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2.1. SISTEMA ORÇAMENTÁRIO NO BRASIL

2.1.1. Receitas Públicas

De acordo com o artigo 9° da Lei 4320/64, são consideradas receitas os impostos, as taxas e contribuições, destinando-se o seu produto ao custeio de atividades gerais ou especificas exercidas por essas entidades.

Em sentido amplo, receitas públicas são ingressos de recursos financeiros nos cofres públicos, que se desdobram em ingressos extraorçamentários, quando representam apenas entradas compensatórias, e receitas orçamentárias, quando representam disponibilidades de recursos financeiros para o erário1 (MCASP, 2017).

Slomski (2013) relata que a receita pública se divide em:

a) Receita Orçamentária: é composta pelas receitas que pertencem de fato ao Estado aufere todas as suas fontes, quer sejam patrimoniais, industriais ou tributárias, para com elas fazer face às despesas públicas. Dividem-se em: receitas correntes, receitas de capital e receitas intraorçamentárias.

As Receitas Correntes são arrecadadas dentro do exercício financeiro, aumentam as disponibilidades financeiras do Estado, em geral com efeito positivo sobre o Patrimônio Líquido e constituem instrumento para financiar os objetivos definidos nos programas e ações orçamentários, com vistas a satisfazer finalidades públicas (MCASP, 2017).

De acordo com o inciso 1º do artigo 11 da Lei nº 4.320/64, classificam-se como correntes:

as receitas provenientes de tributos; de contribuições; da exploração do patrimônio estatal (Patrimonial); da exploração de atividades econômicas (Agropecuária, Industrial e de Serviços); de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes (Transferências Correntes); por fim, demais receitas que não se enquadram nos itens anteriores (Outras Receitas Correntes).

Segundo Slomski (2013) as receitas tributárias são os valores provenientes do recolhimento de impostos, taxas e contribuições de melhoria.

De acordo com o artigo 16 do Código Tributário Nacional, o imposto é um tributo cuja obrigação tem como fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte. Como exemplificação são os impostos privativos do município referente ao Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), Imposto sobre a Transmissão Inter Vivos de Imóveis e de Direitos Reais (ITBI) e Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS).

Em se tratando de taxa, o artigo 145 parágrafo II da Constituição Federal de 1988 declara que pode ser instituído em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização de serviços públicos prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição. Como exemplificação é a taxa de licenciamento anual de veículo é recolhida ao Estado em virtude de um serviço efetivamente prestado ao contribuinte, ou seja, o licenciamento do veículo e expedição de novo documento.

A contribuição de melhoria é tratada através do Decreto-lei nº 195, de 24 de fevereiro de 1967, a qual dispõe sua cobrança. Foi corroborada pelo artigo 145 III da Constituição Federal de 1988 em decorrência de obras públicas que teoricamente produzam melhorias nas condições de acesso ou gerem aumento do valor venal do bem. Como exemplificação, a contribuição de melhoria cobrada dos proprietários de imóveis que foram valorizados em virtude de obra pública como asfalto de ruas.

Desta forma, as receitas tributárias tratam de receitas privativas das entidades do poder de tributar, instituídos pelos entes federativos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios como imposição legal e compulsória para auferir recursos financeiros para o Estado. Além disso, só poderão ser exigidos no exercício seguinte àquele em que houver sido sancionada a lei que o instituiu ou o aumentou, cumprindo o princípio da anterioridade (SLOMSKI, 2013).

Todavia as Receitas de Contribuições “são os valores arrecadados provenientes de contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de intervenção nas respectivas áreas” (SLOMSKI, 2013 p. 31).

As Receitas da exploração do Patrimônio Estatal (Patrimonial) “são os valores arrecadados provenientes de rendimentos sobre os investimentos do ativo permanente, de aplicações de disponibilidades em operações de mercado e outros rendimentos em operações de mercado e outros rendimentos oriundos de renda de ativos permanentes” (SLOMSKI, 2013 p. 32).

