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Pelo descrito anteriormente podemos afirmar que esta pesquisa teve como opção metodológica o estudo de caso de tipo descritivo; no entanto, estamos conscientes das suas vantagens e fraquezas. É, assim, uma opção cuidada e plena de intenção, porque pretende uma análise mais profunda, analítica e interpretativa, e porque é um estudo individual, logo, parece-nos esta opção mais compatível com o tempo e recursos disponíveis.

Mesmo que com diferentes níveis de dificuldade entre os estudos de caso, estes serão sempre mais acessíveis, para investigadores principiantes ou experientes, do que quando se estudam múltiplos locais ou sujeitos (cf. Bogdan & Biklen, 1994, p. 89). A nossa inexperiência ainda mais aprofundou a necessidade de adotar uma metodologia compatível com os nossos conhecimentos e recursos.

Começamos o estudo, como é habitual, com um leque muito alargado daquilo que pretendíamos estudar e também como é comum terminados na pega do leque. Como um funil, os objetos de estudo eram de uma complexidade que se assemelhavam ao seu bocal de entrada, e terminamos na extremidade oposta ao “afunilarmos” a investigação ao que nos pareceu essencial (cf. Bogdan & Biklen, 1994, p. 89).

Ao delimitarmos o objeto de estudo, estamos na verdade a reter uma parte de um todo, mas foi nosso propósito manter a complexidade do contexto. As partes não são desconexas do todo e também estas podem

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influenciar o todo. Não fazia para nós sentido isolar uma parte como sendo a unidade, mas também não era possível analisar todas as partes na sua unidade. Inevitavelmente criou-se alguma distorção, especialmente pelo fato de não termos considerado o género como variável central desta investigação, mas consideramos que isso nos levaria a outro campo da investigação que merece per si uma profundidade que não poderíamos ter dado neste trabalho.

No estudo de caso, pretende-se apreender uma determinada realidade sem que se recorra à manipulação intencional do campo de investigação para encontrar um ambiente atípico. A procura de um “caso típico” é normalmente para que o estudo não seja encarado como uma singularidade irrepetível, mas sim algo comum. Mesmo que o investigador não generalize os resultados obtidos, pode o leitor fazer essas generalizações (cf. Bogdan & Biklen, 1994, p. 94).

Neste sentido, compreendemos o campo de investigação como algo inato: “-o menos construído, portanto o mais real;

-o menos limitado, portanto o mais aberto;

-o menos manipulável, portanto o menos controlado. (cf. Lessard-Hébert, Goyette & Boutin, 2010, p.169).” O estudo de caso é, então, a investigação de um fenómeno contemporâneo em que as fronteiras com o contexto não estão bem definidas e se favorece a múltipla fonte de recolha de dados (cf. Lessard-Hébert, Goyette & Boutin, 2010, p.170). É uma apreensão da realidade no momento em que os acontecimentos ocorrem e estão vinculados ao espaço em que decorre segundo as crenças e ideologias.

A recolha de dados foi um aspeto a ter muita atenção, isto porque devido às limitações de tempo e de recursos, esta esteve delimitada a um pequeno número de entrevistados. Quando o número é bastante restrito, como foi o caso, corremos o risco de atribuir uma importância exagerada àqueles que mais se predispuseram a fornecer informações. No entanto, também foi com estes que dispusemos de mais tempo por serem “informadores-chave” pela posição que ocupavam ou pela quantidade de informação que transmitiam (cf. Bogdan & Biklen, 1994, p. 95).

Para controlo destas informações, também dispusemos de inquéritos por questionário e entrevistamos professores e alunos no sentido de pudermos fazer um controlo interno da informação. Especialmente com os questionários foi possível fazer várias análises que nos impeliram para uma busca mais específica nas entrevistas. Com este método de recolha de dados conseguimos estabelecer algum critério quanto aos dados pretendidos e terminamos quando atingimos uma “saturação de dados”. A partir deste ponto poderíamos ter continuado a recolha mas é possível que o tempo despendido não se refletisse na aquisição de nova informação, no entanto, quanto mais tempo com o mesmo trabalho, mais informação acumularíamos e mais aprofundada seria a investigação (cf. Bogdan & Biklen, 1994, p. 96).

