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Mudança de perspectiva: antes e depois do curso

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8.9 Mudança de perspectiva: antes e depois do curso

Al. 6: – “A gente tinha a idéia de que se a gente faz o diagnóstico, a gente tem que tratar. E nessa abordagem não é bem isso. Você descobre uma coisa e eu acho que é muito mais o quê que aquilo está influenciando tudo na pessoa, do que você tentar tratar aquele ponto. Porque o tentar tratar aquele ponto aí eu acho que eu acho que não está mais nas nossas mãos.”

Percepção dos limites e da posição do médico: Al. 6: – “É não deixar o paciente na posição de paciente... o paciente tem que ser ativo, também, na relação.” “Não posso resolver, tem certas coisas que só ele pode resolver.”

A mudança: Al. 6: – “Você percebe o quanto que já não está nas suas mãos, o quanto que isso é uma coisa muito lá embaixo, pra você achar que o remedinho

vai resolver”; “Você consegue enxergar até que ponto você pode ir e até que ponto

você não vai mais, sem se frustrar, sabe?”

A percepção dos limites do paciente desculpabiliza o médico: “Tem certas coisas que não são só os médicos, a medicina, não sou eu, não, sabe? É ele, são problemas...”

A intenção terapêutica: Al. 7: – “A gente dava muita opinião assim. Tipo conselho.”

A “obrigação de ouvir” do médico: Al. 8: – “Antes eu ficava assim: a gente tem

obrigação de médico de ouvir não sei quê, aí eu me deparei com tantos pacientes

As causas da desistência antes do curso: Al. 8: – “Acho que também tem esse outro lado, sabe, de saber ser firme. Teve umas questões mais pessoais assim que eu ficava cansada, sabe? Desisti... porque eu não dou conta.”

A mudança: alívio pela percepção das diferenças entre os pacientes. Al. 8: – “Foi importante saber lidar com esses tipos de pacientes...Saber que existem pacientes completamente diferentes, que alguns eu ouço mais, outros eu ouço menos.”

8.9.1 Aumento da segurança na condução dos casos

Tudo isso conjugado propiciou ao aluno maior segurança na condução do caso: ele agora já sabe os objetivos, como atingi-los, o que pode e o que deve fazer, sem perder de vista que o lugar que o paciente lhe outorga na Transferência está relacionado aos diferentes modos possíveis de funcionamento de seu aparelho psíquico.

Al. 6: – “Esclareceu muitas coisas do diagnóstico dela. Das possibilidades que ela vai ter, sabe? O quanto que nunca vai resolver, porque o problema dela é outro.” “Não achar que uma operação de obesidade para aquela paciente vai resolver os problemas da vida dela, porque não vai.”

Al. 6: – “Eu acho que isso ia dar segurança, não só pra nossa relação. O quê será que aconteceu com essa paciente? Será o quê que ela fez? Será que ela está bem? Será que ela morreu?”

Importância de saber qual a estrutura para lidar com o paciente de forma correta: Al. 8: – “Eu acho que se a gente não ficar esperto pra esse tipo de coisa, saber que existe esse tipo de personalidade, tipo de paciente, a gente fica com um tipo de que a gente está numa cilada, eu acho, sabe?”

Mudança – conhecimento dos objetivos: Al. 8: – “Até então podia perguntar do pai e da mãe e não sabia o quê que ia fazer...A gente tem que pelo menos saber por quê que a gente está perguntando.”

8.9.2 A questão das idéias de auto-extermínio e o pressuposto filosófico da vida como um Bem sempre desejado

Um pressuposto filosófico do pensamento médico é o de se considerar a vida como um Bem em si, ou seja: todos os seres humanos desejam viver e não morrer. Para a medicina esse desejo é o considerado “normal”, e se não ocorrer, isso só

pode então ser considerado da ordem de uma doença psiquiátrica. Esta concepção não permite incluir a Pulsão de Morte descrita por Freud em seu “Mais além do princípio do prazer”. O Gozo pulsional pode fazer com que o sujeito possa, paradoxalmente, desejar a morte. Nesse sentido, Lacan se refere como o “Gozo do sintoma”, diferente em cada estrutura.

Para o pensamento clássico da medicina, desejar a morte constitui um sintoma derivado de uma entidade mórbida - uma patologia espúria, alienígena, que parasitaria o sujeito. Parte-se do pressuposto de que um sujeito que pense ou tente o AE não pode ser “normal”. O suicídio é considerado como inconcebível na mente do ser humano, não podendo ser sequer “compreensível” do ponto de vista da psicopatologia fenomenológica Jasperiana.

Faz-se mister extirpar este “parasita”, com uma medicação. Devido ao período de latência prolongado para o início do efeito dos antidepressivos e à crença na eficácia ilimitada dos remédios, instala-se uma urgência da medicação que pode ser perigosa, aumentando o risco de passagem ao ato suicida.

8.9.3 O paradoxo no exercício da arte da medicina

O fato de um sujeito desejar a morte contraria todos os pilares éticos da profissão médica. É um paradoxo para um médico aceitar que um sujeito possa lutar exatamente pelo motivo oposto a todos os seus esforços. Esta é uma situação que contraria todas as suas expectativas, desde que se considera um aliado do paciente na luta pela vida. Num caso destes, ele sente o paciente não como seu aliado, mas como seu oponente. Como abordar esta questão tão delicada, até para o próprio médico?

Para tentar superar esse paradoxo, a medicina criou uma doença que viria justificá-lo, ou até mesmo “desculpar” ou “perdoar” o paciente que estaria desafiando ou afrontando o médico em sua impotência. Ou seja, para aplacar a angústia do médico é preferível ver essa questão como uma doença, para a qual ele pensa que tem um remédio, do que ver um doente em seu sofrimento.

Se é uma doença, é um acaso ou fatalidade do destino e portanto não caberia à medicina perguntar ao paciente: “Por quê você está querendo morrer?”

A medicina se sente na obrigação de dar esta resposta ao paciente, antes mesmo de perguntar-lhe.

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