• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO I – A PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE E A POLÍTICA

5. Princípios Específicos de Direito Ambiental

A matéria de Direito Ambiental é reconhecida pela especificidade de seu objeto de estudo e delimitação de princípios próprios a ela aplicáveis. A Constituição de 1988 faz menção a princípios que devem ser aplicados no tratamento da questão de Direito Ambiental, instaurando, nas palavras da doutrina de Paulo José Leite Farias102, um verdadeiro “Estado de Direito Ambiental”. Segundo o doutrinador, do art. 225 extraem- se os seguintes princípios:

“a) princípio da obrigatoriedade da intervenção estatal (caput e parágrafo primeiro); b) princípio da prevenção e precaução (caput, § 1° , inciso IV, com a exigência do EIA/RIMA); c) princípio da informação e da notificação ambiental (caput e § 1°, VI); d) princípio da educação ambiental (caput e § 1°, VI); e) princípio da participação (caput); f) princípio do poluidor pagador (§ 3°); g) princípio da responsabilidade da pessoa física e jurídica (§ 3°); h) princípio da soberania dos Estados para estabelecer sua política ambiental e de desenvolvimento com cooperação internacional (§ 1° do artigo 225 combinado com as normas constitucionais sobre a distribuição de competência legislativa); e i) princípio do desenvolvimento sustentado: direito intergerações (caput)”.103

Atendo-se aos princípios que se entende ser específicos de Direito Ambiental, aponta-se o princípio da ubiqüidade , que representa a imposição de onipresença do meio ambiente na implantação da política global de sua proteção. Significa que a gestão ambiental deve ser estratégica do poder estatal, envolvendo todo um conjunto de ações em todos os níveis de poder. A eficiência das políticas ambientais será medida pela integração de políticas públicas que ataquem problemas endêmicos da sociedade atual.

102 FARIAS, Paulo José Leite. Competência Federativa e Proteção Ambiental. Porto Alegre: Sergio

Antonio Fabris Editor, 1999, p. 226

Embora se refira a princípio de Direito Ambiental, cabe anotar que o referido princípio fundamenta aquilo que, insistentemente, tem-se tratado no decorrer deste trabalho, que é o fato do Direito Ambiental, como ramo interdisciplinar, guardar grande relação e influência com outros ramos de direito e, em especial, com a matéria de desenvolvimento urbano, e que, as políticas públicas urbanas deverão primar pela preservação ambiental.

Ainda são princípios específicos de Direito Ambiental os princípios da

prevenção e da precaução. O princípio da prevenção é considerado o mais importante

do Direito Ambiental, tendo em vista a possibilidade de irreversibilidade das condições ambientais em razão do possível dano ambiental. A proteção ambiental indica que devem ser adotadas medidas de prevenção que evitem a degradação ambiental, ou seja, que chegue a um patamar irreversível.

Em matéria processual, este princípio tem determinado a utilização de instrumentos pertinentes à tutela de urgência, concessões de liminares antecipatórias e medidas cautelares, com eficácia mandamental e executiva, a fim de evitar que o dano ambiental seja irreversível. O princípio da prevenção também fundamenta ações concretas administrativas, como o estudo de impacto ambiental, o licenciamento ambiental, o manejo ecológico, o tombamento e as sanções administrativas, etc.

O princípio da precaução anda lado a lado com o princípio da prevenção, o que significa dizer que o Direito Ambiental não se preocupa somente em evitar o dano, e sim com todo e qualquer risco ambiental caracterizado pela incerteza científica acerca da degradação. Este princípio prevalece quando a comunidade científica não tem conhecimento ou posição sobre os eventuais danos ao meio ambiente provocados pela atividade. O princípio da precaução vem expresso na Declaração do Rio de Janeiro (1992), nos seguintes termos:

“Princípio 15: De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”.

