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2 INTEGRAÇÃO REGIONAL: ESTADOS E TERRITÓRIOS

3.7 NASCE O IMPÉRIO DO BRASIL

Como primeiro Estado-Nação a empreender a tentativa de unificar a Europa, a França napoleônica confronta o poderio marítimo britânico e ameaça seus interesses internacionais, impondo o Bloqueio Marítimo ou o fechamento dos portos europeus para os navios britânicos. O objetivo da França é estrangular o comércio do inimigo. A Grã-Bretanha, por sua vez, como rainha dos mares e núcleo de império mundial, corta as rotas oceânicas e ataca as bases coloniais francesas. Nesse cenário, os países aliados da Inglaterra, caso de Portugal, são atacados por Napoleão, quando então a família real portuguesa se transfere para o Brasil (1808), sob escolta dos ingleses, enquanto na Espanha o rei é destronado a favor do irmão de Napoleão. É assim que a disputa europeia muda para sempre a história das colônias luso- espanholas do Novo Mundo, pois resulta na derrota das forças coloniais espanholas na América Latina, na penetração britânica no Caribe e na criação e consolidação do Império do Brasil.

A construção do Império do Brasil deu-se, porém, em um momento de profunda crise do Estado imperial português; assim, a inserção do país na divisão internacional do trabalho, nos quadros do nascente imperialismo inglês (RICUPERO; OLIVEIRA, 2007, p. 61), ocorre sob tutela inglesa e em regime de total subalternidade ao ideário liberal. A decretação da Abertura dos Portos (1808) brasileiros às nações amigas, ao mesmo tempo em que põe fim aos três séculos de exclusivismo comercial com Portugal, liquidando o “pacto colonial”, beneficia principalmente os interesses ingleses (ALMEIDA, 2001, p. 93)23. Ao mesmo tempo, porém, a transplantação da Corte Portuguesa para a colônia portuguesa evitou que ocorresse nos domínios lusitanos a crise de legitimidade verificada no império colonial hispânico, brecha que acelerou o processo de fragmentação dos domínios espanhóis sul-americanos. Foi- se o regime de monopólio colonial hispano-lusitano, dando passagem para o imperialismo britânico sob regime econômico liberal.

Desse modo inicia-se a transição do mercantilismo para o liberalismo, de mudança da dependência de Portugal para a Grã-Bretanha, de um tipo de império para outro. Para Almeida, a Abertura dos Portos representa uma espécie de documento fundador do país. Situa-se ao lado do Tratado de Tordesilhas, da Carta de Pero Vaz de Caminha e do Tratado de Madri, pois, a partir da abertura dos portos, o comércio exterior do Brasil passa a conhecer

23 O “pacto colonial”, como se sabe, é o estabelecimento de vínculos incontornáveis entre as diversas Colônias e a Metrópole, pelos quais todo e qualquer comércio externo tinha como centro e órgão regulador as Alfândegas de Lisboa (ALMEIDA, 2001).

uma fase de notável expansão (ALMEIDA, 2001, p. 93). A política de modernização do país tem seu epicentro no Rio de Janeiro, dentro da pretensão de se construir moderno Estado- nação, no sentido de Vestfalia, após o corte das amarras coloniais. A Coroa portuguesa em crise libera a criação de indústrias, funda o Banco do Brasil, a Imprensa Nacional, a Biblioteca Nacional e, para vingar-se dos franceses, ataca e ocupa a Guiana Francesa que capitula em janeiro de 1809.

Mas quem pagará as faturas devidas à Inglaterra em razão do seu apoio político-militar à Coroa portuguesa é a economia do Brasil. São assinados com os ingleses diversos tratados, sendo os principais os Tratados de Aliança e Amizade (1810) e o de Comércio e Navegação (1810), sendo que este último se estendeu até julho de 1935 (SILVA, GONÇALVES, 2009). A Inglaterra exige o direito de extraterritorialidade através do qual os súditos ingleses radicados em domínios portugueses não se submeteriam às leis portuguesas. Assim, esses súditos elegeriam seus próprios juízes, que os julgariam segundo as leis inglesas. Por outro lado, os portugueses residentes em domínios britânicos não gozariam dos mesmos direitos considerando que o príncipe regente aceitou, resignadamente, a “reconhecida equidade da jurisprudência britânica” e a “singular excelência da sua Constituição”, embora os britânicos não tenham reconhecido nenhuma equidade na jurisprudência lusitana.

