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comportamento 10 verbal concreto, desenvolvido por um agente situado nas coordenadas do espaço e do tempo” (BRONCKART, 2012, p 93) Conforme

5.3.2 Nível organizacional

O nível organizacional é composto pelos elementos que compõem o plano geral do texto e dos tipos de discurso, isto é, os seus aspectos estruturantes. “O plano geral refere-se à organização de conjunto do conteúdo temático; mostra-se visível no processo de leitura e pode ser codificado em um resumo” (BRONCKART, 2012, p. 120). Para a sua identificação, são considerados os fatores de ordem linguística, que organizam o texto; os elementos peritextuais, que dizem respeito às mudanças de capítulos, das partes que constituem o texto; os cotextuais, que condizem com as introduções apresentadas para sinalizar os capítulos que compõe

o texto. Além disso, são levados em consideração todos os conhecimentos prévios sobre os gêneros textuais, sobre os elementos que organizam e estruturam determinado texto. Somado a isso, também é possível identificar os actantes principais apresentados nos textos (MACHADO; BRONCKART, 2009, p. 54-55).

Já os tipos de discurso representam as “formas linguísticas12

que são identificáveis nos textos e que traduzem a criação de mundos discursivos13 específicos [...]” (BRONCKART, 2012, p. 149). Esses mundos discursivos associam- se a partir de mecanismos textuais e enunciativos que garantem a sequenciação textual.

De acordo com Bronckart (2012), os mundos discursivos são constituídos por dois subconjuntos de operações. O primeiro conjunto direciona-se para “a relação existente entre as coordenadas gerais que organizam o conteúdo temático de um texto e as coordenadas gerais do mundo ordinário em que se desenvolve a ação de linguagem de que o texto se origina” (BRONCKART, 2012, p. 152). Já o segundo conjunto, diz respeito

[...] ao relacionamento entre, de um lado, as diferentes instâncias de agentividade (personagens, grupos, instituições, etc.) e sua inscrição espaço-temporal, tais como são mobilizadas em um texto, e, de outro, os parâmetros físicos da ação de linguagem em curso (agente-produtor, interlocutor eventual e espaço-tempo de produção) (BRONCKART, 2012, p. 152).

De acordo com Bronckart (2012), as coordenadas gerais que sistematizam o conteúdo temático de um texto são resultado de uma construção de caráter binário, ou seja, as coordenadas são apresentadas de forma disjunta ou conjunta. Disjunta, quando as coordenadas de conteúdo temático são apresentadas separadamente das coordenadas gerais do mundo ordinário. Quando o distanciamento não ocorre, as coordenadas temáticas são apresentadas de forma conjunta, unidas às ações de linguagem. A seguir, são apresentados exemplos que ilustram esses dois tipos de coordenadas. 12 Grifos do autor. 13 Grifos do autor.

Quadro 3 - Coordenadas disjunta e conjunta

Disjunta

Era uma vez um lugar mágico.

Referência espaço/temporal distante da ação de linguagem.

Conjunta

Hoje estudei muito.

Referência espaço/temporal coincidente com a da ação de linguagem.

Fonte: (BARRICELLI, 2007).

Se o conteúdo temático está organizado em um mundo disjunto, as representações referir-se-ão a fatos passados, a fatos futuros ou imaginários. Nesse contexto, as disjunções estarão organizadas, segundo Bronckart (2012), em uma

origem espaço-temporal, em que os fatos serão narrados como se fossem algo do

passado. Caso o conteúdo temático esteja organizado em um mundo conjunto, os fatos não serão mais narrados, mas expostos.

De acordo com Bronckart (2012), a ordem do NARRAR, refere-se a um mundo discursivo que está localizado em “outro lugar”, mas esse mundo pode ser interpretado pelos sujeitos que lerão o texto - encontra-se o narrar em romances, contos, fábulas ou parábolas. Esse mundo pode ser dividido em NARRAR realista, que se organiza a partir de um conteúdo que pode ser analisado e interpretado conforme elementos que fazem parte do mundo ordinário, e NARRAR ficcional, em que o conteúdo pode ser passível de uma avaliação parcial. Já na ordem do EXPOR, os elementos serão sempre objetos de uma análise de conhecimentos que fazem parte do mundo ordinário, sendo admissível que alguns elementos sejam considerados como falsos.

Para Bronckart (2012), ainda é possível que se estabeleça uma oposição binária, entre os elementos de explicitação de um texto com a ação de linguagem. Ou o texto, ou o segmento de um texto, “explicita a relação que suas instâncias de agentividade mantêm com os parâmetros materiais da ação de linguagem (agente- produtor, interlocutor eventual e sua situação no espaço-tempo); ou essa relação não é explicitada” (BRONCKART, 2012, p. 154).

No primeiro caso, o texto implica que os parâmetros materiais da ação de linguagem, através de referências dêiticas, garantam uma relação com o próprio conteúdo temático. No segundo caso, em que não há uma relação explícita, o texto

configura-se de forma autônoma. Com essas distinções, Bronckart (2012) define os quatro mundos discursivos:

a) Mundo do EXPOR implicado; b) Mundo do EXPOR autônomo; c) Mundo do NARRAR implicado; d) Mundo do NARRAR autônomo.

