é assim, tem bons professores – tem alguns que também se podiam ir embora, é um facto – mas também tem, na sua grande maioria, muitos bons professores. E a prova disso é que, mesmo em exames nacionais, por exemplo há dois anos atrás, há três anos atrás, fomos a escola pública melhor classificada em termos de História. (EE3 4)

A preparação de alunos para exame, tal como refere a Diretora, é na verdade um elemento considerado relevante no momento de escolher esta escola. Mas, também o prestígio da escola e o seu elevado grau de exigência é considerado por mais de 85% das famílias como ‘importante’ ou ‘muito importante’. Estes dados entram em linha com o quadro seguinte que apresenta os resultados quanto à preparação dos alunos para exame.

Quadro 63- Motivos da escolha da escola: Boa preparação dos alunos para exame

Frequência Percentagem Percentagem Válida Percentagem Acumulada

Sem importância 8 3,2 3,5 3,5 Pouco importante 14 5,6 6,1 9,5 Importante 92 36,8 39,8 49,4 Muito importante 117 46,8 50,6 100,0 Total 231 92,4 100,0 Não responde 19 7,6 Total 250 100,0

Neste quadro, além da percentagem das famílias ultrapassar os 90% que consideram este item no momento de escolher a escola, ainda surgem 50,6% a considerar mesmo ‘muito importante’.

Na investigação desenvolvida por Fátima Antunes e Virgínio Sá (2010, p. 124), encontramos valores muito próximos daqueles que apresentamos. Para a preparação dos exames os pais consideraram ser um fator ‘muito importante’ para 50,4% e ‘importante’ para 36,4%. O “prestígio” e a “exigência” estão também considerados como ‘muito importante’ e ‘importante’ para cerca de 80% dos casos.

Esta boa preparação para exame, está associada ao facto de haver bons professores, como já foi referido, mas a Diretora de Turma, acrescenta o tipo de receção e a tentativa de colocação de todos os alunos nesta e depois o encaminhamento para outras escolas por parte da Diretora quando não consegue colocação na escola. Como também nos foi referido pela Diretora em entrevista. Igualmente continua a ser referido o fator localização.

O que me dizem é que é importante porque tem meios de transporte que vêm de vários sítios e é ponto central, enquanto que, as outras são mais deslocadas. Pelo facto também de a Diretora tentar colocar os alunos, que é muito importante, recebe-os sempre e tenta dar-lhes lugar, não é(?!), que noutras escolas não têm esse tipo de receção. E se calhar pelos professores que houve aqui, que eu acho que deve ser o mais importante. Houve grandes professores que deixaram nome, não é?! (E2 10)

Um dos alunos do CCH, entrevistados, também referiu a importância de estar bem preparado para os exames como fator de escolha da escola. No entanto, acresce a isto ter sido uma professora do ensino básico a fazer esta referência e a aconselha-lo para esta escola.

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É assim, eu já tinha muito boas referências sobre esta escola. E uma professora, a minha professora de Matemática, quando eu estava no 9.º ano, aconselhou-me também esta escola. Porque também o colégio lá em “Vila Norte” não é assim muito... o corpo docente não é muito bom e então eu, como eu tinha boas notas e gostava de ingressar num curso, assim, em que exige boas notas, eu também decidi vir para cá. Embora soubesse que para ter boas notas aqui também ia ser difícil. (E5 2 P1)

Como seria de esperar, a proximidade do local de trabalho foi considerado pelas famílias como ‘sem importante’ ou ‘pouco importante’, para 65,7%. Em oposição a proximidade da habitação foi considerado ‘importante’ ou ‘muito importante’ por 72,4% das famílias que responderam à questão. Isto indica-nos que a maior parte dos alunos procura a escola próxima da sua residência, o que fomenta uma certa seleção geográfica em que as escolas de meio urbano terão os alunos das famílias com mais recursos. Como já podemos constatar durante o estudo que levamos a cabo.

Dos encarregados de educação inquiridos que responderam, 54,7% consideraram ‘sem importante’ ou ‘pouco importante’ que os amigos frequentam a mesma escola. Estes dados podem dever-se a ser o encarregado de educação a responder ao questionário, mesmo que com consulta do filho, e não considere este item importante para o sucesso escolar do filho. No entanto, os alunos entrevistados, na generalidade, demonstraram que poderem acompanhar os amigos que tinham no ensino básico é um fator a ter em conta.