Outro aspecto do Tratado de 1810 reside no direito assegurado à Inglaterra de colocar suas mercadorias no Brasil mediante a taxa de 15% ad valorem, enquanto os produtos portugueses pagavam 16%, isto é, 1 % a mais que os ingleses! Os demais países estavam submetidos à taxação de 24% em nossas alfândegas. Em síntese, a extrema brutalidade dos tratados impostos pela Inglaterra não foi obra do acaso, mas fruto da pesada pressão econômica que o bloqueio napoleônico exerceu sobre a Inglaterra, e, principalmente, preço pago pelo país à proteção dos ingleses para a Coroa portuguesa na colônia sul-americana.

De fato, as guerras napoleônicas, e suas consequências para a economia inglesa, tornaram premente a necessidade de abrir novos mercados, sob pena de a Inglaterra sucumbir às pressões da conjuntura. A quebra do pacto colonial era vital para a Inglaterra, pois, sem escoamento, mercadorias estavam se acumulando. E os ingleses não tiveram nenhuma dificuldade para estabelecer seus interesses no Brasil, que se transformou em grande importador de produtos ingleses, com isso trazendo modificação radical na sua posição dentro do mercado internacional: o país sai da órbita do colonialismo mercantilista português para ingressar na dependência do capitalismo industrial inglês.

A abertura dos portos revela-se na verdade uma espécie de regime do comércio preferencial e desigual, ao contrário dos princípios da igualdade e da não discriminação, pilares do livre comércio, pois, o Tratado de Comércio e Navegação de 1810, privilegiou apenas um país – a Inglaterra. Nesse sentido, para Ricupero e Oliveira (2007, p. 37), há unanimidade dos historiadores brasileiros na condenação desses tratados: Oliveira Lima, Roberto Simonsen, Caio Prado Jr., Celso Furtado e, especialmente, Hipólito José da Costa. Para este os tratados entre Portugal e Inglaterra não poderiam servir de precedentes a um tratado envolvendo o Brasil porque os interesses deste não coincidiam com os interesses da debilitada Coroa portuguesa. “Não se estenderiam, com efeito, à colônia os laços principais de complementaridade de exportações e interesses mútuos de defesa que uniam as duas monarquias europeias” (Ibid., p. 36). É que a Inglaterra, estabelecida firmemente no Caribe, era abastecida pelos produtos caribenhos, açúcar, principalmente, concorrentes dos produtos brasileiros; e, no aspecto de defesa, a proteção naval inglesa, indispensável à proteção ultramarina de Portugal, era desnecessária ao Brasil, continente isolado em relação aos centros europeus (Ibid., p. 37).

O fim das Guerras Napoleônicas, com o Congresso de Viena, em 1815, inaugura formalmente a nova ordem que se move sob a influência dos interesses ingleses, pautados pelo “Rei Carvão e o Rei Algodão” (MCMILLAN; HARRIS, 1968, p. 19), e não mais pela acumulação de ouro e prata. Sob a “pax britânica”, de 1815 até 1914, Polanyi (2000, p. 19) destaca que o mundo assiste um período de cem anos de paz, fenômeno sem precedentes nos anais da civilização ocidental. Para Calmon (2002, p. 176) nesse período “[...] o livre cambismo, a franquia mercantil, o curso livre das mercadorias, o industrialismo, substituíam- se às velhas ideias proibitivas, protecionistas, monopolistas”.

Foi nesse cenário que em 1816 o Brasil Império apresenta-se com todas as características de país soberano, quando foi elevado à categoria de Reino Unido aos de Portugal e Algarves. Dessa forma nasce formalmente uma entidade política dotada de precisa territorialidade subordinada ao poder de um mesmo príncipe, que para Jancsó e Pimenta (2000, p. 155) torna pensável, a partir daí, a nação brasileira se referida ao Estado – o Reino do Brasil – que define seus contornos como uma comunidade politicamente imaginável. Lima (2010, p. 168) destaca que a monarquia conseguiu na América Latina, “[...] em um período anárquico para quase todo o resto do continente, representar a paz doméstica associada à liberdade [...]. A unidade do Brasil saiu majestosa da prova, ao lado do malogro da organização de uma grande nação ou confederação hispano-americana [...]”. (Ibid., p. 146).