Segundo Slomski (2013) relata que as Receitas Agropecuárias são os valores arrecadados referente a atividade ou exploração agropecuária de origem vegetal ou animal. Sendo assim enquadram-se nesta classificação as receitas advindas da exploração da agricultura (cultivo do solo), da pecuária (criação, recriação ou engorda de gado e de animais de pequeno porte) e das atividades de beneficiamento ou transformação de produtos agropecuários em instalações existentes nos próprios estabelecimentos.

As Receitas Industriais “são os valores arrecadados provenientes da atividade industrial de extração mineral, de transformação, de construção e outras, provenientes das atividades industriais” (SLOMSKI, 2013 p. 32).

Conforme Slomski (2013) as Receitas de Serviços são valores provenientes da prestação de serviços de transporte, saúde, comunicação, portuário, armazenagem, de inspeção e fiscalização, judiciário, processamento de dados, vendas de mercadorias e produtos inerentes à atividade da entidade e outros serviços

As Transferências Correntes tratam de valores arrecadados que advém de outros entes ou entidades, referente a recursos pertencentes ao ente ou entidade recebedora ou ao ente ou entidade transferidora. Portanto, são efetivadas mediante condições preestabelecidas ou mesmo sem qualquer exigência, desde que o objetivo seja a aplicação em despesas correntes (SLOMSKI 2013).

Todavia as Outras Receitas Correntes “são valores arrecadados provenientes de outras origens não classificáveis nas subcategorias econômicas anteriores” (SLOMSKI 2013, p. 32).

Em se tratando de Receitas de Capital, são adicionadas as disponibilidades financeiras do Estado e são instrumentos de financiamento dos programas e ações orçamentários, a fim de se atingirem as finalidades públicas (MCASP, 2017).

Para Slomski (2013) relata que Receitas de Capital são valores obtidos mediante a constituição de dívidas, amortização de empréstimos e financiamentos, alienação de componentes do ativo permanente.

Em se tratando de operações de crédito, são valores adquiridos através de títulos públicos ou da contratação de financiamentos obtidos junto a entidades estatais ou privadas. Todavia a alienação de bens advém da alienação dos componentes do ativo não circulante. A amortização de empréstimos são os valores recebidos advindos de parcelas de empréstimos ou financiamentos concedidos em títulos ou contratos (SLOMSKI, 2013).

Porém, de forma diversa das Receitas Correntes, as Receitas de Capital em geral não provocam efeito sobre o Patrimônio Líquido. De acordo com o inciso 2 do artigo 11 da Lei nº 4.320/64, com redação dada pelo Decreto-Lei nº 1.939/82:

as Receitas de Capital são as provenientes tanto da realização de recursos financeiros oriundos da constituição de dívidas e da conversão, em espécie, de bens e direitos, quanto de recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado e destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital.

Em se tratando de receitas intraorçamentárias, Slomski (2013) relata que são originárias de operações intraorçamentárias, isto é, são operações os quais resultam em despesa de um órgão e receita para outro, desde que ambos pertençam a mesma esfera de governo e pertencentes ao mesmo Orçamento Fiscal e de Seguridade Social.

Receitas intraorçamentárias são aquelas realizadas entre órgãos e demais entidades da Administração Pública integrantes do orçamento fiscal e do orçamento da seguridade social do mesmo ente federativo. Sendo assim, não representam novas entradas de recursos nos cofres públicos do ente apenas movimentação de receitas entre seus órgãos. São a contrapartida das despesas classificadas na “Modalidade de Aplicação 91 – Aplicação Direta Decorrente de Operação entre Órgãos, Fundos e Entidades Integrantes do Orçamento Fiscal e do Orçamento da Seguridade Social” que, devidamente identificadas, possibilitam anulação do efeito da dupla contagem na consolidação das contas governamentais (MCASP, 2017).

Dessa forma, a fim de se evitar a dupla contagem dos valores financeiros objeto de operações intraorçamentárias na consolidação das contas públicas, a Portaria Interministerial STN/SOF nº 338/2006 incluiu:

As Receitas Intraorçamentárias e Receitas de Capital Intraorçamentárias, são representadas, respectivamente, pelos códigos 7 e 8 em suas categorias econômicas. Essas classificações, segundo disposto pela Portaria que as criou, não constituem novas categorias econômicas de receita, mas apenas especificações das Categorias Econômicas “Receita Corrente” e “Receita de Capital”.

b) Receita Extraorçamentária: a receita extraorçamentária, por sua vez, pode ser entendida como recursos de terceiros que estão temporariamente nos cofres públicos, é representada no balanço patrimonial como passivo financeiro (MCASP, 2017).

