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O Novo Paradigma Tecnológico

No documento Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (páginas 82-84)

Capítulo II Do Paradigma Tecnológico ao Paradigma Sócio-Info-Tecnológico

3. O Novo Paradigma Tecnológico

Ao evoluírem, as tecnologias floresceram a par das redes de empresas, organizações e

instituições, formando aquilo a que CASTELLS apelidou de Novo Paradigma Sócio-Tecno-

lógico. Este paradigma engloba inovações técnicas, organizacionais e empresariais, cujas vantagens devem ser vistas não só na novidade do produto ou do processo, mas também

na dinâmica da estrutura de custos dos possíveis inputs da produção (FREEMAN, C.

1990)43. De facto, ‘cada paradigma sua sentença’: um input descrito como chave num

determinado paradigma, poderá não o ser noutro. “... A mudança que estamos a assistir no

actual contexto parece apontar para uma alteração de uma tecnologia baseada em inputs

de baixo custo energético para uma tecnologia baseada em inputs de baixo custo de infor-

mação devido aos avanços nas tecnologias de telecomunicações e micro e nano-

electrónica...” (FREEMAN, C. 1990)44.

“... A noção de paradigma tecnológico é extremamente dinâmica, servindo para organizar, na sua essência, as transformações tecnológicas actuais e o modo como interagem com a economia e com a sociedade...” (CASTELLS, 2000:70). Face às transformações económicas e sociais que hoje se observam e tendo em conta o consenso de uma série de autores, dir-se-ia que o actual paradigma tecnológico se baseia na Informação. Face a isto, será importante definir as variáveis que constituem o ‘paradigma da Tecnologia de Informação’ e que são a base da Sociedade em Rede. Em primeiro lugar, a informação, o elemento chave do paradigma. Em segundo lugar, os efeitos das novas tecnologias, já que todos os processos da nossa existência individual ou colectiva são moldados ou alterados de acordo com o contexto tecnológico onde se inserem. Em terceiro lugar, a lógica de rede inerente ao uso de tecnologias de informação. A morfologia das redes parece estar bem adaptada à crescente complexidade de interacção e aos inesperados padrões de desenvolvimento gerados pelo poder criativo dessa interacção. Esta configuração topológica pode ser materializada em todos os processos ou organizações através das cada vez mais avançadas tecnologias de informação. Quando se dá a difusão das redes, o seu crescimento torna-se exponencial, assim como os benefícios de estar nessa rede,

43 Citado em CASTELLS, M. (2000:70). 44

devido ao maior número de conexões e ao elevado custo dos padrões lineares. Além disso, o custo para as estruturas fora da rede aumenta na mesma proporção do desenvolvimento

da rede. Segundo a Lei de METCALFE45 o valor (V) de uma rede, aumenta à razão do

quadrado do número de nós (n) existente na rede [ V=n(n-1) ]. Em quarto lugar, a

flexibilidade. Todos os processos podem ser reversíveis. Além disso, organizações e empresas podem ser modificadas, ajustando e alterando os seus componentes. Em quinto lugar, a crescente convergência entre tecnologias específicas num só sistema. Por

exemplo a nano-electrónica, as telecomunicações, a opto-electrónica, o software, a biologia

e a genética. Assim, de acordo com CASTELLS (2000:75), “... o paradigma da tecnologia de informação não evolui para o seu fecho mas sim para a sua abertura, como uma rede multi-facetada...”, ou seja a ideia de que a rede é tanto mais eficaz, quanto maior for o seu número de ligações.

Uma outra dúvida prende-se com a questão sobre se é a tecnologia que determina o contexto social, ou se é a sociedade a determinar a tecnologia? (MARX, L. e SMITH, M.R.

1994; MACKENZIE e WAJCMAN, 1985)46. O determinismo tecnológico é uma teoria que

propõe que toda a sociedade é moldada pelo desenvolvimento tecnológico, independentemente do contexto social. Esta perspectiva faz parte de muitos dos ensaios actuais que se desenvolvem sobre a evolução tecnológica. A ideia de que a evolução das tecnologias é um mal que assola todo o mundo é compartilhado por muitos autores, tendo as suas raízes em Thomas CARLYLE (1835), no seu livro “Signs of the Times”; em Lewis MUMFORD (1934), na sua obra “Technics and Civilisation”; ou em Sigfried GIEDION (1948) com “Mechanization Takes Command”.

O autor Leo MARX (1994:257) chamou-lhe ‘pessimismo pós-moderno’. MARX contraria o facto da tecnologia estar sempre associada ao declínio da qualidade de vida, afirmando que a maneira como se usa a informação influencia a maneira como os espaços são construídos: “… O domínio da vida pelos grandes sistemas tecnológicos (...) essas visões são sem dúvida perigosas e devem ser evitadas a todo o custo. O pânico pessimista do pós-modernismo é uma consequência da inevitável perda do senso humano e das suas faculdades...”. Tal como em outras áreas tecnológicas, as comunicações e a informação têm efeitos contraditórios quando utilizados em contextos sociais diferentes. Por isso, a ideia de que a tecnologia determina o contexto social, parece carecer do óbvio contexto social, tornando-se ainda mais descabido se se tiver em conta uma abordagem geográfica dos espaços. “… sem dúvida que o dilema do determinismo tecnológico é, provavelmente, um falso problema, uma vez que tecnologia é sociedade e a sociedade não pode ser

percepcionada e entendida sem as suas ferramentas tecnológicas...” (BIJKER, W. et al.

45 Disponível em <URL> http://en.wikipedia.org/wiki/Metcalfe%27s_law 46

1987)47. De facto, este dilema parece não fazer sentido já que tecnologia e sociedade se complementam, influenciando-se mutuamente. “… No technology can come into being without its socialisation; and this socialisation is an ongoing process throughout the circuits

linking technological production, distribution and usage…” (CRANG, M. et al. 1999:2).

Existem ainda autores que argumentam a favor da neutralidade tecnológica. “… A

Tecnologia não é boa nem é má, é neutra…” (KRANZBERG’S First Law)48.

Face à heterogeneidade de situações que se observam em termos sociais e ao facto de muitos autores porem em causa a validade do paradigma tecnológico; face à crescente

multiplicidade de inputs condicionantes; e face à importância da informação e do

conhecimento como factor de crescimento económico, estará o Homem sob o domínio de um paradigma sócio-info-tecnológico?

No documento Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (páginas 82-84)