Essa unidade nacional foi posta à prova no momento da revolução do Porto de 1820, que forçou o retorno de D. João VI para Portugal em 1821, deixando D. Pedro I, Príncipe Regente do Brasil, que proclamou a Independência em 1822. Para Silva e Gonçalves (2009, p. 41) este fato foi apenas um acordo entre os Braganças de Portugal e do Brasil, com aval britânico em um processo sem ruptura conflituosa: “[...] precisamente porque no Brasil se encontrava um governo constituído pela tradição e pela legitimidade” (LIMA, 2010, p. 70), além de conveniente para a Inglaterra naquele contexto de subordinação brasileira aos interesses ingleses. Essa face dependente e submissa do país frente à Inglaterra forma um dos traços da política externa do Brasil Monárquico (SILVA; GONÇALVES, 2009, p. 13). Cervo e Bueno (2008, p. 48) destacam que foi a disposição injustificável do governo de mendigar o reconhecimento da nacionalidade que levou ao sistema dos tratados com a Inglaterra que impôs cláusulas leoninas ao Brasil, pois sacrificavam o comércio nacional, a navegação, o direito dos cidadãos, as indústrias e a soberania.

Situação bem diferente da posição das colônias americanas frente os ingleses na década de 1770 e quatro décadas depois os EUA despontam como potência regional. E, no exercício da construção dessa liderança, o presidente Monroe sintetiza a visão americana sobre a questão regional no lema: “América para os americanos”, de 1823, síntese dos objetivos estratégicos estadunidenses de expansão e consolidação de sua hegemonia sobre o Hemisfério Ocidental. Tratavam de assegurar as fontes de matérias-primas e mercados sul- americanos para seus produtos industrializados ao mesmo tempo em que reduziam a presença econômica da Inglaterra e de outras potências industriais europeias.

Por essas razões práticas, os Estados Unidos tinham interesse em logo reconhecer a Independência do Brasil, que ocorreu em 26 de maio de 1824, quando o presidente James Monroe recebeu José Silvestre Rebello, como Chargé d'Affaires24 do Brasil para os Estados Unidos. E, em 1825, o governo americano nomeia seu Encarregado de Negócios para o Brasil. A representação americana no Brasil foi elevada à condição de Embaixada, em 1905, no Rio de Janeiro (U.S. DEPARTMENT OF STATE, 1985).

Depois que os EUA reconheceram a Independência do Brasil não restava alternativa à Portugal senão fazer o mesmo (1825), com a intermediação da Inglaterra, que também reconheceu a independência brasileira. Com a descolonização e a Independência, o Brasil integrava-se no concerto das nações. Na Europa, movimentos revolucionários continuaram a ocorrer, em 1820, 1830 e 1848. E à medida que o século XIX chegava ao fim, desapareciam

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também os poderes e influências de Portugal e Espanha. Afinal, já no meado do século XIX, mais da metade dos navios que sulcavam os mares era de construção britânica e a sua maior parte desfraldava a bandeira inglesa (MCMILLAN; HARRIS, 1968, p. 19). Registre-se, porém, que desde 1808, com a abertura dos portos brasileiros, o interesse dos EUA pelo Brasil aumentou bastante e já em 1816 os navios norte-americanos ocupavam o terceiro lugar (CERVO; BUENO, 2008, p. 44).

Por outro lado, a outrora potência espanhola encontra-se em franco declínio econômico, militar e político. Na América do Sul, seu Império Colonial de Nova Granada, Peru e Rio de la Plata fragmenta-se, dando origem a diversos novos Estados; por sua vez o Império do Brasil consegue manter a unidade política e territorial do país, assegurada internamente após a Proclamação da Independência através da Guerra da Independência (1823-1824)25. Poucos anos depois, o Império do Brasil e o Império de Portugal e Algarves, com a interveniência da Inglaterra, assinam o Tratado de Paz e Aliança (29/08/1825) reconhecendo as fronteiras do novo país e a soberania do Brasil, mantendo D. João VI o título de Imperador do Brasil.

