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Princípio de Direito Ambiental do Desenvolvimento Sustentável e o direito às

CAPÍTULO I – A PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE E A POLÍTICA

3. Uma análise dos princípios de Direito Urbano e de Direito Ambiental que se

3.2. Princípio de Direito Ambiental do Desenvolvimento Sustentável e o direito às

O princípio do desenvolvimento sustentável é sucedâneo da primeira Conferência Mundial sobre o meio ambiente realizada em Estocolmo. O “Relatório Brund tland”, documento que apresenta o resultado da Conferência dispõe que: “O desenvolvimento

sustentável seria aquele capaz de satisfazer as necessidades sociais atuais sem comprometer as necessidades futuras”.83

O direito ao desenvolvimento também foi tratado pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, realizada no Brasil e conhecida como “ECO 92”, que adotou a Agenda 21 como plano de ação para ser promovido pela Comunidade Internacional e Estados, assim como a Agenda HABITAT, adotada na Segunda Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos – HABITAT II, realizada em Istambul, em 1996. A Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento proclamou o princípio do desenvolvimento sustentável e as formas de alcançá-lo:

“Princípio 3° - O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de gerações presentes e futuras. Princípio 4° - Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental deve constituir parte integrante do processo de desenvolvimento, e não pode ser considerada isoladamente deste”.

O princípio do desenvolvimento sustentável é destacado como direito humano:

“A declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, reconhece que o desenvolvimento é um processo econômico, social, cultural e político abrangente, que visa constante incremento do bem estar de toda a população e de todos os indivíduos com base em sua participação ativa, livre e significativa no desenvolvimento e na distribuição justa dos benefícios daí resultantes”.84

A Constituição Federal trata do princípio no caput do artigo 225, que dispõe que:

“Todos têm o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Percebe-se que o Texto Constitucional não faz referência expressa à terminologia “desenvolvimento sustentável”, todavia, apresenta de forma expressa os valores propugnados pelos documentos de Direito Internacional que tratam do tema. A

83 FARIAS, Paulo José Leite. Competência Federativa e Proteção Ambiental. Porto Alegre: Sergio

Antonio Fabris Editor, 1999, p. 274

84 SANT’ANA, Ana Maria. Plano Diretor Municipal. São Paulo: Livraria e Editora Universitária de

doutrina85 define o desenvolvimento sustentável “como aquele capaz de assegurar o

desenvolvimento das atuais gerações sem comprometer o meio ambiente para as gerações futuras, incluindo não apenas o aspecto econômico mas também os seus valores de beleza, harmonia e equilíbrio”.

O desenvolvimento sustentável determina o equilíbrio entre o crescimento econômico e a utilização dos recursos natur ais, de modo a assegurar que as gerações presentes e as futuras possam usufruir dos bens ambientais. Percebe-se que existem dois bens protegidos pela Constituição que parecem se conflitar. Todavia, o próprio ordenamento jurídico impõe que haja uma solução dentro do sistema para harmonização desses valores jurídicos protegidos pelo Texto Magno. Assim, é pertinente o apontamento da doutrina sobre a aplicação da hermenêutica constitucional, como também a ponderação de princípios como pontos de solução para se resolver o conflito aparente posto na ordem jurídica:

“A partir da ‘idéia do igual valor dos bens constitucionais’ e do ‘princípio da interpretação das leis em conformidade com a Constituição’ segue-se a necessidade de harmonização dos bens constitucionais tutelados, no caso concreto. Reduzido ao seu núcleo essencial, o princípio da concordância prática impõe a coordenação e a combinação dos bens jurídicos em conflito, de forma a evitar o sacrifício (total) de uns em relação aos outros.

Este princípio de hermenêutica constitucional, também conhecido como princípio de harmonização, consoante Canotilho, embora divulgado por Hesse, ‘há muito constitui um canon of constitucional construction da jurisprudência americana’.

Tal princípio da harmonização fornece-nos a indicação de que cada valor constitucional deve ser ponderado na circunstância específica; portanto, com tal metodologia, cada valor constitucional variará conforme a necessidade fática da solução do problema. A solução do conflito de direitos ou de valores deve passar sempre por um juízo de ponderação, procurando ajusta-los à unidade da Constituição. Pode- se caracterizar, dependendo do caso concreto, em interpretação restritiva que deve ser verificada, para que não valha para dois bens constitucionais a regra de tudo ou nada.

