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1. PANORAMA DAS IDEIAS DE MÁRIO PEDROSA

1.7 NOVA YORK: RETOMADA DE PESQUISAS

A década de 1920 fora de um período de modernização em todas as grandes capitais do mundo ocidental. No entanto a cidade de Nova York, desde o começo do século já convivia com uma modernização vertiginosa, abrigando os primeiros arranha-céus e um tráfego intenso de automóveis em suas vias. Nos anos 30, a cidade já era a grande referência do mundo moderno e abrigava os grandes símbolos econômicos e políticos de envergadura mundial. A economia americana crescia e agregava novas tecnologias ao cotidiano comum e pouco a pouco formatava uma nova forma de viver, segundo o estilo de vida americano. Mesmo a crise de 1929 tendo gerado uma recessão na economia norteamericana e impactado o ritmo de crescimento da produção industrial, Nova York se destacava como um fulcro no sistema capitalista em franca ascenção. Embora representasse a modernidade e simbolizasse o consumo, no campo das artes e da cultura, porém, o grande centro ainda era Paris.

Clement Greenberg em seu relato sobre Nova York nos anos 1930 identifica a imaturidade da cidade em relação aos aparatos e equipamentos especializados em artes, assim como os que existiam na cidade luz, o crítico descreve:

Muitos dos artistas que eu conhecia liam as revistas de arte de Nova York, mas só por um respeito supersticioso para com o papel impresso que eles compartilhavam com a maioria das outras pessoas; não levavam realmente a sério o que liam. As publicações de arte que vinham da França, sobretudo os Cahiers D’Art, eram uma outra história; estas publicações informavam sobre as últimas produções de Paris, o único lugar que realmente importava.25(GREENBERG, 1996, p.236)

Este relato é testemunho de uma época na qual o grande centro cultural ainda estava na Europa. Embora a cidade americana tivesse crescido e se desenvolvido, porém carecia de equipamentos culturais que dessem conta de criar em Nova York, um circuito artístico

25 Depoimento do próprio Greenberg sobre a realidade artística de Nova York nos anos 1930 e sobre as

dificuldades encontradas pelos artistas norteamericanos para desenvolverem seus estudos a partir de reproduções em preto e branco de obras de artistas europeus, sobretudo os modernistas da Escola de Paris. O crítico sente a necessidade de criar em sua cidade, estruturas e equipamentos culturais para formação e espaços de exposições para seus artistas. Este relato é sintomático de uma época de transformações profundas nas relações econômicas internacionais, na qual os Estados Unidos irão despontar como uma economia dirigente e terá em Nova York a representação e ostentação de seu poder. Relato em: O Final dos anos 30 em Nova York In: GREENBERG, Clement. Arte e Cultura- Ensaios Críticos. SP, Ed ática, 1996. P. 236

importante e de referência internacional. Ao identificar esta demanda, Greenberg se destaca como o crítico de arte e o agente cultural que procurou articular e valorizar a produção artística novaiorquina, a fim de criar não somente em nova York, como também em outras cidades norteamericanas, uma rede de arte que não mais estivesse dependente e atrelada à programação cultural e editorial de Paris.

E era como se a resposta ou solução tivesse de esperar por uma assimilação mais completa de Paris. Não que se esperasse que Paris fornecesse a resposta completa, mas se acreditava que Nova York precisava se equiparar a Paris para poder colaborar no fornecimento desta resposta. ( Ibid, p. 237)

O crítico não só identifica a deficiência na cidade, como também se empenha em criar em Nova York um circuito de exposições locais, e uma troca intelectual entre os artistas norteamericanos a fim de fortalecerem suas criações artísticas. Nesta empreitada, o crítico e seu grupo assumem a arte abstrata, que será cunhada posteriormente como expressionismo abstrato, como uma estética autenticamente norteamericana. Greenberg desenvolve sua ação artística no sentido de atribuir aos artistas norteamericanos a independência cultural e um espaço de destaque na História da arte, pois o próprio crítico encarregou-se de articular conceitos para esta estética que de certa forma os ligavam aos movimentos artísticos modernistas europeus, incluindo-se como um movimento auge, não só da continuidade da História da arte, como também uma expressão importante da própria ruptura com a figuração e com a representação.

É neste contexto de crescimento e modernização das cidades norteamericanas que se situa a chegada do grande contingente de imigrantes especializados que se exilam da Europa por questões políticas ou pela perseguição nazi-fascista, e que encontrarão em Nova York, não só uma residência segura, mas também uma configuração de uma vontade política que possibilitou o espaço favorável para retomarem suas atividades de outrora e desenvolve-las ainda com mais vigor. Grandes mestres das academias européias, como por exemplo, alguns dos teóricos da Bauhaus, seguiram com suas pesquisas em solo americano, tais como Mondrian e Mies van der Rohe. Desta mesma maneira, muitos teóricos da escola alemã da Psicologia da Forma também se dirigiram para a América do norte, fugindo da repressão política nazista. A tríade da escola alemã da Gestalt, Wolfgang Köhler, Max Wertheimer e Kurt Koffka migraram para os Estados Unidos e passaram a ministrar cursos sobre as questões da percepção, dando continuidade às suas pesquisas e ampliando o debate de suas idéias.

Em mesma circunstância histórica, Mário Pedrosa foge da repressão do governo brasileiro sob a ditadura de Getúlio Vargas e reside nos EUA de 1938 à 1945, onde tem a oportunidade de retomar seus estudos sobre as teses da gestalt com os teóricos alemães da psicologia da forma, como também tem acesso a diversos materiais sobre o assunto.

Pedrosa não somente conviveu com os teóricos, como também é possível que tenha acompanhado de perto as pesquisas estéticas de Piet Mondrian que também se deslocara para solo americano. Em seu caderno de anotações26o crítico faz várias referências ao artista do De Stijl e problematiza suas afirmações que também se baseiam em teses da gestalt. Ao analisar- se a fundamentação teórica sobre a arte abstrata, sobressai-se evidentemente a filiação do crítico às questões da percepção.