Eu venho da “Escola da Eira”, que também fica aqui perto, fica no centro mais ou menos, e moro lá ao pé e estava indeciso entre o Liceu (muito sinceramente) e a “Escola do Amieiro”. Só que, por um lado, sim, já que ia começar uma fase nova achei que seria boa ideia, por um lado ir para onde os meus amigos iam, e por outro, pronto, já que a “Escola do Amieiro” está a ser remodelada, achei que, pronto, era mais um argumento, de pouco peso, mas era... Eu acho que em grande medida era mais pelo facto de, pronto, de conhecer muita gente que vinha para cá e, de facto, era uma escola de referência, também. (E5 1 P3)

A remodelação da escola, como referiu o aluno do CCH entrevistado, teve de facto um grande número de respostas como sendo ‘importante’, 53%, e ‘muito importante’, 35,6%.

Mais de 80% dos inquiridos, que responderam, entendem que a recetividade que sentem ao dirigir-se à escola é um importante facto a ter em conta no momento de escolher a escola. Assim o reflete o quadro seguinte157.

Quadro 64- Motivos da escolha da escola: A abertura da escola aos pais

Frequência Percentagem Percentagem Válida Percentagem Acumulada

Sem importância 20 8,0 8,6 8,6 Pouco importante 25 10,0 10,7 19,3 Importante 122 48,8 52,4 71,7 Muito importante 66 26,4 28,3 100,0 Total 233 93,2 100,0 Não responde 17 6,8 Total 250 100,0

Convém aqui referir que dos 250 encarregados de educação questionados, 80 responderam quanto à questão dos contatos estabelecidos com a escola por sua iniciativa. Quase na sua totalidade dirigiram-se à escola para obterem informações sobre o seu educando, aproveitamento e comportamento.

157 Consultar a este respeito o QUADRO X (pp. 124-125), em Antunes & Sá (2010). Públicos escolares e regulação da educação. Lutas concorrenciais na arena educativa.

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Quando questionamos quanto ao motivo dos pais terem sido convocados para irem à escola, estes apresentam como motivo a entrega das avaliações e informações, nalguns casos, muito poucos, acresce o comportamento ou faltas. Pensamos que o número de respostas não foi maior, ficou-se pelas 162, por os pais considerarem as reuniões de entrega de avaliação como um momento de contato regular de obrigação como encarregados de educação e não como uma convocatória. A estas ficariam sujeitas as situações extraordinárias.

Por último, o ranking das escolas secundárias representa para quase 70% das famílias ser ‘importante’ ou ‘muito importante’.

Quadro 65- Motivos da escolha da escola: A posição no ranking das escolas secundárias

Frequência Percentagem Percentagem Válida Percentagem Acumulada

Sem importância 28 11,2 12,2 12,2 Pouco importante 45 18,0 19,7 31,9 Importante 101 40,4 44,1 76,0 Muito importante 55 22,0 24,0 100,0 Total 229 91,6 100,0 Não responde 21 8,4 Total 250 100,0

O ranking das escolas secundárias, merece da nossa parte um aprofundamento mais adequado, como tal, desenvolveremos este aspeto no ponto seguinte. Convém, ainda assim, referir que a posição ocupada no ranking das escolas secundárias é considerada ‘importante’ ou ‘muito importante’ para quase 70% das famílias. Estes dados são mais díspares com os apresentados por Antunes e Sá (2010, p. 125), pois este só apresenta valores próximos dos 40% para os parâmetros ‘importante’ e ‘muito importante’ neste fator.

Ainda sobre o motivo da escolha da escola, foi colocada uma questão aberta sobre o que distingue esta escola de outras igualmente próximas. Dos 250 questionários recolhidos, obtivemos 174 respostas que colocamos em categorias. Aquela que obteve maior número de menções, foi a “exigência e qualidade” da escola com 57 respostas, seguidamente foi o “prestígio” com 26 respostas. As respostas que também obtiveram um número de ocorrências a assinalar, foi a “qualidade das instalações” com 25 respostas, a “localização” em 21 referências e 18 o facto de terem “bons professores ”. Ainda nesta questão, 35 das respostas não responderam à questão colocada.

Estes dados, confirmam os dados apresentados dos quadros anteriores, principalmente se associarmos as categorias de “exigência e qualidade”, “prestígio” e “bons professores” à boa preparação de alunos para exame do quadro 89. O ranking das escolas secundárias só foi referido em 7 das respostas, o que demonstrará a sua pouca relevância no momento de escolher a escola.

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