É o que ocorre na espécie, pois a coexistência do desenvolvimento econômico e da proteção ambiental se resolvem pela noção de desenvolvimento sustentável. Portanto, é viável compatibilizar desenvolvimento e preservação ambiental, desde que se considerem os problemas ambientais dentro de um processo contínuo de planejamento, atendendo-se adequadamente às exigências de ambos os bens jurídicos e observando-se às suas inter-relações particulares a cada contexto sócio-cultural, político, econômico e ecológico, dentro de uma dimensão tempo/espaço. Em outras palavras, a política

85 FARIAS, Paulo José Leite. Competência Federativa e Proteção Ambiental. Porto Alegre: Sergio

ambiental não se deve constituir em obstáculo ao desenvolvimento, mas sim em um de seus instrumentos, ao proporcionar a gestão racional dos recursos que constituem sua base material”.86

O citado princípio indica que devem ser estabelecidas normas que delimitem o uso dos recursos naturais, de forma a possibilitar o crescimento econômico associado à inclusão de políticas de conservação, evitando assim o esgotamento acelerado dos bens ambientais. Fala-se também em medidas compensatórias, ou de mitigação do dano, a fim de garantir o desenvolvimento gerador de benefícios através da utilização de recursos naturais. O Poder Público deve valer-se de um planejamento econômico e ecológico pautado no princípio do desenvolvimento sustentável.

O princípio do desenvolvimento sustentável se relaciona com aquilo que a Política Urbana determina em seu núcleo normativo, constante do artigo 182 do Texto Constitucional. A Constituição Federal estabelece que a política de desenvolvimento urbano deve cumprir o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade. O desenvolvimento e a ordenação das cidades deve m garantir acesso ao trabalho, à moradia, ao lazer, circulação e, mais do que isso, deve garantir a todos acesso ao desenvolvimento econômico e à condições de preservação do meio ambiente, como forma de garantia da qualidade de vida das populações.

Extrai-se das lições da doutrina, abaixo citada, acerca do amplo papel que cabe ao Direito Urbanístico:

Percebemos que o Direito Urbanístico ordena os espaços habitáveis por meio de normas jurídicas e verificamos que seu objeto extrapola, em muito, a mera ordenação territorial, pois visa a convivência pacífica, digna e harmoniosa dos habitantes. Este ramo do Direito Publico terá o objetivo de impedir gravame nas condições de vida naqueles aspectos que lhes forem pertinentes. Deverá corrigir distorções, estimular ações coletivas, valorizar elementos que estimulam a dignidade da localidade, por intermédio da historia, do ambiente e do trabalho”.87

Destaca-se destas referências doutrinárias, que caberá ao Direito Urbanístico determinar regras e princípios para “impedir gravames nas condições de vida naqueles

86 FARIAS, Paulo José Leite. Competência Federativa e Proteção Ambiental. Porto Alegre: Sergio

Antonio Fabris Editor, 1999, p. 270

87 DI SARNO, Daniela Campos Libório. Elementos de Direito Urbanístico. Baureri-SP: Ed. Manole.

aspectos que lhes forem pertinentes”. O desenvolvimento urbano, portanto, deverá perquirir o desenvolvimento das cidades sustentáve is.

A partir do Estatuto da Cidade, Lei Federal 10.257/01, a função social da cidade vem definida no artigo 2º conjugando elementos do princípio do desenvolvimento sustentável, segundo: “I – garantia do direito às cidades sustentáveis, entendido como

direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações”.

Esta diretriz aponta o desenvolvimento sustentável como princípio norteador do desenvolvimento urbano. Não há como determinar o desenvolvimento de uma política urbana sem passar por assuntos de grande importância para a preservação do meio ambiente e para o desenvolvimento econômico, estabelecendo equilíbrio e harmonia entre estas diretrizes de desenvolvimento. O desenvolvimento urbano dos Municípios brasileiros deve primar pela preservação ambiental e acesso ao desenvolvimento econômico de forma a garantir sadia qualidade de vida ou bem estar das pessoas, sejam das presentes ou das futuras gerações.

Entende-se que o direito ao desenvolvimento sustentável não equivale ao direito às cidades sustentáveis. O direito ao desenvolvimento sustentável deve sim orientar e influenciar a formação das cidades sustentáveis. Há que se destacar, que a concreção de cidades sustentáveis clama por atuações públicas que transcendam os interesses exclusivos do desenvolvimento econômico e da preservação ambiental voltadas às presentes e futuras gerações. As cidades sustentáveis devem conjugar questões econômicas, sociais, políticas e ambientais. Assim, além de atender princípios do desenvolvimento sustentável, a cidade deve garantir acesso a outros bens e direitos de natureza difusa, como direito a moradia e ao lazer, por exemplo. Corroborando desse entendimento:

“Fica claro, portanto, que a sustentabilidade em áreas urbanas não se limita ao controle de impactos ambientais, de projetos específicos, como bem afirma Ivan Carlos Maglio, e sim uma busca, por meio de políticas governamentais, de forma de viabilizar os direitos acima enumerados, e, com isso, preservar e melhorar a qualidade de vida nos centros urbanos, garantindo, assim, cidades sustentáveis”.88

88 MUKAI, Sylvio Tohio. Regularização fundiária sustentável urbana e seus instrumentos. Mestrado em