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2.1. SISTEMA ORÇAMENTÁRIO NO BRASIL

2.1.6. Normas Contábeis aplicadas ao setor público

Com o advento da globalização, os mercados sofreram evoluções significativas em suas estruturas e processos de negociações nacionais e internacionais.

Oliveira et al. (2008) relata que um dos grandes desafios da contabilidade no cenário atual é lidar com o intenso volume de informações trazidas pela tecnologia e também a

necessidade de se adequar a harmonização das normas contábeis em nível internacional, exigindo que os profissionais estejam cada vez mais qualificados.

A harmonização internacional das normas contábeis, refere-se a uma relação existente com investidores estrangeiros uma vez que a explicação sobre as diferenças existentes entre um país e outro é difícil, o que pode provocar uma descrença no país e por parte destes (OLIVEIRA et al, 2008).

Para tanto, a harmonização das normas contábeis no que se diz respeito ao âmbito internacional, resulta em uma melhoria na qualidade de informações pois possibilita uma comparação dos demonstrativos pelos usuários. Considerando essas evoluções, a contabilidade comercial brasileira foi afetada em diversos aspectos, implicando em mudanças expressivas no escopo da ciência contábil (BOTELHO; NIYAMA; RODRIGUES, 2013).

Estas mudanças podem ser constatadas com a análise da Lei nº 11.638/07, que altera a Lei das Sociedades por Ações nº 6.404/76

Por meio desta lei, a contabilidade comercial brasileira aderiu à Internacionalização das Normas de Contabilidade, ou seja, a convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade às Normas Internacionais de Contabilidade – IFRS (International Financial Reporting

Standards), emitidas pelo IASB. Entretanto, para a Contabilidade Aplicada ao Setor Público, o

cenário não foi diferente. A International Federation of Accountants – IFAC criou, em 2000, o

Public Sector Comitte – PSC (Comitê do Setor Público), iniciando assim a emissão das

primeiras International Public Sector Accounting Standards – IPSAS (CRUVINEL; LIMA, 2011).

No Brasil, com a publicação da Portaria nº 184/08 pelo Ministério da Fazenda, bem como das dez primeiras Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBCASP) e pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), se iniciou o processo de convergências das NBCASP às IPSAS, trazendo mudanças significativas no registro e evidenciação dos atos e fatos que modificam o patrimônio público (CRUVINEL; LIMA, 2011). Sendo assim, o quadro 3 demonstra as Normas Brasileiras Aplicadas ao Setor Público (NBCASP), publicadas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) com seus respectivos objetivos:

Normas Contábeis aplicadas ao setor Público expedidas (NCASP) pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC)

Resolução CFC

001128/2008 NBCT 16.1 - Conceituação, Objeto e Campo de Aplicação Estabelecer a conceituação, o objeto e o campo de aplicação da Contabilidade Aplicada ao Setor Público.

Campo de Aplicação: abrange todas as entidades do setor público as quais devem observar as normas e as técnicas próprias.

Unidade Contábil: soma, agregação ou divisão de patrimônio de uma ou mais entidades do setor público resultará em novas unidades contábeis.

001129/2008 NBCT 16.2 - Patrimônio e Sistemas Contábeis Estabelecer o conceito de patrimônio público, sua classificação sob o enfoque contábil, o conceito e a estrutura do sistema de informação contábil.

O sistema contábil está estruturado nos seguintes subsistemas de informações: a) orçamentário – registra, processa e evidencia os atos e os fatos relacionados ao planejamento e à execução orçamentária; b) patrimonial – registra, processa e evidencia os fatos financeiros e não financeiros relacionados com as variações qualitativas e quantitativas do patrimônio público; c) custos – registra, processa e evidencia os custos dos bens e serviços, produzidos e ofertados à sociedade pela entidade pública;

d) compensação – registra, processa e evidencia os atos de gestão cujos

efeitos possam produzir modificações no patrimônio da entidade do setor público, bem como aqueles com funções específicas de controle.

001130/2008 NBCT 16.3 - Planejamento e seus Instrumentos sob o Enfoque Contábil

Estabelecer as bases para controle contábil do planejamento desenvolvido pelas entidades do

Setor Público, expresso em planos

hierarquicamente interligados.