De todo modo, o Império do Brasil, assim como todos os novos Estados nacionais sul americanos tiveram que enfrentar os três primeiros imensos desafios de suas histórias: i) obter o reconhecimento internacional de suas soberanias e equacionar a amortização de suas dívidas externas perante os banqueiros europeus; ii) assegurar a posse e controle de seus territórios mediante a definição e demarcação de suas fronteiras internacionais; e, na dimensão interna, organizar, implantar e fazer funcionar o Estado nacional, o que implicou na colônia portuguesa na consolidação do Estado nacional brasileiro, organizado primeiro sob a forma de Império e, oito décadas depois, como República Federativa; nos países vizinhos, as lutas pelo controle político dos territórios foram mais longas e sangrentas entre Federalistas (regionalistas) e Centralistas, as quais resultaram na fragmentação política e territorial da América hispânica, dando origem às atuais Repúblicas Federativas da América do Sul; iii) reorganizar, ampliar e manter o controle sobre suas economias (produção e comércio por vias internas e comércio internacional) e fazer suas inserções na divisão internacional do trabalho, dentro da melhor trajetória possível.

25 No pensamento político do século XIX brasileiro a monarquia era associada à unidade nacional. E as elites imperiais projetavam nos demais países sul-americanos a ideia da desordem e da anarquia republicana. O problema representado pela proclamação de 1889 era a possibilidade de dissolução da nação em várias repúblicas, o que não ocorreu (MESQUITA, 2010, p. 123-124).

Em tal contexto, a título de indenização, o Império do Brasil se obrigou pagar dois milhões de libras esterlinas para Portugal e a recusar proposição de aliança ou união com qualquer colônia de Portugal, basicamente as colônias africanas; o comércio bilateral com Portugal foi restabelecido com tarifa de 15% “ad valorem” sobre todas as mercadorias chegadas ao Brasil. Dessa forma onerosa para os brasileiros foram assegurados a paz e o comércio entre Brasil e Portugal e os interesses financeiros da Inglaterra e os coloniais de Portugal na África. Ao reconhecer a soberania brasileira, Portugal reconhece os limites territoriais do Brasil, ratificados pela Constituição brasileira de 1824. A ideia de Brasil se consolida por volta dos anos 1840-50 (MOTA, 2000, p. 203), tomando forma sob a preeminência dos interesses ingleses.

Em relação a Bacia do rio da Prata, após diversos resultados desfavoráveis, o Brasil firma com a Província Cisplatina uma Convenção Preliminar de Paz, com a intermediação da Inglaterra, onde os dois países pactuaram desistir do controle da região e reconhecerem a independência da República Oriental do Uruguai. Mais tarde, em 1851, foi assinado o Tratado de limites entre o Brasil e o Uruguai (1851), resolvendo o problema. Com o Paraguai foi firmado um Tratado de Paz em 1872, cujas fronteiras foram estabelecidas ao final da Guerra da Tríplice Aliança. Silva e Gonçalves (2009, p. 116) destacam que depois da perda da Cisplatina em 1828, a diplomacia brasileira passou a operar para superar as prevenções dominantes na América do Sul contra o Brasil, motivadas pela “[...] sua origem, pela sua forma de governo monárquico e pela sua preeminência territorial e política”.

A compreensão dessas diferenças adquire dimensão deveras importante na medida em que fixaram estruturas que se reproduzem no tempo histórico como padrões políticos, econômicos e culturais, começando pela transformação do sistema colonial mercantilista e seus monopólios para os direitos preferenciais. Se na América portuguesa o processo de mudança é regular como regular foi a dependência de Portugal nesses anos de exílio, sob a proteção interesseira e espoliativa dos ingleses; na América Hispânica a fragmentação e a diversidade de situações constituem a regra, onde o processo nem sempre se manifesta por meio de documentos formais de certa durabilidade.