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Destaca-se das limitações do estudo de caso o facto de não ser possível generalizar, porque a metodologia não o permite, mas facilmente se poderá reconhecer as possíveis pontes deste caso com outros69. Devido à forte

centralização das políticas educativas e à profusão de normativos no nosso sistema educativo é comum que as diferentes escolas tendam a uma semelhança de ação, nem que esta seja aparente. Também pelas características que a escola proposta para o estudo apresenta é fácil encontrar outras que se aproximam do mesmo tipo de escola. Porque se localiza no centro de uma cidade média, comum no nosso país, e porque a oferta educativa é semelhante a tantas outras. O papel centralizador que o estado português adota na definição de múltiplas áreas da vida da escola ajuda ainda mais a que se possam efetuar generalizações, sem que se deixe de reconhecer as singularidades de cada comunidade educativa e reconhecendo que aquela operação não é suportado por esta metodologia. No entanto, as particularidades e especificidades que se podem encontrar neste tipo de estudo poderão ser um contributo para a compreensão de determinados fenómenos que de outra forma não seria possível detetar e interpretar. Para que estas particularidades possam surgir quase que espontaneamente (na aparência) muito contribuiu a integração “diluída” que tentamos atingir, no meio a estudar, reconhecendo desde já que nenhuma investigação decorre num ambiente impoluto, quer pela ação do investigador, quer pela do investigado.

O facto de a investigação decorrer numa escola, mesmo que não tenha sido naquela em que exercemos funções docentes, não deixa de ser para nós um ambiente familiar em que entramos com a bagagem adquirida noutras escolas que fundamentam as nossas ideologias e crenças. Igualmente a escola ao receber investigadores que são professores tem uma receção diferente a outros investigadores. Durante a entrevista pudemos observar que com os professores o tratamento era cordial e de alguma proximidade profissional por todos desempenharmos as mesmas funções, com os alunos houve mesmo a preocupação dos entrevistados de identificar o entrevistador com as suas funções profissionais para melhor perceberem o contexto da entrevista. Neste caso específico, da entrevista aos alunos, tivemos o cuidado de explicar o contexto da investigação e a confidencialidade em que ele ocorria.

Devido ao grupo de entrevistados ser tão pequeno tivemos a perceção de que poderíamos induzir os entrevistados a fornecer a informação que julgamos ser mais relevante. Tentamos resguardar as nossas convicções, mas incentivamos as dos entrevistados, para que as informações fornecidas fossem o mais próximas possível das ideias e crenças dos indivíduos. A recolha de informações por questionário teve igualmente a intenção de puder confirmar ou não os dados das entrevistas. Tentamos assim diversificar os métodos de recolha para tentar apreender os mais amplamente possível o objeto de estudo. Mesmo que os questionários tenham incidido sobre uma análise quantitativa e estatística, também teve questões abertas de análise qualitativa, e estas não sejam típicas de um estudo de caso, entendemos que foram um grande auxílio na interpretação do objeto de estudo.

69 “Alguns investigadores reclamam o direito à generalização baseando-se nas semelhanças dos seus resultados com outros referidos na literatura.” (Bogdan & Biklen, 1994, p.

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Se os dados estatísticos parecem algo de estruturado e até preditivo na recolha, não têm que o ser na sua análise. As correlações estabelecidas foram também resultado das entrevistas, propostas ou induzidas pelos entrevistados. Surgiram igualmente da revisão da bibliografia e dos resultados das análises preliminares, assim, o caminho seguido foi muito mais flexível e progressivo do que seria expectável para o tratamento de dados quantitativos. Experimentou-se uma abordagem muito mais próxima de um estudo de caso do que das análises estatísticas de uma visão exterior comuns no uso de dados quantitativos.

2.3. Etapas, métodos e instrumentos na recolha de informação.

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