Implica em estabelecer as bases para o controle contábil do planejamento desenvolvido pela entidade do setor público. Seus principais pontos são: planejamento - processo contínuo e dinâmico, que define: objetivos, metas, meios, metodologias, prazos de execução, custos e responsabilidades, materializados em planos hierarquicamente ligados - e planos hierarquicamente interligados - são documentos elaborados com a finalidade de materializar o planejamento, através do PPA, LDO, LOA, que são instrumentos de planejamento. O processo de planejamento e orçamento confere ao PPA, à LDO e à LOA atuação integrada, compondo o Sistema de Planejamento: o PPA estabelece o planejamento de médio e longo prazo, por meio dos programas e ações de governo; a LOA fixa o planejamento de curto prazo, ou seja, materializa as ações e programas previstos no PPA, por meio de projetos, atividades e operações especiais; e à LDO, por sua vez, cabe o papel de estabelecer a ligação entre esses dois instrumentos, destacando do PPA os investimentos e gastos prioritários que deverão compor a LOA e definir as regras e normas que orientarão a elaboração da lei orçamentária para o exercício seguinte.

001131/2008

NBCT 16.4 - Transações no Setor Público

Estabelecer conceitos, natureza e tipicidades das transações no Setor Público.

As transações no setor público promovem alterações quantitativas (são transações que modificam o patrimônio líquido da entidade) e as qualitativas (estas alteram a composição de elementos sem afetar o patrimônio líquido).

001132/2008

NBCT 16.5 - Registro Contábil

Estabelecer critérios para o registro contábil dos atos e dos fatos que afetam ou possam vir afetar o patrimônio das entidades do Setor Público.

As transações no setor público devem ser reconhecidas e registradas integralmente no momento em que ocorrem.

Sendo assim, seus efeitos devem ser evidenciados nas demonstrações contábeis dos exercícios financeiros com os quais se relacionam pelos respectivos fatos geradores, independentemente do momento da execução orçamentária. 001133/2008 NBC T 16.6 - Demonstrações Contábeis Estabelecer as demonstrações contábeis a serem elaboradas e divulgadas pelas entidades do Setor Público.

A norma 16.6 foi aprovada pela Resolução CFC Nº1.133 / 2008 e alterada pela resolução CFC 1.268/09, nela é estabelecida as demonstrações contábeis que serão elaboradas e divulgadas pela entidade do setor público. As demonstrações aplicadas ao setor público são o Balanço Patrimonial; Balanço Orçamentário; Balanço Financeiro; Demonstrações das Variações Patrimoniais (DVP); Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC); Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) e as Notas Explicativas. 001134/2008 NBC T 16.7 - Consolidação das Demonstrações Contábeis Estabelecer conceitos, abrangência e procedimentos para consolidação das demonstrações contábeis no Setor Público.

No texto de Consolidação das Demonstrações Contábeis Resolução CFC nº 1.134/08, é mostrado o que a norma estabelece o conceito, abrangência e procedimentos para a consolidação das demonstrações contábeis no setor público. As definições são: a) Consolidação das Demonstrações Contábeis: o processo que ocorre pela soma de saldos ou grupos de contas, excluídas as transações entre entidades incluídas na consolidação, formando uma unidade contábil consolidada; b) Dependência orçamentária: quando uma entidade do setor público necessita de recursos orçamentários de outra entidade para financiar a manutenção de suas atividades; c) Dependência regimental: quando uma entidade do setor público não dependente orçamentariamente esteja regimentalmente vinculada a outra entidade. d)

Relação de dependência: a que ocorre quando há dependência orçamentária ou regimental entre as entidades do setor público.

001135/2008 NBC T 16.8 - Controle Interno

Estabelecer referenciais para o controle interno como suporte do sistema de informação contábil, no sentido de minimizar riscos e dar efetividade as informações da Contabilidade, visando contribuir para o alcance dos objetivos da entidade do Setor Público.

O controle interno é classificado nas seguintes categorias: a) Operacional: relacionado às ações que propiciam o alcance dos objetivos da entidade; b) Contábil: relacionado à veracidade e à fidedignidade dos registros e das demonstrações contábeis; c) Normativo: relacionado à observância da regulamentação pertinente.

Em se tratando de estrutura do controle interno, está dividido em: a) Mapeamento de riscos: é a identificação dos eventos ou das condições que podem afetar a qualidade da informação contábil; b) Procedimentos de controle: são medidas estabelecidas para prevenir ou detectar os riscos ou possíveis riscos que levem a não precisão da informação contábil. Esse procedimento é dividido em duas classificações; c) Procedimentos de prevenção – medidas que antecedem o processamento de um fato, para prevenir a ocorrência; d) Procedimentos de detecção – medidas que visem à identificação, os erros que possam causar a não veracidade das informações contábil; e) Monitoramento: compreende o acompanhamento do controle interno, visando assegurar a sua adequação aos objetivos, ao ambiente, aos recursos e aos riscos.