O contrabando, os arranjos ad hoc, a flexibilização das importações concedidas ora por autoridades peninsulares, ora por líderes revolucionários, se alternam continuamente com retrocessos quanto às regras de comércio exterior e intento de reafirmação monopolista, onde o regime exclusivo não é extirpado de um só golpe, como ocorreu no Brasil com a Carta Régia de 1808. Para Ricupero e Oliveira (2007, p. 40), a Corte portuguesa controlou de forma

centralizada a mudança de um sistema para o outro, de perfeita uniformidade em todo o território, sem maiores diferenças entre as várias regiões, do que então se costumava denominar “os Brasis”.

A Inglaterra utilizou o Rio de Janeiro como base de ação para projetar seus interesses na América espanhola: em Buenos Aires (1806-1807), Montevidéu, Chile (1818), Lima (1821), sendo o avanço mais lento e menos completo nos países do mar das Antilhas, cenário da difícil e sangrenta guerra de independência de dez anos na Venezuela e Nova Granada (RICUPERO; OLIVEIRA, 2007, p. 41). Aos poucos a Grã-Bretanha expande seus domínios econômicos na região, ao ponto de suas exportações alcançarem 35% do total das vendas externas da Inglaterra em 1809 e 1811, as quais se mantiveram expressivas entre 1820 e 1850, metade para a América espanhola, metade para o Brasil (Ibid., p. 42).

3.7.1 Questões territoriais pendentes do período colonial

Do período colonial, algumas importantes questões territoriais ficaram pendentes de solução, mas foram resolvidas ainda pelo Império, como a da Província Cisplatina, em 1828, com a mediação inglesa, da qual resulta a criação da República Oriental do Uruguai; independente desde 1811, a trajetória do Paraguai teve pela frente a Guerra contra Brasil, Argentina e Uruguai (1865-1870), mas em 1872, os dois países assinaram o tratado que fixou os limites das suas fronteiras nacionais. O Brasil teve que enfrentar ainda após a Proclamação da República (1889) as questões do Amapá (1894-1900), com a França; do Acre (1899-1903), com a Bolívia e a do Pirara (1904), com a Inglaterra, todas envolvendo conflitos sobre os limites territoriais da Amazônia.

No caso do Amapá, embora o Tratado de Utrecht (1713) tivesse estabelecido os limites entre o Brasil (Amapá) e a Guiana Francesa pelo rio Oiapoque ou Vicente Pinzón, esse limite foi contestado posteriormente pela França (Napoleão I e Napoleão III). Por arbitramento o problema foi resolvido favoravelmente ao Brasil. No caso do Acre (1899- 1903), o Brasil assinara em 1867 o Tratado de Ayacucho (nov. 1867), reconhecendo parte do estado do Acre e sudoeste do Amazonas como pertencente à Bolívia. E declarara livres as suas comunicações com a Bolívia através das fronteiras, isentando os impostos e abrindo aos bolivianos a navegação do rio Madeira (SOUZA, 2009, p. 249). Essa decisão ocorreu no contexto da decisão brasileira de abrir, em dezembro de 1866, a navegação no rio Amazonas e de seus principais afluentes aos navios mercantes de todas as bandeiras.

Souza (2009) assinala que o Império do Brasil tinha interesse na abertura de um caminho que ligasse a Província de Mato Grosso ao oceano Pacífico, ao mesmo tempo em que concedia o mesmo benefício à Bolívia. Ainda em 1872, foi feita a primeira tentativa de construção da ferrovia, que não progrediu, retomada décadas depois como ferrovia Madeira- Mamoré e inaugurado o trecho Porto Velho e Guajará-Mirim em 1912.

Nessas alturas, em razão do ciclo da borracha, seringueiros, migrantes nordestinos na sua maioria, ocuparam o território já reconhecido como boliviano e proclamaram em 1899, o Estado Independente do Acre. O problema dessa fronteira foi resolvido em 1903 pelo Tratado de Petrópolis, mediante indenização à Bolívia, em dinheiro, e outras compensações oferecidas pelo Brasil. Finalmente na região amazônica foi também resolvida a Questão do Pirara (1904) envolvendo parte do território do atual estado de Roraima e a então Guiana Inglesa. Submetida ao arbitramento do rei Vítor Emanuel III da Itália, este dividiu a área pleiteada entre as partes (1904), cabendo a parte maior à Grã-Bretanha. Na atualidade não há nenhuma pendência de definição de limites de fronteiras envolvendo os territórios da Amazônia brasileira.