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CAPÍTULO IV – PLANO DIRETOR E SUA CONTRIBUIÇÃO NA

2. Plano Diretor e a indicação de um modelo de legislação e de proteção aos

2.2. Políticas públicas de gestão ambiental na lei do Plano Diretor

No item anterior foi proposta a possibilidade do Plano Diretor ser o ponto de partida da legislação ambiental, em face da competência do Município para legislar em função de seu interesse local. Neste item, que tem como título o Plano Diretor e as políticas públicas de gestão ambiental, propõe-se que os Municípios conjuguem no mesmo instrumento normativo da lei do Plano Diretor as políticas públicas de preservação do meio ambiente.

A Constituição Federal determinou, em matéria de proteção do meio ambiente, além das competências legislativas, competências ditas materiais ou executivas. As competências materiais ou executivas, constantes do artigo 23, incs. III, VI e VII, rezam que, a proteção de documentos e obras de valor histórico, paisagens naturais notáveis e

sítios de valor arqueológico, a proteção do meio ambiente, o combate à poluição e a preservação das florestas, da fauna e da flora, principalmente a partir do capítulo dedicado ao meio ambiente, constante do artigo 225 do Texto Magno, são competências concretizadas a partir de políticas públicas ou ações públicas voltadas a proteger interesses ambientais da coletividade.

Em matéria de preservação ambiental, além da tímida produção normativa pelo ente municipal, percebe-se também a inexistência de ações políticas pautadas na concreção de um sistema municipal de proteção ambiental, responsável por orientar políticas de preservação e de fiscalização. Poucos municípios brasileiros possuem órgãos ambientais e agentes munidos com o poder de polícia ambiental de forma a concretizar aquilo que vem determinado pela lei de política nacional do meio ambiente, de proteção e melhoria da qualidade ambiental.

A lei de política nacional do meio ambiente, em seu artigo 6°, determina a formação do Sistema Nacional do Meio Ambiente, que vem estruturado com órgãos do Governo Federal, do Governo Estadual e, especialmente no presente estudo, com os órgãos locais ou “os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e

fiscalização dessas atividades nas suas respectivas jurisdições”. O § 2° do mesmo artigo também determina aos Municípios, observadas as normas e padrões federais e estaduais, elaborar no rmas supletivas e complementares a padrões relacionados com o meio ambiente. Vladimir Passos de Freitas, tratando da Política Nacional do Meio Ambiente, traz lição de Lapoix, segundo:

“Se, por um lado, a política do meio ambiente deve ser conduzida em nível individual, local e regional, por outro deve ser também a maior preocupação dos governos e das nações. Já durou demais o método de intervenção ‘caso por caso’, produzindo resultados medíocres que não resistem à ação do tempo nem à pressão dos acontecimentos exteriores e dos interesses do Estado. Esses ‘remendos’ só servem para manter algumas zonas em estado de sobrevivência por algum tempo, até a próxima ‘complicação’. Esta não é a impressão apenas dos ecologistas, mas também de alguns responsáveis pelo manejo do território”.245

Não há dúvida, portanto, que aos Municípios são direcionadas importantes responsabilidades na execução de políticas públicas em meio ambiente. Os Municípios

245 FREITAS, Vladimir Passos. Direito Administrativo e Meio Ambiente. Curitiba: Editora Juruá, 2001, p.

deverão se organizar, administrativa e financeiramente, para incorporar nas administrações locais órgãos de proteção ambiental com profissionais técnicos e agentes de fiscalização. Deverão ainda, formar órgãos colegiados e Conselhos Municipais para apoiar e orientar políticas prioritárias de proteção ambiental, levando-se em consideração a participação da comunidade.

Neste sentido, propõe-se que a lei do Plano Diretor apresente as regras gerais de como a política de gestão urbana será harmonizada com a política de gestão ambiental, inclusive prevendo a criação de órgãos e a formação do Sistema Municipal de Meio Ambiente naqueles Municípios que ainda não o tiverem instituído.

A criação do Sistema Municipal de Meio Ambiente é matéria que sempre guardará dependência com os assuntos do desenvolvimento urbano, observa-se o exemplo de quanto as questões de parcelamento irregular do solo urbano tem influído na matéria de preservação do meio ambiente local. A existência de órgão local de gestão ambiental com poder de polícia e atuação legítima promoverá a atuação local em matéria de preservação ambiental. A criação do Sistema Municipal de Meio Ambiente deverá perquirir e desenvolver políticas locais de educação ambiental a fim de despertar a consciência ecológica da população. O dever da educação ambiental, incumbido a todos os entes federativos, será determinante para a concreção do princípio da gestão cooperada do meio ambiente.

Como a gestão ambiental pode se relacionar com a lei do Plano Diretor? Os municípios brasileiros poderão determinar na lei do Plano Diretor a criação do Sistema Municipal do Meio Ambiente e o respectivo órgão ambiental municipal; determinar a formação de órgãos colegiados, com representação legítima da sociedade civil; determinar ações prioritárias em proteção ambiental; propor fundos específicos destinados às políticas ambientais de preservação; determinar ações e projetos prioritários em matéria de proteção ao meio ambiente; determinar políticas de educação ambiental em nível local; integrar os órgãos municipais e conjugar políticas setoriais municipais, às políticas de preservação e educação ambiental.

É certo que a importância da gestão local do meio ambiente não guarda relação ou dependência com qualquer método legislativo utilizado para a criação de normas, ou seja, por meio das vias ordinárias ou pela via de elaboração da lei do Plano Diretor, deve o Município criar sua ordem jurídica de proteção ao meio ambiente. Todavia, entende-se pertinente e importante o tratamento dado pelo Município com respeito à

gestão ambiental, na lei do Plano Diretor, a fim de estabelecer um sistema coeso de legislação e proteção ao meio ambiente.