001136/2008 NBC T 16.9 - Depreciação, Amortização e Exaustão Estabelecer critérios e procedimentos para o registro contábil da depreciação, da amortização e da exaustão.

Depreciação: os bens do ativo imobilizado que apresente desgaste ou perca da capacidade de utilização dos bens tangíveis, ou seja, dos bens que possuem corpo tanto móvel quanto imóveis. Depreciação é uma perda que pode acontecer em três momentos: por uso, ou seja, posso usar muito aquele bem, por ação da natureza pois o bem se estraga naturalmente e por obsolescência, ou seja, tecnologia ultrapassada.

A depreciação deverá ser feita pelos métodos: linear ou soma dos dígitos. Em se tratando de Amortização é feita com base no ativo imobilizado, melhor dizendo os bens intangíveis. O sistema de amortização é desenvolvido para as operações de empréstimos e financiamentos de longo prazo, envolvendo desembolsos periódicos do principal e encargos financeiros. Exemplo: Sistema de Amortização Constante (SAC). A Exaustão é aplicada em casos de recursos naturais exauríveis, exemplo as reservas minerais, as florestas e outros.

001137/2008 NBCT 16.10 - Avaliação e Mensuração de Ativos e Passivos em Entidades do Setor Público Estabelecer critérios e procedimentos para a avaliação e a mensuração de ativos e passivos integrantes do patrimônio de entidades do Setor Público.

A Avaliação Patrimonial Contábil baseia-se nas demonstrações financeiras da empresa, ou seja, em seus números contábeis e, através dele, apura-se que o valor da empresa é o valor de seu próprio patrimônio líquido. O modelo de avaliação patrimonial contábil pode ser utilizado por empresas cujos ativos mensurados pelos princípios contábeis não divergem muito de seus valores de mercado e que não possuem um Goodwill significativo. Assim, apesar de suas limitações descritas, a situação contábil de uma empresa e em consequência, seu valor patrimonial, é uma informação útil, como ponto de partida para a análise econômica e financeira da empresa.

Impairment é a desvalorização do ativo, ou sua depreciação. Tecnicamente trata-se da redução do valor recuperável de um bem ativo.

001136/2011 Aprova a NBC T 16.11 - Sistema de Informação de Custos do Setor Público Estabelece a conceituação, o objeto, os objetivos e as regras básicas para mensuração e evidenciação dos custos no setor público e é apresentado, nesta Norma, como Sistema de Informação de Custos do Setor Público (SICSP).

Um sistema de custos pode fornecer informações relevantes em todas as fases do processo de gestão pública, desde subsidiar o processo de planejamento e execução do PPA, da LDO e da LOA, até proporcionar indicadores que possibilitem avaliar seus resultados. O processo de execução do orçamento público, o monitoramento de informações sobre os custos reais incorridos quando da execução do planejado, associado aos resultados obtidos, permitem, identificar onde está havendo desperdício na aplicação dos recursos públicos. Essas informações, além de possibilitarem cortes de verbas orçamentárias e a eliminação de gastos supérfluos, servem de parâmetro para um planejamento operacional futuro mais eficiente. Fonte: Lima (2013, p. 434) adaptado pela autora.

De acordo com Slomski (2013) as normas divulgadas pelo CFC para o setor público ainda são diferentes das publicadas pelo IFAC, devido à busca pela preservação dos aspectos legais, culturais e técnicos brasileiros, porém se adequam às IPSAS.

A Contabilidade Aplicada ao Setor Público vem sofrendo constantes alterações em sua estrutura e também relacionada aos aspectos de escrituração e levantamento de informações para a elaboração das demonstrações contábeis. Sendo assim, deverão evidenciar a real situação do patrimônio público com o intuito de assessorar os gestores no processo de tomada de decisão, além de fornecer um suporte significativo na instrumentalização do controle social CRUVINEL; LIMA, 2011).

Em se tratando de alterações previstas, dentre elas consta a mudança do regime misto da Administração Pública para o regime de competência4, a qual foi proposta pelo estudo nº 14 do IFAC a fim de que sejam pautadas no processo de harmonização às normas internacionais e seus resultados sejam demonstrados (SÖTHE; SCARPIN, 2011).

Portanto, depois da edição da Portaria Conjunta da Secretaria do Tesouro Nacional e Secretaria de Orçamento Federal (STN/SOF) nº 3 de 2008, a partir de 2009 os Entes Federados devem aplicar o Regime de Competência para a receita. Quanto à despesa, nada mudou, posto que a doutrina entendia que se aplicava o regime de competência, na prática esse entendimento já era aplicado.

Após a os conceitos iniciais de como é feito o orçamento público, a seguir será abordado o tratamento dos gastos.