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CAPÍTULO I – A PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE E A POLÍTICA

3. Competências de Direito Ambiental

3.4. Município na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6938/81)

Após abordar os deveres constitucionais em matéria ambiental, determinados pela Constituição, e antes de iniciar um estudo específico das matérias trazidas pelo Estatuto da Cidade, que ajudarão na concretização de políticas ambientais em nível municipal, faz-se necessário mencionar sobre o papel do Município na lei de Política Nacional do Meio Ambiente.

A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, lei instituída por meio da competência da União para instituir normas gerais em matéria de preservação do meio ambiente, foi criada para ser aplicada em todo o território nacional e é o marco inicial,

143 ANTUNES, Paulo de Bessa. Ação Civil Pública, Meio Ambiente e Terras Indígenas. 1ª. ed. Rio de

Janeiro: Editora Lumen Juris, 1998, p. 62

144 BENJAMIN, Antonio Herman. Constitucionalização do Ambiente e Ecologização da Constituição

Brasileira (artigo). In CANHOTILH O, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (orgs.). Direito

no Brasil, para um sistema de proteção ao meio ambiente. A Lei Federal 6938/81, recepcionada pela Constituição de 1988, logo em seu art. 1°, dispõe:

“Esta Lei, com fundamento nos incisos VI e VII do art. 23 e no art. 225 da Constituição estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA e institui o Cadastro de Defesa Ambiental”.

O caput do citado artigo é a norma geral de atribuições aos entes federativos em matéria de políticas públicas de proteção ambiental. A legislação da Política Nacional do Meio Ambiente traz princípios e regras que materializam princípios de Direito Ambiental constantes do Texto Constitucional, e que direcionam e determinam as políticas públicas de preservação ambiental.

A competência comum determina ao Poder Público ações governamentais direcionadas aos fins pretendidos. A concreção do dever de proteção pressupõe a adoção de políticas de planejamento, políticas de fiscalização, políticas participativas e cooperadas entres as esferas de poder. Logo no art. 2° é traçado como objetivo da Política Nacional do Meio Ambiente a preservação e a melhoria e recuperação da qualidade ambiental, como meio de assegurar o direito à vida humana, segundo os seguintes princípios:

“I – ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;

II – racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; III – planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; IV – proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;

V – controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;

VI – incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais;

VII – acompanhamento do estado da qualidade ambiental; VIII – recuperação de áreas degradadas;

IX – proteção de áreas ameaçadas de degradação;

X – educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente”.

A estrutura da norma considera, nos incisos II, III, IV, V, VI, VII, VIII e IX, princípios de preservação propriamente ditos, determinando o uso racional do bem ambiental como necessário à qualidade de vida. Como pode ser observado, estes

princípios mais parecem referir a ações e a metas instituídas no dever de prevenção do dano ambiental, incumbido à toda a coletividade e ao Poder Público.

Portanto, são ações que derivam dos princípios da prevenção e da precaução, ambos do Direito Ambiental, determinando sempre políticas de planejamento e preventivas em prol do meio ambiente. Os incisos I e X determinam a realização do princípio de participação e da cooperação, respectivamente, sendo dever do Estado a preservação ambiental, determinando a cooperação das ações de governo nas suas diversas esferas, para a concreção de um sistema protetivo do meio ambiente, bem como garantir o direito de informação a toda coletividade.

De fato, a recepção da norma federal pelo Texto Constitucional é segura, na medida em que a Lei Federal 6938/81 falou sobre princípios que são a base da proteção ao meio ambiente, antes mesmo da Constituinte de 1988.

A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente dispõe sobre aquilo que o Texto Magno traz no art. 23, ou seja, a competência comum de preservação entre a União, Estados, Distrito Federal e Municípios, e aquilo que se demonstrou como núcleo da proteção do meio ambiente, destacado pelo art. 225 da Constituição Federal.

A referência à Lei de Política Nacional do Meio Ambiente visa demonstrar, de maneira breve, que o ordenamento jurídico vigente já traz instrumentos e regras para a cooperação e gestão conjunta dos entes federados naquilo que tange às políticas públicas de preservação ambiental, na qual incluímos o ente municipal como imprescindível para o sucesso destas políticas. Portanto, essa lei faz a integração entre a União, os Estados e Municípios para o aperfeiçoamento de políticas ambientais no Brasil. Os objetivos, propriamente ditos, da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente são traçados no art. 4º que diz, textualmente:

“Art. 4° A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

I – à compatibilização do desenvolvimento econômico social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; II – à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;

III – ao estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;

IV – ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais;

V – à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma

consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;

VI – à preservação e à restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;

VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos”.

Desses objetivos, importa mencionar o inciso II que diz que a Política Nacional do Meio Ambiente visará a definição de áreas prioritárias de ação governamental para aplicação de políticas relativas à qualidade e ao equilíbrio ecológico, desde que atendam aos interesses dos entes federativos. Conforme já visto, as atribuições de deveres em matéria ambiental, conferidas à União, Estados, Distrito Federal e Municípios, devem levar em consideração a preponderância de interesses de cada ente federativo, em que caberá à União a política de preservação que se relacione com o interesse nacional; aos Estados, as matérias de interesse regional; e aos Municípios, a matéria de interesse local. Assim, aos Municípios brasileiros caberão competências para definir políticas prioritárias governa mentais que se relacionem com seu interesse local. Ainda, interessa descrever aquilo que vem estabelecido pelo art. 6º, da Lei 6.938/81:

“Art. 6° Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, assim estruturado:

I – órgão superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais;

II – órgão consultivo e deliberativo O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida;

III – órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, com a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente;

IV – órgão executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, com a finalidade de executar e fazer executar, como órgão federal a política e diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente;

V – órgãos seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental;

VI – órgãos locais: os órgãos ou entidades municipais,

responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições. (...)” (grifo meu).

A Lei de Política Nacional criou e estruturou o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, na qual há referência expressa à formação de níveis de discussão da política de ambiente nacional, estadual e municipal. Assim, a legislação federal inclui o ente municipal no SISNAMA, a fim de que o Município exerça o controle e a fiscalização de atividades que possam causar degradação do meio ambiente em nível local.

Por fim, a partir do art. 9º, a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente apresenta instrumentos da política nacional que poderão ser utilizados pelos órgãos administrativos ambientais para o alcance das finalidades propostas: o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; o zoneamento ambiental; a avaliação de impacto ambiental; o licenciamento ambiental; incentivos à produção e instalação de equipamentos e criação ou absorção de tecnologias; a criação de espaços territoriais especialmente protegidos; a criação de um sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; cadastro técnico federal de atividades e instrumentos de defesa ambiental; penalidades disciplinares ou compensatórias àqueles que descumprirem medidas de preservação; relatório de qualidade ambiental; cadastro técnico federal de atividades potencialmente poluidoras dos recursos ambientais e instrumentos econômicos.

A lei de política nacional apresenta os diversos instrumentos para que os entes federativos possam dar cabo à competência comum de preservação ambiental. Portanto, os municípios brasileiros poderão, em face de seu interesse local, e observando aquilo que lhe é reservado nesta competência, exercer inúmeras políticas de controle e uso dos recursos naturais. Alguns desses instrumentos serão pormenorizados no Capítulo que será reservado ao estudo das atribuições de preservação do meio ambiente, que podem vir a ser tratados pelo Município como políticas exclusivamente de interesse local.

3.5. Conflitos em matéria de competência ambiental e critérios para solução