Tal princípio também foi considerado em duas Convenções Internacionais, ratificadas e promulgadas pelo Brasil: a primeira, Convenção da Dive rsidade Biológica, que entre os “considerandos” de seu Preâmbulo dispõe: “Observando também que,

quando exista ameaça de sensível redução ou perda da diversidade biológica, a falta de plena certeza científica não deve ser usada como razão para postergar medidas para evitar ou minimizar essa ameaça...”, e ainda, a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima que diz em seu art. 3º: “Princípio – 3. As partes devem adotar

medidas de precaução para prever, evitar ou minimizar as causas da mudança do clima e mitigar seus efeitos negativos. Quando surgirem ameaças de danos sérios ou irreversíveis, a falta de plena certeza científica não deve ser usada como razão para postergar essas medidas, levando em conta que as políticas e medidas adotadas para enfrentar a mudança do clima devem ser eficazes em função dos custos, de modo a assegurar benefícios mundiais ao menor custo possível”. A aplicação do princípio da precaução relaciona-se intensamente com a avaliação prévia das atividades humanas.

Tem-se ainda o princípio de Direito Ambiental do poluidor-pagador e da

responsabilização. Este princípio tem alicerce em dois fatores: um de caráter

preventivo, na medida em que busca evitar o dano, e o outro no aspecto repressivo, quando já ocorrida a lesão, sendo necessário haver a devida reparação. No primeiro sentido, cabe ao empreendedor (poluidor) adotar todas as despesas de prevenção de danos ao meio ambiente que sua atividade possa oferecer. Na segunda esfera, cabe ao poluidor arcar com a reparação dos danos causados ao meio ambiente, por força da atividade desenvolvida.

Este aspecto tem origem no princípio da equidade do direito romano que exprime que: “aquele que lucra com uma atividade deve responder pelo risco ou pelas

desvantagens dela resultantes”. Em matéria de proteção do meio ambiente, o princípio do usuário pagador significa que o utilizador do recurso deve suportar o conjunto dos custos destinados a tornar possível a utilização do recurso e os custos advindos em função da sua própria utilização. Este princípio tem por objetivo fazer com que estes custos não sejam suportados nem pelos Poderes Públicos, nem por terceiros, mas pelo próprio utilizador. Diferenciam-se dois momentos da aplicação do princípio, um momento é o da fixação das tarifas ou preços, e/ou da exigência de investimento na prevenção do uso do recurso natural, um outro momento é o da responsabilização residual ou integral do poluidor.

Este postulado também dá base para o princípio da responsabilização, ou seja, “...

a inserção de imputação de custos ambientais relacionada às atividades dos produtores”.104 Tratando deste princípio, a mesma doutrina aduz:

“Acredita-se que o perfil inicial do Estado, com características relevantes no que concerne à equidade ambiental, desenha-se, certamente, como um sistema compatível de responsabilização. Não há Estado Democrático de Direito se não é oferecida a possibilidade de aplicar toda espécie de sanção àquele que ameace ou lese o meio ambiente.

Dessa forma, exemplificativamente, de nada adiantariam ações preventivas e precaucionais se eventuais responsáveis por possíveis danos não fossem compelidos a executar seus deveres ou responder por suas ações.

(...)

A sociedade atual exige, portanto, que o poluidor seja responsável pelos seus atos, ao contrário do que prevalecia no passado, quanto ao uso ilimitado dos recursos naturais e culturais”.

Após uma abordagem sistêmica dos princípios de Direito Urbanístico e de Direito Ambiental, passar-se-à ao estudo das competências constitucionais. ou à determinação de deveres expressos na Constituição, em especial ao estudo da competência urbanística e ambiental do Município, foco da presente pesquisa.

104 BENJAMIM, Antonio Herman. Constitucionalização do Ambiente e ecologização da Constituição

Brasileira. In CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. Direito Constitucional

CAPÍTULO II – COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS URBANÍSTICAS E AMBIENTAIS: O MUNICÍPIO COMO ENTE DA COMPETÊNCIA LOCAL URBANA E AMBIENTAL