Segundo Slomski (2013) é o montante dos créditos lançados nas contas do Passivo Circulante, ou seja, é o registro a crédito dos valores referentes às obrigações com terceiros.

Sendo assim, todos os recursos que transitam pelos cofres públicos e que não se referem a receita orçamentária ou receita intraorçamentária o quais são lançados no Passivo Circulante

da entidade, montarão a receita extraorçamentária da entidade e seu pagamento será dito despesa extraorçamentária (SLOMSKI, 2013).

A receita de convênio é receita extraorçamentária, tanto que todos os recursos auferidos com aplicação financeira e/ou as sobras eventualmente existentes devem ser devolvidos à entidade conveniadora proponente pela entidade conveniada, por não lhe pertencerem (SLOMSKI, 2013 p. 24).

Para Lima (2013) a receita pública orçamentária possui três estágios: o lançamento, no qual se verifica a ocorrência do fato gerador; arrecadação no qual os recursos são entregues e o recolhimento que é a efetiva transferência dos recursos aos cofres públicos, conforme demonstra o quadro 1:

Etapas da Receita Orçamentária

Planejamento: Compreende a previsão de arrecadação da receita orçamentária constante da Lei Orçamentária Anual (LOA), resultante de metodologias de projeção usualmente adotadas, observada as disposições constantes na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Previsão: A previsão implica planejar e estimar a arrecadação das

receitas orçamentárias que constarão na proposta orçamentária. Isso deverá ser realizado em conformidade com as normas técnicas e legais correlatas e, em especial, com as disposições constantes na LRF. O artigo 12 da LRF trata das previsões de receita observarão as normas técnicas e legais, considerarão os efeitos das alterações na legislação, da variação do índice de preços, do crescimento econômico ou de qualquer outro fator relevante e serão acompanhadas de demonstrativo de sua evolução nos últimos três anos, da projeção para os dois seguintes àquele a que se referirem, e da metodologia de cálculo e premissas utilizadas.

Execução: A realização da receita se

dá em três estágios: o lançamento, a arrecadação e o recolhimento.

Lançamento: procedimento administrativo que verifica a ocorrência

do fato gerador da obrigação correspondente, determina a matéria tributável calcula o montante do tributo devido, identifica o sujeito passivo e, sendo o caso, propõe a aplicação da penalidade cabível.

Arrecadação: Corresponde à entrega dos recursos devidos ao

Tesouro pelos contribuintes ou devedores, por meio dos agentes arrecadadores ou instituições financeiras autorizadas pelo ente.

Recolhimento: É a transferência dos valores arrecadados à conta

específica do Tesouro, responsável pela administração e controle da arrecadação e programação financeira, observando-se o princípio da unidade de tesouraria ou de caixa,

Fonte: MCASP 2017, adaptado pela autora.

As etapas da receita orçamentária seguem a ordem de ocorrência dos fenômenos econômicos, levando-se em consideração o modelo de orçamento existente no país e a tecnologia utilizada. Dessa forma, a MCASP (2017) relata que a ordem sistemática se inicia com a previsão e termina com o recolhimento, conforme figura 1:

Fluxograma das Etapas da Receita

Fonte: MCASP (2017).

Portanto, a receita pública assume uma fundamental importância por estar envolvida em situações singulares como a sua distribuição e destinação entre as esferas governamentais, o estabelecimento de limites legais impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal permitindo estudos e análises da carga tributária suportada pelos diversos segmentos da sociedade. É notável a relevância da Receita Pública no processo orçamentário, cuja previsão dimensiona a capacidade governamental em fixar a despesa pública e, no momento da sua arrecadação, torna- se instrumento condicionante da execução orçamentária da despesa.

Diante ao exposto das receitas públicas, bem como elas acontecem, existem as despesas públicas as quais serão abordadas na seção a seguir.