De acordo com Bronckart (2012), ainda é relevante esclarecer que as operações psicológicas constitutivas dos mundos são gerais – universais. Já as marcas linguísticas que traduzem os mundos são propriedades naturais. Por esse fato, buscou-se uma distinção entre tipo linguístico e tipo psicológico, uma vez que o tipo linguístico corresponde a propriedades morfossintáticas e semânticas particulares. Já o tipo psicológico diz respeito a propriedades abstratas ou a tipos de discurso que se referem a uma propriedade pura, isto é, sem uma semântica particular que conceba formas específicas. Com relação a isso, no quadro a seguir é possível identificar os tipos psicológicos que correspondem aos mundos discursivos:

Quadro 4 - Os tipos de discurso

Coordenadas gerais dos mundos

Tipos de Discurso Conjunção

EXPOR

Disjunção NARRAR

Relação ao ato de produção

Implicação Discurso interativo Relato interativo

Autonomia Discurso teórico Narração

Fonte: Bronckart (2012).

O discurso interativo refere-se a um conjunto do mundo ordinário do agente, em que ocorre a implicação das ações de linguagem, que compreende a interação entre agentes e o espaço em que a interação acontece. O discurso teórico também faz parte do conjunto do mundo ordinário do agente. Entretanto, esse conjunto faz parte do objeto EXPOR e apresenta autonomia com relação às ações de linguagem. Sendo assim, esse conjunto não requer nenhum conhecimento anterior sobre a situação de linguagem originária.

No relato interativo, são criados mundos disjuntos, de origem espaço- temporal. Nesses mundos se desenvolve o NARRAR, que implica na apresentação de personagens e situações que se caracterizam através de “parâmetros físicos de ação da linguagem” (BRONCKART, 2012, p. 162).

Por fim, na narração são criados mundos disjuntos em que se desenvolve um NARRAR com a presença de personagens e acontecimentos. Em contraposição ao relato interativo, esse NARRAR torna-se autônomo no que concerne aos parâmetros físicos de linguagem.

Dando continuidade, apresentamos o nível enunciativo.

5.3.3 Nível enunciativo

O nível enunciativo contribui para a preservação da coerência pragmática de um texto. Nesse nível, buscamos analisar as marcas de pessoa e as avaliações (elementos de modalização).

As marcas de pessoa permitem identificar “como o texto representa o enunciador no agir representado” (MACHADO; BRONCKART, 2009, p. 59). Em outras palavras, é possível analisar as atribuições designadas aos pronomes pessoais que fazem parte de determinado agir. Machado e Bronckart (2009) exemplificam as marcas de pessoa com os pronomes pessoais eu, nós e a gente. “Eu trabalho com livros didáticos X nós trabalhamos com livros didáticos X a gente trabalha com livros didáticos” (MACHADO; BRONCKART, 2009, p. 59). Os dois últimos enunciados, com os pronomes pessoais nós e a gente, podem ser identificados, conforme os mesmos autores, como um agir coletivo, que de acordo com o contexto, designará uma forma mais restrita ou mais ampla.

Com relação aos modalizadores enunciativos, esses são considerados como “todas as unidades linguísticas que exprimem a posição de uma instância enunciativa sobre o conteúdo da proposição enunciada” (MACHADO; BRONCKART, 2009, p. 61). De acordo com Bronckart (2012, p. 330), “as modalizações pertencem à dimensão configuracional14 do texto, contribuindo para o estabelecimento de sua coerência pragmática ou interativa e orientando o destinatário na interpretação de seu conteúdo temático”. Com base em múltiplas classificações, Bronckart (2012)

14

propõe quatro categorias de modalizadores enunciativos:

i) modalizações lógicas: diz respeito ao valor de verdade das proposições enunciadas, marcadas como certas, possíveis, prováveis, improváveis.

ii) modalizações deônticas: consiste na avaliação do enunciado tendo em vista fatores sociais, fatos permitidos, proibidos, desejáveis, necessários.

iii) modalizações apreciativas: refere-se a uma avaliação subjetiva e considera os fatos como bons ou maus.

iv) modalizações pragmáticas: consiste na realização de julgamentos tendo em vista os personagens que se enquadram no texto. Nesse caso, considera-se a capacidade de ação, de intenção e as razões.

Com relação a esse conjunto de modalizadores, identifica-se a sua presença a partir de unidades linguísticas, nomeadas de modalidades. Nesse conjunto, enquadram-se “os tempos do verbo no futuro do pretérito, os auxiliares de modalização (poder, ser preciso, dever, etc.), um subconjunto de advérbios (certamente, sem dúvida, felizmente, etc.), certas frases impessoais (é evidente que...; é possível que...)” (BRONCKART, 2012, p. 132).

De acordo com Bronckart (2012), a modalização lógica pode ser observada nos seguintes exemplos: que... deve ter existido; ... que sem dúvida refletia. A modalização apreciativa é evidenciada na seguinte proposição: acreditaremos sem esforço. Já a modalização pragmática é demonstrada nos seguintes exemplos: que ele poderia abrir; não podia descobrir.

Finalizada essa parte, apresentamos, na sequência, o nível semântico.